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segunda-feira, 16 de setembro de 2024

CRÓNICAS DE VILA CHÃ (4) 2015set14 “COMO POSSO DIZER”

 


Curiosidade mórbida e a realização de cenários de quem nunca está presente. Ouvi dizer, diz-se por aí, é a constante permanente numa ideia infinitamente menor. Côa-se assim o tempo, desperdiçando a vida sem ter desta qualquer lembrança. Só baixo de nível com a eloquência da estupidez absoluta. Não há remédio para esta fatalidade. Mantenho comigo uma frequente possibilidade de aprender. Se calhar já escrevi isto, mas se calhar vocês não leram. Os dias passam tranquilos na minha cabeça cheia de boas intenções. É bom ter esta possibilidade de anualmente repetir certas leituras. Estou mais sossegado na minha calma, mais acessível à minha atenção, com menos desprezo pelas coisas mais simples, que há muito tempo passavam despercebidas. A cidade grande surge depressa demais para confirmar qualquer intenção de me lembrar. Sou só, sem qualquer anomalia proveniente do lamento. Passo os dias com ritmos tão subtis envolvendo todas as hipóteses aptas para serem impressas nas paredes da minha memória. Humedeço os sentidos com esta tranquilidade ausente de todo o sentimento de fraqueza, e enleio a minha satisfação com amplos sorrisos e gargalhadas encharcadas de contentamento. Não me contento com pouco, juro-vos! Mas, não me levem a mal, sou dono da minha plenitude. A vida não é simples e incautos serão os caminhos que nem sequer admitem essa possibilidade. Deixemos correr o tempo sem termos a ínfima intenção de tingir a sua dignidade. Sou tão difícil como a mentira em que ninguém deve acreditar. Não sou rima para agradar, e pequei tanto que o andor tombava para o lado da minha não imprecação. As velas queimavam cinicamente os dedos, e os crentes indiferentes saboreavam entremeadas previamente benzidas. Eu seja louvado! E como não sou invejoso, que o outro venha logo atrás.
Sou tão ilógico que a lógica tem de mudar de pilhas. Os leds anotaram esta evidência com um ar de mercedes condicionado e filtros plenos de satisfação. Incrédulo mas receptível á inovação, mandei-os á merda com todo o cuidado, tirei os dedos da ficha, desliguei o motor, abri a porta da marquise, informei a mulher, avisei a empregada, telefonei para a porteira, raspei a raspadinha, ignorei a vizinha, atei a trela ao pescoço, meti na boca um osso, adiei a caganeira, paguei o IMI cheguei á cama arrasado. De nada me lembro. Dormi com o mesmo lado.
Aviso: este texto nunca poderá ser incluído em qualquer manifesto eleitoral, assim como na posologia de qualquer coisa intencionalmente prescrita com o propósito da normalização da loucura. Admitirei a possibilidade da sua utilização na confecção de collants e num restrito modelo de copas de soutien. Bom, a hipótese de pára-choques, poderá eventualmente ser discutida.



2015aNTÓNIODEmIRANDA
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CONVALESCENÇA

 


Eu 

    E o que de mim 

                                Restou 

No pouco que 

                        Prestou 

No eu 

                                    Que já não sou 

Para que serviram os anos 

                                            Deste tempo 

Que de mim 

                        Se cansou?





,2022Out_aNTÓNIODEmIRANDA
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CONQUISTA FOLGADA

 


Venceu 

Tudo 

Que 

Havia 

Para 

Perder.

   


,2022Set_aNTÓNIODEmIRANDA
Casa Branca* Praia de Melides
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MANIFESTOS CÓDIGOS CONSTITUIÇÕES MANDAMENTOS , dito pela Paula Montez

https://www.youtube.com/shorts/cllQCJELbQI?feature=share 


Sou como um dilúvio quando defeco 
na importância que queres vender.
Não consigo entregar-te a carta da 
consolação.
A situação já não é a mesma 
e o caos potencialmente impotente
(e cada vez mais envaidecido) 
projecta na máquina produtora de réplicas 
o sabor do abandono.
Resta-me esquartejar a maneira 
como fui recebido.
Jamais esquecerei a hostilidade 
abundantemente mostrada.

Um abraçado obrigado.
                        (obviamente desconsolado).










,2024Jun_aNTÓNIODEmIRANDA
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domingo, 15 de setembro de 2024

#CARTA VERDE#Dito pela Paula Montez.


