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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

POEMAS


Eu…




sou aquele
que pensas que conheces
mas não me alcanças
quando caminho sobre o arco-íris
sou como um rio
tortuoso
fugidio
anjo ferido
esquecido
nas tuas preces.
alegoria imperfeita
ângulo sem bissectriz.
prescrição sem receita
embrulho que se deseja
oferta disponível
do optimismo possível
sou o que quero
nunca o que querem que eu seja.








dezembro6.2010

Poema para um amigo ( ALBERTO MONTEIRO-2013Abril6)


1. O Alberto morreu !
Mas o kiko não sabe.
Pensa que vai continuar a ladrar
quando ouvir o inconfundível trabalhar da zundapp.
2. O Alberto morreu !
E não teve tempo
de estofar o assento da mota.
É verdade que sempre foi uma hipótese adiada
ao longo dee vários anos.
3. O Alberto morreu !
Sempre é verdade
que a morte é um lugar estranho para se viver.
4. O Alberto morreu !
E eu não tive tempo
para saber os nomes dos pássaros,
mas sei, porque ele me ensinou
que a cor do céu ao cair do dia
diz-nos como estará o tempo amanhã.
5. O Alberto morreu !
desta vez apanhou-me desprevenido,
não vamos cumprir
o que combinamos no último abraço
6. O Alberto morreu !
Conhece-lo
foi dos poucos privilégios
que a vida me deu.
7. O Alberto morreu !
Vou sentar-me no alpendre
em frente da estrada
com dois copos de tinto
imaginando as três buzinadelas habituais.
8. O Alberto morreu !
Olho para o stop :
se tens olhos pára !
Como ele costumava dizer.


junho042013
PODE


Pode o destino não ter caminho
pode o rio não beijar o mar
pode a vida estar ao contrário
pode o grito ser solitário
pode o tempo correr devagar
pode o sonho ser esquecido
pode o fruto não ser proibido
pode o leito não ser de morte
pode-se nascer no lado errado da sorte
pode a navalha não ter fio
pode o humor ser adiado
pode o rico ser desconfiado
pode o pobre ser certificado
pode o poema não ser lido
pode o voo ser cancelado
pode o sol mentir á lua
pode a rainha andar nua
pode o ministro ser sinistro.

PODE A VIDA SER UM ESTRANHO LUGAR PARA SE MORRER.









mai2013_16


PERGUNTEM Á ALICE 
PORQUE VEJO EU COISAS DIFERENTES 
PERGUNTEM Á ALICE 
ELA PODE EXPLICAR
EU SÓ TOMEI O COMPRIMIDO
QUE O MÉDICO IMBECIL DIZIA IGNORAR
OS QUE ELE TOMA
NÃO FAZEM EFEITO
DÃO-LHE VONTADE DE CHORAR
VÁ LÁ, NÃO TENHAM MEDO
FALEM COM A ALICE
ELA SABE O SEGREDO
EU SEI QUE ELA TEM
UM COGUMELO QUE VOS VAI AJUDAR




2013
NINGUÉM ME AJUDA



Ninguém me ajuda
Os anjos estão no desemprego
Os ministros andam com medo
E deus já não sabe o segredo
Os manuais estão vazios de intenções credíveis
A maquilhagem é a mentira evidente
De qualquer modo toda a gente mente
A proposta é sempre indecente
O padre já não é crente
E o sangue por ELE derramado
Está infectado.







out.2012

godvai

agora
ninguém te pode ajudar
perdes-te a hora
já não tens lugar
O céu
é uma porta fechada
sem partida nem chegada
É como um pássaro a voar
Encoostado a uma árvore
Ele
gosta de te pôr de joelhos
enquanto finge
que ouve os teus pecados
Depois olha-te
como se fosse ternamente
Acaricia os teus cabelos
Diz que lamenta
mas todos os lugares
estão ocupados.
Não entres na igreja :
juro-te
que os santos
te olharão com toda a inveja.




2013agosto23


gerónimo`s blues




BURY MY HEART
AT WOUNDEED KNEE
THERE IS NO PLACE
WHERE I WANT TO GO
YOU STOLED MY SOUL
FROM MY BODY
NOW I CAN`T H EARTHE WIND BLOW



_2013
ELA SABE...

é duro o que sentes
quando o tempo que pensavas ter
chegou ao fim
quando qualquer ajuda
é bem vinda
mas ninguém te estende a mão
quando toda a indiferença é legítima
disfarças a angústia
como sempre do modo errado
ERROS TEUS
MÁ FORTUNA ?
O QUE TE RESTA ?
Deitar fora tudo aquilo que és
nada em ti presta
de nada vale o sorriso
e o teu contraditório
está fora de prazo


Ah,
como eu costumo dizer
a vida é um estranho lugar
para morrer.

Dead aNGEL bLUES



EMPTY DREAMS ON MY GRAVE
DIRTY FLOWERS ON THE
COLD STONE
I JUST WANTED TO BE A
GOOD BOY
MAMMA ,LOOK WHAT THEY DONE
DON`T YOU CRY
DON`T YOU CRY
BABY, YOU DON`T CRY NO MORE
`CAUSE I`M JUST A DEAD ANGEL
LOOKING FOR THE
HEAVEN`S DOOR

_2013


CARRIS248


despem-se as sombras
abandonando assim o corpo
que já não lhes pertence
sonho de veias feito
vontade ausente
beijo sofrido
abraço soluçado
desejo enganado
equívoco acontecido.
A ausência
só serve para recordar.
Agora que a noite
me abraça
com todas as promessas.
Bem- vinda !
Minha companheira.
Hoje começo eu
o jogo habitual...









mai2013
ANJO NA AVENIDA CONDE DE VALBOM

vi-te na rua
a falar
com um mundo distante
que só outro anjo compreende
olhavam
riam
com o desprezo da normalidade
estupidamente estampado nos rostos
embrulhei-me na tua alma
eu
aquele
que na pele
já só tem a memória da solidão
imaginei-te como eu
ou
eu como tú
mas agora
já não tenho a tua bagagem
abracei
a pena
lágrima hipócrita
já não é minha a tua viagem
e o meu epitáfio
será apenas
mais uma palavra de circunstância.










2010nov16

a nossa senhora



Mesmo deus

Já não te pode ajudar
Aquilo que procuras
Já não está no altar

Ele partiu
Cansou-se de esperar
A água benta
Da cor sangrenta
Está esgotada
As hóstias escondidas
Nunca mataram a fome
E as homilias
Continuam a resignar
Um quotidiano miserável
Já ninguém escuta o padre
E a nossa senhora
Nunca foi boa.

Amén !
Amén para ti também








mar_2013




50 anos




olhei teu beijo em flor
e tu sorriste
sonhei teu corpo em flor
logo partiste
agora choram as gotas
dum coração sem chuva
reclamando
o momento do encantamento
que eu perdi por ti.
já não tenho todas as horas do mundo
e as mágoas correm alegremente num rio
descobriste há muito que o teu tempo já passou
embora partido em mil bocados
o espelho teima em mostrar
todas as faces da tua decadência
ficaste para trás
estás fora de moda
já não apagas aquilo que o relógio faz
os teus modos não são os melhores
já não é apetecida a tua foda.
nunca disse amor
mesmo quando o amor eu fingia.
deixa-me apresentar :
afinal sou um homem de bem
e de alguma cortesia ...




outubro.24.2006






abc do escritório



o pronto pagamento
da boa educação
os resultados líquidos do exercício
as despesas de representação
o bónus anual
a ocupação negocial
a digestão digital
o elogio vaginal
o executivo importante
o empregado zeloso
o emprego degradante
o organigrama tinhoso
o bufo
a porca
o parafuso
a ordem
o abuso
o motorista solícito
o cú reboliço.

eu sugiro
eu solicito
que acabem
acabem depressa com isso.







14.5.86





agora não






agora não !
sinto-me cansado
demasiado cansado
mesmo para fingir.
quando a manhã chegar
talvez te abrace
com uma nova promessa
nos lábios...











3.6.86




agosto







descansa
os braços nos meus joelhos
tu sabes como eu gosto
leva o tempo que quiseres
os meus dias
têm o tempo de agosto
ama-me até
ao fim do amor
com beijos escondidos nos lençóis
do teu corpo
guardarei sempre o calor
mais quente que mil sóis















2006out12




Amar... te




amar - te tanto
até atingires o céu
para nele desenhares
vôos de gaivota
depois dirás
que nada te importa
e continuarás a dizer não
como agora dizes
quando bato à tua porta.








mar.85.6
















américa (com 1 abraço para ginsberg)


américa!
pés nús sobre a terra sagrada !
exactamente a terra que tú manchaste
américa não vales nada |
américa não pensas nada !
não respeitaste as pessoas boas
que tiveram a coragem de dizer mal de ti.
américa acabaste com os índios
e inventaste o ketch up para celebrar a sua ausência.
américa eu sei que ginsberg deu-te tudo
e eu ofereço-te todo o meu nojo.
américa não precisas justificar a tua existência
( eu sei que a tua estupidez é suficiente ).
e os teus cowboys nem em filmes me seduziram.
américa vou matar-te !
e nem sequer será um acto de coragem.
américa és uma mentira.
américa vou segredar-te o meu espólio :
1 bomb in my head
1 bomb in my hand
1 bomb in my mind
with all this things, i love you américa
i hope you don`t mind.
américa ninguém acredita nos teus cenários
ninguém se ri dos teus palhaços
nem os cães querem mijar na casa branca
américa deves aconselhar o teu presidente
a não comer as cascas dos amendoins (nem os macacos fazem isso).
américa não aprendes nada
os marcianos já fugiram
américa gerónimo derrotou-te
américa sitting bull gozou-te
e talvez eu seja um dos milhões de espíritos de
tatanka yotanka que neste momento solenemente juram que te irão foder.
américa não te livras de mim
américa celebrarei exclusivamente para ti
uma ghost dance
américa we shall live again !
eu sei que não vais gostar,
mas o teu mau gosto nunca me surpreendeu.
américa ! are you talking to me ?
vai pró caralho !!!
américa!
pés nús sobre a terra sagrada !
américa não ouviste a fala do índio
( sim, bem o sabemos
quando vós chegais, nós morremos )
américa tú é que és o manicómio |
liberta aqueles a quem chamaste loucos
só porque choraram por ti.
américa ! e os búfalos ? lembras-te ?
claro !
inventaste o hamburguer para esconder o seu extermínio
américa little big horn existiu
enterraste as tuas mentes brilhantes
na curva do rio
américa ! merda para o custer para o super homem para o batman e muita merda para o capitão américa. merda ! toda a merda para os teus heróis de celuloide.
américa desiludiste marlon brando.
américa ! sinceramente nunca gostei das tuas torres.
américa o jazz não é teu.
os blues choram a tua vergonha
américa !
amo desesperadamente aquilo que não te pertence !
américa o mundo não precisa da tua boa vontade !
eu sei que vai haver uma vaga no céu :
o deus em quem tu confias
anda a portar-se vergonhosamente mal.
américa fidel é o teu amante ideal.
américa os teus dolares cheiram a merda
és uma história sem vergonha
vietnam bertrand russel
américa sacco & vanzetti não são assassinos
marylin nunca foi a tua prostituta
américa não me interessam absolutamente nada
os teus constantes esgotamentos
e os teus delírios já não são segredo
nem a cia acredita neles
américa!
pés nús sobre a terra sagrada !
assassinaste os jovens que pensavam gostar de ti
américa eu não estou sozinho
américa eu só quero ser bem comportado
américa eu só quero não ser respeitado por ti
américa eu vi-te sentada numa nuvem a espiar a humanidade planeando ávidamente o método mais eficaz de a destruir
américa não ouviste o grito
vou-te enforcar numa cabine telefónica
américa bob dylan avisou-te :os tempos estão a mudar
a tua estratégia não convence ninguém
estou farto dos teus boicotes sistemáticos
da tua moral sifilítica
da tua anormalidade política
américa quanta miséria espalhaste pelo mundo !
guajira guantanamera
esta é a nossa terra, terra querida
aqui los hombres si, yankees no !
pátria o muerte !
américa tenho a tua coragem na minha algibeira
eu sei que não vais mudar
nem poderás nunca seguir o meu caminho
ainda não descobriste a razão da tua maldade
américa todos confirmam o elevado grau da tua insanidade
américa hoje é um bom dia para te matar
UMA BOA AMÉRICA É UMA AMÉRICA MORTA
américa porque odiaste os teus beatniks?
não me ocorre nada de bom para te falar
a tua liberdade não passa de uma estátua envergonhada
américa liberta os tornados para que definitivamente eles cumpram a sua missão
américa as tuas guerras são uma farsa
és um pesadelo sem fim
américa todos te enganam sobretudo quando dizem gostarem de ti
vomito nos teus óscares e discursos e no espírito americano e no teu way of life
américa estou sempre pronto para te irritar
zappa tinha razão :
na próxima vez prometo não vir-me na tua boca (pensando bem não mereces o meu esperma)
américa tenho 1 míssil para purificar a tua alma
o meu ódio é melhor que o teu
juro-te que a minha raiva é eficaz
embora me considerem um bom rapaz
os teus ensaios nucleares não me convencem
as tuas ogivas são supositórios
e no teu cú cabem todas elas
américa!
pés nús sobre a terra sagrada !
américa!
sei que vais morrer!
e grouxo marx não te quer no paraíso.
















2006setembro




amor




deitado na

cama

deserta

despida

nua
:

compreendo

o real significado

da tua ausência .



















Anatomia dum escritório.





envelhecido
antes
do
tempo
em
cascos
de
merda.



( a todo o momento ).















asas de desejo








quando vir
um anjo
com asas de desejo

não sei
se resistirei
à vontade do beijo .


como de costume

aparecerás em forma de volúpia

e
eu

como sempre
adormecerei

no nevoeiro do teu sexo .









até ao fim



até ao fim
meu amigo
foram penosos
mesmo em demasia
os caminhos que percorremos
e no entanto
bastava
que a esperança
não fosse
mais do que uma palavra agredida.
até ao fim
meu amigo
mantivemos a coragem possível
e desenhamos
os mesmos projectos.
no entanto
bastava
que a amizade
não fosse
mais do que uma palavra agredida.
até ao fim
meu amigo
prenderam - nos
pelos mesmos preconceitos
e imaginámos
tentativas de fuga
onde tentámos correr contra o vento
ainda que estivéssemos
amarrados
às amarras da vontade do tempo.
no entanto
bastava
que a coragem
não passasse de uma palavra ausente.
até ao fim
meu amigo
permanecemos imóveis
quedos
à tirania
de quem em nós
tentou mandar.
no entanto
meu amigo ,





bastava


que pelo menos uma vez
estivéssemos unidos.

&

isto é o fim, meu amigo
o único e verdadeiro fim
meu verdadeiro e único amigo.










86.










até onde me levarão
os caminhos do desejo ...




daqui a pouco
mergulharei novamente
no sonho habitual
e num anónimo ritual
recordarei um a um
os beijos desejados.

até onde me levarão
os caminhos do desejo ...

arde - me já a vontade
mas não é deste fogo
que eu tenho medo.

ser saudade antes da realidade
ser dor para além de segredo.

até onde me levarão
os caminhos do desejo ?


86ago.













ausência






como de costume
o
amor passou ao lado

e derramámos esperma
para celebrar a sua ausência.












85mar6.







ausente de mim




fecho os olhos
para a noite que sempre acaba
olho-me num rio
e imagino-me barco sem cais
e se as ondas batessem em mim
ou se eu fosse areia sempre molhada
mesmo com sabor a sal ?

não sei se estou cansado
ou ansiosamente procuro o cansaço.

sorrio a mim próprio
mirando-me num espelho de uma só face
o outro lado sou eu
& a minha completa desilusão .

volto atrás ! caminho em frente
com a pressa traiçoeira do sabor vazio.
TENTO SÓ O QUE QUERO
NEM SEQUER O POSSÍVEL.
espero no desespero
o tempo do desalento
o desejo adiado. e consumo
cenários de mera conveniência.

& suicido-me em ficções
& morro as vezes que não quero
& desejo não desejar
& choro lágrimas anónimas
& estou bem onde não posso estar
& estou não sou fui sou


96.abr.18


balada do chulo







a minha namorada
encostada à esquina
fuma muitos cigarros
cocktails ou laranjada
blue jeans gelados
olha - os felina
e dá grandes passeios nos carros
depois diz que me ama
se com outros vai pr`a cama
é para me comprar um ferrari
oferece - me perfumes
e cigarros estrangeiros
esconde - se de mim
debaixo dos travesseiros
e beija - me na boca
contando onde passou
a última noite
enrola os dedos
nos meus cabelos
olhando - me muito séria
mais uma carícia um beijo
conta - me segredos
e depois dá - me a féria.









balada do prazer




isso ...
essa carícia
com malícia
o nosso amor é um tango
dançado swingadamente
cada vez melhor
cada vez mais diferente
adoro o teu dançar
e ainda sinto que é pouco
embora me tornes louco
de tanto te amar.


sim ...
a língua na boca
a mão na côxa
esta alegria quase rouca
de respirar o teu olhar .







