87 anos. ABÍLIO de MIRANDA | 04 Dezembro.
Sentado na
paragem do autocarro, relembro esse fim de tarde onde desoladamente percorri as
ruas que me levariam pela última vez até si. Ruas estranhas, pisadas por mim,
vezes sem conta. Tempo sem tempo, aquele que demorei a chegar. Estava cansado
duma forma absorta, vazio de uma esperança que julguei, nunca me abandonaria.
Invejoso de todos os sorrisos. Assassino de qualquer alegria. Acompanhava-me a
mais vil das tristezas, embora soubesse que agora era para sempre.
Saboreava todos os paladares da
angústia. Sabia agora, a hipótese exacta da perda. São 19 horas e mais vinte e
sete anos. Correu demasiado depressa o seu tempo. Longo, exaustivamente longo,
foi o tempo que levou a sofrer. Nada era tão real á minha frente, como o
cenário real da sua morte. O Tomás estava no quarto ao lado, ele que também
esteve para morrer. E a mãe com passagens para a outra realidade. Mas havia um
abutre! Um abutre abusivamente mascarado de palhaço, que não conseguia
respeitar a sua partida, gozando porca e despudoradamente com a situação da
minha mãe. Eu bem o avisei, que ele não valia nada. Tal como fiz dois dias
antes, com uma das suas irmãs, que depois da sua morte, não haveria a miníma
hipótese de qualquer relacionamento entre nós. Compreendemos os dois, que essa foi a última conversa.
VIVA LA
MUERTE ! Irei abraça-la como um cavalo louco.
04 de
Dezembro de 2014.
aNTÓNIODEmIRANDA
Sem comentários:
Enviar um comentário