CARTA VERDE



Arrancou à pressa 
o pó de arroz que escorria pela cara.
O semáforo teimoso tentava ludibriá-la.
Então com todo o gosto pisou o acelerador.
A amolgadela do carro da frente 
não infringia nenhuma mentira.
Desta vez não errou a pontaria.
Há dias assim.
& há os outros quase perfeitos.
Mostrou a carta verde.
Accionou o seguro, 
mas este já tinha morrido de velhice.
Telefonou para a companhia.
Ninguém respondia.
Pintou outro quadro ao agente 
que tentava dizer-lhe que só estaria ali 
para ouvir versões plausíveis.
O tráfego parado.
A fila a encher.
& os barcos danados no rio a apitar.
Tinha agora nos olhos tons esquisitos de pastel 
que meticulosamente se dispuseram a soluçar





,2016,06aNTÓNIODEmIRANDA
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#VELHO TRUQUE# Dito pala Paula Montez







Sou a pegada de um vagabundo 
na procura dos sorrisos do teu olhar. 
Entrego-me nesta carta 
com todos os erros 
que não prometo repetir.
É tão rápida esta fuga, 
que nem a sombra irá lembrar.
Sorriso pousado na malga,
passeio a vida numa trela, 
entrelaçada com os ases 
do destino.

Velho truque.






,2019nov24_aNTÓNIODEmIRANDA
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sexta-feira, 13 de setembro de 2024

CORAÇÃO ALFARRABISTA

 


Que mortes me fizeste ver, louco diamante sempre a brilhar na tristeza desta pele roída. 
Lembrar para quê? 
O caminho mostra - me o acaso, calca a angústia, e segreda nas orelhas da lua, o engano do encanto do pôr-do-sol. 
Agradeço com um adeus envergonhado, 
a despedida estampada na minha escada.
ESTÁ UM TEMPO ANIMADOR PARA QUEM ACREDITA EM ALDRABICES
Eu poderia acordar, apertar no cinto dos mil sonhos brilhantes, os gritos de couro, e de joelhos dobrados, provar o chicote oferecido pelo amor não leviano.
FANTASIAS PECADORAS VESTIDAS COM A PELE DA CORAGEM
Disfarçam os medos que a usam.
E quando os sinos chiarem no teu leite derramado, irás ver que a surpresa será sempre a tal mentira apetecida. 
Começarás a andar ao terceiro dia, ainda que de um modo esquisito, mas se estivesses atento, terias lido que a folha de reclamações serviu para te limpar o cu. 
Bem que avisei que o meu milagre seria sempre mais eficaz, com o senão de não estares presente. 
OS HÁBITOS ESTÃO DIFERENTES. A ESTUPIDEZ É QUE NÃO
O tempo acabará por esquecer esta dor, nas horas que aguardam nos suspensórios da morte, a alegre notícia do abismo. 
A quem entregar pétalas desoladas, cansadas de uivar nomes sem voz? 
Cuida de mim, anjo da malvadez, poema sangrento que não consegue voar nas tuas botas de cetim. 
Perdi o teu abraço, cansei-me na escuridão da alma e do seu mentiroso divagar. 
Já não ouso sonhar! 
Este frio covarde cobre a esperança que agora me trilha.  
Já não sinto o sabor do vento, com a sua oferta 
de afectos embrulhados no brilho das lâminas.
Quero voltar – Fugir – Encontrar 
– Destruir o destino – Enferrujar o tino  
Assassinar o escravo que julgam me tornei 
– Encurtar o convite desse cinto de fivelas nojentas. 
O que é feito de ti, pássaro do voar envergonhado, canto de querubim nessa viagem da esperança fraudulenta?
Já não acreditas no meu abraço, já não pousas no meu acenar,
TERNURA CHICOTADA NO ESCURO 
Porque esperaste tanto tempo?  
Declamava o coração alfarrabista.
Uma agulha entrega a esperança na dor da tua única realidade suada na cadeira mentirosa.
Nem sempre gostei da vida. 
Apenas pensei que era assim que se amava, e conservo na memória possível, lágrimas que nada têm para chorar. 
Estou pronto. 
Vejo nuvens escritas neste presente angustiado. 
Estou à espera de um qualquer convite sem imaginação.
Estou Ou Não?
CONFORTAVELMENTE ATROPELADO 
Habito o comboio das sombras desesperadamente apaixonadas. 
Pinto esta viagem numa vida enrouquecida. 
Quero ver o silêncio! 
Escorreguei no desfiladeiro da sorte. 
Sorteei o norte no poço do azar. 
Quis o verbo mudar o tempo, no alento de enforcar o juízo nas cordas do destino, para que deixe de ser anunciado como se fosse obrigação. 
Não! Não gosto de ti! 
Mas sem ti, 
O que faria desta azia que premeia o nojo? 
Nunca me esconderei neste recolher obrigatório, nem na falta de respeito por ele oferecida.
Podes ouvir-me?
Sou um sopro cansado confortavelmente atropelado por uma memória vestida de desconsolos.

