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terça-feira, 10 de junho de 2014

AM_POEMAS



a nossa senhora



Mesmo deus

Já não te pode ajudar

Aquilo que procuras

Já não está no altar

Ele partiu

Cansou-se de esperar

A água benta

Da cor sangrenta

Está esgotada

As hóstias escondidas

Nunca mataram a fome

E as homilias

Continuam a resignar

Um quotidiano miserável

Já ninguém escuta o padre

E a nossa senhora

Nunca foi boa.

Ámen !

Ámen para ti também
mar_2013
(L)imitação

Do outro

Ficas com a imitação

Sem graça,

Será teu hábito ?

O exagero

Potencia a tua limitação

E a desculpa nem sempre funciona

Esvazia a paixão

Escoa o desejo

Nem tentamos o beijo

E rejeitamos a possibilidade.

Acontece !

Tem destas coisas a imbecilidade

Tornou-se este tempo uma banalidade.

Never mind:

O mundo não ficou mais pobre.

… devias saber que uma pergunta

Só tem duas respostas.
jun2010
1ª Anatomia de deus

Glória no céu

&

Paz na terra

Para os homens da minha boa vontade !

O diabo

Sorriu no facebook,

Comentou consigo próprio :

Vou continuar

A fingir que ás vezes

Não sou mau.
2014

Março

50 anos
Olhei teu beijo em flor

E tu sorriste

Sonhei teu corpo em flor

Logo partiste

Agora choram as gotas

Dum coração sem chuva

Reclamando

O momento do encantamento

Que eu perdi por ti.

Já não tenho todas as horas do mundo

E as mágoas correm alegremente num rio

Descobriste há muito que o teu tempo já passou

Embora partido em mil bocados

O espelho teima em mostrar

Todas as faces da tua decadência

Ficaste para trás

Estás fora de moda

Já não apagas aquilo que o relógio faz

Os teus modos não são os melhores

Já não é apetecida a tua foda.

Nunca disse amor

Mesmo quando o amor eu fingia.

Deixa-me apresentar :

Afinal sou um homem de bem

E de alguma cortesia ...
outubro.24.2006
2014 PORTUGAL
Portugal !

Agora sou um pedinte !

Mas, não te preocupes :

Isto é só uma espécie de poema.

Eu sei perfeitamente

Que a não notícia da minha morte

Passará despercebida.

Escreverei

No testamento que te vou enviar

Que as tuas pedras

Não me ferem tanto

Como os discursos impregnados de mentiras

Pronunciados em conferências de imprensa,

Onde mentes uma fingida preocupação.

& Costumava ser tao fácil gostar de ti

Quando poderei entrar num supermercado

E comprar o que me faz falta

Com a minha pobreza ?

Portugal ! 2014 !

O meu nojo tem mais idade

E eu quero morrer

Antes do tempo confirmar a tua mentira.

Prometes tudo

E tudo me roubaste.

Nem 1 cêntimo foi devolvido.

Portugal !

Não fiquei surpreendido.

Tú és como um penico :

Mesmo vazio, ocupa espaço.

& Costumava ser tao fácil gostar de ti.

Cheguei a ser feliz com o sabor da tua ilusão.

Que sonho eu aqui á beira mar plantado

Onde a não notícia da minha dor

passa despercebida ?

Mas, não te preocupes :

Não faças isso por mim :

Isto é só uma espécie de poema.

Portugal !

Da tua incoerência

Herdei a insustentável rudeza

De nada ter.

Agora sou um pedinte !

& Costumava ser tao fácil escrever poesia !

A minha raiva

Não acontece para te agradar.

Agora sou um pedinte !

Mas não te preocupes :

Isto é só um poema.

Portugal !

És agora um país

De putos e meninas :

Eles enchem o cú

Elas ocupam as vaginas.

Portugal !

Eu não estou contente.

Vejo os teus desempregados a chorar

Vejo tanta gente a partir

Vejo a tua inversão de perspectiva

Vejo os teus velhos abandonados

Desejando aquilo que nunca deveria acontecer :

Acreditaram no teu sonho

E agora vejo nos seus olhos

Uma indigna condição

Uma vontade apressada de morrer.

Portugal ! 2014 !

59 anos | 47 anos de trabalho

47 anos legalizados pelo teu roubo ilegal .

Portugal !

Vivemos o tempo dos assassinos !

Dos mentecaptos !

Dos inúteis !

Dos inaptos !

Dos cretinos !

Dizes que é para o nosso bem,

Mas porque sentimos

Que nos estás a matar com tantos mimos ?

Portugal !

O teu falhanço nem sequer foi grande coisa.

Não me apeteces !

Já não posso morrer por ti.

Quando te cansarás

Da árdua tarefa de libertares os teus ladrões ?

Portugal !

A minha cabeça tem uma estranha ideia.

O teu estado é caótico.

Estou imbuído de um espirito antagónico.

Tem cuidado : o meu pénis é atómico.

O meu desejo é automático.

Estou farto dos turistas do eléctrico 28

( Quando é que os informas que comprar o bilhete com a merda de uma nota de 50 euros, deixa-me abusivamente quilhado ?)

Portugal !

Agora nada posso impedir.

Vou dizer

E nem sequer é foleiro :

Já foste um país porreiro !

Portugal !

Vendeste-te á puta errada :

A ângela não gosta de ser fodida !

Não tiveste cuidado

E ela é manhosa.

Portugal !

Mandaste-me á merda

Sempre que te disse :

Ela é perigosa.

Portugal !

Vais morrendo

Matando cinicamente

Um povo que lava no rio da grande desilusão

As tábuas do seu próprio caixão.
.2014antóniodemiranda



a canga
admite - se

a canga.

depois

demasiado tarde

( como vem sendo hábito ) ,

surpreendo - nos

a

tanga.
A minha nuvem

Mandem flores

Para a minha nuvem

O meu epitáfio

Estará atento

Os mails terão a resposta

De um deus

Que eu atempadamente instrui

Queimem a erva que puderem

Que o meu olfacto agradecerá

Pintem todas as tábuas

Para que o meu caixão

Tenha as cores do arco-irís

Que me pertence.

Chorem depois de todo o vinho

Agora não estou sózinho.

Olho-vos do meu lugar sagrado

Eu fui aquele

Que negou o seu próprio fado.
2011
a temática da informática
Exmos. Senhores :

Afim de aproveitarmos

Os recursos informáticos

De que dispomos

Informámos

Vªs. Exªs.

De que a partir desta data

Os despedimentos

Serão automáticos.
85fev.
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
a viagem
De quem é esta mão ?



− É tua querido !

− De quem é este braço ?

− É teu amor !

− De quem é esta perna ?

− Só a ti pertence meu lindo !

− De quem é este olho ?

− É todo teu !

& foi assim

Que meticulosamente a meti na mala

E cumpri a promessa

Que há muito tempo lhe fizera :

Uma grande viagem pelo mar.
Julho06.79
A...
A = Nascido para ser inteligente

A : É um executivo

A : Bem composto | Melhor parecido

A : Tem o ar de quem só mente.

A : Tem suite no hotel, onde gosta que lhe rasguem os collants.

A : Tem a mulher que passa as tardes nos divãs…

A : Vai á discoteca com a mulher,

Mas ás vezes perde-a de vista

( deve ter ido com o motorista ),

Pensa ele

Enquanto mete no nariz a coca que enche a colher

A : Julga-se artista,

Igual áquilo que gostaria de ser.

A : Recebe o olhar :

Mais uma conquista. Sente calor,

Porque não no wc ?

Encontro previamente marcado

( aqui ninguém nos vê ).

A : É enrabado

Claro que gosta

Mas como sempre,

Convém não dizer.

A : Liga para o motorista :

Encha o depósito

Leve-a para a casa da praia

Faça o habitual :

Foda-a sem eu saber.

A : De repente

Sente no corpo

As ondas do medo.

Com tanta tecnologia

Poderá um dia

A sua hipotética filha

Tal como o mundo

Descobrir o seu segredo.

A = Normalmente Imbecil !

A = Objectivamente Cretino !
.2014antóniodemiranda



abc do escritório
O pronto pagamento

Da boa educação

Os resultados líquidos do exercício

As despesas de representação

O bónus anual

A ocupação negocial

A digestão digital

O elogio vaginal

O executivo importante

O empregado zeloso

O emprego degradante

O organigrama tinhoso

O bufo

A porca

O parafuso

A ordem

O abuso

O motorista solícito

O cú reboliço.

Eu sugiro

Eu solicito

Que acabem

Acabem depressa com isso.
14.5.86
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
agora não
Agora não !

Sinto-me cansado

Demasiado cansado

Mesmo para fingir.

Quando a manhã chegar

Talvez te abrace

Com uma nova promessa

Nos lábios...
3.6.86
agosto
Descansa

Os braços nos meus joelhos

Tu sabes como eu gosto

Leva o tempo que quiseres

Os meus dias

Têm o tempo de agosto

Ama-me até

Ao fim do amor

Com beijos escondidos nos lençóis

Do teu corpo

guardarei sempre o calor

Mais quente que mil sóis
2006out12
Amar... te
Amar - te tanto

Até atingires o céu

Para nele desenhares

Vôos de gaivota

Depois dirás

Que nada te importa

E continuarás a dizer não

Como agora dizes

Quando bato à tua porta.
mar.85.6
américa (com 1 abraço para ginsberg)
América!

Pés nús sobre a terra sagrada !

Exactamente a terra que tú manchaste

América não vales nada |

América não pensas nada !

Não respeitaste as pessoas boas

Que tiveram a coragem de dizer mal de ti.

América acabaste com os índios

E inventaste o ketch up para celebrar a sua ausência.

América eu sei que ginsberg deu-te tudo

E eu ofereço-te todo o meu nojo.

América não precisas justificar a tua existência

( eu sei que a tua estupidez é suficiente ).

E os teus cowboys nem em filmes me seduziram.

América vou matar-te !

E nem sequer será um acto de coragem.

América és uma mentira.

América vou segredar-te o meu espólio :

1 bomb in my head

1 bomb in my hand

1 bomb in my mind

With all this things, i love you américa

I hope you don`t mind.

América ninguém acredita nos teus cenários

Ninguém se ri dos teus palhaços

Nem os cães querem mijar na casa branca

América deves aconselhar o teu presidente

A não comer as cascas dos amendoins (nem os macacos fazem isso).

América não aprendes nada

Os marcianos já fugiram

América gerónimo derrotou-te

América sitting bull gozou-te

E talvez eu seja um dos milhões de espíritos de

Tatanka yotanka que neste momento solenemente juram que te irão foder.

América não te livras de mim

América celebrarei exclusivamente para ti

Uma ghost dance

América we shall live again !

Eu sei que não vais gostar,

Mas o teu mau gosto nunca me surpreendeu.

América ! Are you talking to me ?

Vai pró caralho !!!

América!

Pés nús sobre a terra sagrada !

América não ouviste a fala do índio

( sim, bem o sabemos

Quando vós chegais, nós morremos )

América tú é que és o manicómio |

Liberta aqueles a quem chamaste loucos

Só porque choraram por ti.

América ! E os búfalos ? Lembras-te ?

Claro !

Inventaste o hamburguer para esconder o seu extermínio

América little big horn existiu

Enterraste as tuas mentes brilhantes

Na curva do rio

América ! Merda para o custer para o super homem para o batman e muita merda para o capitão américa. Merda ! Toda a merda para os teus heróis de celuloide.

América desiludiste marlon brando.

América ! Sinceramente nunca gostei das tuas torres.

América o jazz não é teu.

Os blues choram a tua vergonha

América !

Amo desesperadamente aquilo que não te pertence !

América o mundo não precisa da tua boa vontade !

Eu sei que vai haver uma vaga no céu :

O deus em quem tu confias

Anda a portar-se vergonhosamente mal.

América fidel é o teu amante ideal.

América os teus dolares cheiram a merda

És uma história sem vergonha

Vietnam bertrand russel

América sacco & vanzetti não são assassinos

Marylin nunca foi a tua prostituta

América não me interessam absolutamente nada

Os teus constantes esgotamentos

E os teus delírios já não são segredo

Nem a cia acredita neles

América!

Pés nús sobre a terra sagrada !

Assassinaste os jovens que pensavam gostar de ti

América eu não estou sozinho

América eu só quero ser bem comportado

América eu só quero não ser respeitado por ti

América eu vi-te sentada numa nuvem a espiar a humanidade planeando ávidamente o método mais eficaz de a destruir

América não ouviste o grito

Vou-te enforcar numa cabine telefónica

América bob dylan avisou-te :os tempos estão a mudar

A tua estratégia não convence ninguém

Estou farto dos teus boicotes sistemáticos

Da tua moral sifilítica

Da tua anormalidade política

América quanta miséria espalhaste pelo mundo !

Guajira guantanamera

Esta é a nossa terra, terra querida

Aqui los hombres si, yankees no !

Pátria o muerte !

América tenho a tua coragem na minha algibeira

Eu sei que não vais mudar

Nem poderás nunca seguir o meu caminho

Ainda não descobriste a razão da tua maldade

América todos confirmam o elevado grau da tua insanidade

América hoje é um bom dia para te matar
Uma boa américa é uma américa morta
América porque odiaste os teus beatniks?

Não me ocorre nada de bom para te falar

A tua liberdade não passa de uma estátua envergonhada

América liberta os tornados para que definitivamente eles cumpram a sua missão

América as tuas guerras são uma farsa

És um pesadelo sem fim

América todos te enganam sobretudo quando dizem gostarem de ti

Vomito nos teus óscares e discursos e no espírito americano e no teu way of life

América estou sempre pronto para te irritar

Zappa tinha razão :

Na próxima vez prometo não vir-me na tua boca (pensando bem não mereces o meu esperma)

América tenho 1 míssil para purificar a tua alma

O meu ódio é melhor que o teu

Juro-te que a minha raiva é eficaz

Embora me considerem um bom rapaz

Os teus ensaios nucleares não me convencem

As tuas ogivas são supositórios

E no teu cú cabem todas elas

América!

Pés nús sobre a terra sagrada !

América!

Sei que vais morrer!

E grouxo marx não te quer no paraíso.
2006setembro
américa
estás conspurcada de acções

de vitórias fabricadas

de esperanças vendidas

e pelo nojo daqueles

que te amaram.

as tuas bibliotecas

cheiram a sangue.

( e digo - te desde já

que não existem índios na lua ).
74mar.
amor
deitado na

cama

deserta

despida

nua

:

compreendo

o real significado

da tua ausência .
Amo-te
enquanto tiver esse tempo

feito com vontades de te abraçar

mesmo sabendo o sabor do momento

das promessas adiadas
amo-te

quero-te
enquanto viver esse sentimento

preenchido com todos os desejos

na magia dos beijos

no sentir do teu olhar
2011jan01
anatomia

dum

escritório.
envelhecido

antes

do

tempo

em

cascos

de

merda.
( a todo o momento ).
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
ANJO NA AVENIDA CONDE DE VALBOM
Vi-te na rua

A falar

Com um mundo distante

Que só outro anjo compreende

Olhavam

Riam

Com o desprezo da normalidade

Estupidamente estampado nos rostos

Embrulhei-me na tua alma

Eu

Aquele

Que na pele

Já só tem a memória da solidão

Imaginei-te como eu

Ou

Eu como tu

Mas agora

Já não tenho a tua bagagem

Abracei

A pena

Lágrima hipócrita

Já não é minha a tua viagem

E o meu epitáfio

Será apenas

Mais uma palavra de circunstância.
2010nov16
(Publicado na Antologia Poesia Contemporânea_Chiado Editora_2014)
anticonto
Na sequência dos dias sempre iguais ele mirava – se

no espelho e recortava a fotografia do jornal.

Ela tocava schubert e sorria vendo a sua imagem reflectida no piano.

Eram pessoas bastante ocupadas e sobretudo democratas . As manhãs dos dias eram gastas na limpeza do pó das pessoas que estavam na estante. Também não jogavam no totobola para darem oportunidade às outras pessoas. Subitamente fez - se silêncio. Ele olhou ! Ela também olhou e depois bebeu o suor duma tecla. E o telefone tocou. Uma duas três quat... vezes. Ela suspirou. Ela espirrou. Ela disse : Telefono - te depois da psicanálise.
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
apologia do futuro
melhores dias virão !

não para mim

mas sim ,

para o patrão.
84mar.
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
Apologia do poder
se

eu fosse

o

poder

mandava - o

foder.
( a todo o momento) .
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
As palavras valem o que valem
As palavras valem o que valem. Nada mais para além disso. Usamos & abusamos nas intenções que nelas colamos, e assim é feito o reino da nossa vontade. Não gosto que analisem aquilo que escrevo, pois quase sempre a sua interpretação não corresponde minimamente à realidade do momento em que escrevi. É uma veleidade que julgamos poder assumir, esquecendo frequentemente os riscos e sobretudo a nulidade dessa mesma análise. Saber poderá significar não entender. Julgar ou pensar entender, oferece-nos sempre a ilusão da inteligência. Mas a inteligência não é o erro repetido. A não ser que queiramos fazer do pensamento uma constante duplicação. Quando se nega a existência de qualquer coisa, estamos realmente a admitir a sua possível existência. Admitir é normal ! mas o normal é necessário ?

"in epístola de antóniodemiranda aos peixinhos do aquário Vasco de Gama, extraído da bíblia segundo Grouxo Marx, quando o mesmo descobriu , que afinal nunca poderia ter sido outra coisa que não ele próprio".
8 de Junho de 2013
AS PORTAS DE ABRIL QUE SE FECHARAM
Gostaria que estas palavras não tivessem o sabor de uma esperança agredida.

Gostaria que o direito á diferença não fosse uma situação ocasional.

Gostaria que o respeito fosse uma opção institucionalizada.

Gostaria que a utopia fosse uma ideia minínamente aceitável.

Sobretudo gostaria que as pessoas não tivessem a necessidade constante de continuarem a serem enganadas.

Porque :

As portas existem para serem abertas.

As portas fechadas são sempre ideias erradas !

Nunca negarei aquilo que valho, porque o que sou não será nunca o vosso número preferido

& ninguém terá de ser um mero assistente operacional.

Não me transformem num assassino !

Por muito que queiram, não matarei nunca esta intenção:

continuo a alimentar a esperança possível e garanto-vos que a vossa imbecibilidade jamais condicionará a minha vontade.

EU SEI AQUILO QUE QUEREM !

Mas...

não é culpa minha se a vossa realidade me constrinja a fazer guerra a tanta maldade.

Pois é...

Não vemos o mesmo filme | Não lemos o mesmo livro | E o vosso diccionário continua a dar um significado MENTIROSO (da vossa

errada conveniência), das palavras mais importantes.

TANTA BOMBA MAL CAÍDA !
2014abr12
As saudades que eu já tinha
As saudades que eu já tinha

De comer uma velhinha

Tão idosa quanto eu

Meu deus como ela se vinha

Não parava quietinha

Não sei o que é que lhe deu.

As saudades que eu já tinha

De comer uma velhinha…
Maio27.2010
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
ÀS VEZES
Às vezes

penso que penso

e logo me esqueço

de que isso é proibido

outras vezes

penso que não penso

e nunca mais me esqueço

da sensação

de ser fodido
89fev24
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
asas de desejo
quando vir

um anjo

com asas de desejo

não sei

se resistirei

à vontade do beijo .

como de costume

aparecerás em forma de volúpia

e

eu

como sempre

adormecerei
no nevoeiro do teu sexo .
asas
cortaram-me as asas

mesmo

antes de aprender a voar

agora caio

rastejo

levanto-me

mas não deixo de tentar
21.5.86
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
até ao fim
até ao fim

meu amigo

foram penosos

mesmo em demasia

os caminhos que percorremos

e no entanto

bastava

que a esperança

não fosse

mais do que uma palavra agredida.

até ao fim

meu amigo

mantivemos a coragem possível

e desenhamos

os mesmos projectos.

no entanto

bastava

que a amizade

não fosse

mais do que uma palavra agredida.

até ao fim

meu amigo

prenderam - nos

pelos mesmos preconceitos

e imaginámos

tentativas de fuga

onde tentámos correr contra o vento

ainda que estivéssemos

amarrados

às amarras da vontade do tempo.

no entanto

bastava

que a coragem

não passasse de uma palavra ausente.

até ao fim

meu amigo

permanecemos imóveis

quedos

à tirania

de quem em nós

tentou mandar.

no entanto

meu amigo ,

bastava

que pelo menos uma vez

estivéssemos unidos.

&

isto é o fim, meu amigo

o único e verdadeiro fim

meu verdadeiro e único amigo.
86.
até onde me levarão

os caminhos do desejo ...
daqui a pouco

mergulharei novamente

no sonho habitual

e num anónimo ritual

recordarei um a um

os beijos desejados.

até onde me levarão

os caminhos do desejo ...

arde - me já a vontade

mas não é deste fogo

que eu tenho medo.

ser saudade antes da realidade

ser dor para além de segredo.

até onde me levarão

os caminhos do desejo ?
86ago.
ausência
como de costume

o

amor passou ao lado

e derramámos esperma

para celebrar a sua ausência.
85mar6.
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
Ausente de mim
fecho os olhos

para a noite que sempre acaba

olho-me num rio

e imagino-me barco sem cais

e se as ondas batessem em mim

ou se eu fosse areia sempre molhada

mesmo com sabor a sal ?

não sei se estou cansado

ou ansiosamente procuro o cansaço.

sorrio a mim próprio

mirando-me num espelho de uma só face

o outro lado sou eu

& a minha completa desilusão .

volto atrás ! caminho em frente

com a pressa traiçoeira do sabor vazio.
TENTO SÓ O QUE QUERO

NEM SEQUER O POSSÍVEL.
espero no desespero

o tempo do desalento

o desejo adiado. e consumo

cenários de mera conveniência.

& suicido-me em ficções

& morro as vezes que não quero

& desejo não desejar

& choro lágrimas anónimas

& estou bem onde não posso estar

& estou não sou fui sou
ausente de mim
96.abr.18
Autoestrada 64

Para "foguito", o cão que mijou nas botas da tropa (1976)
Quando olho em volta e sinto-me longe do lugar

Onde gostaria de estar, não perco tempo a pensar

Se esse lugar na realidade existe.

Foda-se !

Não tenho culpa que o meu esperma

Originasse um saco de viagem.

Na verdade, embora esteja apaixonado

Pela auto-estrada 64, não vejo nisto uma solução.

Tudo começou

Quando cheguei a casa para jantar

E vi pessoas estranhas sentadas á mesa:

Elas tinham colares e flores na cabeça !

Eu sentei-me numa lata de sardinhas

& disseram :

Está louco, temos a certeza

Olhei para o prato

E vi que alguém estava lá a acampar

Tirei um macaco do nariz

E , ele satisfeito disse : uff !, até que enfim .

Senti-me aliviado ( arrotei )

Olhei para o chão : o boneco do mosaico

Estava a engraxar-me as botas

Pelo seu olhar logo percebi :

Que bem que arrotas !