85mar.6








beijos







deixa - me
beijar - te
mas com todos os
beijos duma vez
para
que não me perguntes
quantos foram
para que não fique
a dúvida do talvez .
























bestiário








o que nos resta
depois de separarmos o que não presta ?
deitar fora as horas do tempo
para envelhecer calmamente
embora se apresse a pressa
de apagarmos a memória
de controlarmos o pensamento ?
de riscar o calendário
desta batalha perdida
mesmo antes de ser vencida
à qual ainda chamamos vida
e que faz de mim um bestiário ?
e esta vontade que desafia
e que programa dia a dia
esta ausência de revolta
que só nos dá a derrota
à qual teimosamente
etiquetámos de vitória ?



85fev.










blue


abraçar - te no olhar com o sabor do último beijo apetecido na vontade de nunca mais acabar
sentir - te quando nos diluímos nos abraços cúmplices que nos unem então acontecem as palavras novas que até então não ousávamos dizer é boa e apetecida esta fadiga
que não cansa nem limita e as tuas dúvidas são as minhas certezas que só encontro nesta paixão ardente feita no tempo do nosso tempo ritmado com sensações de amizade total até ao fim


e os arco - íris cumprimentam -me contentes
num claro gesto de cumplicidade
enquanto uma a uma vou abraçando as suas cores .
então toco -te sinto - te conheço - me perco - me dentro de ti numa viagem sempre diferente . Sorrio olhares de mim próprio de ti de nós da nossa vontade do nosso querer do nosso amor tempestade feito com beijos de bocas amigas que eu quero desejo até ao fim.



E atinjo o vermelho do infinito,
o gosto da ousadia a ternura da ilusão
alcanço o mundo com a mão
e choro lágrimas que não têm senão o sabor do teu corpo .


































buda


buda tem os olhos tristes !

( ... da passagem de buda pelos u.s.a. )







&
a limusine do presidente
continua a brilhar
buda
tem
os
olhos
tristes : não tem chewing - gumm

não
pode
merditar.










1977




cais




e
fico num cais de ruínas
que memorizam pedra a pedra
o tempo
em que eu ainda acreditava.
deito-me
sobre o som deste rio
sinto-me leve vazio frio
e sorrio
anónimamente
teorias de indiferença













26.5.86










calendário




Uma a uma
viro as tuas folhas
atirando - as ao sabor da memória
deste tempo gasto em vão.
Para o ano
farei delas barcos
e enche - los - ei com bocados
exactamente como é feita esta recusa.
entretanto vou adiando
ao sabor
não sei de qual vontade
esta contradição
que me faz viver a vida
em permanente tempestade.
Eu
ainda continuo com a esperança
de abraçar definitivamente
a bonança.















cama



deitado na cama
como poderei dormir
entre lençóis
com o sabor da tua ausência

&

sobretudo
reclamando o teu corpo ?


desculpa - me !
esta é a
dúvida que

não
te
perdo - o .

she`s gone
yes my baby
she`s gone.






out.12.80









caviar



caviar até fartar
e champanhe bem gelado
o dupont sobre a mesa
para o ar requintado
a mala de executivo
um olhar desportivo
outro olhar muito ocupado
discute a situação
na conjuntura actual
é amigo do ministro
com quem adora ser visto
especialmente na televisão
tem dinheiro na suiça
e os empregados sem salário
explora em portugal
e até tem cartão de empresário.






1984












CELEBRAÇÃO



Complicamos
Tudo o que não devemos
Até a morte complicamos
Mesmo antes de morrermos
Complicamos a vida
Sem sequer a vivermos
Projectamos o destino
Com teorias banais
Dificultamos o tempo
Que não é nosso
E logo achamos que as horas
São um osso duro de roer
Complicamos o riso
E toda a sua vontade
Abraçamos o medo
E inventamos armas letais
Que não matam a nossa triste realidade
Vemos os filmes dos outros
Com enredos que a fingir
Nos fazem doer
Rejeitamos
Ignoramos
Qualquer convite à felicidade.

Cantando
Celebrarei a morte
Se assim me ajudar
O engenho e a sorte








ago.2010

Cidade suja
( para Ferreira Gullar )

cidade de abutres
porca manhosa tinhosa
cidade triste e alegre
maliciosa
insidiosa
desesperante
frustrante
inimiga do amigo
maltrata o sem abrigo
cidade sem cor
ódio e amor
paixão silenciosa
violenta
tarde cinzenta
não ouves quem te fala
não sorris a quem te cumprimenta
cidade do frio
não aqueces o rio
não apaixonas quem te ama
louca dos mais loucos
amor apetecido
esquecido numa cama
coração arrefecido
onde se esconde a minha alma
percorro as tuas ruas
beijo as estátuas nuas
choro o porquê de não conseguir amar-te
e durmo nos teus jardins
abraçando a estrela que me acalma
já não consigo pintar
a tua beleza
sei a cor da tua tristeza
mas os meus olhos
já nada querem ver
serei eu a rasgar o teu véu
de noiva feita puta
que já ninguém desfruta
na alquimia do desejo
finita império
abraça-me no el último tango:
( não me queiras
não te quero
nada me deste
nada te pedi
não te engano
quero outra
não creias por isso
que te traí
o único beijo que me deste
foi aquele que não te pedi)
cidade suja
favela chic
zombies junkies
corruptos
corrumpidos
suicídios
violadores pedófilos
doutores neuróticos
mulheres desesperadamente solitárias
olhares pedintes
carências afectivas
á espera de serem fodidas
sugerindo a dificuldade
mentindo a idade
castrando o desejo
por agora só a intenção envergonhada
talvez um beijo
e barcos cansados
adormecendo no tejo
virgens arrependidas
santos enforcados
orações ridículas
homens enganados
soluços rasurados
cidade que não é minha
cheia de amantes ausentes
sons de pássaros menstruados
paixão clandestina
sonhos delinquentes
bebedeiras copos doentes
sombras de fantasmas envergonhados
cantando a canção do malandro
espiões
normalizadores do comportamento social
odores desodorizados
hipocondríacos distraídos
bandidos surpreendidos
sonhadores arrependidos
confundidos
enganos inteligentes
adolescentes surpreendentes.
traço no espelho
sem risco
leva-me ao riso que eu gosto
e eu sei que ninguém me conduz
neste caminho da felicidade
gostava que estivesses aqui
comigo
sem o teu medo
não irei contar nunca o nosso segredo
os golpes na pele do nosso enredo
as razões não explicáveis
as alegrias pendentes
os soluços acontecidos
projectos esquecidos
dejectos à mesa servidos
inaptos
fingindo-se sensatos…

ninguém me ajuda
ninguém está atento
ao meu salvamento emocional
e eu sei que não se pode manter uma promessa .


jun2010



cinzas






as cinzas
ainda queimam
ficando
só a memória
para recordar
os passos perdidos
nas paixões violentas
que vivemos.




haveremos de voltar
então
talvez definitivamente
libertos
de todos os beijos
comprometedores .













Como se fosse rita cadillac


prazo de validade ultrapassado
metida no buraco
a vida é fodida
todas as horas têm o sabor a fel
de nada vale a etiqueta
já nada controlas
muito menos a fantasia
de te ofereceres sem vergonha
e a malícia
não é a tua melhor arma
bem podes fingir
o olhar de pecadora
os santos mentem como tu
e nem sequer usam priadel
agora já não páras
e sabes quanto a tua sombra te detesta
caminhas
sabendo que não chegarás a qualquer parte
entras sempre no mesmo filme
como se fosses rita cadillac
e os dias ficam assim
ao correr da asneira
no tempo
gasto num constante lamber de feridas
sempre á espera do amigo
que não és capaz de ter
e riscas no calendário
todas as alegrias mentidas





2006dez





dá-me









dá - me um bocado do teu sorriso
antes que perca o juízo
e comece a gritar : estou farto te tentar
estou farto de tentar


vem !
dá - me a tua mão
assim caminharemos juntos
sobre este oceano de m` ágoa
até a tristeza se afogar.


estou farto te tentar
estou farto de tentar
... mas ninguém me quer acreditar.















DÊEM FLORES AOS REBELDES QUE FALHARAM










NADA FICOU POR FAZER
DO QUE FEITO FOI COM VONTADE
DA NOSSA ESPERANÇA
LUTA CONSTANTE DO NOSSO QUERER
ACREDITAMOS NA POSSIBILIDADE
E NUNCA NA GLÓRIA CASTRADORA DAS NOSSAS INTENÇÕES
NÃO HÁ VIDA DIGNA SEM IGUALDADE
E NUNCA A LIBERDADE SERÁ PODER.







Maio27.2010













DEIXA-ME VIR …



Deixa-me vir
Esta foda é minha e tua
Falamos daquilo que nos dá prazer
Somos sol e lua
Aceitaste o convite
Sem medo de te dar
E neste tempo só a ti eu vou querer

Deixa-me vir
Tu sabes como lambes bem
E já conheces os cambiantes do meu sabor
Esta noite és a minha conquista
Ama-me sem fim à vista
Molha-me com o nosso suor

Pois é, pois é…
Já sabemos o que fazer
Sempre que nos encontrarmos:
Inventar o prazer
Foder até nos cansarmos.








ago.2010



delicia








deliciosamente

como se fosse urgente
abraçava o teu sonho
no meu sexo morno

quente quente

queimávamos então
artifícios de amor


embora lá fora

continuassem a afirmar

que toda a esperança é legítima .













demência







A demência projectada
no estirador milimétrico
a análise demorada
o humor geométrico
no meio do vazio
lambendo o nada
a vontade ancorada
não importa tiro ou facada
champanhe com sabor a limonada
eu sei que vou ter sorte
mas a fé não me ajuda mesmo nada
e os planos para o futuro
e o futuro é a agência
da viagem adiada
a rotina sempre em cima
a monotonia não me larga
a mania sempre a mania
de procurar
procurar sempre outra estrada.



agosto86.











depois



depois fica o vento
que quando sopra me trás os teus beijos
fica o sabor do momento
feito chuva de desejos
resta o nada que me afoga
e as lágrimas que choram
não sei porque sentimento
depois fica o tempo
que nada sabe de mim
depois fico assim
feito espuma sem dias
sem o fogo que tu acendias
depois perco a alma no teu olhar de ternura
e sei que não foi loucura
embora me reste a dor
vou dar todo o meu desespero
não negarei nunca o amor
mesmo aquele que não foi suficiente
mesmo a paixão vivida sem tempero
agora abraço os lençóis dum corpo ausente.



depois eu sei que tudo entre nós foi diferente









setembro12.2006





Desemprego para o jantar




chegou a casa
deu a volta
à mesa vazia.


o patrão come lagosta
o operário demagogia.

penhorou a saúde
com a cautela da morte.


que importa
o fim do mês ???

hoje é dia um
e ontem não comeu
outra vez.















DESENHO





Desenho
O desejo
Em forma de um beijo
Cobrindo o teu corpo
Percorrido
Pela minha língua subtil
Convite deliquente
Sexo húmido e quente
Pedindo que nele eu entre
Entre palavras e gemidos
Volúpia dita aos ouvidos






Junho24.2010




















desilunão



esta desilusão
parida
por uma espera
inútil
esta
cumplicidade
com sabor
a baboseira
esta merda
de ser útil
nesta asneira
de obedecer
ao dever
da imposta razão

não se pode dizer não
não se pode dizer não
não se pode dizer não
não se pode dizer não
não se pode dizer não




fev/85.









DESPERADO


sexo na cabeça
bandeira na cabeça
bomba na cabeça
relógio na cabeça
dicionário na cabeça
código do direito civil na cabeça
azia na cabeça

& ...
o pensamento enlatado
a imaginação amputada
por isso,
em boa verdade vos digo :
deus não existe !
o diabo às vezes
esquece - se de ser mau !

crescei e multiplicai - vos !
multiplicai - vos ao ritmo
que a v. ignorância permite.

a vossa herança
é a minha esperança.
unicamente
a esperança do desespero.


81/jan.









devagar


levantas - te devagar
a vontade já é pouca
é sempre o mesmo acordar
é sempre a mesma fadiga
que faz o resto da tua vida
e maldizes a sorte
com bebedeiras de morte
e apagas a memória
com riscos de loucura
é sempre a mesma história
sem herói
sem aventura.

e morres devagar
como se fosse castigo
com sabor de tortura
que arrasta contigo
a vida feita doença sem cura.











86mai06








dias



certos dias tenho
que não sei
o que se passa comigo
a saudade retenho
mas não o desejo
de estar contigo
outros dias tenho
que mais me apetece dizer
gostava de não ter olhos
para nunca mais te ver
e quando chego a casa
e tento esquecer
sorrio um sorriso cansado
não sei se do trabalho
não sei se de viver
e logo me deito
sem vontade de acordar
e aperto este desejo
abusivamente louco
de te amar.

mas, não é nada, não ...













dias felizes












com a esperança
de dias felizes
eu abri um
parêntesis
na razão nula
da minha
existência.





74.














dieta








a dieta sexual
a crise do hemorróidal
o tempo de antena no telejornal
o culto do banal
a extravagância oral
a diarreia da assembleia
a discussão acalorada
do projecto derrotado
o ministro
o presidente
o deputado

e o povo a ser enganado.

é mentira ?













27.5.86



dor

que dor é esta
que trago comigo na algibeira
que vazio é este
que teimosamente guardo na carteira
que subversão é esta
tão esquecida tão palavra
tão dia após dia abusivamente adiada
que angústia é esta
tão doce e permanente
que ternamente
alimenta esta louca vontade de ser
diferente
que vida é esta
que martírio
que castigo
o rico demasiado rico
o pobre cada vez mais mendigo
que corrida é esta
que nunca nos deixam vencer
que medo é este
que nos faz renegar o prazer ?
só que amanhã
será um dia diferente
se formos suficientemente fortes
para apressar a morte.
desculpem !
não percebo.
ainda estão à espera da sorte ?







84mar.
e eu ainda não sou anjo


Para os que comemoram aniversários clandestinos debaixo dos viadutos,ouvindo sinfonias estereofónicas de claxons e que conhecem de cor as influências dos fluídos do trânsito no comportamento das pessoas.Para aqueles que ainda têm a coragem de assumir a diferença cada vez mais etiquetada com heterónimos de loucura. Para os que rezam em silêncio desfilando entre os dedos rosários de lágrimas e ajoelhados em soluços de desespero,esperam ainda com a esperança possível aparições dos anjos do néon.

EU AINDA NÃO SOU ANJO

Para os que constroiem a poesia com o amargo optimismo de experiências repetidas e que sobretudo,sobretudo não lamentam ,não invejam a maldita sorte dos poetas malditos :

Visões do apocalipse
tentações demoníacas
desolação

E EU AINDA NÃO SOU ANJO !


VIVA LA MUERTE !

Os duendes de somorra invadiram as auto estradas deste inferno com sorrisos malignos de arco -íris.

Para aqueles que ignoram as constantes tentações do deus publicidade e fumam orgulhosamente beatas anónimas marimbando-se nas marcas e ainda para os que olham as montras sem qualquer laivo de cobiça manifestando delicadamente a sua indiferença pelo yves saint-laurent.

Para os guerrilheiros da angustia que atacam a normalidade com raids ritmados de swing e destroiem horários com metralhadoras de coragem.

E EU AINDA NÃO SOU ANJO !

Para os que gastam o tempo antes que o tempo os gaste e sorriem às estátuas com sorrisos cheios de cumplicidade

Para os que lavam as horas em retretes repletas de relógios para que o despertar não tenha o sabor inglório da obrigação digital.

Para os que se deitam na praia desenhando na areia voos obscenos de gaivotas e desfilam sonhos de m`água e que compreendem docemente os queixumes do mar e choram no silêncio soluços da ausência.

Para os que acordam sempre
do mesmo lado da mesma
maneira devorando
avidamente croissants recheados com perfumes da dior e devoram avidamente o nosso tédio cuspindo depois as algemas da nossa escravidão.

Para que os vagabundos tenham pena de nós, da nossa impotência da nossa burguesia das nossas aspirações dos nossos projectos da nossa incoerência do nosso medo e sobretudo, sim sobretudo para que lamentem :



a nossa falta de coragem que sempre desculpamos com a sorte

porque gastamos a vida na margem dum rio que se chama morte.



E NÃO SE ACEITAM RECLAMAÇÕES !