    Um salto moído
    que já se aleija
    no deitar.





,2021Set_aNTÓNIODEmIRANDA
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LAVAR O TEMPO

 


Corre 
o momento 
no arrepio sofrido
untando o caminho 
da esperança fugidia

Suja-se a vida na pressa 
sem sentido 
beijada pelo hálito 
da desilusão

Na varanda do ocaso
rasgam-se palavras 
nunca faladas







,2023Set_aNTÓNIODEmIRANDA
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quinta-feira, 12 de setembro de 2024

PELE, PICHA & OSSOS e 1 PIRES COM CASCAS DE TREMOÇOS

 


Gandaia da vida. 
Nada de mim me inquieta, mesmo o desejo que vejo gravado na janela da memória. 
(há dias assim…) 
Nunca escrevi no futuro que me propuseram aquilo que realmente desejei. A adolescência foram anos de exílio. Conheci-me em muitos momentos como se tivesse acabado de morrer. Dormi no aconchego da ternura das estrelas enquanto o frio e o medo eram beijados pelo carinho por elas entregue. Jamais sonhei com jardins de flores arrependidas. Tentei sempre fugir da meiguice dos espinhos, ignorar os convites desleais, agir em conformidade e errar assiduamente em todas as conveniências. 
Sim! Tenho Saudades daqueles abraços que disfarçavam a impossibilidade da chegada do visitador das horas para anunciar os dias felizes.
Balada da sorte malvada. Alma traiçoeira, sempre a apontar-me o caminho de casa, mas o cansaço do fracasso cavalgando no polegar da autoestrada levou o feitiço para longe.
Garrafas / Vazios /Cigarro/ Alinhavar Pesadelos / Absolver Sonhos / Desorganizar Castigos. Sombras selvagens murmuram, com a bendita salvação, a subtileza no sentido contrário das vontades do tempo. A melancolia fala enquanto as grandes conversas acontecem na idade da solidão. Tantas luas procurei para pintar mas as lágrimas vendaram a intenção.
(As coisas que irei doer para mais tarde esfolar na lembrança requentada). 
Triste trovador aquecido no édredon de verrugas.
Pedradas no charco afundaram a jangada das opções.
Quando fico do lado que não consigo acontecer, esse é o território da penumbra, desenhado pela fantasia que nada quer oferecer ao destino achado no moribundo abandono, pedindo para fugir daquele que oferece o impostor perdão. Nunca te importaste com a mais pequena coisa que me fazia falta nem um simples abraço acenou da tua cabeça. Deixar-me seduzir por um doce final onde as estrelas continuam apaixonadas. Limiar da tristeza/ paixão da inutilidade/ linhas com que me cruzo na insónia feliz. Esquecimento/Indiferença/Manta de Presságios/Desvario. Nada nesta bebedeira me é estranho. E isso será sempre uma bênção que ditosamente não sei a quem devolver. Entretanto, e se a maré o permitir, aguardarei a chegada do alento não descontente. Tornar o desrespeitável verdadeiramente humano. 
Enxovalhar a Infelicidade/Subornar o Azar/Pecar confortavelmente na bolsa dos accionistas da moral vandalizada /Ideias maldosamente depenadas. Quero ir para onde não sou. Embarcar no golpe da ferida asa ao encontro do rasto da poesia. A verdade nua e crua & Assim Sendo... Assim o É.
O Desconsolo absoluto. Fere-me/castiga-me a necessidade que demasiadas pessoas têm de dar palco aos heróis da futilidade. Os verdadeiros habitantes do imbróglio de suspiros maquilhados.
(Que alguém vos proteja eu tenho outras rezas para impregnar).
Que atrevimento me entregas desta vez nesse chegar desassossegado?
Desconheço o sopro que escreve na janela, os abraços que o desprezo violou. Fogem pássaros enlaçados no seu cantar. 
Candeeiros de bebedeiras de amigáveis curtos circuitos patinam em suaves cachos de gratidão. Caminho por aí à procura da nuvem onde perdi o acervo. Mentiram quando disseram ser só pelo breve instante de uma traição. Não me falaram do lado selvagem onde permaneço refém. Haja alguém que rasgue a mentira do obituário.
Aqui estou a saltar. Nada para explicar nesta consolação a abarrotar de desculpas indecentes. Fé decantada, crença sem herança. Som magoado. Quantas ilusões rasguei nas cartas enviadas ao Entrudo. 