Mas eu:

Algumas vezes sinto-me como um arco-íris

Ou um cogumelo

&

Quando olho em volta e sinto-me longe do lugar

Onde desejaria estar

Logo penso

Que nem todas as pessoas se deveriam ejacular.

Bolas !

Não tenho culpa que o meu esperma

Originasse um saco de viagem.

Forniquei a família,

Depois da sua primeira masturbação colectiva

Sinceramente

Irritou-me o cheiro do esperma até então derramado :

Demasiadamente

Abusivamente

Igual ao cheiro da merda.

Além disso

É sempre tempo de partir

Recuso a paragem

Porque a sombra acabará sempre por trair-me.

Cago nos contratos da única maneira possível:

Adiando-os.

Corri os quatro cantos do mundo

(aqui está a prova

de que este realmente não é redondo)

Escrevi á Rommy Schneider

E continuo á espera de resposta.

Forniquei nos wcs dos comboios

Passei tardes em Victória Station

A conversar com um índio mexicano

Que me ofereceu um cogumelo sagrado

&…

Foi então que tu apareceste.

Sinceramente duvidei que fosses tu !

Embora nunca te tivesse visto.

Mas havia qualquer coisa no ar

Inclusive as pessoas

Ficaram admiradas por terem a possibilidade

De admirar

Um arco-íris em plena estação.

Fiquei louco

E por isso beijei-te loucamente

Sim !

Cago perfeitamente

Que me chamem

De machista ou homossexual

Mas apaixonei-me por ti.

Como pode alguém

Apaixonar-se por uma auto-estrada ?

: CONHECENDO-A !

Bad luck blues
mal ainda eu vim

ao mundo

já me chamam

vagabundo

já me mandam

trabalhar

o patrão está à minha

espera

não houve tempo pr`a

escola

não houve dias pr`a

brincar.
balada do chulo
a minha namorada

encostada à esquina

fuma muitos cigarros

cocktails ou laranjada

blue jeans gelados

olha - os felina

e dá grandes passeios nos carros

depois diz que me ama

se com outros vai pr`a cama

é para me comprar um ferrari

oferece - me perfumes

e cigarros estrangeiros

esconde - se de mim

debaixo dos travesseiros

e beija - me na boca

contando onde passou

a última noite

enrola os dedos

nos meus cabelos

olhando - me muito séria

mais uma carícia um beijo

conta - me segredos

e depois dá - me a féria.
balada do prazer
isso ...

essa carícia

com malícia

o nosso amor é um tango

dançado swingadamente

cada vez melhor

cada vez mais diferente

adoro o teu dançar

e ainda sinto que é pouco

embora me tornes louco

de tanto te amar.

sim ...

a língua na boca

a mão na coxa

esta alegria quase rouca

de respirar o teu olhar .
85mar.6
Bar da Velha Senhora_Flamenco !

( com 1 abraço para : Diego el Gavi, Paulo Croft, Ricardo Pinto, Pakito Silva e Sofia Abraços )
Parou o tempo

acabou a hora

nem sequer salvamos a alma

tenho o copo cheio de música

é nele que bebo o teu corpo

CRAWLING QUEEN SNAKE

o teu bailado de serpente

põe-me indecente

sexo quente

porque sou eu inocente

se só quero perder-me nesta buleria.

Ai ai ai ai

agora sou o que queria,

Pensar que um dia

nos atrevemos a ousar

que o mundo só poderia

ser nosso.

Ai que tonteria !

O nosso amor

era como a água de um rio

que não se pode beijar.

Pensar que um dia

tu querias ser só minha

mas eu não acreditei nesse sonho.

Que ousadia !

O que será já foi :

não era tão forte esse sentimento.

Quando chega

a manhã triste

onde mais valia não sonhar,

Ricardo no seu trompete

faz-me esquecer de acordar.

Manhã triste e sempre sózinha

janela aberta onde entra a brisa

trazida pela guitarra do Paulo.

E a voz do Diego

corta-me como se fosse lágrima

mas não me magoa

mas não me faz chorar.

CRAWLING QUEEN SNAKE

serpente emplumada:

agora tenho a alma arrumada

agora tenho todo o tempo para amar.

2013set24

(talvez já passe da meia noite)

Obrigado Grandes Músicos !
beijos
deixa - me

beijar - te

mas com todos os

beijos duma vez

para

que não me perguntes

quantos foram

para que não fique

a dúvida do talvez .
bestiário
o que nos resta

depois de separarmos o que não presta ?

deitar fora as horas do tempo

para envelhecer calmamente

embora se apresse a pressa

de apagarmos a memória

de controlarmos o pensamento ?

de riscar o calendário

desta batalha perdida

mesmo antes de ser vencida

à qual ainda chamamos vida

e que faz de mim um bestiário ?

e esta vontade que desafia

e que programa dia a dia

esta ausência de revolta

que só nos dá a derrota

à qual teimosamente

etiquetámos de vitória ?
85fev.

blue
abraçar - te no olhar com o sabor do último beijo apetecido na vontade de nunca mais acabar

sentir - te quando nos diluímos nos abraços cúmplices que nos unem então acontecem as palavras novas que até então não ousávamos dizer é boa e apetecida esta fadiga

que não cansa nem limita e as tuas dúvidas são as minhas certezas que só encontro nesta paixão ardente feita no tempo do nosso tempo ritmado com sensações de amizade total até ao fim
e os arco - íris cumprimentam -me contentes

num claro gesto de cumplicidade

enquanto uma a uma vou abraçando as suas cores .

então toco -te sinto - te conheço - me perco - me dentro de ti numa viagem sempre diferente . Sorrio olhares de mim próprio de ti de nós da nossa vontade do nosso quererdo nosso amor tempestade feito com beijos de bocas amigas que eu quero desejo até ao fim.
E atinjo o vermelho do infinito,

o gosto da ousadia a ternura da ilusão

alcanço o mundo com a mão

e choro lágrimas que não têm senão o sabor do teu corpo .

buda

( ... da passagem de buda pelos u.s.a. )

buda tem os olhos tristes !

&

a limusine do presidente

continua a brilhar

buda

tem

os

olhos

tristes : não tem chewing - gumm

não

pode

merditar.
1977

cais
e

fico num cais de ruínas

que memorizam pedra a pedra

o tempo

em que eu ainda acreditava.

deito-me

sobre o som deste rio

sinto-me leve vazio frio

e sorrio

anónimamente

teorias de indiferença
26.5.86
calendário
Uma a uma

viro as tuas folhas

atirando - as ao sabor da memória

deste tempo gasto em vão.

Para o ano

farei delas barcos

e enche - los - ei com bocados

exactamente como é feita esta recusa.

entretanto vou adiando

ao sabor

não sei de qual vontade

esta contradição

que me faz viver a vida

em permanente tempestade.

Eu

ainda continuo com a esperança

de abraçar definitivamente

a bonança.
cama
deitado na cama

como poderei dormir

entre lençóis

com o sabor da tua ausência

&

sobretudo
reclamando o teu corpo ?

desculpa - me !



esta é a
dúvida que

não

te
perdo - o .
she`s gone

yes my baby

she`s gone.
Out.12.80
Canção para um rasca
Á rasca naturalmente

Gasto o tempo sem paciência

Não é minha esta conveniência

De esperar o futuro ausente

Perco a vida distraidamente

Abraçando a crise global

Não ter projectos é normal

Não há dia que não lamente

Á rasca naturalmente

Enoja-me o discurso do deputado

A retórica do ministro, não disfarça o focinho sinistro

É mentiroso o sorriso do presidente

Á rasca naturalmente

Ocupo um tempo que não me pertence

Perco a vida incessantemente

Olhando um relógio que me aperta o pulso

Sem trabalho Sem dinheiro

Para que me serve o curso ?
.2014antóniodemiranda




CARRIS748
despem-se as sombras

abandonando assim o corpo

que já não lhes pertence

sonho de veias feito

vontade ausente

beijo sofrido

abraço soluçado

desejo enganado

equívoco acontecido.

A ausência

só serve para recordar.

Agora que a noite

me abraça

com todas as promessas.

Bem- vinda !

Minha companheira.

Hoje começo eu

o jogo habitual...
mai2013
Carris748_1
Poêm gosto nas alterações das tuas fotos de perfil. São gostos mentirosos que tu gostas. Portas fechadas janelas indiscretas, conversas marotas. Devo dizer que não compreendo nada daquilo que escreves e nunca vi tantos amigos. A conveniência tem destas coisas embora a inteligência demonstre o contrário. Qualquer um pode ser imbecil e nem isso poderá ser considerado uma crueldade. Já não é o que é aquilo que dantes era verdade. "Fifteen pigs on the middle of the road going down for a sunday drive" : os domingos também servem para isso...

Este autocarro é uma cabine telefónica : agora já sei que a tati voltou a enganar o marido. Mas desta vez não foi com o chefe !... É um gajo careca que tem um descapotável. Também não foi nada interessante saber aquilo que alguém do banco da frente vai jantar.
caviar
caviar até fartar

e champanhe bem gelado

o dupont sobre a mesa

para o ar requintado

a mala de executivo

um olhar desportivo

outro olhar muito ocupado

discute a situação

na conjuntura actual

é amigo do ministro

com quem adora ser visto

especialmente na televisão

tem dinheiro na suiça

e os empregados sem salário

explora em portugal

e até tem cartão de empresário.
1984
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
CELEBRAÇÃO
Complicamos

Tudo o que não devemos

Até a morte complicamos

Mesmo antes de morrermos

Complicamos a vida

Sem sequer a vivermos

Projectamos o destino

Com teorias banais

Dificultamos o tempo

Que não é nosso

E logo achamos que as horas

São um osso duro de roer

Complicamos o riso

E toda a sua vontade

Abraçamos o medo

E inventamos armas letais

Que não matam a nossa triste realidade

Vemos os filmes dos outros

Com enredos que a fingir

Nos fazem doer

Rejeitamos

Ignoramos

Qualquer convite à felicidade.

Cantando

Celebrarei a morte

Se assim me ajudar

O engenho e a sorte
ago.2010
Cidade suja
( para Ferreira Gullar )
cidade de abutres
porca manhosa tinhosa

cidade triste e alegre

maliciosa

insidiosa

desesperante

frustrante

inimiga do amigo

maltrata o sem abrigo

cidade sem cor

ódio e amor

paixão silenciosa

violenta

tarde cinzenta

não ouves quem te fala

não sorris a quem te cumprimenta

cidade do frio

não aqueces o rio

não apaixonas quem te ama

louca dos mais loucos

amor apetecido

esquecido numa cama

coração arrefecido

onde se esconde a minha alma

percorro as tuas ruas

beijo as estátuas nuas

choro o porquê de não conseguir amar-te

e durmo nos teus jardins

abraçando a estrela que me acalma

já não consigo pintar

a tua beleza

sei a cor da tua tristeza

mas os meus olhos

já nada querem ver

serei eu a rasgar o teu véu

de noiva feita puta

que já ninguém desfruta

na alquimia do desejo
finita império
abraça-me no el último tango:




( não me queiras

não te quero

nada me deste

nada te pedi

não te engano

quero outra

não creias por isso

que te traí

o único beijo que me deste

foi aquele que não te pedi)
cidade suja

favela chic

zombies junkies

corruptos

corrompidos

suicídios

violadores pedófilos

doutores neuróticos

mulheres desesperadamente solitárias

olhares pedintes

carências afectivas

á espera de serem fodidas

sugerindo a dificuldade

mentindo a idade

castrando o desejo

por agora só a intenção envergonhada

talvez um beijo

e barcos cansados

adormecendo no tejo

virgens arrependidas

santos enforcados

orações ridículas

homens enganados

soluços rasurados

cidade que não é minha

cheia de amantes ausentes

sons de pássaros menstruados

paixão clandestina

sonhos delinquentes

bebedeiras copos doentes

sombras de fantasmas envergonhados

cantando a canção do malandro

espiões

normalizadores do comportamento social

odores desodorizados

hipocondríacos distraídos

bandidos surpreendidos

sonhadores arrependidos

confundidos

enganos inteligentes

adolescentes surpreendentes.

traço no espelho

sem risco

leva-me ao riso que eu gosto

e eu sei que ninguém me conduz

neste caminho da felicidade

gostava que estivesses aqui

comigo

sem o teu medo

não irei contar nunca o nosso segredo

os golpes na pele do nosso enredo

as razões não explicáveis

as alegrias pendentes

os soluços acontecidos

projectos esquecidos

dejectos à mesa servidos

inaptos

fingindo-se sensatos…
ninguém me ajuda

ninguém está atento

ao meu salvamento emocional

e eu sei que não se pode manter uma promessa .
Jun2010
cinzas
as cinzas

ainda queimam

ficando

só a memória

para recordar

os passos perdidos

nas paixões violentas

que vivemos.

haveremos de voltar

então

talvez definitivamente

libertos

de todos os beijos
comprometedores
COISAS DO TEMPO (1)
Claro que os anos passam !

Mas o tempo,

Que muitas vezes é nosso amigo,

Faz o favor de parar,

Para assim melhor admirar

As pessoas especiais.
.2014antóniodemiranda




COISAS DO TEMPO (2)
Pois é...

O tempo passa por nós,

Roubando-nos muitas coisas.

Depois,

Entrega-nos manuais de sabedoria

Alguns deles
Sem instruções para o uso devido.

.2014antóniodemiranda




COISAS DO TEMPO (3)
Um dia...

outro dia...

só mais um dia :

& as flores acabarão arrependidas

no jardim da celeste.
.2014antóniodemiranda



COMO NUNCA SEREI MINISTRO
Exmºs. senhores 1º ministro 2º ministro 3º ministro e mesmo 100º ministro + toda a família e todos os colegas e amigos e ainda as criadas que vos lavam as roupas mais íntimas.

Caros mas mesmo muito caros senhores :

Hoje é terça-feira e embora digam que não, acredito piamente que esteja a chover, como poderão ivaginar isso não me afecta mesmo nada e, deve ser a razão porque hoje estou tão preocupado. Disseram-me há dias que não se têm dado bem com o cianeto que vos enviei. Não sei se é verdade
89fev24
Como se fosse rita cadillac
prazo de validade ultrapassado

metida no buraco

a vida é fodida

todas as horas têm o sabor a fel

de nada vale a etiqueta

já nada controlas

muito menos a fantasia

de te ofereceres sem vergonha

e a malícia

não é a tua melhor arma

bem podes fingir

o olhar de pecadora

os santos mentem como tu

e nem sequer usam priadel

agora já não páras

e sabes quanto a tua sombra te detesta

caminhas

sabendo que não chegarás a qualquer parte

entras sempre no mesmo filme

como se fosses rita cadillac

e os dias ficam assim

ao correr da asneira

no tempo

gasto num constante lamber de feridas

sempre á espera do amigo

que não és capaz de ter

e riscas no calendário

todas as alegrias mentidas
2006dez
Conversas com deus (1)
Hoje falei

com um anjo :

deus estava distraído

e deu-lhe o número do meu telemóvel.

Lamentou o erro

disfarçou

a minha angústia

pagando-me 1 Jack Daniel´s.

Eu,

distraídamente

aceitei.

… Mais tarde

teremos todo o tempo

para celebrar

o arrependimento.
2014
antóniodemiranda



Conversas com deus (2)
Claro que você

não é perfeito.

Comigo

acontece o mesmo !

Aqui estou eu

na minha ignóbil ignorância

a negar a sua existência.

Mas a ignorância

tem destas coisas :

um ignóbil filosofo

afirmou numa teoria não comprovada :

a negação

não é mais

do que a afirmação da existência

de uma coisa qualquer.

Nb:

não considero isto sabedoria

mas...

tem destas coisas a filosofia.
2014antóniodemiranda



Conversas com deus (3)
Definitivamente

eu & você

somos dois tesos !

Concretamente

Há uma diferença :

Eu nunca fingi

Ser rico !

Já agora,

Permita-me um conselho :

Deveria

Ter muito mais cuidado

Com as imitações.
2014antóniodemiranda



Conversas com deus (4)
Só lhe posso garantir

Uma certeza :

O mundo seria

Mesmo diferente

Se você não tivesse nascido

¼ de hora antes de mim.

Não considere isto

uma arrogância da minha pessoa :

Embora goste do arco-íris,

Alguém da minha confiança

Afiança

Que não foi você que o pintou.

Nb:

Fazendo fé no evangelho,

Mesmo naquele tempo

Nem todos os ácidos eram de fiar.

Calhou a si :

Há dias com azar...
2014
antóniodemiranda



Conversas com deus (5)
Que seja

Como você quiser…

EU

Agora não tenho

Tempo !
2014
antóniodemiranda



c o r p o

é no teu

corpo

e é de nele navegar

que me afogo

até ao último fôlego

sem

nunca

me chegar a cansar .

Cristo
cristo ! cristo !!!!!

porque me abandonaste ?

( eu não estava presente

na última ceia . )
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
dá-me
dá - me um bocado do teu sorriso

antes que perca o juízo

e comece a gritar : estou farto te tentar

estou farto de tentar

vem !

dá - me a tua mão

assim caminharemos juntos

sobre este oceano de m` ágoa

até a tristeza se afogar.

estou farto te tentar

estou farto de tentar
... mas ninguém me quer acreditar.
dança



dança - me essa ternura

eu nunca me canso

desta vontade louca

quente quente quente

que tenho de te beijar .

que desejo

mas que desejo é este

que quer mais um beijo

se ainda tenho na boca

o sabor do último que me deste.

meu amor !

como é saudável

a nossa indiferença .
Abr.84.
Dead aNGEL bLUES
SONHOS VAZIOS NA MINHA CAMPA

FLORES SUJAS BEIJANDO A PEDRA FRIA

EU NUNCA FUI 1 BOM RAPAZ

NEM NUNCA FOI ISSO

AQUILO QUE EU QUERIA !

FLORES SUJAS NA MINHA CAMPA

SONHOS VAZIOS BEIJANDO A PEDRA FRIA...
2013
aNTÓNIOdemIRANDA



DÊEM FLORES AOS REBELDES QUE FALHARAM
NADA FICOU POR FAZER

DO QUE FEITO FOI COM VONTADE

DA NOSSA ESPERANÇA

LUTA CONSTANTE DO NOSSO QUERER

ACREDITAMOS NA POSSIBILIDADE

E NUNCA NA GLÓRIA CASTRADORA DAS NOSSAS INTENÇÕES

NÃO HÁ VIDA DIGNA SEM IGUALDADE

E NUNCA A LIBERDADE SERÁ PODER.
Maio27.2010
DEIXA-ME VIR …
Deixa-me vir

Esta foda é minha e tua

Falamos daquilo que nos dá prazer

Somos sol e lua

Aceitaste o convite

Sem medo de te dar

E neste tempo só a ti eu vou querer

Deixa-me vir

Tu sabes como lambes bem

E já conheces os cambiantes do meu sabor

Esta noite és a minha conquista

Ama-me sem fim à vista

Molha-me com o nosso suor

Pois é, pois é…

Já sabemos o que fazer

Sempre que nos encontrarmos:

Inventar o prazer

Foder até nos cansarmos.

delicia

deliciosamente

como se fosse urgente

abraçava o teu sonho

no meu sexo morno

quente quente

queimávamos então

artifícios de amor

embora lá fora

continuassem a afirmar

que toda a esperança é legítima .
demência
A demência projectada

no estirador milimétrico

a análise demorada

o humor geométrico

no meio do vazio

lambendo o nada

a vontade ancorada

não importa tiro ou facada

champanhe com sabor a limonada

eu sei que vou ter sorte

mas a fé não me ajuda mesmo nada

e os planos para o futuro

e o futuro é a agência

da viagem adiada

a rotina sempre em cima

a monotonia não me larga

a mania sempre a mania

de procurar

procurar sempre outra estrada.
Agosto86.
depois
depois fica o vento

que quando sopra me trás os teus beijos

fica o sabor do momento

feito chuva de desejos

resta o nada que me afoga

e as lágrimas que choram

não sei porque sentimento

depois fica o tempo

que nada sabe de mim

depois fico assim

feito espuma sem dias

sem o fogo que tu acendias

depois perco a alma no teu olhar de ternura

e sei que não foi loucura

embora me reste a dor

vou dar todo o meu desespero

não negarei nunca o amor

mesmo aquele que não foi suficiente

mesmo a paixão vivida sem tempero

agora abraço os lençóis dum corpo ausente.

depois eu sei que tudo entre nós foi diferente
setembro12.2006
Desemprego para o jantar
chegou a casa

deu a volta

à mesa vazia.

o patrão come lagosta

o operário demagogia.

penhorou a saúde

com a cautela da morte.

que importa

o fim do mês ???

hoje é dia um

e ontem não comeu
outra vez.
DESENHO
Desenho

O desejo

Em forma de um beijo

Cobrindo o teu corpo

Percorrido

Pela minha língua subtil

Convite delinquente

Sexo húmido e quente

Pedindo que nele eu entre

Entre palavras e gemidos

Volúpia dita aos ouvidos
Junho24.2010
desilunão
esta desilusão

parida

por uma espera

inútil

esta

cumplicidade

com sabor

a baboseira

esta merda

de ser útil

nesta asneira

de obedecer

ao dever

da imposta razão

não se pode dizer não

não se pode dizer não

não se pode dizer não

não se pode dizer não

não se pode dizer não
fev/85.
DESPERADO
sexo na cabeça

bandeira na cabeça

bomba na cabeça

relógio na cabeça

dicionário na cabeça

código do direito civil na cabeça

azia na cabeça

& ...

o pensamento enlatado

a imaginação amputada

por isso,

em boa verdade vos digo :

deus não existe !

o diabo às vezes

esquece - se de ser mau !

crescei e multiplicai - vos !

multiplicai - vos ao ritmo

que a v. ignorância permite.

a vossa herança

é a minha esperança.

unicamente

a esperança do desespero.
81/jan.
devagar
levantas - te devagar

a vontade já é pouca

é sempre o mesmo acordar

é sempre a mesma fadiga

que faz o resto da tua vida

e maldizes a sorte

com bebedeiras de morte

e apagas a memória

com riscos de loucura

é sempre a mesma história

sem herói

sem aventura.

e morres devagar

como se fosse castigo

com sabor de tortura

que arrasta contigo

a vida feita doença sem cura.
86mai06
DHARMA DO CANIBAL
SÊ BONDOSO

PARA QUEM TE QUER MAL
.
MISERICORDIOSO

PARA QUEM TE GUERREIA
.
BENEVOLENTE

PARA QUEM TE TRAI
.
COMPREESIVO

PARA QUEM TE INVEJA
. Mas nunca te esqueças :



Se não o comeres todo de uma só vez,

Mete os restos no frigorífico .
.2014 antóniodemiranda



dias felizes
com a esperança

de dias felizes

eu abri um

parêntesis

na razão nula

da minha

existência.
74.
dias
certos dias tenho

que não sei

o que se passa comigo

a saudade retenho

mas não o desejo

de estar contigo

outros dias tenho

que mais me apetece dizer

gostava de não ter olhos

para nunca mais te ver

e quando chego a casa

e tento esquecer

sorrio um sorriso cansado

não sei se do trabalho

não sei se de viver

e logo me deito

sem vontade de acordar

e aperto este desejo

abusivamente louco

de te amar.
mas, não é nada, não …

dieta
a dieta sexual

a crise do hemorróidal

o tempo de antena no telejornal

o culto do banal

a extravagância oral

a diarreia da assembleia

a discussão acalorada

do projecto derrotado

o ministro

o presidente

o deputado

e o povo a ser enganado.
é mentira ?

diferenças?
SIM !