Talvez seja tempo de iludir a realidade,fintar a ilusão da vida e com um golpe de rins salvar o que ainda me resta depois deste naufrágio.
Encharco-me de álcoois vitaminas venenosas e abraço ilusões com doses temperadas de desgosto.Esgoto a publicidade com chupadelas ávidas dum sabor diferente.Piso os caminhos da memória num arco-íris de delírios e sorrio sofregamente manias de alegria. Onde está a minha sombra? Valerá mesmo a pena remar contra esta maré sempre vazia sempre nua e fria,onde afogamos ondas de optimismo? Os sorrisos cúmplices perdem-se rapidamente nos tragos amargos das derrotas.
Mentalidades sifilíticas !!!
Orgias de estupidez abusivamente declarada.
A vulgaridade deslizando sinuosamente entre coxas de responsabilidade anónima limitada ao preço dos casacos de peles,da minha pele e do meu nojo enjoado.Perfumes enganadores.Leites da colónia da cópula. Publicitem com a devida antecedência a próxima fornicação celestial.Bilis deliquente : não me bastava ser o meu coração um guerrilheiro do amor.Envolvimentos misteriosos na sombra da noite, dos amantes fugitivos.

ANJOS SAÚDAM-NOS COM OLHARES BENEVOLENTES.



Boa sorte !










Ela dizia


dizia que gostava de homens
era uma malandrinha
falava que os assustava
julgava que manipulava
mesmo quando fingindo se vinha
era muito desinibida
quanto baste atrevida
pensamento liberal
mostra-se só escondida
mas os homens não gostavam dela
tanto quanto ela desejava.

Vivia a vida numa conversa
Gastando as horas
Fabricando a promessa habitual.

Ela dizia ?









jun2010













elegia a jack kerouac

nasci na página 124
do on the road e
passados cinco minutos
desvirgindei - me fazendo amor com o
pôr do sol numa praia sem nome
passei noites dormindo em latas de sardinha
com um polegar esticado
aprendi a falar com cães e a
chamar mãe às auto estradas e aos
vagões de mercadorias dos caminhos de ferro
amei em bermas de estradas
caguei debaixo de árvores
abracei cães violas livros
e
mijei nos sacos de plástico dos
supermercados
lavei os dentes
em cabines telefónicas
enterrei tesouros na areia em vasos
com plantas
roubei papel higiénico e bocados de
espelho dos wc dos cafés e hotéis
troquei fatos por blue jeans
sujeitando - me às caricias do cinto
do meu pai (?)
aprendi que o ópio deverá ser
a única religião das pessoas
e guardei um pelo da barba
do ginsberg
forniquei dias e noites seguidos
com a lua e a amante do nixon
e tive que cultivar a pénisflor
vi aqueles :
que morreram afogados pelos ideais
que eles próprios construíram pensando
na compreensão das pessoas
e
jesus cristo praticando budismo
á meia noite em biarritz
e aqueles que apertavam as
mãos aos caranguejos e davam
autógrafos a camelos com o
objectivo de angariar votos para as
futuras eleições
e aqueles que confundiam
estrelas com candeeiros que
diziam que uma viola é como uma
mulher
que congelaram o sol
que engarrafaram o cheiro da manhã
que beijavam flores e arco - íris
bebiam chuva e liam revistas
pornográficas deitados nos sacos de
dormir
e vagueavam pelas avenidas e jardins
desertos à caça de
homossexuais
aqueles que em viagens clandestinas
subiram à lua e substituíram a
bandeira americana por uma toalha de mesa
e que pensavam fazer um piquenique sobre
essa mesma toalha
e que morreram fazendo a barba
com um corta unhas
aqueles que se perderam no meio
da viagem porque se esqueceram
da bibília
que fugiram de casa e
voltaram de táxi
que resistiram aos olhares das pessoas
demasiadamente semelhantes aos dos
chuís da brigada de narcóticos
que faziam amor julgando
que este é um jogo de cama
e ouvi :
freaks
&
pseudo freaks
gurus
&
pais arrependidos
vendedores de gelados
varredores de ruas
carneiros manietados pelo sistema
budistas que tudo e nada me disseram
ouvi fidel de castro declarar - se à marilyn monroe
prometendo - lhe que raparia a barba
o barulho que salazar fazia
quando chupava no polegar da mão
esquerda
o vento batendo à porta do
banco do jardim durante as noites
em que eu ainda sonhava
ouvi kissinger pedindo - me um
charro e conselho para fomentar uma
nova guerra : ambicionava ganhar outro
prémio nobel da paz
vozes histéricas de estátuas coisas
e pessoas durante actos sexuais

prostitutas adolescentes
dirigindo - se timidamente a homens
casados complexados para os quais
ser cornudo é facto que não podem
admitir
ouvi ouvi ouvi ouvi
ouvi ouvi ouvi ouvi
ouvi vozes protestando contra a
guerra
o ódio e a miséria
e a quem calaram para sempre
com paradas e tiros de metralhadora
e celas onde os ratos
preferiram morrer
ouvi choros de mulheres velhos & órfãos
que em gritos dilacerantes perguntavam
qual a razão da fome
e da opressão
e que perderam definitivamente a
confiança que até então tinham
nos homens
valquírias sussurrando - me para
escarrar nas bandeiras
soldados feridos cantando hinos
nacionais enquanto lhes aplicavam
medalhas
ouvi lenine & trotsky discursarem
sempre em pé e durante longas horas
para peixes vermelhos
bakunine e os demais verdadeiros anarcas
serem apelidados de loucos e
inconscientes por rebanhos de carneiros
cuja posição embora erecta em nada os
diferenciava dos ursos peludos das
regiões polares
e
senti :
os olhares inquietantes
daqueles que
por serem diferentes a sociedade
etiquetou de loucos e encerrou
em manicómios
as mãos trémulas do cego
acariciando as teclas do acordeão
sentado nas escadas
de
uma estação de caminhos de ferro
perante os rostos cansados das pessoas
que
regressavam do trabalho
e cuja música
confundia - se com as palavras
e
o
vago tilintar das moedas caindo
num prato de plástico
amarelo
senti nos ombros
os pés descalços
da criança
cujo sorriso
me magoava
estive numa reunião
do movimento nacional feminino
onde me serviram sorvetes
que eram tirados dum soutien
da triumph tamanho 48
estive :
em comícios políticos onde vendiam
batatas fritas
em manifestações em que apalpavam
o Cu e os seios às gajas
cujas formas corporais
despertavam positivamente
apetites sexuais.
nasci na página 124
do on the road e
passados cinco minutos e
trinta segundos ...


.73

















embrulho









embrulho-me no nojo
escondo-me nas esquinas
da desilusão
dou corda a um
relógio
que me mostra
minuto a minuto

cem horas de solidão










21.5.86










engano


tudo
não passa
de um engano
eu
os olhares que trocamos
e
se surge
o desejo
é para que a paixão
continue a ser
exactamente o que é :
uma palavra linda
e mentirosa
que agoniza
lentamente
nas páginas dos dicionários.







27.5.86







Entretanto…



pedi a deus o céu
para a minha morte não o incomodar
voei o mais alto que quis
como pássaro desenhado
na nuvem por mim pintada
no meu próprio tempo
de saudade ausente
de ficção inventada
de sorrisos fintados
de caminhos solitários
de moradas artificiais.
invejei a morte
mas nunca reneguei o seu convite.
Algum dia encontrarei
O que está dentro de mim…
O paraíso só acontece uma vez.

Entretanto…
Alguém me observa
Exibindo alegremente
A embalagem dos comprimidos da minha mãe.









maio2010





epitáfio 2º.



não
vi
não
amei
não
possui
desejei
que
as pessoas realmente
vivessem

pois
só aqueles
que vivem
sabem
construir
i
m
a
g
e
n
s.






epitáphiu




vivi
aquilo
que
consegui
e
não
o
que
me
deixaram

...

continuo
a
odiar
os
relógios.













espectáculo









a felicidade adiada e mais duas tentativas anónimas e desesperadas de auto-fornicação
. as vias sacras do inferno e o enforcamento público das palavras que não ousámos dizer quando clandestinamente fazemos amor. requiem por todos os amantes incompreendidos cujas almas estão cheias de sómente boas intenções. imagens púdicas transbordantes de púbicidade ritmadas com slogans publicitários que aconselham sobretudo o que não nos convém. a sociedade do espectáculo do consumo convidativo ao próprio consumo. só ficamos com o sumo que sabe sempre ao mesmo : MERDA.





21.5.86





espelhos




espelhos
quebrados
reflectem
mil
pássaros de mim.

cem desejos de voar
dez,
talvez
depressa demais

um ,
demasiado lento
ténue
na coragem de tentar.


89fev.


















espero que não te importes





se te beijar
até o sangue se tornar
comum


se te abraçar
até os meus braços deixarem
se ser fortes







espero que não te importes .














ESPUMA



este jogo já não me agrada e não quero jogar outro, que embora diferente resultará justamente como todos os outros que ganhei e perdi. não me interessa absolutamente nada o que de novo surgirá depois deste naufrágio no qual as minhas próprias m`águas navegam. tudo o que acontece dilui-se, não importa a maneira, na mentira que o tempo não perdoa. será por isso, talvez, que nuvens de subvida invadem a minha nostalgia e eu continuo a pensar que os banhos da espuma dos dias resultam. tentarei estar atento às constelações venenosas que pairam sobre o meu olhar e esfumam a esperança, a terrivel esperança de qualquer tentativa de sonhar. palavras ocas continuam a sua função pedagógica para a normalização dos comportamentos. doses de cinismo instantâneo, enlatado, servem-se abundantemente temperadas com risos abusivamente hilariantes – patéticos. eu cumprimento todos os dias o boneco animado sentado à secretária. até amanhã para quê ? gostava de ter um relógio digital que não se atrasasse na hora da gastroenterite. embebedo-me nas conversas de circunstância automática ausentes de importância e tento tento desesperadamente desatar os pulsos amarrando-os com o cordão umbilical que me prende a este mar de descontentamento. como um qualquer marinheiro levanto a âncora mas a maré já não me leva a parte alguma. não é difícil, somente basta uma pequena dose e se tiver sorte acabarei por ser notícia de jornal.



1986



etc...






se
eu
fosse esperma
escolheria
o teu corpo
para navegar.
























eu deixarei



eu deixarei que morra em mim
qualquer desejo de amar
o amor que no meu ser termina.
eu deixarei que o esquecimento
seja o porto do meu sossego
e serei o veleiro com rota feita segredo
num mar que me desatina.
eu deixarei que morra em mim
o ouvir da tua voz
do teu sorriso
dos teus gemidos sem medo.
eu deixarei que morram em mim
todas as estrelas todas as luas
toda a angústia desta tempestade
todas as carícias minhas e tuas
todos os nossos sonhos para além da realidade.
eu deixarei que morram em mim
todas as ausências das madrugadas
todos os poemas lidos
todas as canções cantadas
todos os beijos feridos
eu deixarei que morra em mim
o engano permitido
o abandono acontecido
eu deixarei que morra em mim
esta mania da saudade
parida num amor nunca arrependido









setembro12.2006
eu sei que vou morrer de amar


foi breve o amor
feito na alquimia
das promessas da conveniência
foi-se o tempo da paixão
nem o perfume ficou
da anunciada ausência.
fica o fumo da memória
do sonho a serenidade
do instante a precariedade
dos gestos insanos e envergonhados
da imaginada obscenidade.
agora já não dizemos até amanhã
nem ousamos a viagem
no nosso barco sempre preso ao cais
agora eu sei
tu sabes
que amanhã é sempre longe demais.
da janela do meu tempo
parte o momento da ilusão
o que nos falta para amarmos
se sempre nos matamos
nas maneiras mais apetecidas ?
resta-nos o desejo
sempre acontecido
com sabores de despedidas.
hoje
quero tudo menos o banal
amor raiva ciúme
paixão violenta animal
angústia total
quero um mar sem sal
preto e vermelho
afinal as cores da minha alma
quero o delírio completo
que esvazia a minha calma
quero olhar sem ver
estar sem ouvir as palavras costumeiras
que me falam do segredo
do meu desassossego
quero-me morto
no sonho do sabor do teu corpo.
eu sei que vou morrer de amar.


2006jul25



































fadiga




SERENAMENTE
GASTAMOS O MOMENTO
NUM CALMO E SUAVE TORPOR
AO RITMO
DE ORQUESTRAS CELESTIAIS
QUE LENTAMENTE
TOCAM A NOSSA CANÇÃO PREFERIDA .

...
COMO É BOA
APETECIDA
ESTA FADIGA .
























FLAMENCO



O vento
Trouxe-me um sonho
Envolto em formas de areia
Embrulhei-o
com o papel da minha alma
O mar deu-me o laço
Perdi o sono que me cerceia
.

Agora
ouço o seu murmúrio
num choro que me agarra
na voz que me acalma
ilusão parida
no som duma guitarra.









jun2010











Fud(g)i(n)do


Fugindo de tudo
olhas para trás e vês que tudo continua
confuso
ontem eras moda
hoje estás fora de uso
continuas a correr
mais parecendo que estás parado
acerta o passo
não te importes do baço
ele já nasceu estragado
foge
foge para longe
não ouças quando falam de ti
ontem como hoje nada mudou
embora continues a acordar admirado
embora continues a perguntar
o que sou
o que faço aqui.
Fugindo de tudo
falas mas és mudo
o tempo não te ajuda
nunca foi teu amigo
abraças o vento
mas ele foge - te dos dedos
e logo te sentes traído
já só vives com medos
ficas enjoado
já estás farto deste cheiro

olhas para trás
sorris para a televisão
acaricias o copo que tens na mão
e ejaculas- te precocemente
com este pensamento :
quem me dera ter dinheiro.

( afinal dormes acordado !!! )




fúteis






tudo o que fazemos
está certo :
somos fúteis de origem.

E a consciência
não passa de um órgão
cheio de preconceitos,
por nós gerado.



e assim se legaliza
a existência
dos
pseudo - vivos




73/jun.




a guerra



a guerra tem capitães
generais barrigas fartas
a guerra tem orfãos e cães
mortos e feridos em macas
a guerra tem bocas esfomeadas
que não comem ,só bebem sangue
a guerra tem acções
tem carros e canhões
tem mísseis balas morteiros
tem olhos e corações de crianças
choros de mulher e velhos
tem tanques e bombardeiros
tem prostituição e vinganças
a guerra tem milhares de condecorações :
braços pernas medalhas de prata e ouro
bengalas muletas cadeiras de rodas e
bandeiras de várias cores
por cima de caixões.

a guerra tem tesouros
arrepios e gritos de alarme



73fev.












happening na avenida da liberdade



Ela
a estátua estava
nua

ele
o polegar

trezentos anos
que estava
imóvel


- olhou - pensou - & tirou uma camisa de
vénus da embalagem

&
enfiou - a
no polegar da
estátua.




- assim se fode
a imobilidade !






HAPPY BIRTHDAY




feliz aniversário
para ti meu amor
este é o dia
para celebrarmos a tua morte
não tens que chorar
a vida é uma mentira
embora toda a gente tenha a mania
de contar histórias com sorte !
esta dor bebe-se dum copo
enquanto alguém distraído
continua a escutar a canção ERRADA !
feliz aniversário
para ti meu amor
ABRAÇO-TE
com estas PALAVRAS
levo-te no meu segredo
enredo e novelo
de angústias FORMATADAS.






Junho20.2010












o hipocondríaco






fartou - se do enfarte
e mandou - o ter com a
cirrose
que estava jogando xadrez
com a tuberculose ,
pois já não dava luta
a puta
da artrose
que só falava bem com a trombose.
então lembrou - se
que lhe faltava qualquer coisa.

ah !
( a enxaqueca )


84fev















Hoje...



hoje ele acordou
bastante normalmente
já se habituou
a que nada será diferente
optimismo cancelado
sorriso concludente
comportamento normalizado
diz bom dia a toda a gente
entra no escritório
aperta a mão ao chefe
e logo fica contente
olha pr`a mim
e logo sente
que estou farto dessa gente
discute futebol
de tarde a telenovela
pr`a mulher é o suplente.
Hoje ele acordou
mais ou menos como sempre
abraçou a rotina
com um beijo de aspirina
meteu - se no comboio
sorriu a toda a gente
já não é capaz de pensar
que existe algo de diferente.












ilusão




e se falássemos
da ilusão ?

desta imagem
que ferve na minha cabeça
de
eu te amar ininterruptamente
até o sol ficar húmido
com o nosso esperma .


depois !
de mãos dadas
percorreríamos arco - íris cor de rosa .

até que as manhãs
se tornassem menos dolorosas .



















in ( diferenças ) teorizadas








elas
gostam
ou
detestam
...

eu
adoro
ou
sou
indiferente





















inesperadamente









inesperadamente
talvez não tanto de repente
pensou que era gente
e começou a respirar.
devagar.
Para não abusar !