,2024Ago_aNTÓNIODEmIRANDA
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DISTRITO DA SOLIDÃO

 


Sempre penso que seria bom viver 
antes de nascer.
        Basta [honestamente] pensar 
nos incómodos 
a que iriamos deixar de nos sujeitar
        O conhecimento assina 
memórias amigas humedecidas 
no suave toque da nostalgia
        Diz a Tristeza abraçada à dor:
quando começares a gostar de ti
o sorriso acabará por acontecer
         Fora da mente a realidade 
já não presta
        Alegria e Perseverança,
tenho que vos beber para manter a 
sobriedade
          Não obedeço ao sinaleiro da 
crueldade
           Já só consigo viver os 
descontos do tempo suplementar 







,2024Ago_aNTÓNIODEmIRANDA
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EPÍGRAFE

 


Não gostamos um do outro


E isso poderá ser 

o auspicioso futuro 

De uma relação extinta


(Normalmente 

                            Acontece)




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MANUAL DO EGOCÊNTRICO

 



A coisa mais importante de mim?

Se não tivesse 
nascido,
 muita 
gente 
não 
seria 
ninguém.










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PAIRA NO CÉU O DESESPERO QUE COMPRASTE

 


Ó glória do mundo 

Jamais para ti viverei

E

Se um dia tiver que morrer 

Que seja para sempre abraçado 

Às paixões que tão feliz 

Me quiseram






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PONTUAÇÃO FINAL

 
Quando não quer assustar as 
palavras

                a tinta 

                                foge 

                                                da 

                                                            caneta











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CONSCIÊNCIAS CARCOMIDAS

 


Bandeira branca 
porque te mancham de sangue?

Serás sempre 
esta dor, 
embora saiba que jamais 
tocará a indiferença 
de quem ignora os que 
choram as lágrimas de 
“rockets”.

                    A que Deus 
                            poderemos entregar as 
                            consciências carcomidas?









,2024Ago_aNTÓNIODEmIRANDA
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DO REENCONTRO QUE NUNCA ACONTECE

 


Adeus.

O meu céu já não tem ninho 
para a tua chegada.

Quem me compra o tempo?

Doridas em todos os ensaios da 
felicidade
emoções envergonhadas 
escondem-se nas velhas 
lágrimas.

Deixa-me ir. 

Não interessa o atalho. 

Larguei o destino.

Tenho um ajuste sempre cruel 
com o presente que me roubam.


                        Sei que 
                    deste dilema 
                        nunca serei a 
                        solução.





,2024Ago_aNTÓNIODEmIRANDA
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NINGUÉM PODE SALVAR A MINHA ANGÚSTIA

 


Descalço escorrego no costumeiro 
pesadelo.

Nau de súplicas de sangue
rasgando as veias da memória.

Quem sou?
pergunta o desânimo 
enforcado no destino.

                                Alvejo 
                                Uma a Uma
                                as agulhas do desalento
                                roubadas ao relógio 
                                da penúria.

O tempo
é um prenúncio esquisito
sempre agarrado à urgência
que não me deixa escapar.

            Eu, 
            Aquele que ainda procura 
            os sons
            do último silêncio. 





,2024Ago_aNTÓNIODEmIRANDA
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DEIXEM QUE VOS CONTE

 


Ela oferecia 
na alma que vivia 
tenros sorrisos 
para beijar o despertar

Aviões de papel
espalhavam ofícios 
da paz
naquele prado
onde 
aterravam

                        Todos

                        Os

                        Abraços










,2024Ago_aNTÓNIODEmIRANDA
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NÃO QUERO TER SAUDADES DE MIM

 


O

Velho

Fantasma

Adormeceu

Aqui





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SORTILÉGIO DIVERSIFICADO

 


Sonho que de mim não existe 

                        Choro medonho 

            Prece fugida 

                                                Ondas 

            Zumbidos 

Só queria caminhar neste afoito 
sentir 

Só desejava não divagar 

Achar sem habitar o refúgio 
do tolo convencimento 

Saudades daquele calhar

Que tardava 

A solidão







,2024Ago_aNTÓNIODEmIRANDA
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terça-feira, 10 de setembro de 2024

CANÇÃO DA AUTO-ESTRADA / Otis Redding - (Sittin' On) The Dock Of The Bay (Official Music Video)






[E o teu amigo especial é a tua sombra nos momentos em que invejas o conforto da casa]. 