TODAS AS PESSOAS SÃO DIFERENTES.

SÓ QUE ... ESSA DIFERENÇA

É SEMPRE IGUAL. MONÓTONA.

ESSA DIFERENÇA NUNCA É
DIFERENTE .

ditador
embora

digam que os tempos

estão a mudar

continuo

a fechar as janelas

com persianas de terror.

e penso

sim ainda penso

nos exílios dourados

de um qualquer ditador.
27.5.86
dor
que dor é esta

que trago comigo na algibeira

que vazio é este

que teimosamente guardo na carteira

que subversão é esta

tão esquecida tão palavra

tão dia após dia abusivamente adiada

que angústia é esta

tão doce e permanente

que ternamente

alimenta esta louca vontade de ser

diferente

que vida é esta

que martírio

que castigo

o rico demasiado rico

o pobre cada vez mais mendigo

que corrida é esta

que nunca nos deixam vencer

que medo é este

que nos faz renegar o prazer ?

só que amanhã

será um dia diferente

se formos suficientemente fortes

para apressar a morte.

desculpem !

não percebo.

ainda estão à espera da sorte ?
84mar.
& as flores acabarão arrependidas

Um dia...
outro dia...

só mais um dia :

& as flores acabarão arrependidas

no jardim da celeste
2014abr14
aNTÓNIOdemIRANDA
e eu ainda não sou anjo
Para os que comemoram aniversários clandestinos debaixo dos viadutos,ouvindo sinfonias estereofónicas de claxons e que conhecem de cor as influências dos fluídos do trânsito no comportamento das pessoas.Para aqueles que ainda têm a coragem de assumir a diferença cada vez mais etiquetada com heterónimos de loucura. Para os que rezam em silêncio desfilando entre os dedos rosários de lágrimas e ajoelhados em soluços de desespero,esperam ainda com a esperança possível aparições dos anjos do néon.
EU AINDA NÃO SOU ANJO

Para os que constroiem a poesia com o amargo optimismo de experiências repetidas e que sobretudo,sobretudo não lamentam ,não invejam a maldita sorte dos poetas malditos :

Visões do apocalipse

tentações demoníacas

desolação

E EU AINDA NÃO SOU ANJO !

VIVA LA MUERTE !

Os duendes de somorra invadiram as auto estradas deste inferno com sorrisos malignos de arco -íris.
Para aqueles que ignoram as constantes tentações do deus publicidade e fumam orgulhosamente beatas anónimas marimbando-se nas marcas e ainda para os que olham as montras sem qualquer laivo de cobiça manifestando delicadamente a sua indiferença pelo yves saint-laurent.
Para os guerrilheiros da angustia que atacam a normalidade com raids ritmados de swing e destroiem horários com metralhadoras de coragem.

E EU AINDA NÃO SOU ANJO !

Para os que gastam o tempo antes que o tempo os gaste e sorriem às estátuas com sorrisos cheios de cumplicidade

Para os que lavam as horas em retretes repletas de relógios para que o despertar não tenha o sabor inglório da obrigação digital.

Para os que se deitam na praia desenhando na areia voos obscenos de gaivotas e desfilam sonhos de m`água e que compreendem docemente os queixumes do mar e choram no silêncio soluços da ausência.

Para os que acordam sempre

do mesmo lado da mesma

maneira devorando

avidamente croissants recheados com perfumes da dior e devoram avidamente o nosso tédio cuspindo depois as algemas da nossa escravidão.

Para que os vagabundos tenham pena de nós, da nossa impotência da nossa burguesia das nossas aspirações dos nossos projectos da nossa incoerência do nosso medo e sobretudo, sim sobretudo para que lamentem :

a nossa falta de coragem que sempre desculpamos com a sorte
porque gastamos a vida na margem dum rio que se chama morte.
E NÃO SE ACEITAM RECLAMAÇÕES !



Talvez seja tempo de iludir a realidade, fintar a ilusão da vida e com um golpe de rins salvar o que ainda me resta depois deste naufrágio.

Encharco-me de álcoois vitaminas venenosas e abraço ilusões com doses temperadas de desgosto. Esgoto a publicidade com chupadelas ávidas dum sabor diferente. Piso os caminhos da memória num arco-íris de delírios e sorrio sofregamente manias de alegria. Onde está a minha sombra? Valerá mesmo a pena remar contra esta maré sempre vazia sempre nua e fria, onde afogamos ondas de optimismo? Os sorrisos cúmplices perdem-se rapidamente nos tragos amargos das derrotas.

Mentalidades sifilíticas !!!

Orgias de estupidez abusivamente declarada.

A vulgaridade deslizando sinuosamente entre coxas de responsabilidade anónima limitada ao preço dos casacos de peles, da minha pele e do meu nojo enjoado. Perfumes enganadores. Leites da colónia da cópula. Publicitem com a devida antecedência a próxima fornicação celestial. Bilis delinquente : não me bastava ser o meu coração um guerrilheiro do amor. Envolvimentos misteriosos na sombra da noite, dos amantes fugitivos.
ANJOS SAÚDAM-NOS COM OLHARES BENEVOLENTES.
Boa sorte !
Ela dizia
dizia que gostava de homens

era uma malandrinha

falava que os assustava

julgava que manipulava

mesmo quando fingindo se vinha

era muito desinibida

quanto baste atrevida

pensamento liberal

mostra-se só escondida

mas os homens não gostavam dela

tanto quanto ela desejava.

Vivia a vida numa conversa

Gastando as horas

Fabricando a promessa habitual.

Ela dizia ?
jun2010
ELA SABE...

é duro o que sentes

quando o tempo que pensavas ter

chegou ao fim

quando qualquer ajuda

é bem vinda

mas ninguém te estende a mão

quando toda a indiferença é legítima

disfarças a angústia

como sempre do modo errado

ERROS TEUS

MÁ FORTUNA ?

O QUE TE RESTA ?

Deitar fora tudo aquilo que és

nada em ti presta

de nada vale o sorriso

e o teu contraditório

está fora de prazo
Ah,
como eu costumo dizer

a vida é um estranho lugar

para morrer.




elegia a jack kerouac
nasci na página 124

do on the road e

passados cinco minutos

desvirgindei - me fazendo amor com o

pôr do sol numa praia sem nome

passei noites dormindo em latas de sardinha

com um polegar esticado

aprendi a falar com cães e a

chamar mãe às auto estradas e aos

vagões de mercadorias dos caminhos de ferro

amei em bermas de estradas

caguei debaixo de árvores

abracei cães violas livros

e

mijei nos sacos de plástico dos

supermercados

lavei os dentes

em cabines telefónicas

enterrei tesouros na areia em vasos

com plantas

roubei papel higiénico e bocados de

espelho dos wc dos cafés e hotéis

troquei fatos por blue jeans

sujeitando - me às caricias do cinto

do meu pai (?)

aprendi que o ópio deverá ser

a única religião das pessoas

e guardei um pelo da barba

do ginsberg

forniquei dias e noites seguidos

com a lua e a amante do nixon

e tive que cultivar a pénisflor

vi aqueles :

que morreram afogados pelos ideais

que eles próprios construíram pensando

na compreensão das pessoas

e

jesus cristo praticando budismo

á meia noite em biarritz

e aqueles que apertavam as

mãos aos caranguejos e davam

autógrafos a camelos com o

objectivo de angariar votos para as

futuras eleições

e aqueles que confundiam

estrelas com candeeiros que

diziam que uma viola é como uma

mulher

que congelaram o sol

que engarrafaram o cheiro da manhã

que beijavam flores e arco - íris

bebiam chuva e liam revistas

pornográficas deitados nos sacos de

dormir

e vagueavam pelas avenidas e jardins

desertos à caça de

homossexuais

aqueles que em viagens clandestinas

subiram à lua e substituíram a

bandeira americana por uma toalha de mesa

e que pensavam fazer um piquenique sobre

essa mesma toalha

e que morreram fazendo a barba

com um corta unhas

aqueles que se perderam no meio

da viagem porque se esqueceram

da bíblia

que fugiram de casa e

voltaram de táxi

que resistiram aos olhares das pessoas

demasiadamente semelhantes aos dos

chuís da brigada de narcóticos

que faziam amor julgando

que este é um jogo de cama

e ouvi :

freaks

&

pseudo freaks

gurus

&

pais arrependidos

vendedores de gelados

varredores de ruas

carneiros manietados pelo sistema

budistas que tudo e nada me disseram

ouvi fidel de castro declarar - se à marilyn monroe

prometendo - lhe que raparia a barba

o barulho que salazar fazia

quando chupava no polegar da mão

esquerda

o vento batendo à porta do

banco do jardim durante as noites

em que eu ainda sonhava

ouvi kissinger pedindo - me um

charro e conselho para fomentar uma

nova guerra : ambicionava ganhar outro

prémio nobel da paz

vozes histéricas de estátuas coisas

e pessoas durante actos sexuais

prostitutas adolescentes

dirigindo - se timidamente a homens

casados complexados para os quais

ser cornudo é facto que não podem

admitir

ouvi ouvi ouvi ouvi

ouvi ouvi ouvi ouvi

ouvi vozes protestando contra a

guerra

o ódio e a miséria

e a quem calaram para sempre

com paradas e tiros de metralhadora

e celas onde os ratos

preferiram morrer

ouvi choros de mulheres velhos & órfãos

que em gritos dilacerantes perguntavam

qual a razão da fome

e da opressão

e que perderam definitivamente a

confiança que até então tinham

nos homens

valquírias sussurrando - me para

escarrar nas bandeiras

soldados feridos cantando hinos

nacionais enquanto lhes aplicavam

medalhas

ouvi lenine & trotsky discursarem

sempre em pé e durante longas horas

para peixes vermelhos

bakunine e os demais verdadeiros anarcas

serem apelidados de loucos e

inconscientes por rebanhos de carneiros

cuja posição embora erecta em nada os

diferenciava dos ursos peludos das

regiões polares

e

senti :

os olhares inquietantes

daqueles que

por serem diferentes a sociedade

etiquetou de loucos e encerrou

em manicómios

as mãos trémulas do cego

acariciando as teclas do acordeão

sentado nas escadas

de

uma estação de caminhos de ferro

perante os rostos cansados das pessoas

que

regressavam do trabalho

e cuja música

confundia - se com as palavras

e

o

vago tilintar das moedas caindo

num prato de plástico

amarelo

senti nos ombros

os pés descalços

da criança

cujo sorriso

me magoava

estive numa reunião

do movimento nacional feminino

onde me serviram sorvetes

que eram tirados dum soutien

da triumph tamanho 48

estive :

em comícios políticos onde vendiam

batatas fritas

em manifestações em que apalpavam

o Cú e os seios às gajas

cujas formas corporais

despertavam positivamente

apetites sexuais.

nasci na página 124

do on the road e

passados cinco minutos e

trinta segundos ...
.73
embrulho

embrulho-me no nojo

escondo-me nas esquinas

da desilusão

dou corda a um

relógio

que me mostra

minuto a minuto

cem horas de solidão
21.5.86
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
engano
Tudo

Não passa

De um engano

Tu

Eu

Os olhares que trocamos

E

Se surge

O desejo

É para que a paixão

Continue a ser

Exactamente o que é :

Uma palavra linda

E mentirosa

Que agoniza

Lentamente

Nas páginas dos dicionários.
27.5.86
Entretanto…
pedi a deus o céu

para a minha morte não o incomodar

voei o mais alto que quis

como pássaro desenhado

na nuvem por mim pintada

no meu próprio tempo

de saudade ausente

de ficção inventada

de sorrisos fintados

de caminhos solitários

de moradas artificiais.

invejei a morte

mas nunca reneguei o seu convite.

Algum dia encontrarei

O que está dentro de mim…

O paraíso só acontece uma vez.

Entretanto…

Alguém me observa

Exibindo alegremente

A embalagem dos comprimidos da minha mãe.
Maio2010
epitáfio 2º.
não

vi

não

amei

não

possui

desejei

que

as pessoas realmente

vivessem

pois

só aqueles

que vivem

sabem

construir

i

m

a

g

e

n

s.

epitáphiu
vivi

aquilo

que

consegui

e

não

o

que

me

deixaram

...

continuo

a

odiar

os
relógios.
espectáculo
a felicidade adiada e mais duas tentativas anónimas e desesperadas de auto-fornicação

. as vias sacras do inferno e o enforcamento público das palavras que não ousámos dizer quando clandestinamente fazemos amor. requiem por todos os amantes incompreendidos cujas almas estão cheias de somente boas intenções. imagens púdicas transbordantes de púbicidade ritmadas com slogans publicitários que aconselham sobretudo o que não nos convém. a sociedade do espectáculo do consumo convidativo ao próprio consumo. só ficamos com o sumo que sabe sempre ao mesmo : MERDA.
21.5.86
espelhos
espelhos

quebrados

reflectem

mil

pássaros de mim.

cem desejos de voar

dez,

talvez

depressa demais

um ,

demasiado lento

ténue

na coragem de tentar.
89fev.
espero que não te importes

se te beijar

até o sangue se tornar

comum

se te abraçar

até os meus braços deixarem

se ser fortes

espero que não te importes .
ESPUMA
este jogo já não me agrada e não quero jogar outro, que embora diferente resultará justamente como todos os outros que ganhei e perdi. não me interessa absolutamente nada o que de novo surgirá depois deste naufrágio no qual as minhas próprias m`águas navegam. tudo o que acontece dilui-se, não importa a maneira, na mentira que o tempo não perdoa. será por isso, talvez, que nuvens de subvida invadem a minha nostalgia e eu continuo a pensar que os banhos da espuma dos dias resultam. tentarei estar atento às constelações venenosas que pairam sobre o meu olhar e esfumam a esperança, a terrivel esperança de qualquer tentativa de sonhar. palavras ocas continuam a sua função pedagógica para a normalização dos comportamentos. doses de cinismo instantâneo, enlatado, servem-se abundantemente temperadas com risos abusivamente hilariantes – patéticos. eu cumprimento todos os dias o boneco animado sentado à secretária. até amanhã para quê ? gostava de ter um relógio digital que não se atrasasse na hora da gastroenterite. embebedo-me nas conversas de circunstância automática ausentes de importância e tento tento desesperadamente desatar os pulsos amarrando-os com o cordão umbilical que me prende a este mar de descontentamento. como um qualquer marinheiro levanto a âncora mas a maré já não me leva a parte alguma. não é difícil, somente basta uma pequena dose e se tiver sorte acabarei por ser notícia de jornal.
1986
Está a chegar o tempo
Quando tenho pressa

na minha corrida

porque comprei todas as orações

a um dealer chamado jesus,

o que importa

o que sou ?

Ainda nada aconteceu

Ainda ninguém provou o meu sangue

Estou aberto a todos os convites

Apto só para propostas indecentes.

.. está a chegar o tempo

dos pássaros vermelhos

voarem sobre os meus ombros

e comerem doses amenas

da solidão disponível.
Out2013_02
etc...

se

eu

fosse esperma

escolheria

o teu corpo

para navegar.

eu deixarei

eu deixarei que morra em mim

qualquer desejo de amar

o amor que no meu ser termina.

eu deixarei que o esquecimento

seja o porto do meu sossego

e serei o veleiro com rota feita segredo

num mar que me desatina.

eu deixarei que morra em mim

o ouvir da tua voz

do teu sorriso

dos teus gemidos sem medo.

eu deixarei que morram em mim

todas as estrelas todas as luas

toda a angústia desta tempestade

todas as carícias minhas e tuas

todos os nossos sonhos para além da realidade.

eu deixarei que morram em mim

todas as ausências das madrugadas

todos os poemas lidos

todas as canções cantadas

todos os beijos feridos

eu deixarei que morra em mim

o engano permitido

o abandono acontecido

eu deixarei que morra em mim

esta mania da saudade

parida num amor nunca arrependido
setembro12.2006
EU ESTAREI LÁ
Eu estarei lá !

Claro !

Quando lágrimas hipócritas

Lamentarem a minha ausência.

Estarei lá !

Com o meu fato preferido

& prometo

Um sorriso á medida

Da circunstância !

Não faltem !
.2014antóniodemiranda




eu sei que vou morrer de amar
foi breve o amor

feito na alquimia

das promessas da conveniência

foi-se o tempo da paixão

nem o perfume ficou

da anunciada ausência.

fica o fumo da memória

do sonho a serenidade

do instante a precariedade

dos gestos insanos e envergonhados

da imaginada obscenidade.

agora já não dizemos até amanhã

nem ousamos a viagem

no nosso barco sempre preso ao cais

agora eu sei

tu sabes

que amanhã é sempre longe demais.

da janela do meu tempo

parte o momento da ilusão

o que nos falta para amarmos

se sempre nos matamos

nas maneiras mais apetecidas ?

resta-nos o desejo

sempre acontecido

com sabores de despedidas.

hoje

quero tudo menos o banal

amor raiva ciúme

paixão violenta animal

angústia total

quero um mar sem sal

preto e vermelho

afinal as cores da minha alma

quero o delírio completo

que esvazia a minha calma

quero olhar sem ver

estar sem ouvir as palavras costumeiras

que me falam do segredo

do meu desassossego

quero-me morto

no sonho do sabor do teu corpo.

eu sei que vou morrer de amar.
2006jul25
Eu…
sou aquele

que pensas que conheces

mas não me alcanças

quando caminho sobre o arco-íris

sou como um rio

tortuoso

fugidio

anjo ferido

esquecido

nas tuas preces.

alegoria imperfeita

ângulo sem bissectriz.

prescrição sem receita

embrulho que se deseja

oferta disponível

do optimismo possível

sou o que quero

nunca o que querem que eu seja.
Dezembro6.2010
fadiga

SERENAMENTE

GASTAMOS O MOMENTO

NUM CALMO E SUAVE TORPOR

AO RITMO

DE ORQUESTRAS CELESTIAIS

QUE LENTAMENTE

TOCAM A NOSSA CANÇÃO PREFERIDA .

...

COMO É BOA,

APETECIDA

ESTA FADIGA .
FLAMENCO
O vento

Trouxe-me um sonho

Envolto em formas de areia

Embrulhei-o

com o papel da minha alma

O mar deu-me o laço

Perdi o sono que me cerceia

.

Agora

ouço o seu murmúrio

num choro que me agarra

na voz que me acalma

ilusão parida

no som duma guitarra.
Jun2010
FOI SÓ UM BEIJO
Foi só um beijo

Que já é saudade

A ambição descansa

Num canto divino

Que a alma me alcança

Foi só um beijo

Com sabor a erva santa

Ouve-se o gemido

Tapa-se o grito

Hoje tudo continua

Com a mágoa permitida

Silêncio na noite

Golpe na vida

Mal vivida

Poesia inventada

Veia mal cortada

Mas a intenção

Era pacífica
Set06.2010
FRACASSOS

quando a vida

é uma colecção de fracassos

escondidos num velho armário

quando pensas que és inteligente

e não lhes trocas os passos

quando a angústia

te rói os ossos

quando o tentar é inútil

quando o sonho

é objectivo esquecido

quando a renúncia

é prática quotidiana

quando te queixas repetidamente

quando te desculpas frequentemente

quando a tristeza é o teu fado

quando a vida te passa ao lado

é porque para ti

nem o possível é suficiente.
2011
Fud(g)i(n)do



Fugindo de tudo

olhas para trás e vês que tudo continua

confuso

ontem eras moda

hoje estás fora de uso

continuas a correr

mais parecendo que estás parado

acerta o passo

não te importes do baço

ele já nasceu estragado

foge

foge para longe

não ouças quando falam de ti

ontem como hoje nada mudou

embora continues a acordar admirado

embora continues a perguntar

o que sou

o que faço aqui.

Fugindo de tudo

falas mas és mudo

o tempo não te ajuda

nunca foi teu amigo

abraças o vento

mas ele foge - te dos dedos

e logo te sentes traído

já só vives com medos

ficas enjoado

já estás farto deste cheiro

olhas para trás

sorris para a televisão

acaricias o copo que tens na mão

e ejaculas- te precocemente

com este pensamento :

quem me dera ter dinheiro.

( afinal dormes acordado !!! )
fúteis
tudo o que fazemos

está certo :

somos fúteis de origem.

E a consciência

não passa de um órgão

cheio de preconceitos,

por nós gerado.

e assim se legaliza

a existência

dos
pseudo - vivos
73/jun.
gente
tanta gente à minha volta

tanta ausência de revolta

sentado à mesa do café

observo.

cansado

de ter tanto

para lamentar.

Só que ...

Valerá mesmo a pena ?
84mar19.
gerónimo`s blues
BURY MY HEART

AT WOUNDEED KNEE

THERE IS NO PLACE

I WANNA GO.

YOU STOLE MY SOUL

FROM MY BODY

NOW I CAN`T H EAR

THE WIND BLOW.
_2013
(Publicado na monografia "gerónimo`s blues", edições O HOMEM DO SACO, 2014maio31)




gerónimo`s blues
Enterrem o meu coração

na curva do rio

já não há lugar

para o meu estar.

Roubaram a alma

do meu corpo

agora já não ouço

o vento falar.
_2013
godvai
agora

ninguém te pode ajudar

perdes-te a hora

já não tens lugar

O céu

é uma porta fechada

sem partida nem chegada

É como um pássaro a voar

Encostado a uma árvore

Ele

gosta de te pôr de joelhos

enquanto finge

que ouve os teus pecados

Depois olha-te

como se fosse ternamente

Acaricia os teus cabelos

Diz que lamenta

mas todos os lugares

estão ocupados.

Não entres na igreja :

juro-te

que os santos

te olharão com toda a inveja.
2013agosto23
a guerra
a guerra tem capitães

generais barrigas fartas

a guerra tem orfãos e cães

mortos e feridos em macas

a guerra tem bocas esfomeadas

que não comem ,só bebem sangue

a guerra tem acções

tem carros e canhões

tem mísseis balas morteiros

tem olhos e corações de crianças

choros de mulher e velhos

tem tanques e bombardeiros

tem prostituição e vinganças

a guerra tem milhares de condecorações :

braços pernas medalhas de prata e ouro

bengalas muletas cadeiras de rodas e

bandeiras de várias cores

por cima de caixões.

a guerra tem tesouros

arrepios e gritos de alarme
73fev.