5.3.86









infinita tristeza


é muito tarde para arrastar o passado não pedi muito nem mesmo aquilo que precisava não me deste o que tinhas fiquei com o resto do nada talvez te tivesse desapontado estivemos próximos mas não somos o mesmo talvez um dia a noite não me apanhe surpreendido já não resta o amor nas nossas almas mesmo que não ficássemos satisfeitos não poderemos dizer que não tentamos será o tempo do adeus ? os nossos sonhos ficaram tão juntos e esfumaram-se em manuais de angústia agora segredas-me ao ouvido beijos ainda doces mas continua nos meus olhos a infinita tristeza poderá todo o meu perdão comprar toda a tua boa vontade veste a cama de cambraia e cheiros de hortelã de certo estarei morto na manhã é uma hipótese prevista senta-te longe não quero que observes o vermelho dos lençóis porque a morte não tem cara e dança sons de silêncio na minha cabeça num lento escoar do tempo dói-me o que me resta da vida sem lugar sem saída infinita tristeza cantada numa canção porque o amor desta vez foi em vão talvez um dia o delírio não me apanhe surpreendido talvez o transito não atrapalhe a minha pressa
talvez alguém distraído não responda ao meu adeus talvez um dia tudo não passe duma promessa




setembro13.2006

já é tarde


aproxima-se
a sombra
não sei se de mim
ou minha
lenta
e envolvente
com o seu rosto paciente
confiante
de que a presa
não poderá escapar.
ingénuamente
escondo-me
em vontades transparentes
e tento
mas só tento
deslizar
por entre
as minhas próprias defesas.
contra
a vontade
mostro a fragilidade
da minha coragem
e fecho os olhos
na tentativa do sonho.
então aparecem
anjos
cavalgando angústias
carregadas de desolação.
então
digo não
digo não,
mas já é tarde !
( como de costume )


26.5.86



Já falaste com o sintoma ?


(resposta à Carmo)





NÃO !
Ele não me liga nenhuma !
Pouco ou nada isso me importa.
E não é culpa minha
Se a minha insanidade
Me obriga a fazer guerra
À vossa realidade.

Já falaste com o sintoma ?
JÁ !
Ficou em estado de coma.







mai e jun 2006




JÁ, NÃO ...


Já não há ponte para o resto do caminho e nota - se claramente a angústia no voo dos pássaros.
Ao acaso, porquê sempre ao acaso, caminho anonimamente com a responsabilidade limitada, que me empurra célere para a frequência imoderada de ritmos hilariantes causados por gases sem graça alguma ?

Rasgo cometas da sorte na palma da mão e a chuva que acontece não me traz qualquer estrela. Então divago ausências fingidas e rio para mim próprio numa maré cheia de vazio condicionado.

O OCEANO NÃO CHEGA PARA ME AFUNDAR ?

Eu não passo dum naufrago de banda desenhada.
Vendo - me facilmente em fascículos com 24 horas de página. Comestível como um hamburguer sou devorado com doses excessivas de ketch up. Quando acabarei a subida desta montanha conspurcada de vícios ? Sei, que impaciente. o voo da águia aguarda o que me resta da coragem. Que planos eu tenho para surpreender o optimismo com raids surpresa de angústias. Corro para o nada levando sempre a pressa que retarda a vontade.

QUE ESTRADA É ESTA QUE ESTÁ SEMPRE A ENGANAR - ME COM ILUSÕES FALSAS DE PRAZERES INATINGÍVEIS ?
Restam- me os lamentos sussurrantes das vielas da agonia.
O dia morre lentamente despedindo - se do sol com frágeis sorrisos dourados. Chegam as sombras, estas sombras que não param de acariciar - me com beijos maliciosos e abraços enganadores. Fatídico não é o destino, mas a ambiguidade dos caminhos.
Não me digam nada !
não quero ver ninguém feliz perto de mim. Metem -me nojo os sorrisos e enraiveço facilmente com os projectos que teimam ainda em preencher o meu pensamento.Basta ! Quero fixar definitivamente o meu olhar no nada que desenho na minha solidão. Esvaneço, não sei qual a maneira, neste rascunho mais que rasurado que constitui a minha talvez coragem de tentar.
ESTOU FARTO DOS DIAGNÓSTICOS. Mesmo daqueles com 90% de possibilidades de certeza absoluta.
Habitualmente cumprimento o meu ego, que covardemente nunca me dá a angústia pretendida. Escondo - me num coral de mágoas e

O OCEANO NÃO CHEGA PARA ME AFUNDAR.

Consumo - me numa sociedade que não faz senão gastar - me inutilmente em bebedeiras de espectáculo. envelheço em cascos viciados em merda. Mostram -me oásis e proíbem - me qualquer tentativa de liberdade. Inventaram as pousadas da felicidade mas elas só existem num catálogo sempre disposto a causar - me inveja.

Não sei para que escrevo isto, talvez porque estou farto desta caneta ou ainda penso que tenho uma letra bonita para enforcar passarinhos.

A identidade não passa duma mentira, mas, mais enganador é o seu cartão.



87nov01













jogo







sempre me disseram
que eu era um perdedor
que não passava dum falhado

...
mas não é culpa minha
de não sentir a dor
de nunca vencer
esse jogo viciado ...










2006mai22











lá longe






para além do mar
há uma terra bonita
que só em sonho eu conheço.
tentei tanto navegar
contra uma voz que me disse
perder -te -ás no caminho
que não tem mais regresso.
solitário
na paz do jardim das árvores felizes
colhi a rara rosa branca
que perfuma as palavras verdadeiras.
estou cansado.
entrarei agora
no bosque das sombras distantes
onde o sol dourou
o longo sonho das águas.
o ouro novo beijará
o sereno frio do mármore.

“ e perder -te -ás no caminho
que não tem mais regresso. “










2006mai22

labirinto


labirinto absinto o que sinto
se não uso cinto ?
pinto ‘ minto ? tinto ?
reflexão ? introspecção ? inspecção.
a sensação da ilusão de sentir a tua mão
dizer não
da exaustão
do telefonema do esquema
do eczema do cinema
da azia da bacia vazia
que não fez mas que fazia
da atenção da tensão
do tesão
da necessidade da solidão
do sorriso compromisso comprimido
medido calculado catalogado
etiquetado menstruado rotulado
fabricado enganado enganador
do amor sem calor congelado
na memória não mais que recordação
da derrota ?
da vitória ?
do erro do medo
do fantasma do plasma
do antidiálogo do antitudo
porque nada terá de ser como é
da mudança da dança
da inconstância da importância
do porquê do crer do não saber
e continuar a querer
viver para morrer
esperar até fartar
não se sabe de quê
se da utilidade da insanidade
da impotência mesmo mental
da visita necessária ao psiquiatra
que já se tornou normal
direi mesmo elementar



embora aborrecida como pagar isto e aquilo
mais o imposto a aumentar
da mensalidade do trespasse da casa de passe
passe por favor estou com pressa
o porquê não interessa
talvez para continuar a ensaiar a decorar
esta miséria do quotidiano
este quotidiano miserável
que teimamos chamar de vida
sabendo dia após dia
que não passa duma peça.

fev.84



































lacónico
olhei - te
atónito

e logo pensei :

era capaz
de ser cómico
se ...
eu tivesse um pénis ...
atómico .















lágrima

pensa em mim
como se fosse a lágrima
que foge dos teus olhos
eu sou aquele
que não viverá de novo
aquela noite especial
agora os meus fantasmas são heróis
pintando as ruas com graffitis celestiais
e o meu sonho
só viaja num tapete
voando nele um deus que não se levanta mais
serenamente
observo o tempo partindo
na viagem dos dias
que são sempre as despedidas do meu olhar
já não conheço esta cidade
nem os seus falsos marinheiros
que choram as pedras dos seus caminhos
, nem o pintor da rua
sem memórias para colorir.
penso em mim
sem vontade de beijar a lágrima
que foge dos meus olhos
serei eu aquele ?
ou um epitáfio que ninguém lê ?






2007jan02


lágrimas








às vezes
as lágrimas que rolam no chão
também têm bocados de mim
e eu sei que nada disto te importa
( para a chave que tens
já mudei a fechadura da minha porta ).
desta vez disfarçado d`anjo
no comboio da meia noite
vou fugir-te na minha cabeça
vou tentar vou sonhar
esperar que isso aconteça







jun022006






lamento

gostaria
que isto não ficasse
com o sabor
duma promessa
porque sabemos
que hoje em dia
um romance
pouco dura.
gostaria
que o fracasso
ficasse
apenas entre nós.
a culpa
não é minha
nem tua.
afinal
um lamento
é sempre uma recordação
que o tempo envelhece
mas não cura .










27.5.86




Lenta_mente



lentamente
escoa-se
a esperança
num passador
chamado tempo

Tempera-se
a urgência
( com muita
muita paciência )
com sangue
raiva
e suor.

Ferve-se
brandamente
a vontade
juntando-se
pouco a pouco
lágrimas de desespero.

Acompanha-se
com melodias de paixão
e serve-se de preferência
com o sorriso habitual
da usual conveniência.











leonor






DESCALÇA VAI PARA O COMPUTADOR
LEONOR PELA ALCATIFA
VÊ - LA ASSIM É UM AMOR
COM AQUELE ANDAR DE CALIFA
NÃO VAI FORMOSA NEM SEGURA
NÃO É JEITOSA E TEM LARGA A CINTURA
MAS USA CINTA E SOUTIEN
E PENSA QUE É DESEJADA
OFERECE - SE MAS NÃO SE DÁ.
AS UNHAS NÃO QUER SUJAR
JÁ LHE BASTA A MERDA
QUE TEM NA CABEÇA
POIS ESSA NÃO PODE LIMPAR.

LIBIDINOSA OLEOSA
MOSTRA A SUA DENTADURA
ESTÁ CONSTIPADA E RANHOSA
HÁ MUITO QUE ISSO DURA.


BAMBOLEIA - SE DESEJOSA
DIANTE DO OLHAR QUE
A PERFURA.



SET84.25










língua




A minha língua
conhece a tua boca.
toda.
e as minhas mãos
já sabem de cor
os caminhos para onde
as tuas côxas me levarão.
os meus olhos
são os teus olhos
e o tempo
o nosso tempo
apenas uma questão de espera.
deitamo - nos lado a lado
habitualmente sós
com o vídeo
climatizando a nossa solidão
choramos abraçados a recordações rugosas
soluçando lentamente
melodias de desespero.













lisboa


perco - me
nestes passos em volta
neste perfume de fumo
ou nas ruas que piso
propositadamente com a intenção de te
violar .
meto - me dentro de ti
sem o medo
de me inundares
com este banho de multidão
cumprimento as tuas putas
observo as tuas gaiolas
e mijo no teu rio
beijo - te na boca
e fico sempre com a certeza
que já não te consigo possuir
o teu odor
persegue - me até ao manicómio
em que te transformaram.









85fev.

loucura


A
loucura anda por aí à solta
já se vende o desespero
já se convida às
mil e uma tentativas de suicídio
e já se publicita a revolta.
Tudo convenientemente domesticado.
Tudo se apaga com o tempo
porque o tempo
já nada muda.
Porque a ilusão
já não é fuga
e, como sempre
a solidão apanha - nos desprevenidos.
A solidão não existe ...
somos pássaros feridos
mesmo antes de tentarmos
o primeiro voo.
Já nos dão pastilhas para o enjoo
mesmo para o enjoo da vida
já nos preocupa o local da chegada
sem sabermos o dia da partida

meia dose de tudo
uma mão cheia de nada
o tédio e o absurdo
e a fome bem aviada
...
A
loucura anda por aí à solta
a subversão limita - se aos recitais
os poetas continuam vivos
e ainda estão por morrer
os intelectuais
tudo se apaga com o tempo,
principalmente o desejo da mudança.



Temos medo
cada vez mais medo da memória
e somos a polícia
do nosso próprio pensamento.
porque a ilusão já não é fuga
e a nossa segurança está entregue
a companhias de seguros,
somos pássaros feridos
incapazes de sair desta gaiola com :
prisões hospitais manicómios
asilos infantários escritórios
fábricas escolas exércitos
muros
muros
e mais muros.
...
O fantasma de deus
da ordem
da obediência
do bom gosto
da decência
continuam por aí espalhados.
A revolução
continua à espera
asilada na nossa cabeça.
Por isso existem
governos exploração
opressão repressão.
a poesia
está em convalescença.
toda a esperança
está climatizada
e qualquer suicídio
é perfeitamente legítimo.
resta - nos
a tentativa de ser feliz.
inútil.
demasiado inútil !
abr.84.2


madrugada







NA MADRUGADA
ONDE ACONTECE
O DESEJO
OLHO - TE

DEITADA

E

CUBRO - TE O SONHO

TODO NUM SÓ BEIJO
















mãe


sentado na sua campa teso como de costume
lembro-me de muitas conversas e do modo como aceitava as minhas mudanças de humor eu sei o que vale uma flor agora que só posso falar com a sua ausência passo o tempo numa peneira plena dos seus sorrisos e de alguns planos para o futuro sou o que sou e mais que ninguém você o sabe alguma coisa a morte levou mas lembro-me perfeitamente quando se despediu de mim com um olhar apressado para a viagem sentado no frio do mármore não consigo chorar tudo o que pretendo mais que ninguém você conhece o que poderão significar as palavras que me levam até si desta vez não vou mentir a verdade é que não me tenho portado bem talvez porque saiba que já não se pode preocupar hoje vou ler-lhe um poema daqueles que por vergonha minha nunca cheguei a mostrar sentado na sua campa teso como de costume
ainda não consigo lembrar tudo o que pretendo
não sei quando me vou libertar mas já vi o arco-íris na minha janela eu sei que todos os prognósticos são reservados e as funções vitais são uma grande treta respeito a coragem mas você sabe como odeio a resignação e o tentar terá de ser sempre uma obrigação sentado na sua campa juro que não tenho vontade de abraçar o mundo este silêncio tem o som da conveniência e a minha melancolia não é obrigatoriamente triste o céu é um lugar onde nada acontece embora toda a gente acredite na sua festa sentado na sua campa só como de costume revejo imagens que me vestem e você sabe que eu sou um optimista descaradamente teimoso mãe você sabia que o cheiro dos meus cigarros era diferente e eu nunca toquei em nada que me fizesse mal á cabeça nem mesmo os cogumelos e quando eu ficava a ouvir todos aqueles blues você desligava o aspirador para escutar a música triste mãe eu continuo a ouvir essa música e dou-lhe inteira razão uma perda nunca é alegre sentado na sua campa olho o tempo do tempo soletro horas com hábitos de felicidade que já só têm o cheiro da despedida mãe continuo maluco daquela maneira que você sabe mãe continuo à espera daquele modo que você entende agora deixo-lhe os meus poemas
esperarei por si no clube dos poetas mortos
até logo












setembro12.2006























mal ainda








mal ainda eu vim
ao mundo
já me chamam
vagabundo
já me mandam
trabalhar
o patrão está à minha
espera
não houve tempo pr`a
escola
não houve tempo pr`a
brincar.






mal me quer




quando poderás compreender
que a dor
do amor
nunca é em vão ?
continuar
de maõs dadas
após tentativas desesperadas
de enganar a ilusão ?
assim
canto-te no meu fado
apático
como se fosse destino
e não sei se fico triste
de ainda acreditar
que ás vezes ainda sou o menino
a quem tú sorris-te
não sei
se por engano.
mal me quer
bem me quer
ou outra qualquer.





26.5.86




malgrado





malgrado o punhal com que me agrides
e os gestos com que me feres
mantenho firme esta secreta esperança
de que um dia tudo será diferente.
um dia talvez possamos percorrer juntos
a mesma alegria abraçar a mesma confiança
e beber o gosto de gerirmos o nosso próprio destino.
talvez um dia os dias serão felizes
e o perfume que deles exalará
torna - se - á então entendível. regaremos
para sempre a nossa vivência com o néctar
consagrado pelo nosso amor. sim !
para que o amor deixe definitivamente de ser experiência. para que deixemos de ser
cobaias desta batalha programada no laboratório
da SUBVIDA.
a coragem correrá nas nossas veias
e passeará livremente pelas ruas da cidade.
dançaremos bailados de alegria com
coreografias de liberdade e as bandeiras
só serão necessárias para limpar o suor
desta festa permanente.
levanta - te ! ergue o teu desejo ! o medo já não te
assusta : agora sabes que não estamos sós.
a meta é a mesma. embora os caminhos possam
ser diferentes.
e sobretudo não esperes que o governo
resolva o teu problema
porque é quem te governa
que te faz viver neste dilema.
7.3.85
manhã clandestina









nestes beijos á solta
encontro a tua ausência
nesta ausência de revolta
depressa
vem de qualquer maneira
que este fogo já arde
na fogueira dos teus abraços
e espera-nos o despertar sereno
da clandestina manhã ,
na quietude dos nossos cansaços.

















5.3.86


mania



a tua imagem
não passa de uma mania
e só o teu sabor
( que eu ainda não provei )
me obriga a tentar.

já sei de cor este verso
esta forma de contar
abusivamente decorada
com histórias de alcova
jogos de ócio
e alquimias de dor.

a tua imagem
não passa de uma mania
talvez mesmo minha fantasia
mas só a ti eu sorria
se contigo eu pudesse voar :

meu amor .