Esse bálsamo desconfiado que te fez pegar na mala e largar. A tua alma é um saco de viagem repleto dos sonhos que te acompanham. Agora és uma solidão não sozinha, nunca igual à que vês nos olhos apressados daqueles que sem qualquer sentido, caminham para o mesmo lugar. É a hora do lobo, onde o sol mal disposto e cansado, vai enganar a lua. E o teu amigo especial é a tua sombra nos momentos feitos de esperança às vezes com lágrimas com o sabor da hipótese mais apetecida. É sempre tempo para se viver aquilo que ainda não aconteceu. Agora que a noite caiu, e o polegar é o teu anjo da guarda, há um frio que te deseja e abraça o corpo. Há uma espera imaginada. Agora qualquer beijo seria bem-vindo. Qualquer tronco de árvore no jardim será a tua cama. Agora que rogas no teu único silêncio um soluço que nem de saudade já é, agora onde todos os minutos recusam o adormecer, e o medo habitual vai fazer-te companhia, agora que te apetecia chorar mas falha-te a vontade, agora não podes parar. É a vida feita saudade. E há sempre um carro que policia com olhos curiosos. Abeiram-se de ti e pedem uma qualquer identidade, menos aquela que te pertence. Partem para voltar. Voltar sempre mais cedo do que era imaginável. Observam-te vigiando a atracção da tua diferença. Agora, todas as estrelas que tu não vais sonhar foram dormir. Deixaram-te sozinho e não te iluminam o tecto. É sempre longe qualquer desejo. 
Nem um cão está tão abandonado. Logo, quando o frio for mais forte, terás pensado, talvez mais um dia, afinal sou um gajo com sorte. 
E vais tomar o banho habitual, numa qualquer retrete de estação, lavando a tua bondade em suaves prestações. Então, esperarás como sempre, por alguém sempre ausente que continuará a não te estender a mão. São fáceis todos os sorrisos. É normal o desprezo com que passam por ti. Hoje e amanhã, nada será diferente 
Mas tu tens a estrada da alma enorme que impede de seres tal gente.
Fugiste dos caminhos perfeitos. Em tempo algum foi aceite a tua necessidade. E a tua consciência sempre foi confundida.
Adormeces com uma faca na mão, sabendo que nem sequer vais ter tempo para a usar.
Educadamente dizes boa noite ao “clochard”.
Ele farto de ti Saúda-te com um peido
Nem um deus mentiroso tens para confiar.
Agora fazes-te lembrar naquela velha música:

Sitting on the dock of the  bay 
Watching the tide roll away



,2015abr_0,22h-14aNTÓNIODEmIRANDA
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sexta-feira, 6 de setembro de 2024

MEALHEIRO DO AZAR

 


Comigo A Sorte, 

É Uma Questão De Moeda.

Claro Que Sei,

Que A Esconderam 

No 

Mealheiro Do Azar.



2018Set_aNTÓNIODEmIRANDA
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NOBLESSE OBLIGE

 


Peço sempre tudo!
O necessário não condiz com aquilo que quero.
                                    A menoridade é uma ejaculação precoce
que se vende nas farmácias.
A minha médica já alterou a prescrição.
                            Comprei óculos de mergulhador 
e barbatanas estereofónicas
para ler a receita.
                    …Não vá o farmacêutico desconfiar.
                               
Se estiver bem disposto, 
tenho os “Tomates Enlatados”
do Benjamin Péret
para me entreter.

                                "Noblesse 
                                                    oblige"






,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA
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.ERVA

 



consternado

decepcionado

amargurado

sentou-se

no colo do 

Pai

e entre soluços

disse-lhe:

as ovelhas

não respeitam o teu

Filho!

FODERAM-me 

erva

toda!








2019jun_aNTÓNIODEmIRANDA
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MALDITA MANIA

 


Romeiro!

Romeiro!

Quem és tu?

Maldita mania de estares

sempre de costas.





,2019mar_aNTÓNIODEmIRANDA
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MAÑANA

 


Se hoje

Digo

Que 

Te

Amo

É

Porque

Amanhã

Quero

Estar

Vivo



,2019fev_aNTÓNIODEmIRANDA
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MUTUALIDADE

 


Nunca deverei nada à 
eternidade!