HÁLITO
olhamos

um para o outro

e sorrimos

um para o outro

cuspindo

o hálito da nossa tristeza

então

pensamos

que somos amigos mas só somos solidários

quando abraçamos

a mesma tristeza
27.5.86
happening na avenida da liberdade

Ela

a estátua estava

nua

Ele

o polegar



trezentos anos

que estava

imóvel

- olhou - pensou - & tirou uma camisa de

vénus da embalagem

&

enfiou - a

no polegar da

estátua.

- assim se fode

a imobilidade !

… de um happening sobrenatural em Lisboa

3 três

Submarinos

Soviéticos

Juntaram-se

No

Aqueduto

Das

Águas Livres

Para

Fazerem

1 um

Piquenique

&

Devoraram

1 um

Destroyer

Americano
1976

HAPPY BIRTHDAY
feliz aniversário

para ti meu amor

este é o dia

para celebrarmos a tua morte

não tens que chorar

a vida é uma mentira

embora toda a gente tenha a mania

de contar histórias com sorte !

esta dor bebe-se dum copo

enquanto alguém distraído

continua a escutar a canção ERRADA !

feliz aniversário

para ti meu amor

ABRAÇO-TE

com estas PALAVRAS

levo-te no meu segredo

enredo e novelo

de angústias FORMATADAS.
Junho20.2010
herói
eu fui dos que ficaram

pelo caminho

feito esquecido

e tido como covarde.

prometeram - me medalhas ...

deram - me uma farda

e um horário para cumprir

meteram - me num tanque

mostraram - me uma bandeira

obrigaram - me a mentir.

... rotularam - me de herói.
Abr.74.8
o hipocondríaco

fartou - se do enfarte

e mandou - o ter com a

cirrose

que estava jogando xadrez

com a tuberculose ,

pois já não dava luta

a puta

da artrose

que só falava bem com a trombose.

então lembrou - se

que lhe faltava qualquer coisa.

ah !

( a enxaqueca )
84fev.
Hoje...
hoje ele acordou

bastante normalmente

já se habituou

a que nada será diferente

optimismo cancelado

sorriso concludente

comportamento normalizado

diz bom dia a toda a gente

entra no escritório

aperta a mão ao chefe

e logo fica contente

olha pr`a mim

e logo sente

que estou farto dessa gente

discute futebol

de tarde a telenovela

pr`a mulher é o suplente.

Hoje ele acordou

mais ou menos como sempre

abraçou a rotina

com um beijo de aspirina

meteu - se no comboio

sorriu a toda a gente

já não é capaz de pensar

que existe algo de diferente.

ilusão

e se falássemos

da ilusão ?

desta imagem

que ferve na minha cabeça

de

eu te amar ininterruptamente

até o sol ficar húmido

com o nosso esperma .

depois !

de mãos dadas

percorreríamos arco - íris cor de rosa .

até que as manhãs

se tornassem menos dolorosas .

in ( diferenças ) teorizadas

elas

gostam

ou

detestam

...

eu

adoro

ou

sou

indiferente
inesperadamente
inesperadamente

talvez não tanto de repente

pensou que era gente

e começou a respirar.

devagar.

Para não abusar !
5.3.86
infinita tristeza

é muito tarde para arrastar o passado

não pedi muito nem mesmo aquilo que precisava não me deste o que tinhas fiquei com o resto do nada talvez te tivesse desapontado estivemos próximos mas não somos o mesmo talvez um dia a noite não me apanhe surpreendido já não resta o amor nas nossas almas mesmo que não ficássemos satisfeitos não poderemos dizer que não tentamos será o tempo do adeus ? os nossos sonhos ficaram tão juntos e esfumaram-se em manuais de angústia agora segredas-me ao ouvido beijos ainda doces mas continua nos meus olhos a infinita tristeza poderá todo o meu perdão comprar toda a tua boa vontade veste a cama de cambraia e cheiros de hortelã de certo estarei morto na manhã é uma hipótese prevista senta-te longe não quero que observes o vermelho dos lençóis porque a morte não tem cara e dança sons de silêncio na minha cabeça num lento escoar do tempo dói-me o que me resta da vida sem lugar sem saída infinita tristeza cantada numa canção porque o amor desta vez foi em vão talvez um dia o delírio não me apanhe surpreendido talvez o transito não atrapalhe a minha pressa

talvez alguém distraído não responda ao meu adeus

talvez um dia tudo não passe duma promessa
setembro13.2006
já é tarde
aproxima-se

a sombra

não sei se de mim

ou minha

lenta

e envolvente

com o seu rosto paciente

confiante

de que a presa

não poderá escapar.

ingénuamente

escondo-me

em vontades transparentes

e tento

mas só tento

deslizar

por entre

as minhas próprias defesas.

contra

a vontade

mostro a fragilidade

da minha coragem

e fecho os olhos

na tentativa do sonho.

então aparecem

anjos

cavalgando angústias

carregadas de desolação.

então

digo não

digo não,

mas já é tarde !
( como de costume )



26.5.86
Já falaste com o sintoma ?

(resposta à Carmo)
NÃO !

Ele não me liga nenhuma !

Pouco ou nada isso me importa.

E não é culpa minha

Se a minha insanidade

Me obriga a fazer guerra

À vossa realidade.

Já falaste com o sintoma ?

JÁ !

Ficou em estado de coma.
mai e jun 2006

JÁ, NÃO ...
Já não há ponte para o resto do caminho e nota - se claramente a angústia no voo dos pássaros.

Ao acaso, porquê sempre ao acaso, caminho anonimamente com a responsabilidade limitada, que me empurra célere para a frequência imoderada de ritmos hilariantes causados por gases sem graça alguma ?

Rasgo cometas da sorte na palma da mão e a chuva que acontece não me traz qualquer estrela. Então divago ausências fingidas e rio para mim próprio numa maré cheia de vazio condicionado.

O OCEANO NÃO CHEGA PARA ME AFUNDAR ?

Eu não passo dum naufrago de banda desenhada.

Vendo - me facilmente em fascículos com 24 horas de página. Comestível como um hambúrguer sou devorado com doses excessivas de ketch up. Quando acabarei a subida desta montanha conspurcada de vícios ? Sei, que impaciente. o voo da águia aguarda o que me resta da coragem. Que planos eu tenho para surpreender o optimismo com raids surpresa de angústias. Corro para o nada levando sempre a pressa que retarda a vontade.

QUE ESTRADA É ESTA QUE ESTÁ SEMPRE A ENGANAR - ME COM ILUSÕES FALSAS DE PRAZERES INATINGÍVEIS ?

Restam- me os lamentos sussurrantes das vielas da agonia.

O dia morre lentamente despedindo - se do sol com frágeis sorrisos dourados. Chegam as sombras, estas sombras que não param de acariciar - me com beijos maliciosos e abraços enganadores. Fatídico não é o destino, mas a ambiguidade dos caminhos.

Não me digam nada !

não quero ver ninguém feliz perto de mim. Metem -me nojo os sorrisos e enraiveço facilmente com os projectos que teimam ainda em preencher o meu pensamento. Basta ! Quero fixar definitivamente o meu olhar no nada que desenho na minha solidão.

Esvaneço, não sei qual a maneira, neste rascunho mais que rasurado que constitui a minha talvez coragem de tentar.

ESTOU FARTO DOS DIAGNÓSTICOS. Mesmo daqueles com 90% de possibilidades de certeza absoluta.

Habitualmente cumprimento o meu ego, que covardemente nunca me dá a angústia pretendida. Escondo - me num coral de mágoas e

O OCEANO NÃO CHEGA PARA ME AFUNDAR.

Consumo - me numa sociedade que não faz senão gastar - me inutilmente em bebedeiras de espectáculo. envelheço em cascos viciados em merda. Mostram -me oásis e proíbem - me qualquer tentativa de liberdade. Inventaram as pousadas da felicidade mas elas só existem num catálogo sempre disposto a causar - me inveja.

Não sei para que escrevo isto, talvez porque estou farto desta caneta ou ainda penso que tenho uma letra bonita para enforcar passarinhos.

A identidade não passa duma mentira, mas, mais enganador é o seu cartão.
87nov01

Já noto

Em mim

Uma certa tendência

Para o nojo

Cansada pela demência

Que impede a compreensão

Para as coisas mais fáceis.

E,

Não é nada fácil

Tentar compreender

O porquê da vossa existência.
1986
jogo

sempre me disseram

que eu era um perdedor

que não passava dum falhado

...

mas não é culpa minha

de não sentir a dor

de nunca vencer

esse jogo viciado ...
2006mai22
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
lá longe
para além do mar

há uma terra bonita

que só em sonho eu conheço.

tentei tanto navegar

contra uma voz que me disse

perder -te -ás no caminho

que não tem mais regresso.

solitário

na paz do jardim das árvores felizes

colhi a rara rosa branca

que perfuma as palavras verdadeiras.

estou cansado.

entrarei agora

no bosque das sombras distantes

onde o sol dourou

o longo sonho das águas.

o ouro novo beijará

o sereno frio do mármore.

" e perder -te -ás no caminho

que não tem mais regresso. "
2006mai22
labirinto
labirinto absinto o que sinto

se não uso cinto ?

pinto ‘ minto ? tinto ?

reflexão ? introspecção ? inspecção.

a sensação da ilusão de sentir a tua mão

dizer não

da exaustão

do telefonema do esquema

do eczema do cinema

da azia da bacia vazia

que não fez mas que fazia

da atenção da tensão

do tesão

da necessidade da solidão

do sorriso compromisso comprimido

medido calculado catalogado

etiquetado menstruado rotulado

fabricado enganado enganador

do amor sem calor congelado

na memória não mais que recordação

da derrota ?

da vitória ?

do erro do medo

do fantasma do plasma

do antidiálogo do antitudo

porque nada terá de ser como é

da mudança da dança

da inconstância da importância

do porquê do crer do não saber

e continuar a querer

viver para morrer

esperar até fartar

não se sabe de quê

se da utilidade da insanidade

da impotência mesmo mental

da visita necessária ao psiquiatra

que já se tornou normal

direi mesmo elementar

embora aborrecida como pagar isto e aquilo

mais o imposto a aumentar

da mensalidade do trespasse da casa de passe

passe por favor estou com pressa

o porquê não interessa

talvez para continuar a ensaiar a decorar

esta miséria do quotidiano

este quotidiano miserável

que teimamos chamar de vida

sabendo dia após dia

que não passa duma peça.
Fev.84
lacónico

olhei - te

atónito

e logo pensei :

era capaz

de ser cómico

se ...

eu tivesse um pénis ...

atómico .
lágrima
pensa em mim

como se fosse a lágrima

que foge dos teus olhos

eu sou aquele

que não viverá de novo

aquela noite especial

agora os meus fantasmas são heróis

pintando as ruas com graffitis celestiais

e o meu sonho

só viaja num tapete

voando nele um deus que não se levanta mais

serenamente

observo o tempo partindo

na viagem dos dias

que são sempre as despedidas do meu olhar

já não conheço esta cidade

nem os seus falsos marinheiros

que choram as pedras dos seus caminhos

nem o pintor da rua

sem memórias para colorir.

penso em mim

sem vontade de beijar a lágrima

que foge dos meus olhos
serei eu aquele ?

ou um epitáfio que ninguém lê ?




lágrimas
às vezes

as lágrimas que rolam no chão

também têm bocados de mim

e eu sei que nada disto te importa

( para a chave que tens

já mudei a fechadura da minha porta ).

desta vez disfarçado d`anjo

no comboio da meia noite

vou fugir-te na minha cabeça

vou tentar vou sonhar

esperar que isso aconteça
jun022006
lamento
gostaria

que isto não ficasse

com o sabor

duma promessa

porque sabemos

que hoje em dia

um romance

pouco dura.

gostaria

que o fracasso

ficasse

apenas entre nós.

a culpa

não é minha

nem tua.

afinal

um lamento

é sempre uma recordação

que o tempo envelhece

mas não cura .
27.5.86
Lenta_mente
lentamente

escoa-se

a esperança

num passador

chamado tempo

Tempera-se

a urgência

( com muita

muita paciência )

com sangue

raiva

e suor.

Ferve-se

brandamente

a vontade

juntando-se

pouco a pouco

lágrimas de desespero.

Acompanha-se

com melodias de paixão

e serve-se de preferência

com o sorriso habitual

da usual conveniência.

leonor

DESCALÇA VAI PARA O COMPUTADOR

LEONOR PELA ALCATIFA

VÊ - LA ASSIM É UM AMOR

COM AQUELE ANDAR DE CALIFA

NÃO VAI FORMOSA NEM SEGURA

NÃO É JEITOSA E TEM LARGA A CINTURA

MAS USA CINTA E SOUTIEN

E PENSA QUE É DESEJADA

OFERECE - SE MAS NÃO SE DÁ.

AS UNHAS NÃO QUER SUJAR

JÁ LHE BASTA A MERDA

QUE TEM NA CABEÇA

POIS ESSA NÃO PODE LIMPAR.

LIBIDINOSA OLEOSA

MOSTRA A SUA DENTADURA

ESTÁ CONSTIPADA E RANHOSA

HÁ MUITO QUE ISSO DURA.

BAMBOLEIA - SE DESEJOSA

DIANTE DO OLHAR QUE

A PERFURA.
SET84.25
língua

A minha língua

conhece a tua boca.

toda.

e as minhas mãos

já sabem de cor

os caminhos para onde

as tuas coxas me levarão.

os meus olhos

são os teus olhos

e o tempo

o nosso tempo

apenas uma questão de espera.

deitamo-nos lado a lado

habitualmente sós

com o vídeo

climatizando a nossa solidão

choramos abraçados a recordações rugosas

soluçando lentamente

melodias de desespero.
lisboa
perco - me

nestes passos em volta

neste perfume de fumo

ou nas ruas que piso

propositadamente com a intenção de te

violar .

meto - me dentro de ti

sem o medo

de me inundares

com este banho de multidão

cumprimento as tuas putas

observo as tuas gaiolas

e mijo no teu rio

beijo - te na boca

e fico sempre com a certeza

que já não te consigo possuir

o teu odor

persegue - me até ao manicómio

em que te transformaram.
85fev.
loucura

A

loucura anda por aí à solta

já se vende o desespero

já se convida às

mil e uma tentativas de suicídio

e já se publicita a revolta.

Tudo convenientemente domesticado.

Tudo se apaga com o tempo

porque o tempo

já nada muda.

Porque a ilusão

já não é fuga

e, como sempre

a solidão apanha - nos desprevenidos.

A solidão não existe ...

somos pássaros feridos

mesmo antes de tentarmos

o primeiro voo.

Já nos dão pastilhas para o enjoo

mesmo para o enjoo da vida

já nos preocupa o local da chegada

sem sabermos o dia da partida

meia dose de tudo

uma mão cheia de nada

o tédio e o absurdo

e a fome bem aviada

...

A

loucura anda por aí à solta

a subversão limita - se aos recitais

os poetas continuam vivos

e ainda estão por morrer

os intelectuais

tudo se apaga com o tempo,

principalmente o desejo da mudança.

Temos medo

cada vez mais medo da memória

e somos a polícia

do nosso próprio pensamento.

porque a ilusão já não é fuga

e a nossa segurança está entregue

a companhias de seguros,

somos pássaros feridos

incapazes de sair desta gaiola com :

prisões hospitais manicómios

asilos infantários escritórios

fábricas escolas exércitos

muros

muros

e mais muros.

...

O fantasma de deus

da ordem

da obediência

do bom gosto

da decência

continuam por aí espalhados.

A revolução

continua à espera

asilada na nossa cabeça.

Por isso existem

governos exploração

opressão repressão.

a poesia

está em convalescença.

toda a esperança

está climatizada

e qualquer suicídio

é perfeitamente legítimo.

resta - nos

a tentativa de ser feliz.

inútil.

demasiado inútil !
Abr.84.2
MADRUGADA TRISTE
Quero e não posso esquecer-te

Falam

Mas não compreendo esta dor

Dizem-me enfeitiçado

Por haver encontrado

A porta do amor

Quero e não consigo

Parar

De pensar no teu nome

Agora são tristes

Todas as madrugadas

Longínquo

É o meu acordar
Set06.2010
madrugada
NA MADRUGADA

ONDE ACONTECE

O DESEJO

OLHO - TE

DEITADA

E

CUBRO - TE O SONHO
TODO NUM SÓ BEIJO
mãe
sentado na sua campa teso como de costume

lembro-me de muitas conversas e do modo como aceitava as minhas mudanças de humor eu sei o que vale uma flor agora que só posso falar com a sua ausência passo o tempo numa peneira plena dos seus sorrisos e de alguns planos para o futuro sou o que sou e mais que ninguém você o sabe alguma coisa a morte levou mas lembro-me perfeitamente quando se despediu de mim com um olhar apressado para a viagem sentado no frio do mármore não consigo chorar tudo o que pretendo mais que ninguém você conhece o que poderão significar as palavras que me levam até si desta vez não vou mentir a verdade é que não me tenho portado bem talvez porque saiba que já não se pode preocupar hoje vou ler-lhe um poema daqueles que por vergonha minha nunca cheguei a mostrar sentado na sua campa teso como de costume ainda não consigo lembrar tudo o que pretendo não sei quando me vou libertar mas já vi o arco-íris na minha janela eu sei que todos os prognósticos são reservados e as funções vitais são uma grande treta respeito a coragem mas você sabe como odeio a resignação e o tentar terá de ser sempre uma obrigação sentado na sua campa juro que não tenho vontade de abraçar o mundo este silêncio tem o som da conveniência e a minha melancolia não é obrigatoriamente triste o céu é um lugar onde nada acontece embora toda a gente acredite na sua festa sentado na sua campa só como de costume revejo imagens que me vestem e você sabe que eu sou um optimista descaradamente teimoso mãe você sabia que o cheiro dos meus cigarros era diferente e eu nunca toquei em nada que me fizesse mal á cabeça nem mesmo os cogumelos e quando eu ficava a ouvir todos aqueles blues você desligava o aspirador para

escutar a música triste mãe eu continuo a ouvir essa música e dou-lhe inteira razão uma perda nunca é alegre sentado na sua campa olho o tempo do tempo soletro horas com hábitos de felicidade que já só têm o cheiro da despedida mãe continuo maluco daquela maneira que você sabe mãe continuo à espera daquele modo que você entende agora deixo-lhe os meus poemas.



esperarei por si no clube dos poetas mortos.

até logo
setembro12.2006
mal me quer
quando poderás compreender

que a dor

do amor

nunca é em vão ?

continuar

de mãos dadas

após tentativas desesperadas

de enganar a ilusão ?

assim

canto-te no meu fado

apático

como se fosse destino

e não sei se fico triste

de ainda acreditar

que ás vezes ainda sou o menino

a quem tu sorris-te

não sei

se por engano.

mal me quer

bem me quer

tu

ou outra qualquer.
26.5.86
malgrado
malgrado o punhal com que me agrides

e os gestos com que me feres

mantenho firme esta secreta esperança

de que um dia tudo será diferente.

um dia talvez possamos percorrer juntos

a mesma alegria abraçar a mesma confiança

e beber o gosto de gerirmos o nosso próprio destino.

talvez um dia os dias serão felizes

e o perfume que deles exalará

torna - se - á então entendível. regaremos

para sempre a nossa vivência com o néctar

consagrado pelo nosso amor. sim !

para que o amor deixe definitivamente de ser experiência. para que deixemos de ser

cobaias desta batalha programada no laboratório

da SUBVIDA.

a coragem correrá nas nossas veias

e passeará livremente pelas ruas da cidade.

dançaremos bailados de alegria com

coreografias de liberdade e as bandeiras

só serão necessárias para limpar o suor

desta festa permanente.

levanta - te ! ergue o teu desejo ! o medo já não te

assusta : agora sabes que não estamos sós.

a meta é a mesma. embora os caminhos possam

ser diferentes.

e sobretudo não esperes que o governo

resolva o teu problema

porque é quem te governa

que te faz viver neste dilema.
7.3.85
manhã clandestina
nestes beijos á solta

encontro a tua ausência

nesta ausência de revolta

depressa

vem de qualquer maneira

que este fogo já arde

na fogueira dos teus abraços

e espera-nos o despertar sereno

da clandestina manhã ,

na quietude dos nossos cansaços.
5.3.86
mania
a tua imagem

não passa de uma mania

e só o teu sabor

( que eu ainda não provei )

me obriga a tentar.

já sei de cor este verso

esta forma de contar

abusivamente decorada

com histórias de alcova

jogos de ócio

e alquimias de dor.

a tua imagem

não passa de uma mania

talvez mesmo minha fantasia

mas só a ti eu sorria

se contigo eu pudesse voar :

meu amor .
1985
manifesto
na minha cabeça há uma cidade

no meu quarto uma cadeia

nem aquilo que odeio

consigo destruir.

não falo de coragem

mesmo quando maliciosamente

me bates com o báton

&

nem miró

teria cores

para pintar os teus olhos.

não quero mudar nada

nem mesmo o sótão da minha

memória.

nem mesmo este sorriso

com o qual

tanto te desejo

como te odeio.

desta vez,

vou fazer o meu inventário :

57 kilos de má disposição

½ litro de esperma tipo h2so4

um metro e sessenta e 6 de

decadência

100 anos de solidão

hálito duvidoso

sorriso nuclear

não sei se a minha equivalência

em lixo vale um saco de adubo

da pior qualidade.

quilómetros e quilómetros de apatia

cinquenta doses de fingimento

um milhão de desgostos

ritmo normal de ejaculações

coração em 2ª mão

fígado emprestado

olhar cansado

memória fresca

pensamento muito pouco usado

inteligência não acreditada

sangue misturado

futuro ? nenhum

solução ? nenhuma

soluços ? poucos

quase sempre menstruado

órgãos genitais para a troca.

antitudo

mas contudo

a mordidela não é venenosa.

as restantes intenções

são pacíficas.

note bem :

estes dados

foram emprestados

com a convicção que o meu

equilíbrio instável permite.

por favor :
embrulhe - me

e

leve - me consigo.
81jan.
manual da emancipação descomplexada
tu

não

te

libertas

com

a

palavra.

Não

te

emancipas

pela

votação.

A

exploração

vence - se

com

a

arma.

Com

a

tua

força

liquida - se

o

patrão.
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
matei-te
matei-te

desta vez nem tiveste tempo

para disfarçar o teu sorriso patético

não conseguiste esconder o teu olhar de vaca imbecil.

Disse-te que sabia

onde param as putas.