1985



manifesto


na minha cabeça há uma cidade
no meu quarto uma cadeia
nem aquilo que odeio
consigo destruir.

não falo de coragem
mesmo quando maliciosamente
me bates com o baton
&
nem miró
teria cores
para pintar os teus olhos.
não quero mudar nada
nem mesmo o sótão da minha
memória.
nem mesmo este sorriso
com o qual
tanto te desejo
como te odeio.
desta vez,
vou fazer o meu inventário :
57 kilos de má disposição
½ litro de esperma tipo h2so4
um metro e sessenta e 6 de
decadência
100 anos de solidão
hálito duvidoso
sorriso nuclear
não sei se a minha equivalência
em lixo vale um saco de adubo
da pior qualidade.
kilómetros e kilómetros de apatia
cinquenta doses de fingimento
um milhão de desgostos
ritmo normal de ejaculações
coração em 2ª mão
fígado emprestado



olhar cansado
memória fresca
pensamento muito pouco usado
inteligência não acreditada
sangue misturado
futuro ? nenhum
solução ? nenhuma
soluços ? poucos
quase sempre menstruado
orgão genitais para a troca.
antitudo
mas contudo
a mordidela não é venenosa.
as restantes intenções
são pacíficas.
note bem :
estes dados
foram emprestados
com a convicção que o meu
equilíbrio instável permite.
por favor :

embrulhe - me
e
leve - me consigo.








81jan.







matei-te

matei-te
desta vez nem tiveste tempo
para disfarçar o teu sorriso patético
não conseguiste esconder o teu olhar de vaca imbecil.
Disse-te que sabia
onde param as putas.
A traição nunca é bem programada
e é sempre consequência da estupidez
eu sei que nem sempre o prometido
é para ser cumprido
principalmente as palavras ditas por ti
agora vai brincar com os outros meninos
eu sei exactamente o que vais fazer
facilmente previsível
estupidamente contraditória
mostraste a indigência
tudo é menos triste
quando o sentimento da perda não existe
e as manhãs submersas
não terão obrigatoriamente de acabar com os dias felizes
o amor não poderá valer
nunca o tamanho de uma mentira
ou mesmo o desenho dos planos para o futuro
matei-te numa morte
várias vezes anunciada
explicada com exemplos concretos numa promessa cumprida
matei-te num perfume feito de fragâncias de
angústia
agora posso esquecer a tua surpresa
nada ficará
nem sequer um rosto inacabado
um nome um beijo de despedida
agora podes brincar com os outros meninos
enganar as tuas contradições
naufragar na tua demência
não há dor
nada para explicar
não há saudade nem ausência
nada para lamentar
este foi o meu tempo
gasto em bebedeiras perdido em delírios
desperdiçado em tentativas
matei-te na minha pele
já não me custa a derrota
de não ter conseguido libertar-te
és boa para nada
já não quero o resto
o embrulho não é bonito
não gosto das flores do teu jardim
nunca serás importante para mim
vai brincar com os outros meninos
enganar-te nos jogos de cama
confundir-te nos abraços mentirosos
foi-se a memória
só resta o vazio que já não ocupa espaço
eu sei que és um circo
no qual eu nunca serei palhaço
serás sempre uma pessoa em 2ª mão
usada abusada gozada
fútil inútil
mente conspurcada
tentativa falhada
blague mal parida
ausência acontecida
um caso isolado
projecto inacabado
orgulho sem razão de ser
auto consolação mentida
estupidez sem medida
suicídio adiado
défice contínuo
situação mal resolvida
uma constante despedida
matei-te
ninguém me vai prender
o mundo não fica mais pobre sem ti

no pain
no name
nothing to explain
nothing to blame

















setembro152006



















matemática




por-te de quatro
todas as vezes ou mais
eu faço

depois

subtraio o cansaço
multiplico o desejo
adiciono o beijo














2006jun02












matiné no arquivo









passo
as matinés
neste manicómio
embrulhado
em papéis de merda
embora os caros perfumes
não consigam fazer esquecer
os constantes queixumes
do meu tédio condicionado
justamente
como o ar que respiro.









1986










A MATINÉ NO CINEMA OLÍMPIA





o homem casado entra no cinema .
com ar desconfiado .
olha para todo o lado .
escolhe um bom lugar .
geme baixinho .
observa espantado .
imagina . .
ivagina .
e pensa na puta que lhe sorriu à esquina .
sente-se molhado .
levanta-se antes do fim .
para que ninguém o reconheça .
passa por ela .
atira-lhe um olhar .
e fazem à pressa .
como fizeram na fita .

chega a casa .
como sempre cansado .
e sem vontade .
mesmo sem vontade de fingir .
maldita sorte .
maldita .










ME GUSTAS BABY!









Desculpa a pronúncia
mas sabes... a minha língua
não é boa para este género de coisas.
TE QUIERO, SUGAR!
Não importa o amargo
que poderá ficar
na eternidade do instante.
Tu sabes o sabor do meu abraço
e de mim todo o restante
e mesmo as fraquezas do meu cansaço
não conseguem pôr-me de ti distante.
ME GUSTAS BABY














2006jun29
MELIDES

1 . Eu sei
Que o mar ouviu
As ondas ladrarem à lua
Espalhando a espuma
Na areia dos nossos corpos

2. O mar está triste
Canta-me
Canções da tua ausência
Olho todo o horizonte
Nuns olhos que já não são meus.
Então
Fecho lentamente
A vontade de voltar a ser feliz.

3. A música do bar
Bebo-a num copo
Cocktail de mágoa
Alguém continua distraído
Escutando sempre a canção errada
Abraço as palavras que posso
E sei que as minhas lágrimas
São o som daquela guitarra.

4. Lua envergonhada
Escondida
Tímida
Cara de gata
Egoísta
Porque não finges
Que és a minha namorada ?
Vejo perfeitamente
O teu sorriso trocista.

5. Como sta la luna?
La luna como sta?
Soon over babaluma
Como sta la luna?


jul.2010

menina









era
uma menina muito bem
fazia tudo como deve ser
às vezes esquecia-se
de tapar a boca
e toda a gente
toda a gente a ouvia gemer
ela então tentava
tentava disfarçar
mas havia algo que a não ajudava
e esse algo era o olhar
esse olhar tão penetrante
com que ela pensava cativar
só durava o instante
o instante que ela conseguia enganar.











27.5.86


meteorologia





nuvens arrependidas
anticiclone distraído
depressão generalizada
vento envergonhado
temperatura condicionada
queda de anjos nas regiões tristes
o sol vai permanecer magoado.








mai2006








mictório











8 horas menos um quarto
metido neste escritório
já estou mais que farto
deste cheiro a mictório
fechado neste aquário
acompanha - me a depressão
berro grito e choro
e apresso a pressa deste horário.

... mas nada importa ao patrão.



1984







minuto


um minuto
apenas
um minuto
eu queria
conhecer
para saborear
um segundo de felicidade
estou á espera
nesta paragem
para a viagem
que nunca acontece .
até
quando
terei de mostrar
a foto do meu passe social
a
alguém
que não me conhece ?










27.5.86





monologotonia 1.

três escudos
de desodorizante por dia
a dose de azia
um olhar gozador
no comboio a mania do bom dia
sempre o obrigatório
o sorriso vertical
o vómito matinal
&
aquele colega tipo supositório
a monotonia do escritório
a conversa habitual
as mãos sujas do jornal
um desejo de amor
um corpo aborto cheio de calor
um pensamento sexual
tipicamente vaginal
&
como de costume
isto está mal.
o regresso cansado
de um comportamento normalizado
o sorriso distante
de um cérebro estante
ejaculando nuvens de poeira
maldita 2ª feira
um gin gelado
de má vontade pago
a troco da esperança
de amanhã existir
a mesma canseira.
boa noite.

79jul.





monologotonia - 2




todos os dias
o mesmo lugar
as mesmas perguntas
os mesmos desejos
a mesma vontade de amar
os mesmos gestos
que já não são lestos
os mesmos complexos
o mesmo andar
os mesmos ataques sintéticos
a mesma marca de pensos higiénicos
os mesmos beijos
despejos
anémicos
a mesma alergia
a mesma mania
de pensar
que tu existes
mas eu tenho de mudar
eu vou mudar
...
todos o dias o mesmo caminho
no meio da multidão sinto - me sózinho
a mesma maneira de sonhar
a dor no coração
a hora marcada para arrotar
a mesma recusa de chorar
a mesma ausência
&
a falta de paciência
para te aturar
mas eu tenho de mudar
eu vou mudar
...




todos os dias
a mesma cama
o mesmo vazio
o mesmo frio
a mesma esperança
o mesmo acordar
mas ...
eu tenho de mudar
vou mudar.












jul.2/79
















Mostra-me



poderás mostrar-me o caminho de volta agora que provei o mel do teu pesadelo e naveguei nas tempestades da tua insegurança, agora que já sei o porquê do teu medo poderás mostrar-me o cenário onde representas este naufrágio.
agora compreendo a razão porque lamentas a sorte com bebedeiras de azar. hoje não estou na disposição de aceitar qualquer razão que não seja a minha. hoje não me levem a vontade a pouca vontade que me resta de animar com palavras velhas o habitual descolorido, dorido a que todos os dias sou obrigado. hoje não me levem o sorriso o pouco sorriso que me resta e que faz as pessoas pensarem que perdi o juízo.
eu !
eu que sei da solidão dos muros de tanto neles caminhar peço que me deixes recordar-te tu que vives no enlevo das horas sagradas.
eu !
eu que sei da solidão dos vagabundos e da angústia do seu olhar peço que me deixes recordar-te nestes tristes e pobres versos. quando se bebe e vive amargamente a própria solidão ficam as palavras as palavras solidárias que nos impedem de morrer.








25junho1986


na campa de marilyn



sinto - me como um
milionário
pescando balões no tamisa
e
lembro - me do teu pôr do sol
que raramente acontece
às 6 da manhã
disputo - te todas as noites
sonhando com a volúpia
de um colchão dourado
e fico
maravilhado
beijando as imagens
que a roda da tua saia
constrói
na tua campa marilyn
sinto - me louco
possessivamente
abusivamente
descaradamente
louco
por isso a desflorei
enquanto
os anjos
jogavam xadrez no
poor boy club
em amesterdam
na tua campa
peguei na viola e
percorri maliciosamente
a escala
como se do teu
sexo

se tratasse
depois vomitei
o sémen de um corpo
finalmente
liberto
na tua campa
perdi demasiado tempo
lendo os anúncios das etiquetas
que propositadamente colaram
nos teus seios
deliciosamente solúveis
deambulantes
justamente como a minha
última moeda no fundo de um
copo com m`àgua
marilyn oh marilyn
deusa diabo
flor que nunca chegou a abrir
pois o sol nunca amou hollywood
e agora lastima -se
cortando ele próprio os seus raios
com uma tesoura
cujas pontas têm gravadas o
teu nome :
marilyn a mulher
afinal : forma de comércio
como
outra
qualquer....


dez.75










nada !





nada
acontece
para além de limpar
o hálito nesta vidraça
onde o momento passa
e a memória
permanece.
e o meu relógio digital
digere o tempo
num compasso automático
rotineiro
onde a certeza
se desvanece.
nada acontece
quando a memória
se esquece
de lembrar
de manter este sorriso cúmplice
misto de raiva e ciúme
com que compro
doses congeladas de optimismo.




85.fev.






não presta o que fica



o meu nome
nada significa
o futuro perdeu-se
na vontade de tentar
não presta o que fica
na angústia das veias

o 1º golpe não custa nada
o 2º é para habituar
outros acalmam a calma
o último é para gostar.

Não presta o que fica
ninguém foi convidado para este banquete.
Peço desculpa por esta ilusão :
a necrologia segue dentro de momentos.








maio2006












não tens





não tens que aquecer o meu fogo
não tens que ser o meu desejo
não tens que ser o meu problema
não tens que fazer parte do meu sistema
não tens que ocupar a minha noite
não podes desligar a luz
não tens que dizer se estou certo ou errado
não serves para nada
não ocupas o meu sonho
não guias o meu pesadelo
e eu não me importo
não tens que ficar
e o meu tempo é sempre
o tempo da tua despedida
não tens que bater á porta
não tens que perguntar
realmente não tens que chorar
é violenta a distância entre nós
mas eu só amei o que podia
só matei o que devia.
nunca serás importante para mim



setembro.2006








não vale a pena









não vale a pena
continuar
a olhar
o teu retrato
na palma da minha mão.

hoje
refugio-me
em recordações
optimistas.


amanhã
voltarei a acordar
com a solidão.









27.5.86



néctar






se hoje te falo do néctar
deste amor inventado
que tento possuir
neste sonho acordado
qual sombra de cristal
deste coração de papel
dividido em paralelos
é porque ainda me dói
manter este brilho nos olhos
esta mania de sorrir.
e é com nojo que te o digo
enquanto gasto esta vida castigo
este horário que me deram
esta herança que me deixaram.



















NEM SEMPRE





nem sempre
o que procuramos
aparece
por isso deus
( distraidamente )

criou a palavra
insistência

para tornar
menos penosa
a
paciência

com
a
qual

o
homem
ainda
padece




2006.03.13
néon

Deus não passa de uma palavra cheia de néon.
Os fantasmas constroem apartamentos nas nossas cabeças e por isso diz-se que cada pessoa é uma floresta de betão. Pintaram o riso de cinzento e a imaginação desliza folgadamente através dos esgotos. Não passamos de cadáveres amestrados e condicionados a ritmos de consumo. A puberdade cresce abusivamente nos nossos lábios. Estou farto de ser louco sem ninguém tentar compreender-me. Desfloro as minhas ideias, uma a uma , em busca de um prazer desconhecido. Oferecem-me trampa enlatada. Eu sou um anjo do sexo louco tentando fazer amor com o arco íris . Estou farto de dar pontapés no caixote do lixo perante o olhar anémico e desconfiado dos vagabundos. Devem-me mil e um anos de felicidade e quatro séculos de liberdade. E eu quero-os ! Já ! Tenho um ferrari escondido no forno do fogão ! Por favor , não duvidem da minha honestidade. Aspiro a ser um louco nada exemplar!
E rezem :
Por todos aqueles que injectam coca cola que têm longas conversas com estátuas simpáticas que adormecem beijando o sabor da solidão nas auto estradas do desespero com a viagem cheia de esperanças e que festejam as ausências debaixo de viadutos, aquecendo-se na fogueira das ilusões.
Deus é a alucinação dos pobres ! Os profetas da loucura invadiram os pronto a vestir e andam espalhados pelas cidades mascarados de manequins, gozando libidinosamente com a curiosidade das pessoas. Eu irei até até ao jardim da celeste e farei aparições transformado no anjo da desolação. Avisarei o público em geral numa conferência de imprensa que terá lugar no clube dos vagabundos celestiais.
Não sei nada,
Mas afirmo solenemente
Que hoje comi um iceberg ao pequeno almoço.

Fev.18.83
noite tranquila



Espero já
A noite tranquila
Cansado de adormecer pedindo.
É o tempo
Do regresso em mim
De todas as possibilidades
Das angústias formatadas
Do futuro fugindo
De todas as tranquilidades
Dos anúncios mentirosos
Expectativas enganadoras
Perspectivas desleais
É o tempo
Em que tudo o que me dão
Já não me faz falta.
Espero já
A noite tranquila
Do sonho absurdo
Do copo distraidamente vazio
Onde bebi a calma pretendida.








jul.2010


da imposição e sobretudo da conveniência
da normalidade.



… o mais difícil é tentar compreender certos comportamentos das pessoas, pois temos uma grande, vaginal e quase necessária preocupação de catalogar esses mesmos comportamentos. Porém existe um factor deveras importante, que sempre nos escapa : essa mesma catalogação não é imparcial pelo simples facto de estar directamente ligada e sobretudo limitada pela conveniência das nossas próprias limitações. Assim continuamos a gastar a nossa existência arquitectando muralhas, que iludindo a nossa própria realidade e subvida, não defendem mais que a construção da ilusão que abusivamente mantemos do direito à diferença.
Só que ... o despertar acontece todos os dias, e , ainda temos a coragem de esperar que o sol adormeça no parapeito da janela do nosso quarto.






fev.84.9.

nunca

nunca feches
os olhos
para que o desejo
não se esfume
em vão
na palavra mentirosa
que se chama
esperança.

e
se vires
estátuas sorrirem
não te admires
pois até elas
raramente
mentem.

mas sobretudo
não acredites
nos segredos do vento
ainda que eles
falem abusivamente
duma palavra bonita
que se chama ternura.

poderás então
cavalgar
nos sonhos da aventura
provar o beijo
da loucura.

CORAGEM ?

a estritamente
necessária.


13.3.86.


o amor do poeta











talvez um dia
te fale de amor
embora com os lábios secos
mostrando a ausência dos teus beijos
talvez um dia
te escreva um poema
em forma de dor
mas com o sabor
dos meus desejos.
hoje
falo - te
da esperança
com as palavras possíveis
dos poetas mentirosos.





jan85.









