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quarta-feira, 29 de novembro de 2023

MÚSICA

 


Hoje tive um Sol diferente.
Um Dó maior,
suspenso num Si(m)
cada vez mais não
que arrefecia o meu Mi(m)
num sustenido embriagado.
Voava para além do céu,
e escrevia na nuvem especial,
perfumes
que só faziam a tua lembrança.


,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA


METABOLISMO

 


Tinha um metabolismo
Insaciável
&
Uma banda gástrica
Preguiçosa.

O sofá
Farto de ser vomitado
Deixou de aguentar
O abuso
Das 
Dietas.


,2017out_aNTÓNIODEmIRANDA


MISERY DAYS

 


            De cada vez que me lembro de voltar de mim, 
há abraços perdidos neste tempo 
às vezes desconfiado.
Junto todos os restos 
num monte desenfreado 
onde transbordam sabores enfeitados 
que enrolam estas memórias.
Nestas linhas inclinadas 
desce uma sombra conselheira 
para os maus bocados vividos 
em tons de prazer.
Encosto-me a folhas caídas 
no doce odor desta erva que 
perfuma o meu olhar.
Amasso os passos que me fogem,
arredo as cortinas da janela 
com vistas para outras coisas,
e beijo a alma da ausência 
com lábios carnosos.
Continuo a desconfiar desta conta 
que me confere sempre 
um saldo miserável.



,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA


MANCEBO

 


        Encostado na esquina, ouço partir os olhos vazios, neste passar do tempo, que teimam em dizer que perdi. Mas eu continuo a acender este fogo, como se fosse um cantor de uma banda de rock`n`roll, onde nunca toquei. Poderia contar outras histórias, se o blush na minha face, não mostrasse que isso não passa de uma mentira. És doce como aquela canção que já não me espera. Continuo longe desse sapateado, ensaiado na escala do baixo, que amorosamente quer levantar o chão que me insulta. Por vezes, tudo me parece tão difícil, malgrado as desculpas de ocasiões mal desagravadas. Tenho saudades das velhas lojas, onde muitas vezes entrei para nada comprar, apesar das boas intenções. Os velhos amigos continuam comigo, mitigando a recordação das gajas que não chegamos a comer. Era só um supor malandro, que enchia uma pose com que fingíamos vender a alma. Estamos aqui, como provam estas gargalhadas emolduradas nos cabelos brancos, que só nos fazem sorrir. Naquelas noites tocadas nos jardins, fomos os mais felizes astronautas. Nas ondas do medo, iluminadas pelos faróis dos carros da polícia, enfeitávamos em segredo a nossa diferença. E no quarto das paredes sem sonho, adiávamos o sono, com todo o pavor da farda que nos esperava. Nunca perdemos a cabeça neste horizonte selvagem, ainda que as notícias dos amigos mais velhos deixassem de ser escritas. A lua sonhava então, com cores bonitas, o pequeno-almoço era animado com ácidos sem estricnina, e lá fora, a realidade mentirosa, felizmente não estranhava esta mania. Acariciava os anjos no duche, e compreendia que o seu olhar, só procurava o amor, num abraço que nunca ignorei. Entregavam-me sempre uma fotografia, com uma nuvem que tentava agarrar todas as coisas que fugiram do meu caminho, quando deus não estava feliz com a minha aparição, nas manhãs do ódio que tanto me sujava. Olhos sem luz, sorrisos maltratados, assaltavam a minha cabeça, neste princípio da procura de uma só escada divertida.


