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quinta-feira, 23 de março de 2023

LISBOA & TUDO ISSO...

Porque não tenho jeito para a saudade.
Nunca me cansei de calcar aquelas ruas durante mais de 20 anos.
Deixem estar o menino. Ele está a escrever os seus poemas. E eu sentado com a velha Messa, ouvia contente o cuidado do meu chefe.

1 . Ataque epilético
Espumava deitado no passeio um coro de insultos merda de bêbado
2. Custódio Cardoso Pereira
Rua do Carmo
Ponto de encontro. Músicos.
3. Au Bonheur des Dames
Elas ofereciam-me amostras de perfumes e admiravam a minha preferência pelo “Equipage”.
4. Arnaldo Ferreira o pintor da noite.
Bulia a Rua do Carmo apressando palavras num discurso freneticamente revoltado.
5. Dali o bailarino de tangos e o seu inconfundível bigode. Dançava com uma pantufa enfiada no pé direito, em frente da Discoteca Universal, as canções escolhidas pelo Zé Augusto.
6. Os gins no bar dos Armazéns do Chiado
abundantemente servidos pela Teresa e João.
7. Ritz Clube
A velha banda. A streaper Dina da Conceição conceituada bailarina afro-cubana, 60 anos ou mais. As senhoras de lenço na cabeça e óculos escuros em formato de gata, (como nos filmes italianos), e as suas histórias. O whisky sem marca.
8.Guarda Noturno
Mijar na rua da vitória com uma pistola apontada à cabeça
9. Salsaparrilha e whisky em copos pequenos. Não sabiamos nada acerca dos shots.
10. Comodoro & Eduardo
Tinha um gozo especial quando ao jantar bebia o whisky de alguns directores do JBF que frequentavam assiduamente o rés do chão, onde as meninas como quem não quer a coisa, mostravam as cuecas.
Os sapatos da Hélio
Cheguei a ter 23 pares. Alguns feitos de encomenda. Tinha uma actividade profissional paralela : revendedor não oficialmente autorizado.
12. Os pastéis de bacalhau no Palmeiras
Geralmente por volta das 4 e meia da tarde. O tinto era da Labrugeira.
13.As idas aos CTT da Praça do Comércio
O regresso contemplava invariavelmente a visita ao Escondidinho da travessa do Cotovelo e uma breve passagem pelo Galego da rua do Crucifixo. Sempre na companhia do Ti Luis ou do Tio Xico.
14.Notário
Reconhecimento de assinaturas. Uma ou outra por mim imitadas. Consegui ganhar uma aposta ao meu chefe.
15.A Brasileira
Não sei porquê, mas tinha o hábito de esconder a colher do café na minha cabeleira. Mais tarde tive algum sucesso quando a oferecia em forma de pulseira às minhas amigas.
16.Opinião
Sempre diferente. Passei grandes momentos ouvindo os Senhores Raúl Rego, Álvaro Guerra e Baptista Bastos. O Hipólito mostrava-me sempre aquilo que eu gostava. Livros & Lp`s.
17.Livraria Ferin
Alimentava a minha paixão pelos Índios da América do Norte, comprando às prestações , livros importados.
18.Tabacaria do Rossio
Esperava ansiosamente o final do mês para ter nas mãos a Rock&Folk. Anos e anos a manter esta satisfação.
19.Sapataria Presidente
Fiquei doido com os meus primeiros Lótus. Eram feitos à mão. O senhor João Baptista Fernandes apreciou o meu bom gosto.
20.Livraria Bertrand
Cumprimentava sempre o senhor Luis. Um velho amigo do meu pai.Depois entrava no mundo que aprendi a respeitar.
21.Livraria Sá da Costa
Um prazer à mão de semear.
22.Livraria Portugal
Visita obrigatória à minha amiga Isabel.
23.Livraria Lello
Nunca consegui resistir ao seu perfume.
24.O cretino do BESCL
Rua nova do Almada. Todos os dias a caminho do emprego, este imbecil manhoso e não engraçado, divertia as colegas com as bocas que me mandava.
Nunca mudei de caminho, e um dia cara a cara com o cretino, prometi solenemente que mais tarde ou mais cedo, lhe partiria a tromba. Por mim, até podia ser naquela altura. Continuei a descer aquela rua e nunca respondi ao bom dia com que ele julgava cumprimentar-me.
25.Banco Borges & Irmão
Praça do Município.
Era aí que ia levantar os ordenados dos colegas da minha secção.
Vi um dia o senhor Pedro Homem de Melo a vender livros. Até então só o conhecia da televisão. Não tive vergonha, falámos e comprei um, que as gorjetas acabaram por pagar.
26.O Barbeiro da rua do Arsenal
às 4ªs Feiras pela manhã ia lá buscar o Senhor António Baptista Fernandes. Água de cheiro e raminho de alecrim na lapela. O barbeiro saudava-me cordialmente e nunca mostrou qualquer desagrado com a minha farta cabeleira. Começávamos pela loja para cumprimentar o pessoal, mas era no escritório que os olhos deste velho senhor, brilhavam de maneira marota quando demoradamente apertava as mãos das minhas colegas.
Depois sentado no velho cadeirão de couro, acabava por adormecer.
27.Pastelaria Ferrari
Os bolos preferidos das minhas colegas grávidas.
Quando ficava contrariado, acabava de meter o duchesse embrulhado debaixo das axilas. Nunca nenhuma se queixou.
28.Pastelaria Central da Baixa
Lembro-me do Bolo Rei. A minha mãe era fã.
29.Manuel Careca “Limonadas”
Cenas do Pátio das Cantigas ao vivo. E a limonada bebida nos intervalos de uma bola de Berlim , até caía bem.
30.Casa da Sorte
Eram lá que ia buscar as cautelas do senhor Joaquim Nunes Figueiredo. Diziam que era o meu padrinho e isso permitia-me um estatuto especial dentro da empresa. Ofereceu-me vinte contos como prenda de casamento. Uma vez, quando e deu boleia até à casa da minha namorada, disse-me que me ia pôr bem na vida. Passado oito dias, abraçou-me dizendo que não voltaria. Lembro-me de entregas de presentes às suas conhecidas, feitas de um modo discreto.
31.Beat Club
Boa música mas demasiados betos para o meu gosto.
32.Brown`s
Punk em Lisboa.
33.RRV - Rock Rendez Vous
Era amigo do Mário Guia, o dono. Jamais esquecerei aquele concerto do Wilko Johnson.
34.Hot Club
Grandes Músicos para uma música que me apetecia.
35.Quarteto
Saudades do cinema a sério.
36.Cervejaria Trindade
No tempo em que as batatas fritas ainda vinham com bocados de casca. E aquele gajo que só bebia garrafas de litro da cerveja preta Sagres.
37.A tasca do Tony Morgan – Bº. Alto
Sempre que lá estive, senti um carinho especial do Tony.
Ouvia-se fado e entornávamos jarros de tinto acompanhado com caldo verde e chourio assado.
38.Casa Batalha – R. Nova do Almada
Agradeci sempre a preciosa ajuda da senhora Noémia na selecção das pedras para os 12 colares que usava naquela altura.
39.Rua das Trinas– Estúdio do Jorge Monteiro
Uma ou duas vezes por semana, ensaiávamos com o António Variações. Janeiro a Junho. Ano 1981.
Anos mais tarde, um conhecido radialista classificou-nos como a pior banda de garagem que já tinha ouvido. Orgulho.




,2016,04.aNTÓNIODEmIRANDA

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