O BURGUÊS



vai ao psiquiatra
já não pode com o tédio
embora tenha a mesa farta
o sonorífero é o remédio
só tem um problema
a falta do tempo para gastar o tempo.
a televisão é tão cahata
o whisky já lhe faz mal ao fígado
a carteira recheada
de manhã toma a gemada
depois uma mamada
e passa a tarde no cinema.
coitado. tão rico.
tão bem parecido
e vive com tão grande problema.
amanhã vai trocar de carro.
que azar. é a 4ª vez
este mês.
coitadinho do burguês.
gosta muito de lagosta
mas só pode comer uma de cada vez.
mas que raio de modo de vida
ele havia de arranjar ! !

NÃO de pode INCOMODAR !

Não se deve INVEJAR !






31jul85


O caminho da angústia


onde me levará esta angústia esta falta de paciência esta falta
de tudo e sobretudo a tua constante demência
?
quantas vezes terei ainda de chorar
envergonhado e sorrir fingidamente
ao teu sorriso deprimente
?
e este gosto amargo
?
e este perfume de tédio
?
e o nojo
?
quantas vezes terei ainda de acordar sem vontade para te aturar ? encosto-me à minha própria vaidade construída com soluços e abafo silenciosamente esta vontade de ser louco.
até o amor já me sabe a pouco. aqui neste espaço e ao sabor deste naufrágio, perco-me sempre no mesmo lugar. e esta auréola de desilusão teimosamente emoldurando a minha vontade de mudar ? esta cadeia à qual chamam vida e esta fadiga este hábito de sonhar ? estou para além da ficção. só me resta a memória das coisas, e mesmo assim vou esquecendo pouco a pouco as etiquetas. será possível ? e o que é possível ?

HOJE QUERO VIVER.




O nosso olhar








O nosso olhar
Tinha encontro marcado
A tua boca : o perfume do meu sorriso
O teu beijo : a fascinação da promessa
Intimo suspiro
Do amor feito sem pressa
Seca-me a língua
Do teu corpo em dois percorrer
Chama antiga
Feita vontade de te beber
Infinita fogueira
Onde acabamos sempre um no outro.
O nosso olhar
Era um verbo adiado
O nosso olhar
É um orgasmo anunciado.



2010ago23










o que fazer ?

O que fazer
com esta fúria de viver ?
ignorar este tempo
que passa lento demasiado lento
lento na vida
apressado no morrer.
o que fazer
com este sorriso ?
sempre igual
traiçoeiro
que sorri quando eu não quero
embora no desespero
ele seja verdadeiro.
o que fazer
com esta espera ?
que de tanto ter de esperar
já desespera.
aniquilem - me !
aniquilem - me por favor.
que me importa esperar
se o tempo já roeu a esperança
embora digam
( e eu não acredito )
que quem espera sempre alcança .
até quando ?
até quando poderei manter
este optimismo ?
esta máscara
já pouco me ajuda
já molda no meu rosto
a tristeza
embora com a subtileza
que lhe é peculiar.
até quando continuarei a fingir ?
que eu existo ?
fingir que poderei falar contigo !
porque não matar - te de vez
para que não penses que eu minto
10.03.86.
.

o que não sou









embora me julguem
o que não sou
embora pensem
o que não me interessa
embora digam
o que nada me diz
arrependido
ainda não estou
de apressar a pressa
de ter feito o que fiz .












1986







odeio







ODEIO ESTE RITMO
ONDE O TEMPO É MARCADO
E A ESPERANÇA BALANÇA
NUM AMONTOADO DE MEMÓRIAS
EM BUSCA DA VITÓRIA
QUE NUNCA SE ALCANÇA.
DEPOIS DÃO-NOS O PASSAPORTE
PARA AS FRONTEIRAS DA DESILUSÃO
COM BILHETE DE IDA E VOLTA
NESTA VIAGEM SEMPRE IGUAL
ANGUSTIADA DE CONVERSA PLÁSTICA.




JÁ CONHEÇO ESTA HISTÓRIA
E SEI DE COR O SEU FINAL.
















olhar




com
esse
teu
olhar

eu fico

sempre a pasmar

não
sei
se de
pensar
ou
de
tanto
desejar
que o amor

também
não
fosse
feito
de
ausências .







86mar.19



Onde é a auto estrada esta noite?



nem eu às vezes sei porque fecho todas as portas e prometo a mim próprio que desta vez a fuga será definitiva. tenho sorte, ouço as canções apetecidas e sinto-me como um maestro dirigindo as músicas do meu desassossego. invento-me, viro-me ao contrário, escondo-me no velho armário esperando a hora da partida. e lembro-me daquilo que antecipadamente sei que não quero. sentado abraço as angustias habituais. continuo a ser o viajante solitário nesta auto estrada só minha.
nem eu sei porque às vezes não encontro as portas e nada prometo a mim próprio. maldita sorte ter memória e o trabalho que ela me dá. definitivamente não sei até onde esta viagem me levará.
ONDE É A AUTO ESTRADA ESTA NOITE ?
às vezes sinto-me como os dias às vezes sinto que não me sinto às vezes corto-me delicadamente e transpiro os desejos inventados. molho-me na minha ficção nos sonhos espancados caçando o meu sonho.
às vezes sou criterioso manhoso raivoso furioso amoroso às vezes sou subtil fútil inútil útil
às vezes consigo ser eu
2006jul10
ondulante
ondulante
no néon perturbante
da avenida de roma
e o olhar matreiro
não sei se de puta
ou paneleiro
como um anúncio digital
que constantemente
convidava :
não prove ...
coma .
e o cigarro
colado aos lábios
ejaculando o fumo perturbado
que amestravas com gestos sábios
e as ancas a abanar
o peito a espreitar
mais um espelho pr`a mirar
a carteira a pedir
& como sempre
há sempre um parvo.
ondulante no néon perturbante
no passeio d`avenida
já sei de cor
o preço de fazer amor
contigo já cantei
essa cantiga.
nem mesmo
o teu olhar com malícia
com promessa de carícia
faz - me hesitar
hoje não , tou com pressa
amanhã não , que não posso
talvez nunca hei - de voltar.
ondulante
perturbante
num néon hesitante
talvez te visse num instante
numa qualquer avenida ...
86ago

optimismo













o meu único optimismo resume - se apenas na esperança de um futuro,que por já o ter sido, não passa de uma palavra. Sim, tenho um projecto de vida : ser louco, mas à minha maneira. Afinal, aquela que vocês teimam em não aceitar.


















P.


adeus amor
já não posso sofrer por ti
só tive aquele tempo
não me deste o momento
para aquilo que te prometi.
do resto fica o desejo
o adiado beijo
a ideia em flor
e a triste intenção
que o medo matou.
ai meu amor
o que eu faria por ti
se me tivesses dado o tempo
ou apenas o momento
para o sonho que não vivi.
ai meu amor
o que eu não fiz por ti
mas não tive o momento
nem sequer o tempo
na vida que morri.

eu sei
que não me deste o momento
ficará o lamento :
tu sabes que não te menti.








jun2010



Para não dizerem que não falei das flores



inútil desenhar sonhos, pintar sorrisos e evitar olhares.
Lembro-me de tudo o que quero e logo desejo que a memória não fosse senão uma vaga ideia. Olho-me e revejo tempo passado em obrigações plásticas que preenchem o vazio que sou. Não sei remar nesta maré e odeio a teimosia com que o meu barco me leva sempre ao mesmo ancoradouro. Derroto-me com sabores de vitórias e abusivamente optimista espero. Aguardo dias diferentes emoldurados com flashes de recordações. Ausento-me. Despeço-me sem partir, chego sem nunca estar presente. Jogo o mesmo jogo num projecto de vida que não passa dum casino (e aviso que o meu cú não é uma slot machine). sou violado observado controlado analisado etiquetado limitado.

lentamente
como se o vento fosse meu amigo, escondo-me em sorrisos de circunstância.
Caminho ao acaso no meio de gente ausente.
Solitário, na paz do jardim das árvores brancas decoro epitáfios e sorrio solidários ás flores de plástico.
Pele & ossos !
Uma mão cheia de tudo a outra cheia de nada : esta imagem não me é estranha.
Tú, tú que sabes tudo da solidão do mar
tú que sabes tudo da tristeza e dos seus sabores,
... ajuda-me a encontrar o caminho das flores.
Fecho este lugar sem portas, abraço o cheiro das suas ausências beijo memórias e guardo guardo secretamente lágrimas de

raiva.
Perdido nestes passos sem volta,
adio a viagem desejada. Atento á traição das palavras, alheio-me frequentemente do seu significado. Finjo que ouço mas não esqueço.
Então, acontecem as memórias que se
estendem pelo mar da desilusão.

o oceano não chega para me afogar !

Respiro naturalmente o
meu próprio nojo. Sorrio
risos cúmplices e
cansados com hálito de
tabaco e álcool. Hesito
sem convicção e não
resisto. Agarro a
vontade, pego na caneta
e ritmo palavras ao som
do flamengo proveniente
to teclado.



COMO SE FOSSE POETA ...










95.AGO.08



Para o Zé de Várzea


temos o tempo
vivemos o momento
sem saber a medida
deitamo-nos com as horas
e descansamos o relógio do nosso pulso.
gastamos o desejo
no instante que conseguimos.
nós gostamos
rimos e choramos
cantamos todos os medos
estivemos
olhamos
sentimos
consentimos o abuso:
não temos culpa
que a morte nos dê uso.
a partida é sempre
a viagem que nos espera!
os epitáfios deveriam respeitar
a nossa opinião.
a nossa memória
não será nunca uma conveniência alheia.
quero que a morte
me apanhe desprevenido
e que as minhas cinzas
desenhem no ar
uma única palavra :
amigo.








Maio27.2010

De preferência para ser lido no WC



fui apalpada no metro
um pombo cagou-me em cima
ia sendo atropelado por um autocarro
levei 82 encontrões
20 vezes me perguntaram as horas
engoli o fumo do costume
vi um cardume de camisas de vénus boiando no tejo

comi no mesmo sítio
caguei no mesmo lugar
os sapatos levaram-me ao mesmo cansaço
onde me transformo em mais um palhaço

ouvi as mesmas estúpidas piadas do chefe
a sua preocupação pelo meu bem estar
e,
eu,
com vontade
com a habitual vontade
de o mandar cagar.












parábola do bom trabalhador




perco
gasto o ano
á espera do aumento
tal como um jumento
e
sorrio para o patrão.
sou organizado
disciplinado
obediente
e consciente
da minha obrigação.
cumpridor
trabalhador
para eles merecedor
do prémio da produção.

só que :
como um jumento
usado
e abusado
tal e qual
um instrumento
perco
gasto o ano
à espera do aumento.










Paranóia à quinta feira


hoje é quinta feira
não sei porquê mas adoro as quintas feiras
há menos pessoas na rua
vejo menos óculos e menos olhos
que me dizem sempre o mesmo : nada
( talvez esteja aí a maior prova de que
realmente existe deus ... )
quando era miúdo, ao falarem -me de deus
contaram que ele queria que todos nós
fossemos iguais. ( penso que era comunista )
observo as pessoas
quando não posso beber um gole de whisky
ou fumar ou pensar ou falar com um rafeiro
ou ler a página da necrologia do
diário de notícias
( quando morrer gostava que também
me incluíssem nessa página )

hoje
talvez seja 5ª feira ... não !
não gosto desta quinta feira porque chove.
se quiser andar tenho de atravessar uma
floresta de guarda-chuvas-também não
gosto deles : são todos iguais !
atenção !
pela primeira vez penso em
transformar - me em guarda chuva ( apaixona - me
a ideia de qualquer pessoa poder
transportar - me ).
anuncio :

jovem de boa posição social.
elemento mal integrado.
solteiro e educado.
procura cientista culto que o
transforme em guarda chuva.
resposta com curriculum.
guarda - se sigilo.
merda ! hoje é quinta feira e os
cientistas não trabalham.
apetece - me fumar !
vou pedir boleia
apetece - me o poema, vou ler :
agarro na lista telefónica.
porra ! tem mau aspecto ...
estou no pigalle.
fazem - me imensa confusão os nomes
das garrafas expostas nas
prateleiras.
mas hoje é quinta feira
é dia santo e talvez mesmo eu
acredite em santos.( quando morrer
gostava de ser santo )
olho para a rua.mais uma vez o sol. (digo
isto porque as pessoas adoram o sol
pr`a se bronzearem ).
hoje é quinta feira e as pessoas
não mudaram de fato. fumam mais
pensam mais lêem mais olham mais
e estão mais nervosas.
hoje é quinta feira e o frasco da
mostarda continua amarelo. gostava de
ser mostarda ou empregado de café para
meter um pingo de cancro em tudo
aquilo que me pedissem.
hoje é quinta feira : dia mau muito mau
para o marketing : para ganhar a vida :
para a pesca : dia optimamente bom
para fumar.
hoje é quinta feira e vou à praia.
nb:
pela primeira vez penso em ser
rímel ou base : agrada - me a
ideia de contribuir para a
máscara colectiva.
as pessoas falam alto - cada vez mais
alto - ainda mais alto ...
e isso irrita - me.
hoje é quinta feira e são 14 horas e
10 minutos.
o sol ainda não apareceu ! ( ontem
deitou - se mais tarde : esteve a ouvir
bach com um amigo ).
hoje é quinta - quinta - feira ( 5ª feira )
bom dia tás bom ?
olá tás porreiro ?
o que estás a fazer ?
paga - me uma bica
queres ir ao cinema ?
empresta - me uma moeda pró telefonema
o que estás a ler ?
adeus miranda.
hoje é
q - u - i - n - t - a - - f - e - i - r - a ...
confirmo !!!
as perguntas os olhares
as respostas os sorrisos

- NÃO MUDARAM !


74abr11


















parece



Até parece que a felicidade existe.
Climatizar a conversa francamente não me apetece. Percorro - me gulosamente à procura do alibi habitual: E zango - me por ter esquecido o lugar onde o escondi. Então ligo - me a chave da ignição e ignoro qualquer tentativa de desarme da parte do costumeiro adversário, e viajo anonimamente através dos corredores sorridentes dos sorrisos plastificados das pessoas. Por vezes mergulho no aquário da solidão e falo com o peixe atrevido que ainda não se fartou de cuspir nas minhas botas. Ou então penteio a monotonia com o risco ao contrário. Ou então visto o smoking corajoso e logo me tratam de maneira diferente.
Já é difícil fazer entender às pessoas que não estou interessado na última moda no penteado no sorteio do totoloto do azar do número ao lado. Então olho - as enjoado fico até mais que gago e falo - lhes de uma maneira assim como quase estóica acerca da repressão sexual nos aviários, da função do orgasmo das cápsulas nas garrafas de leite vigor. Ou então consolo a angústia alheia com confortos de ausência, seguidos de dissecações sobre o direito à preguiça. E espalho o meu sorriso optimista em forma de spray, e ao qual é proibido resistir.
Até parece que a felicidade existe !

se não parece, parece.

18.
8.
1986. 5
_____ ___
2012 5

( está certo !)






pássaro ferido

Lá longe
para além do mar
existe o lugar
onde eu morrerei
cansado
de procurar encontrar
o sonho ousado
que na minha ousadia
sonhei

Longe
onde a vida
não passa dum
velho armário
que eu só abro
para arejar
a coragem

Ando à procura
dum barco
não importa se
fantasma
que me leve
p`rá outra margem
Quando
o apelo da luta
faz - nos lembrar
uma palavra chamada
coragem
a minha cabeça
flutua
numa tempestade
de dúvidas
e eu fecho os olhos
na esperança
de que a revolta
se esqueça de mim
Hoje por hoje
nada me serve de troca
nem quero o meu corpo
enrolado
numa bandeira
Situo - me
em longínquos
delírios
e
afinal o meu circo
não deixa de ter
os mesmos palhaços
Por vezes
acho - me um acrobata
do non sense
e não exijo
qualquer silêncio
para os voos
que pareço realizar :
a rede está lá
embora eu caia
sempre para o mesmo lado
Hoje por hoje
a situação mantem- se
e nem o habitual
anticiclone
me faz desconfiar
da arrogância
com que às vezes
ainda penso
( a humildade não foi a minha
companheira ideal )


Acabarei por adormecer bastante depois do sonho pretendido e sorrirei habitualmente à hora habitual
do modo habitual na circunstância habitual. Hoje por hoje
tudo é como é : abracei a mesma angústia
continuei o mesmo pássaro ferido.

set.86.





perdida





amar - te
ternamente
e a minha flor
entalada na tua liga.



e

a

minha língua
a percorrer o teu corpo

meu amor

até ficar perdida .


















perfume




via-te
caminhando
pelos meus passeios
e pensava que existias
hoje
embora cruzemos o mesmo olhar
e
os passos sejam os mesmos
com que iludimos esta ilusão
por favor
não fiques admirada
se os meus olhos
tiverem o perfume
próprio de só agora saber
que tu fingias









86







PETIT JOURNAL_PARIS




st. james infirmary
escorria pelos copos de cerveja
temperando o suor da banda
armstrong piscava-me o olho
e eu de pé em cima da mesa
mostrava orgulhoso
a minha camisa de veludo vermelha
comprada no marché aux puces.
como era bonita a minha bandeira !
o jazz só acaba
com o acontecer da manhã
e depois, cansado
vai dormir com o sol.
parker o pássaro
voa em todas as caves
e miles chora abraçado á sua trompete.
não são necessárias palavras
para se ouvirem os grandes poemas
e lá fora piaff
continua a prender-me nos seus braços
e brel escreveu nuvens no céu
onde se podia ler
ne me quitte pas.
vou dar todos os meus beijos
a quem encontrar no bois de bologne
numa valsa com todos os compassos.
e eu sei que a solidão
ás vezes não existe







2006dez28




O
Poema

do

amor
nosso grande amor ainda não aconteceu .
talvez não fôssemos audazes o suficiente para abraçar o quase limite que ali estava tão perto.
quando se bate á porta pergunta-se quem é,
não quem foi”.
quem nos poderá esconder as lágrimas que inundam as rugas dos nossos sorrisos?
algum dia isso terá de acontecer. sugiro que o façam durante o sonho que irá acabar por me adormecer. As usual procurarei não estar atento, basta-me a dívida da minha certeza e o suficiente nunca foi a minha ambição preferida.
Insinuo o desejo, imagino o real e definitivamente sou o que sou não importam as vírgulas com que tentam inventar aquilo que de certeza não pretendo.
Meu deus ! Meu deus! :
como é infinito o amor que não sinto por ti.
Alípio swinga
o sax grita
a viagem está á minha espera. chegaram os profetas que me acompanharão na auto estrada deste apetecido inferno. Desta vez partirei com o arco íris completo e o pôr do sol terá a palete dos vagabundos celestiais.
Meu deus ! Meu deus!
: como é infinito o amor que não sinto por ti.
Ainda bem que não me conheces-te. é óbvio que não me mereces.