A traição nunca é bem programada

e é sempre consequência da estupidez

eu sei que nem sempre o prometido

é para ser cumprido

principalmente as palavras ditas por ti

agora vai brincar com os outros meninos

eu sei exactamente o que vais fazer

facilmente previsível

estupidamente contraditória

mostraste a indigência

tudo é menos triste

quando o sentimento da perda não existe

e as manhãs submersas

não terão obrigatoriamente de acabar com os dias felizes

o amor não poderá valer

nunca o tamanho de uma mentira

ou mesmo o desenho dos planos para o futuro

matei-te numa morte

várias vezes anunciada

explicada com exemplos concretos numa promessa cumprida

matei-te num perfume feito de fragâncias de

angústia

agora posso esquecer a tua surpresa

nada ficará

nem sequer um rosto inacabado

um nome um beijo de despedida

agora podes brincar com os outros meninos

enganar as tuas contradições

naufragar na tua demência

não há dor

nada para explicar

não há saudade nem ausência

nada para lamentar

este foi o meu tempo

gasto em bebedeiras perdido em delírios

desperdiçado em tentativas

matei-te na minha pele

já não me custa a derrota

de não ter conseguido libertar-te

és boa para nada

já não quero o resto

o embrulho não é bonito

não gosto das flores do teu jardim

nunca serás importante para mim

vai brincar com os outros meninos

enganar-te nos jogos de cama

confundir-te nos abraços mentirosos

foi-se a memória

só resta o vazio que já não ocupa espaço

eu sei que és um circo

no qual eu nunca serei palhaço

serás sempre uma pessoa em 2ª mão

usada abusada gozada

fútil inútil

mente conspurcada

tentativa falhada

blague mal parida

ausência acontecida

um caso isolado

projecto inacabado

orgulho sem razão de ser

auto consolação mentida

estupidez sem medida

suicídio adiado

défice contínuo

situação mal resolvida

uma constante despedida

matei-te

ninguém me vai prender

o mundo não fica mais pobre sem ti

no pain

no name

nothing to explain

nothing to blame
setembro152006

matemática aplicada
pôr-te de quatro

todas as vezes ou mais

eu faço

depois

subtraio o cansaço

multiplico o desejo

adiciono o beijo
2006jun02
matiné no arquivo
passo

as matinés

neste manicómio

embrulhado

em papéis de merda

embora os caros perfumes

não consigam fazer esquecer

os constantes queixumes

do meu tédio condicionado

justamente

como o ar que respiro.
1986

A MATINÉ NO CINEMA OLÍMPIA
o homem casado entra no cinema .

com ar desconfiado .

olha para todo o lado .

escolhe um bom lugar .

geme baixinho .

observa espantado .

imagina . .

ivagina .

e pensa na puta que lhe sorriu à esquina .

sente-se molhado .

levanta-se antes do fim .

para que ninguém o reconheça .

passa por ela .

atira-lhe um olhar .

e fazem à pressa .

como fizeram na fita .

chega a casa .

como sempre cansado .

e sem vontade .

mesmo sem vontade de fingir .

maldita sorte .

Maldita .
ME GUSTAS BABY!
Desculpa a pronúncia

mas sabes... a minha língua

não é boa para este género de coisas.

TE QUIERO, SUGAR!

Não importa o amargo

que poderá ficar

na eternidade do instante.

Tu sabes o sabor do meu abraço

e de mim todo o restante

e mesmo as fraquezas do meu cansaço

não conseguem pôr-me de ti distante.

ME GUSTAS BABY
2006jun29
MELIDES
1 . Eu sei



Que o mar ouviu

As ondas ladrarem à lua

Espalhando a espuma

Na areia dos nossos corpos
2. O mar está triste



Canta-me

Canções da tua ausência

Olho todo o horizonte

Nuns olhos que já não são meus.

Então

Fecho lentamente

A vontade de voltar a ser feliz.
3. A música do bar



Bebo-a num copo

Cocktail de mágoa

Alguém continua distraído

Escutando sempre a canção errada

Abraço as palavras que posso

E sei que as minhas lágrimas

São o som daquela guitarra.

4. Lua envergonhada

Escondida

Tímida

Cara de gata

Egoísta

Porque não finges

Que és a minha namorada ?

Vejo perfeitamente

O teu sorriso trocista.
5. Como sta la luna?



La luna como sta?

Soon over babaluma

Como sta la luna?
jul.2010



menina
era

uma menina muito bem

fazia tudo como deve ser

às vezes esquecia-se

de tapar a boca

e toda a gente

toda a gente a ouvia gemer

ela então tentava

tentava disfarçar

mas havia algo que a não ajudava

e esse algo era o olhar

esse olhar tão penetrante

com que ela pensava cativar

só durava o instante

o instante que ela conseguia enganar.
27.5.86
meteorologia
nuvens arrependidas

anticiclone distraído

depressão generalizada

vento envergonhado

temperatura condicionada

queda de anjos nas regiões tristes

… o sol vai permanecer magoado.
mai2006
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
mictório
8 horas menos um quarto

metido neste escritório

já estou mais que farto

deste cheiro a mictório

fechado neste aquário

acompanha - me a depressão

berro grito e choro

e apresso a pressa deste horário.

... mas nada importa ao patrão.
1984
minuto
um minuto

apenas

um minuto

eu queria

conhecer

para saborear

um segundo de felicidade

estou á espera

nesta paragem

para a viagem

que nunca acontece .

até

quando

terei de mostrar

a foto do meu passe social

a

alguém

que não me conhece ?
27.5.86

monologotonia 1.
três escudos

de desodorizante por dia

a dose de azia

um olhar gozador

no comboio a mania do bom dia

sempre o obrigatório

o sorriso vertical

o vómito matinal

&

aquele colega tipo supositório

a monotonia do escritório

a conversa habitual

as mãos sujas do jornal

um desejo de amor

um corpo aborto cheio de calor

um pensamento sexual

tipicamente vaginal

&

como de costume

isto está mal.

o regresso cansado

de um comportamento normalizado

o sorriso distante

de um cérebro estante

ejaculando nuvens de poeira

maldita 2ª feira

um gin gelado

de má vontade pago

a troco da esperança

de amanhã existir

a mesma canseira.

boa noite.
79jul.

monologotonia - 2
todos os dias

o mesmo lugar

as mesmas perguntas

os mesmos desejos

a mesma vontade de amar

os mesmos gestos

que já não são lestos

os mesmos complexos

o mesmo andar

os mesmos ataques sintéticos

a mesma marca de pensos higiénicos

os mesmos beijos

despejos

anémicos

a mesma alergia

a mesma mania

de pensar

que tu existes

mas eu tenho de mudar

eu vou mudar

...

todos o dias o mesmo caminho

no meio da multidão sinto - me sózinho

a mesma maneira de sonhar

a dor no coração

a hora marcada para arrotar

a mesma recusa de chorar

a mesma ausência

&

a falta de paciência

para te aturar

mas eu tenho de mudar

eu vou mudar

...

todos os dias

a mesma cama

o mesmo vazio

o mesmo frio

a mesma esperança

o mesmo acordar

mas ...

eu tenho de mudar

vou mudar.
jul.2/79

MONSTRO SAGRADO
(Poema para o Senhor Mário Esteves Coluna)
Como eu imaginava !

E o sonho já não era distante !

O que eu gritava

Como eu gostava

Claro que chorava,

Mesmo só vendo

Num pequeno ecrã

A preto e branco

Cor feita magia

Vermelho que me entontecia :

Jogava o comandante !

Obrigado !

Todos os dias eu nascia.
2014
Mostra-me
Poderás mostrar-me o caminho de volta agora que provei o mel do teu pesadelo e naveguei nas tempestades da tua insegurança, agora que já sei o porquê do teu medo poderás mostrar-me o cenário onde representas este naufrágio.

Agora compreendo a razão porque lamentas a sorte com bebedeiras de azar. hoje não estou na disposição de aceitar qualquer razão que não seja a minha. hoje não me levem a vontade a pouca vontade que me resta de animar com palavras velhas o habitual descolorido dorido a que todos os dias sou obrigado. hoje não me levem o sorriso o pouco sorriso que me resta e que faz as pessoas pensarem que perdi o juízo.
eu !
Eu que sei da solidão dos muros de tanto neles caminhar peço que me deixes recordar-te tú que vives no enlevo das horas sagradas.
eu !
Eu que sei da solidão dos vagabundos e da angústia do seu olhar peço que me deixes recordar-te nestes tristes e pobres versos. quando se bebe e vive amargamente a própria solidão ficam as palavras as palavras solidárias que nos impedem de morrer.
25junho1986
na campa de marilyn
sinto - me como um milionário

pescando balões no tamisa

e lembro - me do teu pôr do sol

que raramente acontece às 6 da manhã

disputo - te todas as noites

sonhando com a volúpia de um colchão dourado

e fico maravilhado

beijando as imagens

que a roda da tua saia constrói

na tua campa marilyn

sinto - me louco possessivamente

abusivamente descaradamente louco

por isso a desflorei enquanto

os anjos jogavam xadrez no

poor boy club em amesterdam

na tua campa peguei na viola

e percorri maliciosamente a escala

como se do teu sexo se tratasse

depois vomitei o sémen

de um corpo finalmente liberto

na tua campa perdi demasiado tempo

lendo os anúncios das etiquetas

que propositadamente colaram nos teus seios

deliciosamente solúveis deambulantes

justamente como a minha última moeda

no fundo de um copo com m`àgua

marilyn oh Marilyn deusa diabo

flor que nunca chegou a abrir

pois o sol nunca amou hollywood

e agora lastima –se cortando ele próprio os seus raios

com uma tesoura cujas pontas têm gravadas o teu nome :

marilyn a mulher afinal : forma de comércio

como outra qualquer....
nada !
nada

acontece

para além de limpar

o hálito nesta vidraça

onde o momento passa

e a memória

permanece.

e o meu relógio digital

digere o tempo

num compasso automático

rotineiro

onde a certeza

se desvanece.

nada acontece

quando a memória

se esquece

de lembrar

de manter este sorriso cúmplice

misto de raiva e ciúme

com que compro

doses congeladas de optimismo.
85.fev.
Não foi vida
Nunca tive

Alturas de incenso

Nem a glória

Da morte pretendida

Nó na garganta

Suspenso

Corte na veia

Arrependida.

Mas,

Quando a mim

eu não me

Pertenço

Fiz-me viver

Assim

Não foi vida

Nem sequer uma coisa

Parecida.
2014
Maio
Não foste
Não foste sequer

Um queixume

Porque em mim

Não há ciúme

Nem manhã triste

para acordar

não foste

sol nem lua

apenas uma nuvem

no meu imaginar.

Estrela pálida

Sorriso inútil

Promessa falada

Amor mentiroso

Tudo foi inútil
2010dez14
não presta o que fica
o meu nome

nada significa

o futuro perdeu-se

na vontade de tentar

não presta o que fica

na angústia das veias

o 1º golpe não custa nada

o 2º é para habituar

outros acalmam a calma

o último é para gostar.

Não presta o que fica

ninguém foi convidado para este banquete.

Peço desculpa por esta ilusão :

a necrologia segue dentro de momentos.
maio2006
não tens
não tens que aquecer o meu fogo

não tens que ser o meu desejo

não tens que ser o meu problema

não tens que fazer parte do meu sistema

não tens que ocupar a minha noite

não podes desligar a luz

não tens que dizer se estou certo ou errado

não serves para nada

não ocupas o meu sonho

não guias o meu pesadelo

e eu não me importo

não tens que ficar

e o meu tempo é sempre

o tempo da tua despedida

não tens que bater á porta

não tens que perguntar

realmente não tens que chorar

é violenta a distância entre nós

mas eu só amei o que podia

só matei o que devia.

nunca serás importante para mim
setembro.2006
não vale a pena
não vale a pena

continuar

a olhar

o teu retrato

na palma da minha mão.

hoje

refugio-me

em recordações

optimistas.

amanhã

voltarei a acordar

com a solidão.
27.5.86

néctar
se hoje te falo do néctar

deste amor inventado

que tento possuir

neste sonho acordado

qual sombra de cristal

deste coração de papel

dividido em paralelos

é porque ainda me dói

manter este brilho nos olhos

esta mania de sorrir.

e é com nojo que te o digo

enquanto gasto esta vida castigo

este horário que me deram

esta herança que me deixaram.
NEM SEMPRE
nem sempre

o que procuramos

aparece

por isso deus

( distraidamente )

criou a palavra

insistência

para tornar

menos penosa

a

paciência

com

a

qual

o

homem

ainda

padece
2006.03.13
néon
Deus não passa de uma palavra cheia de néon.
Os fantasmas constroem apartamentos nas nossas cabeças e por isso diz-se que cada pessoa é uma floresta de betão. Pintaram o riso de cinzento e a imaginação desliza folgadamente através dos esgotos. Não passamos de cadáveres amestrados e condicionados a ritmos de consumo. A puberdade cresce abusivamente nos nossos lábios. Estou farto de ser louco sem ninguém tentar compreender-me. Desfloro as minhas ideias, uma a uma , em busca de um prazer desconhecido. Oferecem-me trampa enlatada. Eu sou um anjo do sexo louco tentando fazer amor com o arco íris . Estou farto de dar pontapés no caixote do lixo perante o olhar anémico e desconfiado dos vagabundos. Devem-me mil e um anos de felicidade e quatro séculos de liberdade. E eu quero-os ! Já ! Tenho um ferrari escondido no forno do fogão ! Por favor , não duvidem da minha honestidade. Aspiro a ser um louco nada exemplar!
E rezem :
Por todos aqueles que injectam coca cola que têm longas conversas com estátuas simpáticas que adormecem beijando o sabor da solidão nas auto estradas do desespero com a viagem cheia de esperanças e que festejam as ausências debaixo de viadutos, aquecendo-se na fogueira das ilusões.

Deus é a alucinação dos pobres ! Os profetas da loucura invadiram os pronto a vestir e andam espalhados pelas cidades mascarados de manequins, gozando libidinosamente com a curiosidade das pessoas. Eu irei até até ao jardim da celeste e farei aparições transformado no anjo da desolação. Avisarei o público em geral numa conferência de imprensa que terá lugar no clube dos vagabundos celestiais.
Não sei nada,

Mas afirmo solenemente

Que hoje comi um iceberg ao pequeno almoço.
Fev.18.83
NINGUÉM ME AJUDA
Ninguém me ajuda

Os anjos estão no desemprego

Os ministros andam com medo

E deus já não sabe o segredo

Os manuais estão vazios de intenções credíveis

A maquilhagem é a mentira evidente

De qualquer modo toda a gente mente

A proposta é sempre indecente

O padre já não é crente

E o sangue por ELE derramado

Está infectado.
Out.2012
No jardim das árvores tristes
Solitário

No jardim das cinco árvores

Sentado na pedra fria

Eu

Aquele que nunca chegou a colher

A rara rosa branca.

Espero,

Com o manual de instruções

Escrito no outro lado do espelho,

A hora sem horas

Eu

Que cheguei a ousar pensar

Que do tempo e da vida

Saberia alguma coisa.

Solitário,

No jardim das árvores tristes

Vejo alguém com uma rosa na mão.

Será ela ?
2014
noite tranquila
Espero já

A noite tranquila

Cansado de adormecer pedindo.

É o tempo

Do regresso em mim

De todas as possibilidades

Das angústias formatadas

Do futuro fugindo

De todas as tranquilidades

Dos anúncios mentirosos

Expectativas enganadoras

Perspectivas desleais

É o tempo

Em que tudo o que me dão

Já não me faz falta.

Espero já

A noite tranquila

Do sonho absurdo

Do copo distraidamente vazio

Onde bebi a calma pretendida
jul.2010
da imposição e

sobretudo da

conveniência
da normalidade.
… o mais difícil é tentar compreender certos comportamentos das pessoas, pois temos uma grande, vaginal e quase necessária preocupação de catalogar esses mesmos comportamentos. Porém existe um factor deveras importante, que sempre nos escapa : essa mesma catalogação não é imparcial pelo simples facto de estar directamente ligada e sobretudo limitada pela conveniência das nossas próprias limitações. Assim continuamos a gastar a nossa existência arquitectando muralhas, que iludindo a nossa própria realidade e subvida, não defendem mais que a construção da ilusão que abusivamente mantemos do direito à diferença.

Só que ... o despertar acontece todos os dias, e , ainda temos a coragem de esperar que o sol adormeça no parapeito da janela do nosso quarto.
Fev.84.9.

NUNCA DISSE AMOR
NUNCA DISSE AMOR

MESMO MENTINDO FINGINDO

FINGINDO O QUE NÃO MENTI

MENTINDO O QUE NÃO AMEI

NUNCA FUI

BARCO Á DERIVA

VELA FURTIVA

SONHO MAL ACORDADO

MARINHEIRO QUE NÃO SEI.

SÓ PINTEI COM O MEU RASTO

AS ÁGUAS DO RIO.

SIM !

NADA DAQUILO QUE TIVE

FOI SÓ MEU.

… NÃO DEIXA DE SER ESTRANHO

CONTINUAREM A IMAGINAR

AQUILO QUE A MINHA REALIDADE

NÃO PERMITE
11.11.2013.
NUNCA SERÁ MINHA A ANGÚSTIA DE UM DEUS QUALQUER ! & PALERMIDADES DE BASE (almanaque da filosofia de alcofa)
1. Não sei se a minha alma precisa de ser salva :

sei que os meus pecados costumam ser geniais E os originais ainda não cometi

2. Não é culpa minha que o mundo seja um T0

3. Não sei chorar lágrimas do meu próprio choro

4. Nunca pus o garrote no braço :

só gosto dela em traço

5. Dizem-me para ter cuidado : mas eu não me importo :

as minhas intenções são pacíficas

6. O amor de julieta todos dizem que é o romeu :

mas quem a fode não sou eu

7. Continua a ser dificil compreender jesus :

ainda não tenho IPOD e o professor karalhu também se queixa do mesmo

8. Era de noite nevava nevava a chuva caía e o gato miava e toda

a gente fingia que não sabia que o patrão dormia com a criada

9. Também tenho saudades da minha aldeia onde ela fica não

faço ideia mas eu hei-de lá voltar verdes campos o sol a

brilhar e as cabrinhas a pastar de pernas para o ar ( daí a importância da erva )

10. Claro que me chateei embora soubesse que isso iria acontecer

eu disse-te que era um problema

mas não eras tu que o iria resolver

11. Não sei porquê aqueles de quem gostamos partem antes do tempo devido.

12. Não sei chorar sonhos que não sejam feitos de lágrimas.

13. Sei que o tempo às vezes não é meu amigo.

14. Não é vulgar nem sequer necessidade esta coisa da memória mas não quero impedir o seu normal funcionamento :

Aceito distraidamente a importância da mentira das funções vitais

15. Não adianta chorar sobre o leite condensado :

(oh baby ! agora dizes que dói... o que falei para teres cuidado : não brinques tanto com esse toy)

16. Os meteorologistas não são mentirosos :

Ainda não perceberam que não percebem nada do tempo

17. Uma das minhas verdades preferidas :
uns partem, outros vão...
2014antóniodemiranda
nunca
nunca feches

os olhos

para que o desejo

não se esfume

em vão

na palavra mentirosa

que se chama

esperança.

e

se vires

estátuas sorrirem

não te admires

pois até elas

raramente

mentem.

mas sobretudo

não acredites

nos segredos do vento

ainda que eles

falem abusivamente

duma palavra bonita

que se chama ternura.

poderás então

cavalgar

nos sonhos da aventura

provar o beijo

da loucura.

CORAGEM ?

a estritamente

necessária.
13.3.86.
o amor do poeta
talvez um dia

te fale de amor

embora com os lábios secos

mostrando a ausência dos teus beijos

talvez um dia

te escreva um poema

em forma de dor

mas com o sabor

dos meus desejos.

hoje

falo - te

da esperança

com as palavras possíveis

dos poetas mentirosos.
Jan85.

O BURGUÊS
vai ao psiquiatra

já não pode com o tédio

embora tenha a mesa farta

o soporífero é o remédio

só tem um problema

a falta do tempo para gastar o tempo.

a televisão é tão chata

o whisky já lhe faz mal ao fígado

a carteira recheada

de manhã toma a gemada

depois uma mamada

e passa a tarde no cinema.

coitado. tão rico.

tão bem parecido

e vive com tão grande problema.

amanhã vai trocar de carro.

que azar. é a 4ª vez

este mês.

coitadinho do burguês.

gosta muito de lagosta

mas só pode comer uma de cada vez.

mas que raio de modo de vida

ele havia de arranjar ! !

NÃO de pode INCOMODAR !
Não se deve INVEJAR !
O caminho da angústia
onde me levará esta angústia esta falta de paciência esta falta

de tudo e sobretudo a tua constante demência

?

quantas vezes terei ainda de chorar

envergonhado e sorrir fingidamente

ao teu sorriso deprimente

?

e este gosto amargo

?

e este perfume de tédio

?

e o nojo

?

quantas vezes terei ainda de acordar sem vontade para te aturar ? encosto-me à minha própria vaidade construída com soluços e abafo silenciosamente esta vontade de ser louco.

até o amor já me sabe a pouco. aqui neste espaço e ao sabor deste naufrágio, perco-me sempre no mesmo lugar. e esta auréola de desilusão teimosamente emoldurando a minha vontade de mudar ? esta cadeia à qual chamam vida e esta fadiga este hábito de sonhar ? estou para além da ficção. só me resta a memória das coisas, e mesmo assim vou esquecendo pouco a pouco as etiquetas. será possível ? e o que é possível ?

HOJE QUERO VIVER.
31jul85
O MEU PAÍS
O meu país

É uma criança

Que fode as pessoas

E nunca se cansa

O meu país

É uma tara perdida

Que me limita o sonho

E dá cabo da vida

O meu país

É uma ilusão

Que adormece comigo

Na palma da mão

O meu país

É uma janela fechada

Só me deixa ver o céu

Quando a lua está menstruada

O meu país

É um sol de papel

Mera hipótese

Que nem sequer é viável
.
ago21

.2010
O normal
O NORMAL

ACORDA COM A RAZÃO

PELO SEU LADO

MAS

TEM UM MAL :

A INTELIGÊNCIA

COM FORMATO
NORMALIZADO .
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
O nosso olhar
O nosso olhar

Tinha encontro marcado

A tua boca : o perfume do meu sorriso

O teu beijo : a fascinação da promessa

Intimo suspiro

Do amor feito sem pressa

Seca-me a língua

Do teu corpo em dois percorrer

Chama antiga

Feita vontade de te beber

Infinita fogueira

Onde acabamos sempre um no outro.

O nosso olhar

Era um verbo adiado

O nosso olhar

É um orgasmo anunciado
2010ago23
o que fazer ?
O que fazer

com esta fúria de viver ?

ignorar este tempo

que passa lento demasiado lento

lento na vida

apressado no morrer.

o que fazer

com este sorriso ?

sempre igual

traiçoeiro

que sorri quando eu não quero

embora no desespero

ele seja verdadeiro.

o que fazer

com esta espera ?

que de tanto ter de esperar

já desespera.

aniquilem - me !

aniquilem - me por favor.

que me importa esperar

se o tempo já roeu a esperança

embora digam

( e eu não acredito )

que quem espera sempre alcança .

até quando ?

até quando poderei manter

este optimismo ?

esta máscara

já pouco me ajuda

já molda no meu rosto

a tristeza

embora com a subtileza

que lhe é peculiar.

até quando continuarei a fingir ?

que eu existo ?

fingir que poderei falar contigo !

porque não matar - te de vez

para que não penses que eu minto.
10.03.86.
o que não sou
embora me julguem

o que não sou

embora pensem

o que não me interessa

embora digam

o que nada me diz

arrependido

ainda não estou

de apressar a pressa

de ter feito o que fiz .
1986
o teu pensamento
o teu pensamento

tem juro bonificado

o meu

não discuto se é diferente

mas,

juro-te

nunca será hipotecado

nem a ti

nem á tua gente
21.5.86
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
odeio
ODEIO ESTE RITMO

ONDE O TEMPO É MARCADO

E A ESPERANÇA BALANÇA

NUM AMONTOADO DE MEMÓRIAS

EM BUSCA DA VITÓRIA

QUE NUNCA SE ALCANÇA.