,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA


FUCK-MAIL

 


Ossos nas esquinas.
Coletes escondidos.
Cães de palha amansando latidos.
Onde se esconderam os sossegos 
sem medos que fintavam a tristeza?
Navegam arrependidos na barca das vidas 
não salvadas, e pintam bouquets enlatados 
na náusea, que nos traga a alegria. 
Um final feliz, fica tão longe do nosso olhar, 
e as fintas que consolam a mentira, 
enfeitam maldosamente o porta-chaves 
da esperança.
Há agora, um silêncio magoado 
que dança a noite da solidão. 
Está tão áspero este caminho, 
sem poetas com fé na esperança q
ue prometeu nunca os abandonar.
Guardam-se numa máquina de escrever, 
sem histórias para contar, os abraços 
das folhas caídas. 
Uma ideia sempre optimista.
Um nó para apertar, 
uma constelação constipada, 
e, um agradecimento timidamente arrependido.
Alguém vomita poemas contra a própria sombra, 
e na bebedeira do desgosto, 
implora a urgente significação da sua não 
identidade. 
Mas, Ele, ocupado como sempre, 
deixou uma mensagem no “fuck-mail”.
Os ossos cansados, 
albergaram-se numa pilha.
Têm frio!
Puta que pariu a avaria no incinerador!



2018Nov_aNTÓNIODEmIRANDA


ISTO AQUI NÃO É O PARAÍSO

 


Não te iludas!

Disse o céu

Quando a morte chegou.

Isto aqui

Não

É

O

Paraíso.


,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA


terça-feira, 28 de novembro de 2023

ABRAÇAMOS O MESMO ENGANO

 


Sentou-se ao meu lado a pintar curiosidades 
num pantone sem fé alguma.
Algumas cores conseguiram fugir da vida 
triste 
que ele queria contar. 
Segredos atentos desataram palavras 
e caiaram o oceano do amor 
sempre tentado, 
com novas tonalidades. 
Mostrava um sentido sem caminho, 
aquela dorida gargalhada que fugia 
do  pincel.
Na tela do seu olhar, já não havia o sorriso
com que tentava enganar. 
Não fujas de mim, 
suplicava a manhã aflita, 
ainda adormecida no meio da torrada.
Nos azuis sem rasto, 
sonhava o que pensava,
mas nada, nada do que imaginava 
ainda restar, poisava nos seus ombros.
A ousadia do seu eu, 
embelezava agora o lugar 
onde não podia ficar.
Sombras diluídas entonteciam marés 
com salpicos de lágrimas, numa deriva 
que escondia para sempre, 
um cachecol com o seu nome.
Já não havia o sorriso para enganar.
Não fujas de mim, dizia a voz 
das celebrações ocasionais, 
saída de um bocejo mentiroso.
Sentou-se a meu lado.
Abraçamos o mesmo engano.



,2019mar_aNTÓNIODEmIRANDA


A VISITA DO DESALENTO

 



Tenho 3 luas na minha algibeira,
disse-me o cachimbo de um sábio índio.
Enrola a vida numa velha manta,
e nunca a deixes cansar de remendar 
alegrias.
Aconchega os sentidos na penumbra
poeirenta,
e,
nada mais caberá na tua cabeça,
do que a visita do desalento.
Abraça a ausência do deitar ferido,
e, chora na  enxerga de lençóis desabitados,
mesmo que não consigas esperar a chegada
escrita nos anúncios do nevoeiro,
que espreitam na janela.
O que te espera,
quando com a solidão,
não consegues falar?
D. Juan foi brincar com a erva do diabo.



,2019Dez_aNTÓNIODEmIRANDA


WHISKEY BLUES

 


Sou o gajo que te ama às escondidas
abafando a vergonha de não gostares 
de mim.

São só lágrimas que te procuram
e ciúmes quando danças com outro
que não eu.

És a minha sombra
na noite que tudo promete.

Cuida do meu dormir
cansado de tanto
despejo.




,2019Dez_aNTÓNIODEmIRANDA


domingo, 26 de novembro de 2023

SONHO - TE

 


Sonho - te 

Dentro -  de -  mim 

Como se  a  v e r d a d e

Fosse  esse  momento 


,2021Novembro_aNTÓNIODEmIRANDA




sábado, 25 de novembro de 2023

ANJO APAIXONADO

 


Tinha uma língua de Spitfire

No cockpit todos a disputavam

O piloto automático
no suicídio várias vezes tentado
sonhava voltar a vê-la
com olhos irresistíveis 
de anjo apaixonado



,2016,08.aNTÓNIODEmIRANDA


AMAI COMO O OUTRO DIZ QUE AMOU

 