2006mai30


































poema para che guevara


ter - se - ia rubens
esquecido de pintar
todos os pássaros de vermelho ?

oh !
talvez hoje
não existissem
gaiolas.











2004fev20













poema para harpo marx




Harpo morreu !
Olhem para as lágrimas
Rolando pelo chão !

Dizem que é chuva caindo .


Não!
O
Céu
Está
Chorando .













poema realista de amor




dá - me :
uma veia
uma lágrima
uma lâmina
a mão
um sorriso
um olhar
uma flor
amor


e :
quando acordares
lembra - te que ainda
não nascemos.



















porque choram o amor




quem poderá dizer
porque choram o amor ?
eu não consigo compreender
eu contei-lhe todas as mentiras
dediquei-lhe todas as carícias
ás vezes com beijos obrigatoriamente fingidos
no som dos gemidos
: sonhei
alegre e triste fiquei
mas eu contei-lhe todas as mentiras
não apenas as suficientes
sorri risos ausentes
mesmo o seu ego com o esperma inundei
dividi o meu coração em tiras
mas ninguém nelas pegou
mas eu contei-lhe todas as mentiras
não apenas as verdadeiras
amei-o de todas as maneiras
mesmo com palavras traiçoeiras
mas ele a mim nunca amou
porque choram o amor ?
eu permiti-lhe toda a ficção
todas as ausências
e abusivamente chorei os sons do seu silêncio
os sonos espancados
caçando os meus sonhos
perseguindo os meus medos
confiei-lhe todos os segredos
provei mesmo o sabor da sua dor.
porque choram o amor ?



2006jul31

porque esperas ?









porque esperas ?
não deixes que a vontade
te escape
agarra essa força
toda
toda numa mão
é teu este combate
é teu este dever
de dizer não
para que a palavra mais bela
não seja saudade
não seja ilusão :
liberdade












21.5.86



Porque hoje é? natal



porque hoje colhi
todas as lágrimas do céu
e o vento finalmente levou
todas as promessas mentirosas
olho só os que os outros olhos querem ver
porque hoje continuam todas as ausências
e já ninguém ouve os gritos mudos
porque hoje continuam todos os desesperos
e alguém sem saber
vai a caminho do cemitério
perante a indignação fingida
de quem ainda não foi convidado
porque hoje continuam todas as indiferenças
todas as fomes
todas as guerras
e alguém como sempre
mentirosamente preocupado
lê homilias cínicas
tentando lembrar o rei dos palhaços
porque hoje alguém continua sozinho
apesar de toda a boa vontade
porque hoje continuam todas as impotências
e não há bomba que acabe com elas
porque hoje pintaram-se
todas as memórias
embrulharam-se
todos os manicómios
porque hoje iluminaram-se
todas as angústias
confundindo-as com as luzes da cidade
porque hoje é um dia chamado natal
porque hoje não se preenchem formulários
para o desemprego
porque o filho da pauta continua igual
a minha autópsia pode esperar
e a brigada de trânsito
dizem controla o perigo
porque hoje dei um cigarro a um sem abrigo
porque hoje também não vou dormir descansado
porque hoje alguém ainda vive com medo
porque hoje há o natal do hospital
mesmo com taxa moderadora
nota-se mais o sorriso da doutora
e a compreensão da assistente social
e a menina do guichet
dizem que lavou os dentes no bidé
está muito solícita
e a cretina das informações
com muito boa vontade
mas como sempre nada explícita
porque hoje
também não consigo enganar o meu sorriso























2006dez17









Posologia

Leia com atenção antes de me tomar.
Não se esqueça que eu fui receitado apenas para si.
Não me dê a mais ninguém.

COMPANHIA RESPONSÁVEL PELA COLOCAÇÃO NO MERCADO :

FABRICANTE : ®
COMPOSIÇÃO :

PORQUE É QUE FUI RECEITADO ?
Especialmente indicado
COMO ACTUO ?
Descubra você mesmo
O QUE DEVE SABER ANTES DE ME TOMAR :
Escolha a canção apetecida; a posição não importa
EFEITOS SECUNDÁRIOS :
Nenhuns ou aqueles julgados convenientes
COMO TOMAR :
Sempre que apetecer, de preferência acompanhado com beijos , sonhos e paixão
O QUE FAZER EM CASO DE DOSE EXCESSIVA :
Repetir
O QUE FAZER EM CASO DE ESQUECIMENTO :
Aumentar o stock
DURANTE QUANTO TEMPO TOMAR ?
Rasgar o calendário
CONTRA INDICAÇÕES :
não aconselhável a pessoas banais ou imbuídas de comportamentos normalizados
OUTRAS INFORMAÇÕES :
si ti apanho com outro ti mato, ti mando algumas flores e dipois mi escapo “.





maio2006










1ª MORTE


E ….
Maldizes a sorte

Passando ao lado da vida

Hoje
É
a primeira morte

Do
resto desta fadiga.






4.março.86

















promessa









lembrar
o quê ?

Sorrisos fictícios
de amor
feito á pressa
carícias medrosas
feitas de mentiras
mentidas num amor
que não passou
de promessa .













27.5.86




promessas




promessas
tudo o que prometes
não passam de mentiras obscenas que tentam enganar
as boas intenções da minha alma
. hoje dizes
que não me voltarás a magoar
que tudo
jamais será como dantes
e
passados breves instantes
eu tenho a prova
demasiado irrefutável
de que a mentira continua a mesma
valerá
mesmo a pena tentar?
esperar
que esse delírio constante
que faz de ti palhaço
e de mim figurante
se esconda
nas palavras mentirosas
com que mentes
aos meus desejos ?


21.5.86



prostitutas empregadas de escritório senhoras finas e de moral


ai estas prostitutas
senhoras finas
e de moral
olham -me felinas
com ar parvo natural
se não lhes digo bom dia
mesmo que esteja de azia
logo levam a mal
ai estas senhoras finas
empregadas de escritório
com bocas de pia
inteligência de supositório
com ares jactantes
com vinte - um ou mais amantes
ostentando casacos de peles
comprados com dinheiro reles
fruto das suas vendas
ai estas conversas
destas senhoras finas
e cheias de moral
ai os abortos clandestinos
os enredos das telenovelas
a crise dos intestinos
a inflamação dos ovários
o cumprimento dos horários
as montras do centro comercial
o atraso do período
o stress e o expediente
o incómodo do penso higiénico
a pedra do dente
o vestido da colega
a marca do perfume
o sorriso com sabor a ciúme


ai o penteado para o fim de semana
ai este olhar de indiferença

o quarto da pensão
o amante à espera
se chegar a casa cansada
e sem disposição
o marido não notará a diferença :
já está habituado.
e o telefonema
para combinar o esquema
Ai a respeitabilidade
a família a posição
este ar de ingenuidade
a vagina ganha pão
o rosto pintado
a idade para ocultar
uma certa liberdade
na conveniência do falar
a ida ao cinema
a bebida no bar
mais uma semana :
sempre o mesmo para contar.

Ai quem me dera ser pássaro
para nas vossas cabeças cagar..




nov.21.80.














púbis









por muito tempo
que viva
jamais
poderei
esquecer aquela imagem !


...

não sei
se eram cuecas pretas

ou tal

seria a cor da sua púbis ?










5.3.86





quant ... ?






Quanto me faltará resistir a esta vontade de cuspir toda a raiva duma só vez e este nojo sintético de feitio amorfo e este tédio difícil de fornicar malgrado o meu empenho em continuar a sonhar.Ignorar até quando? O conhecimento das coisas? E os nomes? Sim a merda dos nomes que nos colam,tornam banal qualquer tentativa do direito à diferença.Dou corda a um relógio e atraso a memória? E a memória que não me deixa que me come e tortura que me prende e me serve de desculpa para a minha impotência manifestada embora com alquimias de sorrisos surrealistas.E o que me interessa a vossa realidade se não sou eu que a construo? Recordações de conveniência registadas no meu vídeo climatizado. Balanço a cabeça e as ideias saltam-me para as mãos mas eu não tenho tempo para tudo e mesmo deus ignora o meu problema. Xutos e pontapés ar condicionado que condensa num só novelo de poeira,uma a uma,todas as tentativas de fuga. Autoembrulho-me num saco de plástico,autocoloco-me na prateleira do supermercado e mesmo com etiqueta cor de rosa,ninguém acredita em mim. Vias lácteas gelatinosas percorrem esta crucificação quotidiana adoçada com o perfume desodorizantíaco do manequim publicitário que não pára de olhar para o meu pénis pele e osso. EU ? Não acho absolutamente qualquer piada que as pessoas mordam os meus calcanhares. Os tomates enlatados do executivo nas vaginas paranóicas das menstruadas secretárias. Circulo levianamente pelos olhares atrevidos das putas e travestis da avenida, embora não saibam que eu sou um espião do amor. Quente ou frio,serve-se de preferência em bandejas temperadas de afrodisíacos.

NÉON ! NÉON !Os profetas andam pelos passeios vestidos de néon e embora possuam estômagos digitais não são afectados com as dolorosas digestões dos manjares de glória.

GLÓRIA ! Aluga-se ! À hora ao dia mas nunca para toda a vida. SIM,porque a glória não é uma prostituta qualquer !!!!.
Anjos da malvadez fazendo amor em ancoradouros distraídos, que pacientemente tornam públicas as suas apaixonadas e apixonadas, chegando mesmo a mostrar cenas eventualmente chocantes de bailados sexuais com as habituais e famosas bailarinas afro -CU banas. Ritmos alucinantes ejaculações
precoces idílios amorosos confirmados em promessas de bacanais intemporais.
AVÉ VIDA,os que vão morrer saúdam-te. Os que ficam ainda se vão arrepender.


























quem sou eu ?







original não é a pergunta
conveniente não é a ocasião
às vezes dizem-me filho da puta
mas não tenho culpa
de não ter actualizado
o manual de instruções
e seguramente determinei
o fim do colóquio
sobre as minhas qualidades
geralmente sou aquele
que tu perguntas quem é
quando falo as palavras que te cansam
(é apenas um pormenor
que não vou emendar)
não dou conselho
ofereço sugestão
já nada quero mudar
sou um fora de moda
na merda da modernidade
aquele que quer
o que não quer
mar em constante tempestade
bonança alcançada no desejo duma mulher.
ninguém me pode ajudar.
Malmequero
Bemmequer ?



2006jul05









quero






Quero que um dia as estátuas
se curvem ao meu passar
e digam
aqui vai um poeta
e não lamentem
a minha coragem de correr
ao encontro da aventura
quero que um dia
celebrem numa grande festa
a ousadia
a ternura
da minha loucura
quero ainda que não limitem
esta mágoa que me é querida
de viver a vida num momento
e só depois o tempo
que gasta a vida.

















quietude








e
é nesta quietude
que amiúde
me seduz

que apago
a tua imagem

para te amar
na contra - luz .















Refeição nua


de nada valeram as boas intenções
as palavras daquelas tardes
envoltas em sorrisos de coragem
o nosso encontro
foi uma refeição nua
hoje percorro a memória desse tempo
e rio para mim
anormalidades anónimas
desprezos sem endereço
e caminho nas ruas do acaso
sentindo o cair das pedras dos seus muros
toda a gente se magoa
construindo assim toda a crueldade do mundo
leve corre a espuma da tristeza
nela navegando o que resta da desolação
paixão violenta
amor sem nenhuma certeza
lágrimas limpas a seco
flor dum louco agosto
apodrecida na minha mão
tudo acaba
nem sempre no tempo apetecido
quase nunca na forma adequada
flores sujas na minha sepultura
o resto do menu inacabado
duma refeição nua
paraíso artificial
criado até á exaustão
no entanto todas as intenções eram pacíficas
e nenhuma esperança possível
e os beijos trocados
tinham sempre o adeus nos olhos
e as palavras faladas a conveniência da mentira
por isso o caminho das pedras
foi um convite sempre recusado.
longe foi o mais perto
que conseguimos estar.

outubro20.2006
requiem por pablo neruda




os
olhos do poeta
são
vulcões que eruptem
a
cada golpe de machado
sentido
nas palavras
as palavras são setas
e
o seu significado
a
sua direcção
a
sua força
nem
pedras
nem
ventos
podem impedir.
a voz do poeta
nem
a morte a calará.
porque o mundo
é a pátria do poeta.












Requiem por todos os poetas descalços



nada
para além
dum bolso
repleto de sonhos
duma prática
quotidiana
abusivamente
condicionada
a um certo
ritmo de consumo
de posições
motivadas
pelo próprio sistema
ou
uma traição consciente
mas sempre
traição a mim mesmo.
não !
não quero ser
dos que ficaram pelo caminho.

o poema ...
o poema é a pena
de eu não ter pena
de escrever o poema.
mas ...
não te chateies :
eu
sou
o único poeta
que
pode mijar
na tua algibeira.




RIDERS ON THE STORM





Toda a gente devia saber que apenas precisas dum amigo.
Bom dia sussurras gentilmente ao meu ouvido mas não te posso prometer que estou de volta. Devo esperar a demora que o tempo leva a fazer todos estes erros.
O que digo ou faço não importa .
Não é ainda a hora de derramar o choro destas lágrimas instantâneas.
Dizes-me isto e aquilo mas nunca o que eu quero ouvir.
Serás mais um dos anjos perdidos ?
Ás vezes poderei ser aquele que bate à tua porta.
Mas não me dês chave nenhuma : eu quero mais, sem ousar transformar a tua vida num inferno igual ao desassossego que me é realidade.
Preciso de alguém que não necessite de mim.
Outras vezes sou uma serpente à procura da pele esquecida.

Boa noite, JIM .
Agora vou abraçar todos os cavaleiros da tempestade.





2006jun01
saudade







bebo
deste copo com` ágoa
enquanto o gosto se dissolve lentamente
neste carrossel d `angústia.

já posso dizer
que não me é estranho
o sabor da tua ausência
e escreverei nos muros desta cidade,
embora com traços de amargura
o teu nome :

saudade.







85.