            Adiamo-nos, 
                        Reciprocamente!









2019mai_aNTÓNIODEmIRANDA
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MUITAS LÁGRIMAS NA MINHA CABEÇA DEMASIADOS MEDOS QUE ME TORNAM LOUCO

 


Tenho o cheiro do desodorizante da tua vida nesta mistura amorfa de todas as lágrimas e dos muitos medos que afagam a minha cabeça.
Há uma viagem sempre à espreita da melhor esquina para me alvejar.
Um silêncio de musgo ressequido colado na rouquidão da voz já sem pressa para fingir. Um sonho atrapalhado abraçado a uma tesoura que rasga bocados frenéticos de angústias desusadas. Um sabor que me aprisiona, uma ausência enforcada nos pulsos, um odor que infecta abraços.
Um vazio que incomoda o silêncio, uma dança fugindo à toa, do distúrbio que quero embrulhar. Um piano que quebra as mãos quando toca na pele sofrida.
Nada tem de estar certo neste voo tentado sempre fora do tempo da esperança mordida.
Há uma oferta constantemente arrependida, um frio para aconchegar a partida.
Onde voa aquele beijo desconhecido
pintado nos nossos lábios?


2019jun_aNTÓNIODEmIRANDA
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quarta-feira, 4 de setembro de 2024

ESTRELAVA NO CÉU BEIJOS AGRADECIDOS

 
Não passo de um ruído espalhado pela vida, que, mesmo no paraíso precisa de amigos.
E no alarido de um coração picado há um cavalo que foge da sela que o quer trair. 
Subtrai a ternura suicidante que lhe apaga a chama efémera e num grito desenfreado salta a angústia como se fosse arte poética. 
E agora cansado chora o libelo da maldição que o fez prender. 
Saltou o mais que pode a cerca que lhe toldava o horizonte e só agora pode beber num gole total a imensidão que lhe vendaram. 
Feito poeta e na ausência do juízo normal aquece no galope sonhos há muito guardados. 
Aparece de quando em vez nas quintas-feiras da poesia possível e fingindo que não chora, abraça qualquer presença. 
Na forja que lhe derrete a alma espalha todos os poemas que cabem no seu mundo. 
Apenas um sossego aqui na terra depois deste deus louco irmão de todas as morfinas e crítico apreciável dos benefícios da marijuana, longe da masturbação das agulhas beijando na fornicação a cara sem sangue que desliza pela parede riscos indolores de uma salvação com doses para uma semana. 
Pedaços que exibe na mão foram um poema nunca sujo, escrito em moedas que mancharam a carne que pensava o amava. 
E agora não consegue saltar os muros do sonho neste cenário de bêbados circuncisados. 
Nesta escrita de raposa com a permanente promessa de não ganhar qualquer grammy, perde-se nesta sensata e inútil razão que se perpetua na pele. 
Deus não existe! 
O diabo é que às vezes se esquece de ser mau! 
O inferno é aquecido por um micro-ondas. 
E as formigas diligentes lêem notícias sem sabor. Dizzy e Parker sabem do que fala. 
E eu não minto tanto assim. 
Naquele tempo Nina Hagen vagueava pelo Harlem e beijava todos os pretos que tinha no coração. 
Miles tinha escrito nas bochechas que a infância nem sempre é um acto saudável. 
Berry no seu “duck walk” olhava docemente para certas teenagers que fingiam ter “sexteen”.
Ás vezes sentia no corpo um fato que pertence a outro, quando o dia lhe corria tal mal contrariando a mais optimista previsão do relatório do tempo. 
Era quando o vento fugia da morte e empurrava esta mania de pensar que sabia quem foi. 
E molhado por esta invenção, entregava ao deus- trará, protocolos falsamente assinados da sua presença. 
O gato de Ferlinguetti poderá testemunhar a afluência inaudita na agência de turismo onde costumava urinar. 
O calor do seu orgasmo aumentou a temperatura do deserto que foi a cama que nunca cheirou a sua solidão. 
Eram noites sem janelas onde a memória acaba por fugir. 
E assassinam gemidos de guitarra sangrando o ventre até aos dedos que só a queriam acariciar. Agarrava os blues do Mississipi e snifava o pó dos velhos “vinyls” que podaram a sua juventude. Retornava á velha casa e beijava o som roufenho que chorava naquele velho gira-discos, só para voltar a escutar de novo aquela música.
No caminho de volta encenava estrelas e falava com todas as palavras possíveis. 
Estrelava no céu beijos agradecidos.   



,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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