Candelabro incendiando um epitáfio escrito com nuvens de incenso e uma Ave-Maria retardada no aviário do Freixial. Frangos com certificado de pédicure e joelhos sangrados nas mais estúpidas promessas. 
Eu estou aqui, aviso, para vender o vosso perdão. 
Criaturas lindas, formosas vaidosas e não seguras. 
Mas hipoteco--vos uma música do sétimo dia com variações culturais de índole sexual, dignas da vossa imundice orada por mim, para o jeito que vos aprouver. 
Vós sérias e honradas, que tanto acreditais na virgindade anal dos vossos maridos, amai como o outro diz que amou e nunca tenhais vergonha dos sonhos húmidos que o pastor enganador vos provocou. 
Ele o felizardo só estava no sitio certo para medir a vaginal temperatura da vossa curiosidade. 
Assim na terra, como no céu e na minha aldeia também



2016,12aNTÓNIODEmIRANDA


BANDEIRA PRETA

 


1. Resta-nos continuar vivos. 
2. Varrer a sujidade dos dias.
3. E enfiá-la na fresta da penumbra escondida. 
4. Sonhar a humanidade com outras relações. 
5. Arquivar os bons feitios! 
6. Caminhar nas bermas sem o medo asfaltado.
7. Sorrir com bom hálito. 
8. E desesperadamente esperar.
Resta-nos a esperança tardia 
ficcionada em todos os poros. 
Descongelar ilusões que não nos abandonem.
Riscar os erros da memória 
e traçar planos só para o bom futuro.
Ó meu amor querido 
nunca estivemos tão abandonados 
nesta árdua tarefa de alumiar o presente.
Mas eu só percorro um exílio
agitando no aqueduto
uma bandeira preta…




2016,11aNTÓNIODEmIRANDA




SÊ O MEU POEMA


 Sim

Conta-me uma história 
mas não me risques a ousadia

Deita-te na minha mania

Vem morrer a meu lado
E sê o meu poema


,2022Nov_aNTÓNIODEmIRANDA

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

SEMENTES APODRECIDAS

 


Mais de mil amantes espalhados pelas ruas, 
rezam poemas sem ninguém para os entregar. 
Escondem na sarjeta, desgostos malvados, 
distribuídos na novena do entardecer amolecido. 
Varrem do céu, as luas da solidão, e, 
já nada esperam 
dos ruídos dos cinzentos subúrbios. 
Pedem-lhes para acreditarem no amanhecer que confortará a violência com que sempre se deitam. 
Fingem pintar o azul do nó que aperta a vida, 
e, sacodem na corda bamba, um choro rouco.
Mais de mil amantes, 
enterram sementes apodrecidas 
na terra da esperança mentirosa.
Destroçados, 
procuram um sangue não santificado, 
um único abraço, 
mesmo que finja a verdade.


,2019nov,10_aNTÓNIODEmIRANDA


ORA PRO NOBIS_2019



Pegou no pão 

e multiplicou-o por 12 migalhas.

                                        Os que tinham fome,

                                        não acharam piada.




,2019_ jan_aNTÓNIODEmIRANDA



A FERRUGEM NUNCA DORME

Quando te tratarem sempre como um brinquedo Desconfia da intenção Ainda não chegou Dezembro A ferrugem nunca dorme Entretém-se a espalhar cruelmente a infâmia Que consome os nossos dias Enrouquece-nos os sentidos Não esquece um só pormenor Pinta-nos no corpo O som da dor E Por vezes Impede-nos de passar a ferro As pregas da saia da Marilyn Sabemos Sempre que é necessário Que para morrer um grande amor É preciso continuar a viver A ferrugem nunca dorme Compunge-nos com um hálito cínico Fingindo uma preocupação melíflua Exaurida na mentira abundante Com um amanhã Provavelmente tímido Sem nada para acontecer A ferrugem nunca dorme Transforma qualquer vontade Em torno deste tempo Num penhasco onde te possas inclinar.


2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

SAX VAGABUNDO

 


O que é feito de ti
meu anjo desancorado?