DEPOIS DÃO-NOS O PASSAPORTE

PARA AS FRONTEIRAS DA DESILUSÃO

COM BILHETE DE IDA E VOLTA

NESTA VIAGEM SEMPRE IGUAL

ANGUSTIADA DE CONVERSA PLÁSTICA.

JÁ CONHEÇO ESTA HISTÓRIA
E SEI DE COR O SEU FINAL.
olhar
com

esse

teu

olhar

eu fico

sempre a pasmar

não

sei

se de

pensar

ou

de

tanto

desejar

que o amor

também

não

fosse

feito

de

ausências .
86mar.19
Onde é a auto estrada

esta noite?
nem eu às vezes sei porque fecho todas as portas e prometo a mim próprio que desta vez a fuga será definitiva. tenho sorte, ouço as canções apetecidas e sinto-me como um maestro dirigindo as músicas do meu desassossego. invento-me, viro-me ao contrário, escondo-me no velho armário esperando a hora da partida. e lembro-me daquilo que antecipadamente sei que não quero. sentado abraço as angustias habituais. continuo a ser o viajante solitário nesta auto estrada só minha.
nem eu sei porque às vezes não encontro as portas e nada prometo a mim próprio. maldita sorte ter memória e o trabalho que ela me dá. definitivamente não sei até onde esta viagem me levará.
ONDE É A AUTO ESTRADA ESTA NOITE ?



às vezes sinto-me como os dias às vezes sinto que não me sinto às vezes corto-me delicadamente e transpiro os desejos inventados. molho-me na minha ficção nos sonhos espancados caçando o meu sonho.
às vezes sou criterioso manhoso raivoso furioso amoroso às vezes sou subtil fútil inútil útil

às vezes consigo ser eu
2006jul10
ondulante
ondulante

no néon perturbante

da avenida de roma

e o olhar matreiro

não sei se de puta

ou paneleiro

como um anúncio digital

que constantemente

convidava :

não prove ...

coma .

e o cigarro

colado aos lábios

ejaculando o fumo perturbado

que amestravas com gestos sábios

e as ancas a abanar

o peito a espreitar

mais um espelho pr`a mirar

a carteira a pedir

& como sempre

há sempre um parvo.

ondulante no néon perturbante

no passeio d`avenida

já sei de cor

o preço de fazer amor

contigo já cantei

essa cantiga.

nem mesmo

o teu olhar com malícia

com promessa de carícia

faz - me hesitar

hoje não , tou com pressa

amanhã não , que não posso

talvez nunca hei - de voltar.

ondulante

perturbante

num néon hesitante

talvez te visse num instante

numa qualquer avenida ...
86ago.
optimismo
o meu único optimismo resume - se apenas na esperança de um futuro, que por já o ter sido, não passa de uma palavra. Sim, tenho um projecto de vida : ser louco, mas à minha maneira. Afinal, aquela que vocês teimam em não aceitar.
P.
adeus amor

já não posso sofrer por ti

só tive aquele tempo

não me deste o momento

para aquilo que te prometi.

do resto fica o desejo

o adiado beijo

a ideia em flor

e a triste intenção

que o medo matou.

ai meu amor

o que eu faria por ti

se me tivesses dado o tempo

ou apenas o momento

para o sonho que não vivi.

ai meu amor

o que eu não fiz por ti

mas não tive o momento

nem sequer o tempo

na vida que morri.

eu sei

que não me deste o momento

ficará o lamento :

tu sabes que não te menti.
jun2010
Pai! POEMA PARA ABÍLIO de MIRANDA (1927.12.04 – 1987.11.03)
Podemos começar ouvindo Charles Aznavour cantando " La Bohème" ou para momentos mais sérios escutar a " Avé Maria " de Schubert. Passaram-se dias, muitos deles acompanhados daquelas cores feitas com lágrimas. Alguns ainda em que o sangue beijou o chão.

Foi numa terça feira, ao cair da tarde ( sei agora que é o momento em que o sol vai dormir com a lua), que me disse as suas últimas palavras : às 7 vou deixar de ser anão . Levanta-me ! … E assim, partimos os dois, o senhor abraçando os meus braços. Ás vezes sinto-me como uma criança perdida, mirando uma qualquer estrela que passeia despreocupada lá naquele lugar com um nome tão estranho e tão longe. Ás vezes sinto-me cansado e durmo como se mil sonhos estivessem á espera de me acordar.

A verdade é que estou menos novo, e, a Mãe, o Jorge Faria, o tio António e a Guilhermina, já não podem ficar nas fotografias. A vida vai gastando o tempo e filtrando na sua imensa paciência, os verdadeiros amigos. Não me arrependo de lhe ter dito algumas verdades ( daquelas que doem a sério ), mesmo sabendo que estava pronto para a viagem. Recordo-me das nossas festas, das nossas canções, cantadas como só aqueles que se gostam podem fazer. Tenho na garganta o sabor daquele "americano". Tenho na pele a promessa de tomar conta da Mãe.

Tenho no coração a mais linda declaração de amor ( falava você com a Mãe), que alguma vez ouvi.

Tenho a certeza que você era diferente dos outros !

Lembro-me perfeitamente quando com um sorriso cúmplice me dizia : tens lá em baixo livros "novos". O que eu aprendi consigo !

Sentado neste banco de memórias, deixo-lhe a minha saudade.

Não sei qual é a pressa de acelerar a minha corrida.

Afinal a vida continua a ser um lugar estranho para se morrer !
2013.out30António demIRANDA

Para não dizerem que não falei das flores
inútil desenhar sonhos, pintar sorrisos e evitar olhares.

Lembro-me de tudo o que quero e logo desejo que a memória não fosse senão uma vaga ideia. Olho-me e revejo tempo passado em obrigações plásticas que preenchem o vazio que sou. Não sei remar nesta maré e odeio a teimosia com que o meu barco me leva sempre ao mesmo ancoradouro. Derroto-me com sabores de vitórias e abusivamente optimista espero. Aguardo dias diferentes emoldurados com flashes de recordações. Ausento-me. Despeço-me sem partir, chego sem nunca estar presente. Jogo o mesmo jogo num projecto de vida que não passa dum casino (e aviso que o meu cú não é uma slot machine). sou violado observado controlado analisado etiquetado limitado.
lentamente
como se o vento fosse meu amigo, escondo-me em sorrisos de circunstância.

Caminho ao acaso no meio de gente ausente.

Solitário, na paz do jardim das árvores brancas decoro epitáfios e sorrio solidários ás flores de plástico.

Pele & ossos !

Uma mão cheia de tudo a outra cheia de nada : esta imagem não me é estranha.

Tu, tu que sabes tudo da solidão do mar

tu

tu que sabes tudo da tristeza e dos seus sabores,

... ajuda-me a encontrar o caminho das flores.

Fecho este lugar sem portas, abraço o cheiro das suas ausências beijo memórias e guardo guardo secretamente lágrimas de
raiva.



Perdido nestes passos sem volta,

adio a viagem desejada. Atento á traição das palavras, alheio-me frequentemente do seu significado. Finjo que ouço mas não esqueço.

Então, acontecem as memórias que se

estendem pelo mar da desilusão.
o oceano não chega para me afogar !
Respiro naturalmente o

meu próprio nojo. Sorrio

risos cúmplices e

cansados com hálito de

tabaco e álcool. Hesito

sem convicção e não

resisto. Agarro a

vontade, pego na caneta

e ritmo palavras ao som

do flamengo proveniente

to teclado.
COMO SE FOSSE POETA ...
95.AGO.08
Para o Zé de Várzea
temos o tempo

vivemos o momento

sem saber a medida

deitamo-nos com as horas

e descansamos o relógio do nosso pulso.

gastamos o desejo

no instante que conseguimos.

nós gostamos

rimos e choramos

cantamos todos os medos

estivemos

olhamos

sentimos

consentimos o abuso:

não temos culpa

que a morte nos dê uso.

a partida é sempre

a viagem que nos espera!

os epitáfios deveriam respeitar

a nossa opinião.

a nossa memória

não será nunca uma conveniência alheia.

quero que a morte

me apanhe desprevenido

e que as minhas cinzas

desenhem no ar

uma única palavra :

amigo.
Maio27.2010
De preferência para ser lido no WC
fui apalpada no metro

um pombo cagou-me em cima

ia sendo atropelado por um autocarro

levei 82 encontrões

20 vezes me perguntaram as horas

engoli o fumo do costume

vi um cardume de camisas de vénus boiando no tejo

comi no mesmo sítio

caguei no mesmo lugar

os sapatos levaram-me ao mesmo cansaço

onde me transformo em mais um palhaço

ouvi as mesmas estúpidas piadas do chefe

a sua preocupação pelo meu bem estar

e,

eu,

com vontade

com a habitual vontade
de o mandar cagar.
parábola do bom trabalhador

perco

gasto o ano

á espera do aumento

tal como um jumento

e

sorrio para o patrão.

sou organizado

disciplinado

obediente

e consciente

da minha obrigação.

cumpridor

trabalhador

para eles merecedor

do prémio da produção.

só que :

como um jumento

usado

e abusado

tal e qual

um instrumento

perco

gasto o ano
à espera do aumento.
paralelos
os heróis não nascem

nem morrem ...

vivem - se !

( o mito é o herói disfarçado )

a revolução

é a renúncia voluntária

à comodidade do quotidiano :

( a ambição do capital )

o capital é o suor dos povos acumulado .
73.
Paranóia à quinta feira
hoje é quinta feira

não sei porquê mas adoro as quintas feiras

há menos pessoas na rua

vejo menos óculos e menos olhos

que me dizem sempre o mesmo : nada

( talvez esteja aí a maior prova de que

realmente existe deus ... )

quando era miúdo, ao falarem -me de deus

contaram que ele queria que todos nós

fossemos iguais. ( penso que era comunista )

observo as pessoas

quando não posso beber um gole de whisky

ou fumar ou pensar ou falar com um rafeiro

ou ler a página da necrologia do

diário de notícias

( quando morrer gostava que também

me incluíssem nessa página )

hoje

talvez seja 5ª feira ... não !

não gosto desta quinta feira porque chove.

se quiser andar tenho de atravessar uma

floresta de guarda-chuvas-também não

gosto deles : são todos iguais !

atenção !

pela primeira vez penso em

transformar - me em guarda chuva ( apaixona - me

a ideia de qualquer pessoa poder

transportar - me ).

anuncio :

jovem de boa posição social.

elemento mal integrado.

solteiro e educado.

procura cientista culto que o

transforme em guarda chuva.

resposta com curriculum.

guarda - se sigilo.

merda ! hoje é quinta feira e os

cientistas não trabalham.

apetece - me fumar !

vou pedir boleia

apetece - me o poema, vou ler :

agarro na lista telefónica.

porra ! tem mau aspecto ...

estou no pigalle.

fazem - me imensa confusão os nomes

das garrafas expostas nas

prateleiras.

mas hoje é quinta feira

é dia santo e talvez mesmo eu

acredite em santos.( quando morrer

gostava de ser santo )

olho para a rua.mais uma vez o sol. (digo

isto porque as pessoas adoram o sol

pr`a se bronzearem ).

hoje é quinta feira e as pessoas

não mudaram de fato. fumam mais

pensam mais lêem mais olham mais

e estão mais nervosas.

hoje é quinta feira e o frasco da

mostarda continua amarelo. gostava de

ser mostarda ou empregado de café para

meter um pingo de cancro em tudo

aquilo que me pedissem.

hoje é quinta feira : dia mau muito mau

para o marketing : para ganhar a vida :

para a pesca : dia optimamente bom

para fumar.

hoje é quinta feira e vou à praia.

nb:

pela primeira vez penso em ser

rímel ou base : agrada - me a

ideia de contribuir para a

máscara colectiva.

as pessoas falam alto - cada vez mais

alto - ainda mais alto ...

e isso irrita - me.

hoje é quinta feira e são 14 horas e

10 minutos.

o sol ainda não apareceu ! ( ontem

deitou - se mais tarde : esteve a ouvir

bach com um amigo ).

hoje é quinta - quinta - feira ( 5ª feira )

bom dia tás bom ?

olá tás porreiro ?

o que estás a fazer ?

paga - me uma bica

queres ir ao cinema ?

empresta - me uma moeda pró telefonema

o que estás a ler ?

adeus miranda.

hoje é

q - u - i - n - t - a - - f - e - i - r - a ...

confirmo !!!

as perguntas os olhares

as respostas os sorrisos

- NÃO MUDARAM !
74abr11

parece
Até parece que a felicidade existe.

Climatizar a conversa francamente não me apetece. Percorro - me gulosamente à procura do alibi habitual: E zango - me por ter esquecido o lugar onde o escondi. Então ligo - me a chave da ignição e ignoro qualquer tentativa de desarme da parte do costumeiro adversário, e viajo anonimamente através dos corredores sorridentes dos sorrisos plastificados das pessoas. Por vezes mergulho no aquário da solidão e falo com o peixe atrevido que ainda não se fartou de cuspir nas minhas botas. Ou então penteio a monotonia com o risco ao contrário. Ou então visto o smoking corajoso e logo me tratam de maneira diferente.

Já é difícil fazer entender às pessoas que não estou interessado na última moda no penteado no sorteio do totoloto do azar do número ao lado. Então olho - as enjoado fico até mais que gago e falo - lhes de uma maneira assim como quase estóica acerca da repressão sexual nos aviários, da função do orgasmo das cápsulas nas garrafas de leite vigor. Ou então consolo a angústia alheia com confortos de ausência, seguidos de dissecações sobre o direito à preguiça. E espalho o meu sorriso optimista em forma de spray, e ao qual é proibido resistir.

Até parece que a felicidade existe !

se não parece, parece.

18.

8.

1986. 5

_____ ___

2012 5

( está certo !)

paris75
maio de 68

foi

engarrafado !
serve - se



au naturel

nos banquetes

do eliseu.
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
pássaro ferido
Lá longe

para além do mar

existe o lugar

onde eu morrerei

cansado

de procurar encontrar

o sonho ousado

que na minha ousadia

sonhei

Longe

onde a vida

não passa dum

velho armário

que eu só abro

para arejar

a coragem

Ando à procura

dum barco

não importa se

fantasma

que me leve

p`rá outra margem

Quando

o apelo da luta

faz - nos lembrar

uma palavra chamada

coragem

a minha cabeça

flutua

numa tempestade

de dúvidas

e eu fecho os olhos

na esperança

de que a revolta

se esqueça de mim

Hoje por hoje

nada me serve de troca

nem quero o meu corpo

enrolado

numa bandeira

Situo - me

em longínquos

delírios

e

afinal o meu circo

não deixa de ter

os mesmos palhaços

Por vezes

acho - me um acrobata

do non sense

e não exijo

qualquer silêncio

para os voos

que pareço realizar :

a rede está lá

embora eu caia

sempre para o mesmo lado

Hoje por hoje

a situação mantem- se

e nem o habitual

anticiclone

me faz desconfiar

da arrogância

com que às vezes

ainda penso

( a humildade não foi a minha

companheira ideal )

Acabarei por adormecer bastante depois do sonho pretendido e sorrirei habitualmente à hora habitual

do modo habitual na circunstância habitual. Hoje por hoje

tudo é como é : abracei a mesma angústia

continuei o mesmo pássaro ferido.
Set.86.
pássaro

como se fosse

pássaro

e voasse livremente

mesmo assim

escreveria com raiva

as letras do nosso amor.

Como se fosse

pássaro

e porque um pássaro não mente

desenhava

no céu

o sabor

´embora amargo
da tua ausência .
perder
: nada mais poderei perder.

: e o ganho

não será nunca

a minha ambição

:hoje

como ontem

: empato-me

com cópulas de conversa

como sempre futéis

: embora continue a acordar

com uma estranha sensação

: o gosto sem sabor da ilusão
21.5.86
perdida
amar - te

ternamente

e a minha flor

entalada na tua liga.

e

a

minha língua

a percorrer o teu corpo

meu amor

até ficar perdida .
perfume
via-te

caminhando

pelos meus passeios

e pensava que existias

hoje

embora cruzemos o mesmo olhar

e

os passos sejam os mesmos

com que iludimos esta ilusão

por favor

não fiques admirada

se os meus olhos

tiverem o perfume

próprio de só agora saber

que tu fingias
86
PERGUNTEM Á ALICE
PERGUNTEM Á ALICE PORQUE VEJO EU COISAS DIFERENTES PERGUNTEM Á ALICE ELA PODE EXPLICAR EU SÓ TOMEI O COMPRIMIDO QUE O MÉDICO IMBECIL DIZIA IGNORAR OS QUE ELE TOMA NÃO FAZEM EFEITO DÃO-LHE VONTADE DE CHORAR VÁ LÁ, NÃO TENHAM MEDO FALEM COM A ALICE ELA SABE O SEGREDO EU SEI QUE ELA TEM UM COGUMELO QUE VOS VAI AJUDAR
2013
PETIT JOURNAL_PARIS
st. james infirmary

escorria pelos copos de cerveja

temperando o suor da banda

armstrong piscava-me o olho

e eu de pé em cima da mesa

mostrava orgulhoso

a minha camisa de veludo vermelha

comprada no marché aux puces.

como era bonita a minha bandeira !

o jazz só acaba

com o acontecer da manhã

e depois, cansado

vai dormir com o sol.

parker o pássaro

voa em todas as caves

e miles chora abraçado á sua trompete.

não são necessárias palavras

para se ouvirem os grandes poemas

e lá fora piaff

continua a prender-me nos seus braços

e brel escreveu nuvens no céu

onde se podia ler

ne me quitte pas.

vou dar todos os meus beijos

a quem encontrar no bois de bologne

numa valsa com todos os compassos.

e eu sei que a solidão

ás vezes não existe
2006dez28
PODE
Pode o destino não ter caminho

pode o rio não beijar o mar

pode a vida estar ao contrário

pode o grito ser solitário

pode o tempo correr devagar

pode o sonho ser esquecido

pode o fruto não ser proibido

pode o leito não ser de morte

pode-se nascer no lado errado da sorte

pode a navalha não ter fio

pode o humor ser adiado

pode o rico ser desconfiado

pode o pobre ser certificado

pode o poema não ser lido

pode o voo ser cancelado

pode o sol mentir á lua

pode a rainha andar nua

pode o ministro ser sinistro.
PODE A VIDA SER UM ESTRANHO LUGAR PARA SE MORRER.
mai2013_16
Poema

do

amor
O nosso grande amor ainda não aconteceu .

talvez não fôssemos audazes o suficiente para abraçar o quase limite que ali estava tão perto.

"quando se bate á porta pergunta-se quem é,

não quem foi".

quem nos poderá esconder as lágrimas que inundam as rugas dos nossos sorrisos?

algum dia isso terá de acontecer. sugiro que o façam durante o sonho que irá acabar por me adormecer. As usual procurarei não estar atento, basta-me a dívida da minha certeza e o suficiente nunca foi a minha ambição preferida.

Insinuo o desejo, imagino o real e definitivamente sou o que sou não importam as vírgulas com que tentam inventar aquilo que de certeza não pretendo.

Meu deus ! Meu deus! :

como é infinito o amor que não sinto por ti.

Alípio swinga

o sax grita

a viagem está á minha espera. chegaram os profetas que me acompanharão na auto estrada deste apetecido inferno. Desta vez partirei com o arco íris completo e o pôr do sol terá a palete dos vagabundos celestiais.

Meu deus ! Meu deus!

: como é infinito o amor que não sinto por ti.

Ainda bem que não me conheces-te. é óbvio que não me mereces.
2006mai30
poema para che guevara
ter - se - ia rubens

esquecido de pintar

todos os pássaros de vermelho ?

oh !

talvez hoje

não existissem

gaiolas.
Poema para EUSÉBIO
Mais longe que o voo

Maior que o sonho

Simples e envolvente como se fosse destino

Era o poema

Que alegrava o estádio

Era lindo esse caminho

Tantas almas gritando o seu nome

Cantando Rindo Chorando

Contigo

Nunca caminho sozinho

E a sinfonia acontecia

Quando a bola beijava a rede

E os deuses sorriam

Contemplando maravilhados

A obra suprema

O mais grande de todos os grandes

Manto sagrado

Regado com todas as lágrimas

Que beijam o teu emblema.
2014.01.29
poema para harpo marx

Harpo morreu !

Olhem para as lágrimas

Rolando pelo chão !

Dizem que é chuva caindo .

Não !

O

Céu

Está

Chorando .

poema para Lou Reed

VOLTO JÁ !

DESCULPEM !

SÓ FUI ALI,

BEIJAR O CÉU …

Não foi nada perfeito

O dia da sua morte .
2014
Poema para o Senhor Evandro, um sem abrigo de Salvador.Com um abraço do Tomás Miranda
Condenado a morrer

Vivendo a morte

Nasci

No lado errado da sorte

Nem um olhar mereço

Na alegria que entristeço

O resto do nada, Sou Eu

Nem no lixo aconteço.
.2013| março_18 antóniodemiranda

Poema para um amigo ( ALBERTO MONTEIRO-2013Abril6)

1. O Alberto morreu !



Mas o kiko não sabe.

Pensa que vai continuar a ladrar

quando ouvir o inconfundível trabalhar da zundapp.
2. O Alberto morreu !



E não teve tempo

de estofar o assento da mota.

É verdade que sempre foi uma hipótese adiada

ao longo de vários anos.
3. O Alberto morreu !



Sempre é verdade

que a morte é um lugar estranho para se viver.
4. O Alberto morreu !



E eu não tive tempo

para saber os nomes dos pássaros,

mas sei, porque ele me ensinou

que a cor do céu ao cair do dia
diz-nos como estará o tempo amanhã.

5. O Alberto morreu !



… desta vez apanhou-me desprevenido,

não vamos cumprir

o que combinamos no último abraço
6. O Alberto morreu !



Conhece-lo

foi dos poucos privilégios

que a vida me deu.
7. O Alberto morreu !



Vou sentar-me no alpendre

em frente da estrada

com dois copos de tinto

imaginando as três buzinadelas habituais.
8. O Alberto morreu !

Olho para o stop :

Se Tens Olhos Para !



Como ele costumava dizer.
junho042013
Poema possível para um ignóbil
1. Nem todos os ratos fogem !