Banho-me com a espuma da tua ausência
neste fogo já sem cheiro
que um sax vagabundo roubou.

Escrevo este desamparo 
no ninho das estrelas enlameadas.

De nada me serve
o sonho que desenho
nas rugas desta velha pele.

Não sei
porque teimosamente caminho
para o destino que  raptaste. 




2019set_aNTÓNIODEmIRANDA

Do blog do Miguel Martins. Obrigado.


 

hÁ dIaS AsSiM …

 




SE ÁS VEZES FALO DE TI...

Se ás vezes falo de ti
é para corromper este silêncio
martelado de postais tristes
e enlaço a saudade
num vai e vem de entregas ao domicílio
para uma morada que não conheço.
Se ás vezes falo de ti
será sempre para fingir
que não estou tão só como em mim
embora nada do que encontro me apeteça
e em coisa nenhuma estranho
a decisão de não enlouquecer
sem um motivo simpático.
Tento ser generoso
se ás vezes falo de ti.
Mas os tempos são de pouca coragem
e a sabedoria que me mostram
não atina com a minha curiosidade.
A minha insociabilidade
não é unanimemente aplaudida.
Durante as viagens do isolamento perturbado,
roubei todos os pés de cannabis do jardim botânico
e fui envolvido nas mais curiosas desventuras 
com insólitos personagens
que me ofereceram habilidades
para um vazio passível de preencher .



,2017fev_aNTÓNIODEmIRANDA

O ESTILO PRÓPRIO

Quem procura desesperadamente o estilo próprio,
deverá ter a primazia na abertura dos saldos dos patetas.



,2018jan_aNTÓNIODEmIRANDA

AS PESSOAS DIFERENTES

As pessoas diferentes devem morrer cedo.

Caso contrário, os estúpidos continuarão a admitir a possibilidade de aprender qualquer coisa com elas.



2017,ago_aNTÓNIODEmIRANDA

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

RENDINHA

 


Evidenciava

uma desmesurada autoconfiança

na sua ingenuidade

mental.

Não atendia números desconfiados

nem respondia a mensagens

depravadas.

Moléstia á parte,

qualquer rendinha

ficava-lhe

sempre

bem.


2018Out_aNTÓNIODEmIRANDA

PROMESSA


Por

Ti

Estou

Cansado

De

Morrer



,2022Nov_aNTÓNIODEmIRANDA

MONÓLOGO COM AQUELE QUE JULGAVA SER OUTRO



Fusão tântrica!

ü  Remanescência analítica.

ü  Nem todas as máquinas escrevem da mesma maneira.

ü   Ok!

ü  Vamos operar o modus vivendi.

ü  Não sei se tenho detergente suficiente.

ü  Podemos tentar a anestesia intelectual.

ü  Não é seguro que funcione e o carregador tem um ar desconfiado.

ü  Não confio neste carácter. Da última vez enferrujou-me o cateter.

ü  Nem toda a urgência é necessária.

ü  Há que falhar convenientemente.

ü  Sinto-me muito melhor.

ü  E já não tenho idade para ter juízo.

 

Alguém que espalhe a notícia.



,2016,05.aNTÓNIODEmIRANDA


terça-feira, 21 de novembro de 2023

A GAIVOTA MORREU PASMADA NO AREAL


Agora sou um apêndice a descansar na prateleira x de uma qualquer estante no museu nacional da ternura amiga. 
Sou mostrado em aplicações com detalhes da minha não autoria. 
Uma relação sem causa nem efeito. 
O que condiz comigo não tem qualquer avaliação. 
Sou agora a espécie com agente de todo o tempo sem verdade, escrevendo os dias difíceis aparamentados nos corredores onde não tenho lugar. 
Tudo é tão longe nestas selfies mal paridas com que pensamos ilustrar a saudade que já não nos pertence. 
O mais que nos interessa não passa de um lugar onde penduramos desejos, um foyer descamisado num cabide com o número previamente determinado.
Convite de uma promoção tão enganosa como a falta de interesse com que nos esquecemos. 
Voltem sempre, é o habitual agradecimento daqueles que fazem de nós pacóvios. 
Esta é a viagem inútil, do imenso roubo que nos dobrou a espinha tornando-nos fantasmas sem a alegria da ficção.
Oh terra minha, que tanto me atraiçoas, não me consideres ainda tua pertença. 
Não posso amar-te nem nos cânticos paridos com prantos de alguém que gentilmente ousou acreditar em ti. 
Nada sei do teu carma, nem do marujo que o enterneceu.

A gaivota morreu pasmada no areal.




2016,11aNTÓNIODEmIRANDA


segunda-feira, 20 de novembro de 2023

TURN ON THE LIGHT

 


Bebi os teus lábios abandonados
no copo das memórias vazias.

Sim!

Existirá sempre
a importância de nos 
revermos.

(Logo que 
a memória
deixe de ser

                    Uma

                            Ideia

                                        Vaga).



,2020Set_aNTÓNIODEmIRANDA


QUE SAUDADES PODERÃO CABER NESTE SARCÓFAGO?

 


Beijo neste agora, 
todos os momentos que consegui.

Não quero os asilos que oferecem 
a mentirosa simpatia 
que assassina a minha vida. 

Tenho nas veias os acordes 
deste coração sofrido. 

Deito-me no encosto das saudades, 
escondo no corpo ousadias, 
e sei o que custa o vazio dos abraços.

Escrevo com as palavras possíveis, 
o verso mais mentiroso.


,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA


TEMPOS MAL PASSADOS

 


O lustro dos anos oferece-me memórias camufladas, 
dedos que tocaram a morte, 
sinais que não cumpri, 
ajustes que não me sensibilizaram. 
Parado nesta esquadra, 
não tenho qualquer interesse 
em cumprimentar o sinaleiro 
das normas socializáveis. 
Aqueço certos momentos 
na lentidão da frigideira, 
enquanto o tempo o vai permitindo. 
Olho-me com um desdém 
habituado à repulsa, que não consigo fingir. 
No lado escuro da lua, 
leio o obituário que por enquanto 
não me diz respeito.
Aceito o findar dos dias, 
iluminado pela matreirice 
de uma vela benemérita,
 que dizem, purifica todas as urgências. 
Há muito que vivo na pressa que reza 
nas horas vagas pela minha salvação. 
Continuo encostado na fila 
com fim completamente indefinido. 
Contudo não confio 
na fiabilidade desta hipótese. 
Tudo é possível no esgoto da 
previsibilidade.
Orar por mim, 
será sempre um verbo 
com tempos mal passados.



,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA


AZÁFAMA RARAMENTE ACONTECIDA

 


não existe aquele bar 
nem     a     gente     engraçada     sem     projectos     futuristas     que     se     escutavam     com 
palavras     fáceis     e     elegiam                             o presente     como     a realidade possível.
Tangos     pairavam     no    ar  
ensaiando     passos     em     câmara     lenta         para não perturbar     o     bailado condescendente     das intenções     solidárias                 que     ternamente     abriam     as                 asas     para     a     manhã     seguinte. 
A     solidão era     uma     estranheza                               que     não     conheciam                     e     a     saudade                                             uma     azáfama     raramente     acontecida.



,2020Set_aNTÓNIODEmIRANDA


SIGILO DEVOLUTO

 


Sou um belo jovem, possivelmente educado, pele enrugada, não bronzeada e aprecio o que faço! Em primeiro lugar, gostaria de agradecer o seu interesse pelo sorriso maroto e olhos que enfeitiçam. A sua satisfação não me interessa absolutamente nada, no entanto, prometo que farei da sua estupidez, um sigilo devoluto. Serei sempre uma surpresa ruim, e meterei no lixo não diferenciado, todas as suas preocupações e problemas. Sou distraidamente super sociável, e por vezes mentalmente não higiénico. Sou muito quente, por isso não uso camisa de dormir, e os meus vizinhos não apreciam lá muito, a actuação sonora emanada da sanita. Devo dizer que não sou iniciante. Umas vezes em lingerie, outras com roupa sexy, descalço ou de salto alto, estou pronto de segunda de manhã até domingo de madrugada para uma óptima cagada com boa apresentação, Estou a melhorar, daí inserir este anúncio. Pretendo arrecadar fundos para um adequado stock de papel higiénico. Uma insolvência sem tabus, será devidamente apreciada na factura do “SMAS”. 