… Outros, préviamente avisados

vão até Vigo.
2. Cheira a merda, Sabe a bosta !



… Não é por acaso

Que rima com pinto da costa.
3. Constatação absoluta !



Quando morre um ignóbil,

O mundo não fica mais pobre.
4. Definitivamente é Deprimente !



Quando um ignóbil,

Pensa que recita António Nobre.
5. Á noite, nem todos os gatos são pardos !

… Mas no CALOR DA NOITE,



Os estúpidos ficam mais parvos.
2014

Março
poema realista de amor
dá - me :

uma veia

uma lágrima

uma lâmina

a mão

um sorriso

um olhar

uma flor

amor

e :

quando acordares

lembra - te que ainda

não nascemos.
Pois é… pois é…
As tuas lágrimas

Já não me doem

O teu sorriso de espantalho

Já não é recordação

As tuas histórias

Já não me atraem

A tua imagem

Já não faz parte da minha viagem

Nada me comove

Nem o primeiro olhar

Nem o primeiro sangue

Nem a última mágoa

Entre a ausência e a presença

O passado é – me fiel

E o seu tempo

É dilui-se nas minhas veias

As tuas palavras são um boquet de injúrias

Agora tenho no coração

A esperança de um novo abraço
2006_out12
porque choram o amor
quem poderá dizer

porque choram o amor ?

eu não consigo compreender

eu contei-lhe todas as mentiras

dediquei-lhe todas as carícias

ás vezes com beijos obrigatoriamente fingidos

no som dos gemidos

: sonhei

alegre e triste fiquei

mas eu contei-lhe todas as mentiras

não apenas as suficientes

sorri risos ausentes

mesmo o seu ego com o esperma inundei

dividi o meu coração em tiras

mas ninguém nelas pegou

mas eu contei-lhe todas as mentiras

não apenas as verdadeiras

amei-o de todas as maneiras

mesmo com palavras traiçoeiras

mas ele a mim nunca amou

porque choram o amor ?

eu permiti-lhe toda a ficção

todas as ausências

e abusivamente chorei os sons do seu silêncio

os sonos espancados

caçando os meus sonhos

perseguindo os meus medos

confiei-lhe todos os segredos

provei mesmo o sabor da sua dor.

porque choram o amor ?
2006jul31
porque esperas ?
porque esperas ?

não deixes que a vontade

te escape

agarra essa força

toda

toda numa mão

é teu este combate

é teu este dever

de dizer não

para que a palavra mais bela

não seja saudade

não seja ilusão :
liberdade
21.5.86



Porque hoje é? natal
porque hoje colhi

todas as lágrimas do céu

e o vento finalmente levou

todas as promessas mentirosas

olho só os que os outros olhos querem ver

porque hoje continuam todas as ausências

e já ninguém ouve os gritos mudos

porque hoje continuam todos os desesperos

e alguém sem saber

vai a caminho do cemitério

perante a indignação fingida

de quem ainda não foi convidado

porque hoje continuam todas as indiferenças

todas as fomes

todas as guerras

e alguém como sempre

mentirosamente preocupado

lê homilias cínicas

tentando lembrar o rei dos palhaços

porque hoje alguém continua sozinho

apesar de toda a boa vontade

porque hoje continuam todas as impotências

e não há bomba que acabe com elas

porque hoje pintaram-se

todas as memórias

embrulharam-se

todos os manicómios

porque hoje iluminaram-se

todas as angústias

confundindo-as com as luzes da cidade

porque hoje é um dia chamado natal

porque hoje não se preenchem formulários

para o desemprego

porque o filho da pauta continua igual

a minha autópsia pode esperar

e a brigada de trânsito

dizem controla o perigo

porque hoje também não vou dormir descansado

porque hoje alguém ainda vive com medo

porque hoje há o natal do hospital

mesmo com taxa moderadora

nota-se mais o sorriso da doutora

e a compreensão da assistente social

e a menina do guichet

dizem que lavou os dentes no bidé

está muito solícita

e a cretina das informações

com muito boa vontade

mas como sempre nada explícita

porque hoje
também não consigo enganar o meu sorriso.




NUNCA SERÁ MINHA A ANGÚSTIA DO VOSSO DEUS !
2006dez17
Posologia
Leia com atenção antes de me tomar.

Não se esqueça que eu fui receitado apenas para si.

Não me dê a mais ninguém.
COMPANHIA RESPONSÁVEL PELA COLOCAÇÃO NO MERCADO :

FABRICANTE : ®
COMPOSIÇÃO :



PORQUE É QUE FUI RECEITADO ?
Especialmente indicado
COMO ACTUO ?
Descubra você mesmo
O QUE DEVE SABER ANTES DE ME TOMAR :
Escolha a canção apetecida; a posição não importa
EFEITOS SECUNDÁRIOS :
Nenhuns ou aqueles julgados convenientes
COMO TOMAR :
Sempre que apetecer, de preferência acompanhado com beijos , sonhos e paixão
O QUE FAZER EM CASO DE DOSE EXCESSIVA :
Repetir
O QUE FAZER EM CASO DE ESQUECIMENTO :
Aumentar o stock
DURANTE QUANTO TEMPO TOMAR ?
Rasgar o calendário
CONTRA INDICAÇÕES :
não aconselhável a pessoas banais ou imbuídas de comportamentos normalizados
OUTRAS INFORMAÇÕES :
" si ti apanho com outro ti mato, ti mando algumas flores e dipois mi escapo ".
maio2006
1ª MORTE

E ….

Maldizes a sorte

Passando ao lado da vida

Hoje é a primeira morte

Do resto desta fadiga.
4.março.86

promessa
lembrar

o quê ?

Sorrisos fictícios

de amor

feito á pressa

carícias medrosas

feitas de mentiras

mentidas

num amor

que não passou

de promessa .
27.5.86
promessas
promessas

tudo o que prometes

não passam de mentiras obscenas que tentam enganar

as boas intenções da minha alma

. hoje dizes

que não me voltarás a magoar

que tudo

jamais será como dantes

e

passados breves instantes

eu tenho a prova

demasiado irrefutável

de que a mentira continua a mesma

valerá

mesmo a pena tentar?

esperar

que esse delírio constante

que faz de ti palhaço

e de mim figurante

se esconda

nas palavras mentirosas

com que mentes

aos meus desejos ?
21.5.86
prostitutas empregadas de escritório senhoras finas e de moral
ai estas prostitutas

senhoras finas

e de moral

olham -me felinas

com ar parvo natural

se não lhes digo bom dia

mesmo que esteja de azia

logo levam a mal

ai estas senhoras finas

empregadas de escritório

com bocas de pia

inteligência de supositório

com ares jactantes

com vinte - um ou mais amantes

ostentando casacos de peles

comprados com dinheiro reles

fruto das suas vendas

ai estas conversas

destas senhoras finas

e cheias de moral

ai os abortos clandestinos

os enredos das telenovelas

a crise dos intestinos

a inflamação dos ovários

o cumprimento dos horários

as montras do centro comercial

o atraso do período

o stress e o expediente

o incómodo do penso higiénico

a pedra do dente

o vestido da colega

a marca do perfume

o sorriso com sabor a ciúme

ai o penteado para o fim de semana

ai este olhar de indiferença

o quarto da pensão

o amante à espera

se chegar a casa cansada

e sem disposição

o marido não notará a diferença :

já está habituado.

e o telefonema

para combinar o esquema

Ai a respeitabilidade

a família a posição

este ar de ingenuidade

a vagina ganha pão

o rosto pintado

a idade para ocultar

uma certa liberdade

na conveniência do falar

a ida ao cinema

a bebida no bar

mais uma semana :

sempre o mesmo para contar.

Ai quem me dera ser pássaro

para nas vossas cabeças cagar..
nov.21.80.
púbis
por muito tempo

que viva

jamais

poderei

esquecer aquela imagem !

...

não sei

se eram cuecas pretas

ou tal

seria a côr da sua púbis ?
5.3.86
quant ... ?
Quanto me faltará resistir a esta vontade de cuspir toda a raiva duma só vez e este nojo sintético de feitio amorfo e este tédio difícil de fornicar malgrado o meu empenho em continuar a sonhar. Ignorar até quando? O conhecimento das coisas? E os nomes? Sim a merda dos nomes que nos colam, tornam banal qualquer tentativa do direito à diferença. Dou corda a um relógio e atraso a memória? E a memória que não me deixa que me come e tortura que me prende e me serve de desculpa para a minha impotência manifestada embora com alquimias de sorrisos surrealistas. E o que me interessa a vossa realidade se não sou eu que a construo? Recordações de conveniência registadas no meu vídeo climatizado. Balanço a cabeça e as ideias saltam-me para as mãos mas eu não tenho tempo para tudo e mesmo deus ignora o meu problema. Xutos e pontapés ar condicionado que condensa num só novelo de poeira, uma a uma, todas as tentativas de fuga. Autoembrulho-me num saco de plástico, autocoloco-me na prateleira do supermercado e mesmo com etiqueta cor de rosa, ninguém acredita em mim. Vias lácteas gelatinosas percorrem esta crucificação quotidiana adoçada com o perfume desodorizantíaco do manequim publicitário que não pára de olhar para o meu pénis pele e osso. EU ? Não acho absolutamente qualquer piada que as pessoas mordam os meus calcanhares. Os tomates enlatados do executivo nas vaginas paranóicas das menstruadas secretárias. Circulo levianamente pelos olhares atrevidos das putas e travestis da avenida, embora não saibam que eu sou um espião do amor. Quente ou frio, serve-se de preferência em bandejas temperadas de afrodisíacos.



NÉON ! NÉON !Os profetas andam pelos passeios vestidos de néon e embora possuam estômagos digitais não são afectados com as dolorosas digestões dos manjares de glória.

GLÓRIA ! Aluga-se ! À hora ao dia mas nunca para toda a vida. SIM, porque a glória não é uma prostituta qualquer !!!!.

Anjos da malvadez fazendo amor em ancoradouros distraídos, que pacientemente tornam públicas as suas apaixonadas e apixonadas, chegando mesmo a mostrar cenas eventualmente chocantes de bailados sexuais com as habituais e famosas bailarinas afro -CU banas. Ritmos alucinantes ejaculações

precoces idílios amorosos confirmados em promessas de bacanais intemporais.
AVÉ VIDA, os que vão morrer saúdam-te. Os que ficam ainda se vão arrepender.




quero
Quero que um dia as estátuas

se curvem ao meu passar

e digam

aqui vai um poeta

e não lamentem

a minha coragem de correr

ao encontro da aventura

quero que um dia

celebrem numa grande festa

a ousadia

a ternura

da minha loucura

quero ainda que não limitem

esta mágoa que me é querida

de viver a vida num momento

e só depois o tempo

que gasta a vida.
quietude
e

é nesta quietude

que amiúde

me seduz

que apago

a tua imagem

para te amar

na contra - luz .

recado
Mandar - te - ei.
Beijos pelos fios .
E.
Faremos amor.

Num telegrama .

Nada nos cansa.
Nesta paixão.

Que tem o sol por cama.
Refeição nua
De nada valeram as boas intenções

As palavras daquelas tardes

Envoltas em sorrisos de coragem

O nosso encontro

Foi uma refeição nua

Hoje percorro a memória desse tempo

E rio para mim

Anormalidades anónimas

Desprezos sem endereço

E caminho nas ruas do acaso

Sentindo o cair das pedras dos seus muros

Toda a gente se magoa

Construindo assim toda a crueldade do mundo

Leve corre a espuma da tristeza

Nela navegando o que resta da desolação

Paixão violenta

Amor sem nenhuma certeza

Lágrimas limpas a seco

Flor dum louco agosto

Apodrecida na minha mão

Tudo acaba

Nem sempre no tempo apetecido

Quase nunca na forma adequada

Flores sujas na minha sepultura

O resto do menu inacabado

Duma refeição nua

Paraíso artificial

Criado até á exaustão

No entanto todas as intenções eram pacíficas

E nenhuma esperança possível

E os beijos trocados

Tinham sempre o adeus nos olhos

E as palavras faladas a conveniência da mentira

Por isso o caminho das pedras

Foi um convite sempre recusado.

Longe foi o mais perto
Que conseguimos estar.




outubro20.2006
Requiem por todos os poetas descalços
nada

para além

dum bolso

repleto de sonhos

duma prática

quotidiana

abusivamente

condicionada

a um certo

ritmo de consumo

de posições

motivadas

pelo próprio sistema

ou

uma traição consciente

mas sempre

traição a mim mesmo.

não !

não quero ser

dos que ficaram pelo caminho.

o poema ...

o poema é a pena

de eu não ter pena

de escrever o poema.

mas ...

não te chateies :

eu

sou

o único poeta

que

pode mijar

na tua algibeira.
ressaca
nesta ressaca

aumentada com

a tua imagem

gasto

o tempo

no sabor deste fumo

procurando em vão

que o gosto

do teu corpo

não passe duma miragem .
RIDERS ON THE STORM
Toda a gente devia saber que apenas precisas dum amigo.

Bom dia sussurras gentilmente ao meu ouvido mas não te posso prometer que estou de volta. Devo esperar a demora que o tempo leva a fazer todos estes erros.

O que digo ou faço não importa .

Não é ainda a hora de derramar o choro destas lágrimas instantâneas.

Dizes-me isto e aquilo mas nunca o que eu quero ouvir.

Serás mais um dos anjos perdidos ?

Ás vezes poderei ser aquele que bate à tua porta.

Mas não me dês chave nenhuma : eu quero mais, sem ousar transformar a tua vida num inferno igual ao desassossego que me é realidade.

Preciso de alguém que não necessite de mim.

Outras vezes sou uma serpente à procura da pele esquecida.

Boa noite, JIM .

Agora vou abraçar todos os cavaleiros da tempestade.
2006jun01

saudade
Bebo

Deste copo com` ágoa

Enquanto o gosto se dissolve lentamente

Neste carrossel d `angústia.

Já posso dizer

Que não me é estranho

O sabor da tua ausência

E escreverei nos muros desta cidade,

Embora com traços de amargura

O teu nome :

Saudade.
85.
Se eu soubesse…
Se eu soubesse

Que o amor às vezes entristece

Mesmo que seja paixão

Nunca arrependida

Se eu soubesse

De que forma o sol amanhece

Alma em mim

Que de angústia padece

Se eu soubesse meu amor

Todos os teus beijos de cor

Se eu soubesse

Que não há dor parecida

Pintaria com certezas

Todas as horas da minha vida.
2010dez22
Se hoje …

e

se hoje

estou triste

a culpa não é só minha

é porque te vi

abraçando a lua

enquanto os meus braços

soluçavam

a urgência

dos teus abraços
1986
se os teus olhos te vendessem
Eras tão bonita



E já te não quero

It`s all over now

I`m in the blue

You must know, my rainbow

Is not for you

Eras tão bonita

E já te não quero

Procurarei ser digno

Embora saiba que esses delírios

Te perderão num caminho sem volta

Não és a maré que o meu oceano abraça

Nem a paixão que poderá remar o meu barco

Não há culpas nem desculpas

Já nada existe para além disso

Não sou rio onde possas navegar

Nem tu a bela barca que me surpreendia o acordar

Fomos um fracasso total

O que te dei

O que me deste

Não passou de uma mentira banal

Mentiras hesitações contradições insinuações

Déja vu não assumido

Ninguém pega em ti ao colo

Embora te ofereças como um produto num supermercado

Hoje sinto-me doente

Mas há alguém que verdadeiramente o está

A necessidade não explica tudo

E a solidão merece mais respeito.

Se os teus olhos te vendessem

Eras tão bonita

E já te não quero

Como poderei ser teu amigo ?

Sozinho é sempre diferente de solitário.

Estupidez é a asneira repetida (lembras-te ?)

Escutamos as mesmas músicas

Mas não ouvimos as mesmas canções

Dark clouds rollin`

I`m in trouble with myself ...

(eu já sabia)

Se os teus olhos te vendessem

Eras tão bonita

E já te não quero

It`s all over now

Baby i`m in the blue

You must know, my rainbow

Is not for you

Eras tão bonita

E já te não quero

Definitivamente nem o meu yô-yô já sou

Assim como a amplitude das palavras nunca me assustou.

Jogo sempre o jogo que me propõem

Sempre até á última veia

Corto-me quando é preciso

Vou até ao fim

Do fim possível

Não tenho pena de mim

Olho-me

Revejo-me

Acalmo-me

E só vomito o estritamente necessário

Não sou vencido nem vencedor

Não me divido quando estou

Quero tudo e o tudo eu dou

Sem troca

Sem contrato

Com paixão

Com loucura até ao fim

Até ao fim

Desta vez não conseguimos ir

Embora eu saiba que nunca é fácil

Desta vez ficou a tentativa inútil

Dum sonho mal acordado

Poemas clandestinos

Traduzindo o meu optimismo descarado

Palavras de circunstância

Desta vez o amor passou ao lado

E derramamos esperma

Para celebrar a sua ausência

It`s all over now

I`m in the blue

Não te preocupes :

Este arco-iris é só meu

Eras tão bonita

E já não me gustas baby

Embora penses o contrário

Eu não sou um estruturado

Não gosto de guerras perdidas

De intenções mal paridas

Do esquema planificado

Nem da estratégia da segurança social

Gosto dos olhos nos olhos

Das palavras fodidas

Que te cansam e dizes fazem-te mal

Agarro o desafio sempre de forma consciente

Aceito o problema porque procuro a solução

O que assumo depende sempre de mim

Envolvo-me até á medula

Mas não ponho o pescoço no cepo

Sou ainda mais difícil assim

Não vou tirar nada

Daquilo que dizes te dei

Guardo sempre as memórias

Não revejo fotografias

Não colecciono recordações
Não celebro os sobreviventes do seu próprio falhanço
Se os teus olhos te vendessem

Eras tão bonita

E já te não quero

Dark clouds rollin`

I`m in trouble no more

You know you can`t find me baby

Please knock on another door

Já não me gustas baby
2006ago1
Se te der jeito
Se te der jeito

Mesmo que a vontade

Te embarace

Gostaria de ter a possibilidade

De atar os teus gritos

Com as palavras

Que saltaram desta folha.

Tranquilo,

Nas manhãs despidas

Do não significado

Aguardo serenamente

O outro despertar.

Todas as hipóteses são viáveis !

… Mesmo aquelas

Que sabemos, nunca acontecerão.
2014

Maio

SEDUÇÃO
Abraças os medos do costume

O sorriso de uma veia

Todos os teus pesadelos

São a realidade que afastas

Qualquer dor é o teu sentido

E mostra-te o caminho que não sabes percorrer.

Todos os dias

Deviam ser de sedução

Todas as noites têm de ter amante

E a intenção do amor uma prioridade constante

Às vezes sentes-te confortável

Talvez sejas uma lágrima

Que escorre dos olhos do deus por ti inventado

Todos os momentos deviam ser inevitáveis

Todos os beijos oferecidos

E o prazer que sempre recusas, fatal.

Todas as teorias são banalidades

Todo o desejo devia ser legalizado

Todo o convite não recusado

Todo o comportamento não normalizado

Todos os destinos não comprometidos.
jun2010
seios
Sentir os teus seios

Aquecer minhas mãos

Depois de tantos receios

Após tantos nãos

Não !

Como poderei

Com - vencer - te

Que mais vale

Uma mama na mão

Do que duas

No soutien ?
sentir
Sentir

As tuas mãos

No meu corpo

E eu perder - me nos teus beijos

Até que os lençóis

Digam de cor

Um a um

o nome

Dos nossos desejos .
Sémen
Acaricias a viola

Como se de uma mulher se tratasse

E ejaculas melodias

Que humedecem as fronteiras

Deste desejo

Escrito nas pautas

Com semifusas de êxtase.

E beijas a música sofregamente

Abraçando escalas de prazer

Enquanto libidinosamente

As cordas enlaçam o teu sexo

Até este se tornar ternura.

Neste compasso

A sinfonia inundará o teu corpo

Transformando em perfume

O nosso sémen.
separar
SEPARAR - ME DE TI

TODAS AS MANHÃS

AINDA É A MINHA DOR

MEU AMOR

e EMBORA

CHEIO DE REVOLTA

PONHO A MÁSCARA DA ROTINA

e NESTA VIAGEM USUAL

PEÇO SEMPRE BILHETE D`IDA e VOLTA .
4.3.86

SER-SE
O

SER

É

SER-SE

DIFERENTE.
She´s gonne
Chorei as mais tristes

Despedidas dos dias

Quando o sol sabia

Que não me podia abandonar.

Porque o amor não é alegre

E a paixão tem sempre marcada

O tempo da partida

E eu não quero perder-te

Na ânsia de te libertar

Escrevo com as palavras possíveis

A alegria até então vivida.

Hoje vou sonhar com o teu sabor

Hoje vou beijar

A ausência acontecida.

She`s gonne

Yeah my baby she`s gonne.

Amanhã

Amanhã o rio continuará

A chorar

Entre as margens que o apertam.
2006jul10
Sinal
Estarei

Atento

A um qualquer sinal
Da tua parte



Para escrever

No teu peito

Palavras de veludo

Pintadas com as cores

Da volúpia do teu olhar.

O teu sorriso

Servirá de moldura

A um quadro ainda incompleto

Que fiz com a palavra :
Amar-te
26.5.86
SINFONIA DA DESILUSÃO
Sou filho da guerra do ódio

Da miséria e do pecado

Que não fiz.

Minha irmã é a noite

Que nunca mais termina

É a dor inventada

É a boca asquerosa

Que não pensa nem sabe o que diz.

A minha vida são as grades

Que eu como os covardes

Não consigo quebrar

Os meus braços são tenazes

Que apertam os meus desejos

E destroem a minha ânsia de amar.

Os meus olhos são a alegria simulada

De uma ambição frustrada

Que eu teimo ainda em pensar

Os meus beijos são despejos

Manias fumos exibição

O meu pensamento é tempo é o vento

É a vida que eu ainda não vivi.

Oh !!!

Eu sou homem objecto

Sou produto para consumir

Sou futuro sem presente

Sou a negação do existir.
sinfonia
Olho - te

Quieto

E vejo - te cavalgar

Sonhos

Que sei não são meus

E apareces

Para colorir

Os meus fins de tarde

Feitos sinfonias incompletas .

Serenamente

o meu rio

Vai - se enchendo com o teu sorriso

E as palavras que tu falas

São os barcos que nele navegam .