,2017out_aNTÓNIODEmIRANDA


DISTANCIAMENTO SOCIAL

 

Eu


&


A minha sombra


Há muito

Que não 


Nos


Estimamos


,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA



ASSIM... NÃO VALE!

 


De todas as vezes 

que te levo ao jardim,

porque teimas em arrancar

o

amor

-

perfeito ?




2019out_aNTÓNIODEmIRANDA


LEVEM-ME ATÉ À BELEZA MAIS PRÓXIMA

 


Satisfaçam a minha alma.
Deixem uma agonia perfeita, 
os sonhos que me roubaram, 
o nome com que me engano, 
só um dia bom embrulhado 
nos abraços verdadeiros, 
mesmo um momento 
que me faça esquecer de mim mesmo.
Um desassossego, 
para fingir que não escuto 
uma consciência apodrecida.
Um sopro que afaste esta tristeza 
sem luar para desaguar.
Leio nas veias um apelo 
que não conheço indicado 
pela sombra dos passos que perdi.
Estúpida memória que aperta os braços, 
fazendo de mim o mendigo 
dos afectos que há muito deixaram 
de me impressionar.
Percorro-me nesta corrente de lágrimas, 
agarrado ao laço da angústia, 
enquanto choro versos à deriva.
Ergo para o céu todas as iras, 
esfrego no peito cheiros de nojo, 
ajoelho e entrego com a nulidade da fé, 
a bênção dos dias felizes.
No conforto deste canto 
nada mais me apetece pensar.
E também não quero falar disso!
É sempre o mesmo pecado 
que teima em deitar-se comigo.



,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA


A REALIDADE ESTÁ NOUTRO FILME

 


É numa alcofa que escondo 
os silêncios 
que me comovem.
Embrulho-os em tons de rifas, 
para num sorteio batoteiro, 
adivinhar o destino que deitei fora.
O silêncio é um lugar sossegado 
que estendo na vida para o sol corar.
Afasto o tempo das horas más, 
e assim, tranquilizo a esperança despida 
do sentido da fé mentirosa.
Aguardo na porta ao lado, 
a entrega do aviso de recepção 
dos dias felizes.
O amanhã está escrito num calendário 
ardiloso, ilustrado com palavras 
que não conheço.
Tropeço na luz da pálida angústia, 
e desligo a memória antes de acordar.
Bem-vindo à terra dos patetas!
É o que está escrito no tapete do paraíso.
Volto atrás sem sair do mesmo lugar.
Enganei-me na matrícula do sonho.
A realidade está noutro filme.



2018Nov_aNTÓNIODEmIRANDA


BOBÓS

Fazia óptimos bobós.

O
de
camarão
também
era
brom


2018Nov_aNTÓNIODEmIRANDA

sábado, 18 de novembro de 2023

IMC Índice de mossa corporal

                                   

         Quando ela me parte os 
braços 

Eu fico com uns 
inchaços 

Doridos até mais 
não

Já não posso tocá-la com 
abraços
 
Beijá-la com 

inTEnSÃO


2016,11aNTÓNIODEmIRANDA


IMBECIS

 


Só leram um livro:

o único que não tinha palavras.

E a irreverência que conseguem mostrar
está sempre visível na marca dos ténis 
que emporcam o banco do autocarro.



,2016,06aNTÓNIODEmIRANDA


HELP DESK

 


Vamos fazer um filho!

Agora é que é!

Pegou no telemóvel

E ligou para o Help Desk.
(agora é assim que se diz).

Antigamente

Era diferente.



,2016,06.aNTÓNIODEmIRANDA


DO LADO ESQUERDO...