Então eu deixo

De ser o marinheiro do desassossego

E o teu corpo

É o porto

Onde começamos

A viagem .
SOLIDÃO REVISITADA
Só te resta o teclado & o monitor

E alguém estranho diz-se igual a ti

É a solidão revisitada

Sem alma nem cor

É a lágrima queimada

Numa vela apagada

Que nunca soube os cambiantes do amor

É a mentira forjada

Que tu falas na noite acordada

Quando custa mais a dor

O outro lado faz-te sentir importante

Logo pensas que não és a única

Adias o problema

Para o amanhã que julgas distante

E jogas os desejos envergonhados

Fabricas outro dilema

Agora a felicidade está garantida

Se és loura também podes ser morena

Envias a fotografia fora de prazo

E o manual de instruções para seres fodida

Agora tens mais um caso

Afinal tinhas razão

Como é bom ser apetecida

Estás a começar a ter sorte

Hoje adiaste a morte

Só te resta o teclado & o monitor

E alguém estranho diz-se igual a ti

É a solidão revisitada

Contínua ausência de amor
outubro27.2006
solidão
O que se sabe da solidão o que é que nos acompanha na tristeza, o vazio acontece quando o mar enche e nem sempre sabemos flutuar.. Estendo - me ao comprido nas posições possíveis das marés preguiçosas da memória e as ondas que me atingem têm todas o sabor salgado de uma outra história.
Ergo - me, não tão depressa como me impele o desejo, em busca de apetites não sei se sonhados. Resta - me a possibilidade sempre a impossibilidade do sonho de pensar que sonho o sono que me derrota.
Que guerreiro sou eu ?
Hesito sempre na procura da arma mais eficaz.
Gasto - me em batalhas imaginárias em tácticas de perspectivas invertidas com assaltos de estratégias globais ; guerreiro comodamente instalado em sofás e tento compreender ( porque não para minha conveniência ? ), atentados que vitimam burgueses tão burgueses como eu.
Ao que me leva a ilusão .

Marco passo

marco tempo

construo ficções

sempre ao ritmo dum relógio ao qual nunca me esqueço de mudar a pilha. Acordo, penso que o contrário seria a maior maravilha.
Solitário !
no jardim das árvores sagradas em cujos ramos repousam os pássaros que me contam histórias de encantar.

(Como gostaria de encontrar os bosques distantes das florestas com sorrisos celestiais. )
O que nos acompanha na solidão o que sabemos da tristeza é que o vazio é o mesmo . a traição das marés. E sobretudo nem sempre damos à costa da mesma maneira, estende-mo - nos ao contrário mesmo com posições impossíveis nas vagas enganadoras do passado.
E os escombros que nunca passam ao lado, não têm mais o sabor, o sabor sempre apetecido da aventura.

Caio.

Lentamente

Assim me ordena a vontade

Farto de sorrir à futilidade resta - me o acordar tentar viver acordado para sonhar o impossível, sempre a possibilidade de acordar de sonhar que acordo do sonho que me vence.
Que covarde sou eu ?
Nem tento sequer

A minha liberdade.
88maionum dia qualquer

Solução
Sempre disseste

Que eu não tinha razão

Que dizia mal de tudo

Sem ter a solução

Compreenderás

Que os teus fantasmas

Não fazem parte dos meus delírios ?
1986
sombra
Vigia a tua sombra

existe ainda um fantasma

dentro de ti

a liberdade chegará

malgrado a vontade nula

que ponho na minha sobrevivência.

É chegado o momento

de encararmos as coisas

com a frontalidade possível.

Façamos da incoerência

a nossa amada e tão necessária

coerência

e,

sobretudo

continuemos a evitar

as perguntas perturbadoras.

É urgente

a paixão ardente

o amor violento

que emane

sem margem para

quaisquer dúvidas

a nossa malvadez

o nosso gentil ódio.

Sim,

a liberdade chegará

e, embora sem sermos capazes

de compreender a sua presença,

escreveremos o seu nome nas

paredes,

soletra - lo - emos

letra a letra,

pelo que ela não deixará de

ser aquilo que sempre foi :

uma palavra agredida

pela nossa futilidade.

Perdoa - me ! perdoa - me 1000000

de vezes

pôr não ter

um filho teu.

mas tens de admitir

que a vida é dura

quando um homem

só tem

aquilo que deus

lhe deu !

( e deus não existe ! )

Vigia !

vigia a tua sombra

há sempre um fantasma

dentro de ti.

Vigia !

vigia o teu fantasma

há sempre uma sombra

dentro de ti.

Não fiques intrigado

com o teu próprio jogo :

os trunfos que podes deitar

são o espelho da tua

versatilidade

joga com a cautela

que te é usual

assim, não perdes o que podes

ganhar

( recuperas sempre o que perdes )

porque a vitória

só é possível num jogo viciado.

O que nos une,

e é necessariamente

urgente

que disso

tenhas consciência,

é o nosso fracasso

árduamente conquistado,

conseguido gota a gota

falhanço a falhanço

pela nossa imbecilidade

pela nossa cretinice.

Tomai

e bebei

do meu cálice !

e, que

o veneno seja

assaz

eficiente !

perdoai

a minha coragem

assim como eu

não admito !

não aceito !

o vosso bom comportamento

a vossa boa disciplina

a vossa boa organização.

Tomai

e bebei todos

este meu ódio

permanente

este néctar

que deliciosamente

derramo

sobre os vossos pensamentos

sobre os vossos sorrisos

que,

abusivamente

têm o gosto

amorfo do tédio !

Há um fantasma

dentro de mim

que ocupa o néon do meu corpo

há milhares de sombras sorridentes

que preenchem a minha imagem.

Vou !

vou esconder - me

esconder - me bem

pôr - me fora de vista

a policia do sexo

anda pôr aí espalhada !

( alguém lhes disse

que tinha no frigorífico

as mãos da minha namorada ! )

Como é difícil de explicar a dificuldade do amor !!!

Corações ardentes

paixões violentas

milhares de humanidades

refugiadas

no medo da solidão,

embora fecundem o desprezo

a nulidade da personalidade

e toda a tentativa individual

DO DIREITO À DIFERENÇA .

(Como é diferente

ser - se diferente . )

Tomai e bebei todos !

este é o veneno do meu corpo

para vossa glória

por mim derramado.

Dão - vos um yô - yô

e com ele brincam à felicidade.

E depois dizem -me :

assenta bem os pés

no chão !

então

como poderei tirar as calças ?

( evitemos

as perguntas perturbadoras ... )

assumamos

de uma vez por todas

a conveniência da comum conveniência.

Consumamos

consumamos a necessidade de ser necessário

consumir.

Consumamos até á exaustão

a necessidade da ignorância,

dos prazeres consentidos

pela legalidade legalizada.

( amor : que jogo mais estranho ! )

Vou escrever

uma carta apaixonada

antes que aniquilem esta

vontade louca que tenho de ser feliz !

corações violentos

paixões ardentes : enterrem

a minha paixão

na curva

do rio.

Haveremos de viver !

o homo sapiens

usa perfume penetrante

bebe coco cola

e encharca o corpo

com desodorizante.

Assim,

tudo ! tudo não passa de

reclame

iluminado pelo néon

da nossa estupidez.

Amen !

Desolação !

Sou um anjo da desolação !

estou farto de lutas

Árduas conquistas e

Principalmente

do herói de celulóide

que aconselha a pasta dentífrica

que devo usar.

Resta - nos esperar

pela imortalidade da morte

porque

as pessoas diferentes

acabarão por realmente
VIVER !

84.jan

Soneto do AMOR AUSENTE
De ti me fica a lembrança

Do amor por nós não entendido

Do tempo sempre sofrido

Passado nas ausências da esperança

Nesta estranha forma de dança

Mais do que eu, triste é o meu fado

Que se perde no beijo desesperado

Escorrendo do tempo a mudança

Foi-se a hora da paixão

Gasta nos abraços clandestinos

O que nos uniu foi o fracasso

Feito no engano da ilusão

Nos abusados desatinos

Num amor tão breve e escasso
jul03/2006
soneto para um BEIJO
Volta para o meu beijo

Nunca o deixes esquecido

Onde se finge o amor apetecido

Diluindo-se o tempo num desejo

Deixo-me viver o que me resta da vida

Nas horas dum ritmo sem tempo

Na lembrança que só dura o momento

Nesta angustia sempre acontecida

E quando este beijo acabar

Beijarei outro novamente

Nesta paixão que já é saudade

Feita no engano do verbo amar

Num amor sempre diferente

Chorado na ausência da felicidade
jan3/2007
(Publicado na Antologia Poesia Contemporânea_Chiado Editora_2013)
sonhar
SONHAR

CONTIGO

QUE ACORDAR

TODAS AS MANHÃS

É UMA ILUSÃO

e LOGO TER VONTADE

DE TE ABRAÇAR

DE TE VOLTAR A AMAR

AO FIM DA TARDE

SUAVEMENTE

LOUCAMENTE

ENVOLVIDOS

NOS LENÇÓIS HÚMIDOS

QUE NÓS TRANSFORMAMOS

EM VENDAVAIS DE PAIXÃO .
Sonho
Se no meio

Do meu sonho

O teu nome eu grito

É porque te amo meu amor

Embora me custe a dor

De acordar aflito

E só fico cansado

Quando te sinto a meu lado

Neste nosso amor renovado

Com o qual vivo e acredito.

Como poderás pensar

Que o nosso amor acabou

Se ele é mais forte ainda

Do que quando começou

E só a ti eu prometo

Que quando este beijo acabar

Dar - te - ei um outro novamente

Será sempre o mesmo beijo

Nunca um beijo diferente.
fev.85.

sorriso
Esse sorriso

lindo

lindo até ao céu

que tu ofereces

sem nunca chegar

a ser meu

que me faz

perder o juízo

de riso

até beijar

o teu.
27.5.86
sorte
Gastas o tempo

Fazendo a saudade

Depois dizes que é tarde

Que já não tens idade

Para sorrir

Atas as amarras

Que te prendem ao cais

Só te resta a vontade

Mas como sempre não vais

Beijas a fadiga

Como se ela fosse gente

Dizes mal da vida

Quando és tu quem mente

Escorres a vida

Lavando a canseira

A sorte é tua amiga

Só não sabes qual a maneira .
.86
SOU O QUE SOU

É UMA MANEIRA FÁCIL

DE DIZER

TALVEZ

AQUILO QUE NÃO QUERO

SER.
SUBLIME
Acendemos o vulcão

Que nos queima

Da maneira mais apetecida

Cama chama chão

Suor enrouquecido

Inventamos a manhã húmida.

Neste tempo só nosso

Nada foi banal

Não há salvamento emocional

Tentativas surreais

Expectativas desleais.

Todas as possibilidades

Foram propostas

Todo o desejo tornado real
Ago13.2010
sultões

Caminhamos caminhos separados

Que

Nos fizeram fora-da-lei.

Cumprimentava-nos nos bares

Bebendo anónimos cocktails de néon

Enquanto um endiabrado sexofone tocava

Ao acaso a nossa música preferida.

Beijamo-nos

Como duas lâminas gémeas

Procurando ocultar

A necessidade que tínhamos um do outro.

( as gotas cheiravam ao sabor do nosso desejo )

.

Descobrimos

Que o guarda chuva

Que nos molhava

Não era senão

Um arco íris embriagado.

Desprezamos o sorriso inquestionável

Das pessoas que nos olhavam

Como se realmente nos vissem.
OS SULTÕES DO SWING RITMAVAM OS NOSSOS BEIJOS.
Talvez um dia
Talvez um dia consiga pôr fim a tudo inclusive à memória gasta por este tempo dorido e que faz de mim mais um trapo deste manto de merda a que chamamos humanidade .

Estou húmido seco frio e rouco.

Rouco de gritar com raiva o teu nome :

Liberdade .
Talvez…
Talvez

Um grito chegasse

Para acabar de vez

Com a angustia

Deste meu eu solitário

Que se dissolve

No tempo do próprio tempo.

Como se o desejo de ser contrário

Com o qual vivo solidário

Não bastasse ...
85fev.
 

Técnica mista
Algumas vezes Sinto-me como um arco-íris

E espalho as minhas cores no céu.

Alguns chamam-lhe técnica mista



Com colagens de angústias

Tristeza derramada sobre tela

Choro disfarçado de aguarela.

Ninguém vê o que sou :

Sorrisos acrílicos.
Ironias em pastel !



2009
Telegrama
Recebi

Hoje

A angústia

Do teu telegrama

Regado

Com dolorosos

filigranas

Com a forma do teu nome :

Ausência.

Até quando meu amor

Continuarão

A separar - nos ?

Agora

Quero um telex

Com todos os códigos do

amor .

Amar - te

Como eu te amo

Ainda me sabe a pouco.

Mesmo depois de tanto

te desejar

Até

Ficar

Louco.
TEMPO DE ANTENA
Eu sou o candidato que promete tudo mais barato

Não se vai arrepender quem em mim votar

Casas para todos escolas para todos

Telenovela ao almoço e jantar

Emprego ?

Só para quem tiver vontade de trabalhar

Eu sou o vosso candidato

Não estou aqui para enganar

Quero votos quero votos quero governar

Quero ser o vosso presidente

O vosso amigo permanente

Eu só vos quero ajudar

Vocês não podem viver sem o poder

Obedecer obedecer obedecer

Obedecer sem saber

É o vosso único dever

Eu sou o candidato

O óptimo candidato que nunca se atrapalha

Falte a carne ou falte o pão …

Comigo o povo até come palha.
Senhores telespectadores:

O programa preenchido por este espaço de tempo, é da inteira responsabilidade da associação dos inválidos que nos governam, assim como daqueles que poderão vir a causar-nos os mesmos danos.
comentário :
O GOVERNO É COMO UM PENICO :

MESMO VAZIO OCUPA ESPAÇO.
TENHO UM SEGREDO
Tenho um segredo.

Que não posso contar

Quem eu conheço

Não sabe escutar

É só um segredo

Nada mais para além disso

Não fala de medo

Não condiz com o riso

É só um segredo

Não posso contar

Talvez fale duma estrela

Que me põe a voar

É só um segredo

Que ninguém quer ouvir

Fala de alguém que está sempre a fugir.

Tenho um segredo…

Não tenho juízo.
ago.2010
\Teoria da importância /

As coisas importantes,

Meto-as na minha cabeça.


Se me lembrar delas,
tornam-se


IMPRESCINDÍVEIS!
.2014antóniodemiranda




TOMARA
Tomara

Que a minha alma

Me traga sempre

O teu sabor

Ai

Quão difícil

É o meu existir

Esta vontade de partir

Dividir o céu

Estar

Voltar

Fugir

Tornar a ser eu

Beijar

Esta lágrima

Vertida num cálice

Exangue de dor.
Set06.2010
Totomorte
Dormimos à pressa

Comemos apressados

E vivemos com o ritmo

De quem só sabe ser mandado.

:temos sempre a desculpa de que a sorte

passou ao lado.

Até quando meu amigo?

Até quando ?

Passa o tempo

Passa a vida

E só ficamos com esta espera

Que nos cansa

E nos castiga

E que já nos desespera.

: é a sorte que é megera …

Totoloto totobola lotaria

Totomorte totosorte

Que jeito faria

Totoulouco

Muito ?

Pouco ?
Trabalho
Não posso deixar de

pensar

Neste caminho

Tão conhecido e estranho

Onde ainda me perco

Não obstante o espento

Com que me encontro

No meio de tanto nada .

Hoje

Resolvi fechar os olhos

E caminhar

Embora soubesse

Que os meus passos sempre iguais

Me levariam ao mesmo lugar :
trabalho.
( naturalmente ) !
Tudo
Tudo vai

Bem ou mal

Só mais tarde, ou não, saberemos

Hoje

Quero um sorriso total

Quero um dia diferente

Sem programas estabelecidos

Sem prazos determinados

Sem vontades limitadas.

Hoje

Quero lavar-me em ti

E perfumar-me

Com o nosso suor.
26.5.86
Último beijo
Amanheço

O meu desejo

Nos teus enlaços

e

envelheço

com o sabor da ausência

dos teus abraços

Quase sempre

gasta-se o tempo

mesmo dando corda

a um relógio sempre ausente.

Imaginário

Nunca é o sabor do último beijo.
1986

UM VENTO LEVE
Um vento leve

Não sei se tão leve

Sopra-me aos ouvidos

Segredos em forma de canção

Revisito o mar

Beijando as ondas

Construindo dunas na palma da mão

Então acontece a tempestade

Que me lembra a vontade

Que me transporta a dúvida

Que constrói o habitual não
89fev24
UMA MÃO CHEIA DE NADA
MEIA DOSE DE TUDO

UMA MÃO CHEIA DE NADA

DEPOIS … BEM …

O TÉDIO O ABSURDO

E A … DEPRESSÃO BEM AVIADA,

Já gastei tanto a memória

De tanto tentar recordar

Que já só quero é ser feliz

Ter todo o tempo para te amar

Já dormi com o desespero

Forniquei mesmo a saudade

A minha esperança

É tão velha

Que já não sei se tem idade

Já bebi toda a loucura

Até a vontade se evaporar

Cara ou c`roa tanto faz

Para quem atira a sorte ao ar.

Vaga no céu
Vai haver uma vaga no céu !

Deus anda a portar-se mal !
maio2006
VALE A PENA ?
Vale a pena

A tua vida tão pequena

Feita renúncia repetida

Beco sem saída

Sem lugar para a viagem

Receita assistida

Não te enganes na embalagem

Tudo com contrapartida

Inteligência desistida

Realidade discutida

Estabilidade social não garantida

Só a felicidade permitida

Emoção escondida
Vale a pena a tua vida ?
Mal resolvida

Repartida

Vã tentativa.
ago21

.2010
Vento vagabundo
E

Quando me surgem

Na memória imagens

Que eu já não penso

Apago-as

Com riscos

De vivências amargas

Deixando

O seu significado

Ao sabor de qualquer vento vagabundo .
VIDEOPLEXIS
Registo a azia

numa cassete vazia

Cheia d`angústia

Farta de ser desgravada

A vontade muda-se

A memória permanece

Na tristeza

Que acontece

No desejo de mudar.

Ninguém me ouve

E

Eu estou farto de tentar
89fev24
Vi (peyote effects)
O

Que

Sinto

É tão bom

Que não sei dizer

O

Que penso

Já pensei

O que quero

Não me preocupa

O

Que gosto

Afinal ainda existe.
1976

VIVER?
SÓ SE  FOR
COMODEVESER.
vontade
Esta vontade

Que arrastamos

E que desagua

Na nossa teimosia

Neste barco sempre à deriva

Que nos transporta

Sempre ao mesmo lugar

E também este desejo que flutua

Neste oceano de vaga alta

Em que navegamos

Como passageiros clandestinos

Embora as marés

Continuem a orientar

Os portos de escala

Nesta rota sem destinos

Neste cruzeiro

Feito num veleiro

Que nos vela a vida

E a vida é um naufrágio

E os cânticos das gaivotas

Apenas o presságio

De que brevemente possuiremos o nada

Sendo tudo aquilo que nos falta.

Mas,

Pouco a pouco

As amarras

Vão cedendo ...
85fev.
Who´s gonna tell you baby

Who´s gonna tell you baby

As horas convenientes para amar

Quando poderei assassinar o teu vestido

E tu já sabes que o meu corpo

É um monstro insanamente conduzido

A dor não existe

O paraíso como sempre está ocupado

Vou beijar as gotas do teu véu.

Who´s gonna tell you baby

Who´s gonna tell you now

O sol voltou a brilhar ...
maio2006
x.acto
Corto-te

Quando quero

Palavra

Mal dita falada

Desespero

Mato-te

Com o x-acto

No sitio certo

Golpe exacto

Palavra

Sem sentido

Acto dorido

Momento sofrido

Grito fugido

Das tuas teias

Corto-te

Num golpe

Que esvazia as tuas veias

Corre

Morre

Abraça a liberdade

Que tanto receias.
Set01.2010
You can allways get what you want
Não foi um dia de merda

Nem trabalhei como um cão

hoje fiz o que me apeteceu

mandei foder o patrão.
2006mai22
(Publicado no livro "Pronto Pagamento"| Editora tea for one: colecção matéria mínima 20_2014/junho07)
Yô - Yô



Até então nada sabia acerca da angústia e lambia o tempo ruminando sorrisos de circunstância. Depois percebi que o yô-yô que me ofereceram dançava sempre para o mesmo lado.

E as palavras ?

As palavras enganadoras

Com que enganamos a ilusão ?

E o futuro adiado ?

A revolta

Domesticada

Embalada

Em sprays coloridos

Com que pintamos as paredes desta cidade

Cada vez mais ausente ?
27.5.86
Se te apanho com outro ti mato
Naquela triste

E leda madrugada

Disse á mulher

Que ia á caça.

… Na manhã seguinte

O telejornal anunciava :

Foi preso

Em flagrante delitro

Um homem bem parecido

Pai de boa família

Finalmente foi detido

O perigoso assassino

Que matou a namorada.
.2014antóniodemiranda



ESTE FOI O LUGAR
Este foi o lugar

Onde alguém cortou os pulsos

Onde as noites

Se tornaram sempre escuras

Não sei se terá sido

Um sentimento tão estranho

Nem o tamanho da caixa

Onde ele caberia.

Este foi o lugar

Onde nada se tornou razoável

Embora prometêssemos

Que nunca mais começaria

Da mesma maneira.

Nem sequer

Fomos descarados em matéria de amor.

… E o nó ali tão perto.

O nosso falhanço

Nunca será

Um acto digno de comemorar.
.2014antóniodemiranda



COSTUMAVA SER FÁCIL
Costumava ser fácil !

Porra, costumava ser fácil escrever poesia,

Até aparecerem as palavras difíceis

Infectadas com ideias inócuas!

& logo agora que o meu autoclismo

Está avariado...
.2014antóniodemiranda




A INVENÇÃO DO AMOR
Deveria

Ser proibido

Gostar tanto assim.

Continuarei

A guardar só para mim

Esta real

Incapacidade

De te amar.
.2014antóniodemiranda



LADRÃO
Espelho meu,

Porque me roubas

Ooutro lado

Que era meu ?
.2014antóniodemiranda
    UTOPIA APETECIDA
Amo-te

Se calhar de uma maneira

Que nem sempre ouves

Amo-te

Não como forma de dizer

Minha amiga minha companheira

Se voltar a viver

Numa utopia apetecida

Será sempre este amor

Que vou sofrer.
.2014antóniodemiranda



NINGUÉM QUIS.
Sempre

Ponderei ser feliz.

Algumas vezes

Consegui

Outras

Quase sempre

Ninguém quis.
.2014antóniodemiranda



O AMOR DISSE-ME ADEUS
O amor disse-me adeus

E eu não dei por ela.

O amor

É um acto de gestão.

… quase sempre generalizada.

Aqui

E em tudo o que é mundo,

Não se pode chorar lágrimas

Que o tempo secou.
.2014antóniodemiranda



LUA TRAIÇOEIRA
Lua traiçoeira

Matreira

Chegou a hora

De te mandar embora.

Chega de brincadeira

Quero ficar velho

Antes de o tempo confirmar

A mentira desta ideia.
.2014antóniodemiranda



O GATO MIOU
O gato

Miou á lua

Pedindo-lhe uma namorada.

A lua

Ladrou ao gato

Dizendo-lhe

Que era ela a sua amada.

O gato partiu.

A lua sumiu.

Alguém não acreditava
.2014antóniodemiranda

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