 
Do lado esquerdo, 
escrevo na outra fase da lua, 
enquanto sonhos ansiosos 
aguardam 
curiosos temperos coloridos 
com os sabores de ousadias 
não programadas. 
Do lado esquerdo, 
deito-me enternecido, 
e jogo o elenco preferido, 
agarrado a uma eventual play station 
com comandos avariados 
que fugiram para outra cena 
agarrados ao chupa-chupa da 
Mary Poppins. 
A Alice já não quer dormir comigo, 
(a não ser do lado esquerdo) 
e deve ser por isso que tenho suores frios 
que me enlouquecem a barba, 
sempre mal disposta para o afago do pincel.
Não sei quem mora aqui. 
Agora que estou disponível 
para uma conversa de pé de orelha, 
sem corrector pornográfico.
Do lado esquerdo, 
alcanço outras irreverências 
e não é sujo dizer que amparado 
por óculos “mono-fecais”, 
sinto nas costas um par de m(i)amas, 
que me aquecem as mãos.
Do lado esquerdo...


2016,03aNTÓNIODEmIRANDA


HAXIXE TO ASHES

 


Que vida é esta quando na morte não pousam flores? Morrer assim depois da história desajeitada, alinhada nos capítulos imperfeitos que não escolhemos? Má sina viver este tempo onde só o ignóbil foi respeitado. Nada sobra desta repulsa com que embrulho a fartura da infelicidade. Nascemos com os pés nus, contemplando a lisonja que nos convence do contrário. Haja quem me queime a calma onde a alma apodrece. Claro que na morte, e contrariando o ditado, nunca seremos iguais. Só o nome da indigência cabe neste cabeçalho. Triste a vida na morte que acabou nesta sorte.



2016,11aNTÓNIODEmIRANDA


EM PICADILLY CIRCUS, PODIA TER SIDO ASSIM

 


Agora lê poesia no pátio das mortes
onde sorrisos de pássaros
acendem cachimbos com misturas 
curiosas.
E goteja palavras
só entendidas por 
poetas divinos.
Escorrem ácidos
de taças lacrimosas
que tornam brandos todos os 
queixumes.
E os versos felizes
andam ao colo dos anjos
abraçando assim 
a humanidade possível.

Poderia ter acontecido 
                em Picadilly Circus.




,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA


HERÓI

 


eu fui dos que ficaram
pelo caminho
feito esquecido
e tido como covarde

prometeram - me medalhas 
deram - me uma farda
e um horário para cumprir

meteram - me num tanque
mostraram - me uma bandeira
obrigaram - me a mentir

... rotularam - me de herói.


abr.74.8_aNTÓNIODEmIRANDA


DEIXEI A ESPERANÇA A SECAR NO VARAL

 



Não me entregues o amor.
Esta não é a altura ideal.
Eu sei que o teu erro não me engana, 
que sou só eu, 
quando dizes o único que amas. 
Tenho guardado num envelope 
a escrita das nossas traições 
e nas telas que pintamos 
com velhas molduras mentirosas, 
decoramos auto-retratos 
onde sempre estivemos ausentes.
Não me entregues o amor.
Ambos sabemos do seu afogamento 
numa taça de champanhe quebrada 
muito antes da nossa paixão.


2016,11aNTÓNIODEmIRANDA


HAPPY BIRTHDAY

 


Feliz aniversário

Para ti meu amor

Este é o dia 

Para celebrarmos a tua morte

Não tens que chorar

A vida é uma mentira

Embora toda a gente tenha a mania

De contar histórias com sorte!

Esta dor bebe-se dum copo

Enquanto alguém distraído

Continua a escutar a canção errada!

Feliz aniversário

Para ti meu amor

Abraço-te 

Com estas palavras

Levo-te no meu segredo

Enredo e novelo

De angústias formatadas.



Junho20.2010_aNTÓNIODEmIRANDA


FREE LIKE A SHOT FROM MY GUN

 


D e r a m -  l h e  

u m  

t i r o  n o  r e t r a t o 


M o r r e u   

s e m   

d a r   p o r   i s s o


,2015ª_NTÓNIODEmIRANDA




sexta-feira, 17 de novembro de 2023

IMPORTÂNCIA MORIBUNDA

 


As pedras que pisam o caminho 
mostram-me agora a idade
das horas usadas

Há muito que as nuvens deixaram 
de ter a cor do meu porvir 

Há quem lhe chame 
O tempo da importância 
Moribunda.



,2023Nov01_aNTÓNIODEmIRANDA

O #EUKLIDES# Rua dos Poiais de S. Bento.


 

DÊEM-ME UMA GARRAFA DE BOURBON!

 


O nojo permanece intacto, o desgosto 
indomável, depois solta-se o uivo da 
partida adoçando a sela do cavalo doido.

À procura de mim naqueles dias com horas enganadoras. Como se o longe corresse para o mundo dos lugares embrulhados nas expectativas desleais. Sem palavras esta conversa. Fere. Arrasta. Complica. É sempre gratificante comunicar com a ausência de respostas, embora conheça a onerosidade do tempo. A inevitável e subtil aspereza das perguntas gravadas nas nossas tumbas. Possivelmente não estarei ao nível da mais simples exigência. Estas vidas de sonhos desavindos, sabores de memória salgados, escrevem nas portas da glória a crónica da morte anunciada. O céu e a sua estimada distracção nada sabem deste perfume. Eu, aqui sentado na cadeia das lembranças, observo o obsceno voo dos abraços angustiados. A consolação dorme no forno da requentada ilusão.
Tudo o que gostei foi em vão. 
Nunca comprarei esta mentira!

Alguma verdade [que de mim nunca 
saberei] poderá adormecer no vazio copo 
dos prazeres não consumados. 
A incoerência restante 
comprovará a mentira que gostareis de 
aplaudir.



,2023Nov9_aNTÓNIODEmIRANDA

WILLIE DIXON, MUDDY WATERS and the young BUDDY GUY recording for Chess Records for his fourth Chess album "Folk Singer", released in 1964.

 


#MÃO-DE-OBRA# O Livro dos Abraços - Eduardo Galeano

 





TENHO QUE ME PÔR A PAU!

 


Aqueles que se dizem 
"artistas" “escritores” “poetas
& “outros que tais
enganam mais do que a mentira.

Talvez a pecha existencial 
esteja relacionada com defeitos de fabrico
(nascimento pré maduro?)
mostrando incompatibilidade com a imaginação.
[direi mesmo esperma mal derramado].

São assim:
                    Estupidamente convencidos 
                    Desajeitadamente engalanados
[o que me apraz registar].

Tenho que me pôr a pau!

Qualquer dia ainda mentem 
que sou poeta!

Não manguem comigo… 


,2023Nov16_aNTÓNIODEmIRANDA




terça-feira, 14 de novembro de 2023

Ó PUNS DEI

 



Não se deve morrer 2 vezes. Mente quem pretende o amor sempre igual. Há inoperâncias nada simpáticas assim como hálitos desprovidos de qualquer intenção. Há que ter o cuidado possível com os sintomas perigosos, tal como com os detergentes não convenientes ás nossas perspectivas. Torna-se aqui necessário, activar o sistema da normalização da refrigeração. Dito isto, e para não comprometer campanhas dinamizadoras do mau tráfego intestinal, absurdamente terei de admitir que qualquer coisa menos boa, será sempre diferente, não sei se melhor, do que uma menos má. Alguém pretensamente entendido, não estará de acordo. E isso não me preocupa. Tenho dias assim, com tantas horas que não alcançam o que eu espero. Com segundos tão sofridos que abafam minutos que nunca deviam ter existido. 

O tempo não liga à corda do meu relógio. 

Qualquer dia iremos deixar de nos entender.



2015aNTÓNIODEmIRANDA


DIAS APODRECIDOS

 


A morte despe-se de 
véspera


É assim que


Tontamente

 

Se despede dos dias 
apodrecidos



,2023Nov14_aNTÓNIODEmIRANDA


UM RASTO DE FOTOGRAFIAS VAZIAS

 


A memória já nada me conta


Endoidece as noites

numa anómala 

possibilidade

caminhada por 

um triste rasto

de fotografias 

vazias



,2023Nov14_aNTÓNIODEmIRANDA