Se hoje …




e
se hoje
estou triste
a culpa não é só minha
é porque te vi
abraçando a lua
enquanto os meus braços
soluçavam
a urgência
dos teus abraços





1986



se os teus olhos te vendessem

eras tão bonita
e já te não quero
it`s all over now
i`m in the blue
you must know, my rainbow
is not for you
eras tão bonita
e já te não quero
procurarei ser digno
embora saiba que esses delírios
te perderão num caminho sem volta
não és a maré que o meu oceano abraça
nem a paixão que poderá remar o meu barco
não há culpas nem desculpas
já nada existe para além disso
não sou rio onde possas navegar
nem tu a bela barca que me surpreendia o acordar
fomos um fracasso total
o que te dei
o que me deste
não passou de uma mentira banal
mentiras hesitações contradições insinuações
déja vu não assumido
ninguém pega em ti ao colo
embora te ofereças como um produto num supermercado
hoje sinto-me doente
mas há alguém que verdadeiramente o está
a necessidade não explica tudo
e a solidão merece mais respeito.
se os teus olhos te vendessem
eras tão bonita
e já te não quero
como poderei ser teu amigo ?
sozinho é sempre diferente de solitário.
estupidez é a asneira repetida (lembras-te ?)
escutamos as mesmas músicas
mas não ouvimos as mesmas canções

dark clouds rollin`
i`m in trouble with myself ...
(eu já sabia)
se os teus olhos te vendessem
eras tão bonita
e já te não quero
it`s all over now
baby i`m in the blue
you must know, my rainbow
is not for you
eras tão bonita
e já te não quero
definitivamente nem o meu yô-yô já sou
assim como a amplitude das palavras nunca me assustou.
jogo sempre o jogo que me propõem
sempre até á última veia
corto-me quando é preciso
vou até ao fim
do fim possível
não tenho pena de mim
olho-me
revejo-me
acalmo-me
e só vomito o estritamente necessário
não sou vencido nem vencedor
não me divido quando estou
quero tudo e o tudo eu dou
sem troca
sem contrato
com paixão
com loucura até ao fim
até ao fim
desta vez não conseguimos ir
embora eu saiba que nunca é fácil
desta vez ficou a tentativa inútil
dum sonho mal acordado
poemas clandestinos
traduzindo o meu optimismo descarado
palavras de circunstância
desta vez o amor passou ao lado
e derramamos esperma
para celebrar a sua ausência
it`s all over now
i`m in the blue
não te preocupes :
este arco-iris é só meu
eras tão bonita
e já não me gustas baby
embora penses o contrário
eu não sou um estruturado
não gosto de guerras perdidas
de intenções mal paridas
do esquema planificado
nem da estratégia da segurança social
gosto dos olhos nos olhos
das palavras fodidas
que te cansam e dizes fazem-te mal
agarro o desafio sempre de forma consciente
aceito o problema porque procuro a solução
o que assumo depende sempre de mim
envolvo-me até á medula
mas não ponho o pescoço no cepo
sou ainda mais difícil assim
não vou tirar nada
daquilo que dizes te dei
guardo sempre as memórias
não revejo fotografias
não colecciono recordações

NÃO CELEBRO OS SOBREVIVENTES DO SEU PRÓPRIO FALHANÇO

se os teus olhos te vendessem
eras tão bonita
e já te não quero
dark clouds rollin`
i`m in trouble no more
you know you can`t find me baby
please knock on another door

já não me gustas baby
2006ago

SEDUÇÃO


abraças os medos do costume
o sorriso de uma veia
todos os teus pesadelos
são a realidade que afastas
qualquer dor é o teu sentido
e mostra-te o caminho que não sabes percorrer.
todos os dias
deviam ser de sedução
todas as noites têm de ter amante
e a intenção do amor uma prioridade constante
às vezes sentes-te confortável
talvez sejas uma lágrima
que escorre dos olhos do deus por ti inventado
todos os momentos deviam ser inevitáveis
todos os beijos oferecidos
e o prazer que sempre recusas, fatal.
todas as teorias são banalidades
todo o desejo devia ser legalizado
todo o convite não recusado
todo o comportamento não normalizado
todos os destinos não comprometidos.









jun2010









sémen





Acaricias a viola
como se de uma mulher se tratasse
e ejaculas melodias
que humedecem as fronteiras
deste desejo
escrito nas pautas
com semifusas de êxtase.

e beijas a música sofregamente
abraçando escalas de prazer
enquanto libidinosamente
as cordas enlaçam o teu sexo
até este se tornar ternura.

neste compasso
a sinfonia inundará o teu corpo
transformando em perfume
o nosso sémen.




















sentir




sentir
as tuas mãos
no meu corpo

e eu perder - me nos teus beijos
até que os lençóis
digam de cor
um a um
o nome
dos nossos desejos .























separar







SEPARAR - ME DE TI

TODAS AS MANHÃS
AINDA É A MINHA DOR
MEU AMOR

e EMBORA
CHEIO DE REVOLTA
PONHO A MÁSCARA DA ROTINA
e NESTA VIAGEM USUAL
PEÇO SEMPRE BILHETE D`IDA e VOLTA .








4.3.86














SER-SE












O
SER
É
SER-SE
DIFERENTE.





















she´s gonne




chorei as mais tristes
despedidas dos dias
quando o sol sabia
que não me podia abandonar.
porque o amor não é alegre
e a paixão tem sempre marcada
o tempo da partida
e eu não quero perder-te
na ânsia de te libertar
escrevo com as palavras possíveis
a alegria até então vivida.
hoje vou sonhar com o teu sabor
hoje vou beijar
a ausência acontecida.
She`s gonne
yeah my baby she`s gonne.

amanhã
amanhã o rio continuará
a chorar
entre as margens que o apertam.








2006jul10




sinal




estarei
atento
a um qualquer sinal
da tua PARTE
para escrever
no teu peito
palavras de veludo
pintadas com as cores
da volúpia do teu olhar.
o teu sorriso
servirá de moldura
a um quadro ainda incompleto
que fiz com a palavra :
amar-te













26.5.86






sinfonia






olho - te
quieto
e vejo - te cavalgar
sonhos
que sei não são meus
e apareces
para colorir
os meus fins de tarde
feitos sinfonias incompletas .

serenamente
o meu rio
vai - se enchendo com o teu sorriso
e as palavras que tu falas
são os barcos que nele navegam .

então eu deixo
de ser o marinheiro do desassossego
e o teu corpo
é o porto
onde começamos
a viagem .













SINFONIA DA DESILUSÃO





sou filho da guerra do ódio
da miséria e do pecado
que não fiz.
minha irmã é a noite
que nunca mais termina
é a dor inventada
e a boca asquerosa
que não pensa nem sabe o que diz.
minha vida são as grades
que eu como os covardes
não consigo quebrar
meus barcos são tenazes
que apertam os meus desejos
e destroiem a minha ânsia de amar.
os meus olhos são a alegria simulada
de uma ambição frustrada
que eu teimo ainda em pensar
meus beijos são despejos
manias fumos exibição
o meu pensamento é tempo é o vento
é a vida que eu ainda não vivi.
oh !!!
eu sou homem objecto
sou produto para consumir
sou futuro sem presente
sou a negação do existir.








solidão

O que se sabe da solidão o que é que nos acompanha na tristeza, o vazio acontece quando o mar enche e nem sempre sabemos flutuar.. Estendo - me ao comprido nas posições possíveis das marés preguiçosas da memória e as ondas que me atingem têm todas o sabor salgado de uma outra história. Ergo - me, não tão depressa como me impele o desejo, em busca de apetites não sei se sonhados. Resta - me a possibilidade sempre a impossibilidade do sonho de pensar que sonho o sono que me derrota.

Que guerreiro sou eu ?
Hesito sempre na procura da arma mais eficaz.

Gasto - me em batalhas imaginárias em tácticas de perspectivas invertidas com assaltos de estratégias globais ; guerreiro comodamente instalado em sofás e tento compreender ( porque não para minha conveniência ? ), atentados que vitimam burgueses tão burgueses como eu.

Ao que me leva a ilusão .

Marco passo
marco tempo
construo ficções
sempre ao ritmo dum relógio ao qual nunca me esqueço de mudar a pilha. Acordo, penso que o contrário seria a maior maravilha.

( Solitário !
no jardim das árvores sagradas em cujos ramos repousam os pássaros que me contam histórias de encantar.

Como gostaria de encontrar os bosques distantes das florestas com sorrisos celestiais. )

O que nos acompanha na solidão o que sabemos da tristeza é que o vazio é o mesmo . a traição das marés. E sobretudo nem sempre damos à costa da mesma maneira, estende-mo - nos ao contrário mesmo com posições impossíveis nas vagas enganadoras do passado.
E os escombros que nunca passam ao lado, não têm mais o sabor, o sabor sempre apetecido da aventura.

Caio.
Lentamente
Assim me ordena a vontade
Farto de sorrir à futilidade resta - me o acordar tentar viver acordado para sonhar o impossível, sempre a possibilidade de acordar de sonhar que acordo do sonho que me vence.

Que covarde sou eu ?
Nem tento sequer
A minha liberdade.









88maionum dia qualquer

















Solidão revisitada



só te resta o teclado & o monitor
e alguém estranho diz-se igual a ti
é a solidão revisitada
sem alma nem cor
é a lágrima queimada
numa vela apagada
que nunca soube os cambiantes do amor
é a mentira forjada
que tu falas na noite acordada
quando custa mais a dor
o outro lado faz-te sentir importante
logo pensas que não és a única
adias o problema
para o amanhã que julgas distante
e jogas os desejos envergonhados
fabricas outro dilema
agora a felicidade está garantida
se és loura também podes ser morena
envias a fotografia fora de prazo
e o manual de instruções para seres fodida
agora tens mais um caso
afinal tinhas razão
como é bom ser apetecida
estás a começar a ter sorte
hoje adiaste a morte
só te resta o teclado & o monitor
e alguém estranho diz-se igual a ti
é a solidão revisitada
contínua ausência de amor






outubro27.2006

sombra


Vigia a tua sombra
existe ainda um fantasma
dentro de ti
a liberdade chegará
malgrado a vontade nula
que ponho na minha sobrevivência.
É chegado o momento
de encararmos as coisas
com a frontalidade possível.
Façamos da incoerência
a nossa amada e tão necessária
coerência
e,
sobretudo
continuemos a evitar
as perguntas perturbadoras.
É urgente
a paixão ardente
o amor violento
que emane
sem margem para
quaisquer dúvidas
a nossa malvadez
o nosso gentil ódio.
Sim,
a liberdade chegará
e, embora sem sermos capazes
de compreender a sua presença,
escreveremos o seu nome nas
paredes,
soletra - lo - emos
letra a letra,
pelo que ela não deixará de
ser aquilo que sempre foi :
uma palavra agredida
pela nossa futilidade.
Perdoa - me ! perdoa - me 1000000
de vezes
pôr não ter
um filho teu.
mas tens de admitir
que a vida é dura
quando um homem
só tem
aquilo que deus
lhe deu !
( e deus não existe ! )
Vigia !
vigia a tua sombra
há sempre um fantasma
dentro de ti.
Vigia !
vigia o teu fantasma
há sempre uma sombra
dentro de ti.
Não fiques intrigado
com o teu próprio jogo :
os trunfos que podes deitar
são o espelho da tua
versatilidade
joga com a cautela
que te é usual
assim, não perdes o que podes
ganhar
( recuperas sempre o que perdes )
porque a vitória
só é possível num jogo viciado.
O que nos une,
e é necessariamente
urgente
que disso
tenhas consciência,
é o nosso fracasso
árduamente conquistado,
conseguido gota a gota
falhanço a falhanço
pela nossa imbecilidade
pela nossa cretinice.
Tomai
e bebei
do meu cálice !
e, que
o veneno seja
assaz
eficiente !
perdoai
a minha coragem
assim como eu
não admito !
não aceito !
o vosso bom comportamento
a vossa boa disciplina
a vossa boa organização.
Tomai
e bebei todos
este meu ódio
permanente
este néctar
que deliciosamente
derramo
sobre os vossos pensamentos
sobre os vossos sorrisos
que,
abusivamente
têm o gosto
amorfo do tédio !
Há um fantasma
dentro de mim
que ocupa o néon do meu corpo
há milhares de sombras sorridentes
que preenchem a minha imagem.
Vou !
vou esconder - me
esconder - me bem
pôr - me fora de vista
a policia do sexo
anda pôr aí espalhada !
( alguém lhes disse
que tinha no frigorífico
as mãos da minha namorada ! )

Como é difícil de explicar a dificuldade do amor !!!

Corações ardentes
paixões violentas
milhares de humanidades
refugiadas
no medo da solidão,

embora fecundem o desprezo
a nulidade da personalidade
e toda a tentativa individual
DO DIREITO À DIFERENÇA .
(Como é diferente
ser - se diferente . )
Tomai e bebei todos !
este é o veneno do meu corpo
para vossa glória
por mim derramado.
Dão - vos um yô - yô
e com ele brincam à felicidade.
E depois dizem -me :
assenta bem os pés no chão !
então
como poderei tirar as calças ?
( evitemos
as perguntas perturbadoras ... )
assumamos
de uma vez por todas
a conveniência da comum conveniência.
Consumamos
consumamos a necessidade de ser necessário
consumir.
Consumamos até á exaustão
a necessidade da ignorância,
dos prazeres consentidos
pela legalidade legalizada.
( amor : que jogo mais estranho ! )
Vou escrever
uma carta apaixonada
antes que aniquilem esta
vontade louca que tenho de ser feliz !
corações violentos
paixões ardentes : enterrem
a minha paixão
na curva
do rio.
Haveremos de viver !
o homo sapiens
usa perfume penetrante

bebe coca cola
e encharca o corpo
com desodorizante.
Assim,
tudo ! tudo não passa de
reclame
iluminado pelo néon
da nossa estupidez.
Amen !
Desolação !
Sou um anjo da desolação !
estou farto de lutas
Árduas conquistas e
Principalmente
do herói de celulóide
que aconselha a pasta dentífrica
que devo usar.
Resta - nos esperar
pela imortalidade da morte
porque
as pessoas diferentes
acabarão por realmente
VIVER !



84.jan





Soneto do AMOR AUSENTE







De ti me fica a lembrança
Do amor por nós não entendido
Do tempo sempre sofrido
Passado nas ausências da esperança

Nesta estranha forma de dança
Mais do que eu, triste é o meu fado
Que se perde no beijo desesperado
Escorrendo do tempo a mudança

Foi-se a hora da paixão
Gasta nos abraços clandestinos
O que nos uniu foi o fracasso

Feito no engano da ilusão
Nos abusados desatinos
Num amor tão breve e escasso









jul03/2006







soneto para um BEIJO







Volta para o meu beijo
Nunca o deixes esquecido
Onde se finge o amor apetecido
Diluindo-se o tempo num desejo

Deixo-me viver o que me resta da vida
Nas horas dum ritmo sem tempo
Na lembrança que só dura o momento
Nesta angustia sempre acontecida

E quando este beijo acabar
Beijarei outro novamente
Nesta paixão que já é saudade

Feita no engano do verbo amar
Num amor sempre diferente
Chorado na ausência da felicidade









jan3/2007


sonho





se no meio
do meu sonho

o teu nome eu grito
é porque te amo meu amor
embora me custe a dor
de acordar aflito

e só fico cansado
quando te sinto a meu lado
neste nosso amor renovado
com o qual vivo e acredito.
Como poderás pensar
que o nosso amor acabou
se ele é mais forte ainda
do que quando começou

e só a ti eu prometo
que quando este beijo acabar
dar - te - ei um outro novamente
será sempre o mesmo beijo
nunca um beijo diferente.




fev.85.




sorriso









esse sorriso
lindo
lindo até ao céu
que tu ofereces
sem nunca chegar
a ser meu
que me faz
perder o juízo
de riso
até beijar
o teu.











27.5.86








sorte





gastas o tempo
fazendo a saudade
depois dizes que é tarde
que já não tens idade
para sorrir

atas as amarras
que te prendem ao cais
só te resta a vontade
mas como sempre não vais

beijas a fadiga
como se ela fosse gente
dizes mal da vida
quando és tú quem mente

escorres a vida
lavando a canseira
a sorte é tua amiga
só não sabes qual a maneira .








.86


SUBLIME



Acendemos o vulcão
Que nos queima
Da maneira mais apetecida
Cama chama chão
Suor enrouquecido
Inventamos a manhã húmida.
Neste tempo só nosso
Nada foi banal
Não há salvamento emocional
Tentativas surreais
Expectativas desleais.
Todas as possibilidades
Foram propostas
Todo o desejo tornado real.







Maio27.2010





sultões



Caminhamos caminhos separados
que
nos fizeram fora-da-lei.

Cumprimentava-nos nos bares
bebendo anónimos cocktails de néon
enquanto um endiabrado sexofone tocava
ao acaso a nossa música preferida.

beijamo-nos

como duas lâminas gémeas
procurando ocultar
a necessidade que tínhamos um do outro.

( as gotas cheiravam ao sabor do nosso desejo )

.

Descobrimos
que o guarda chuva
que nos molhava
não era senão
um arco íris embriagado.
Desprezamos o sorriso inquestionável
das pessoas que nos olhavam
como se realmente nos vissem.


OS SULTÕES DO SWING RITMAVAM OS NOSSOS BEIJOS.






talvez…



talvez
um grito chegasse
para acabar de vez
com a angustia
deste meu eu solitário
que se dissolve
no tempo do próprio tempo.
como se o desejo de ser contrário
com o qual vivo solidário
não bastasse ...














85fev.










talvez um dia










talvez um dia consiga pôr fim a tudo inclusive à memória gasta por este tempo dorido e que faz de mim mais um trapo deste manto de merda a que chamamos humanidade .

estou húmido seco frio e rouco.

rouco de gritar com raiva o teu nome :




liberdade .














Técnica mista




Algumas vezes
Sinto-me como um arco-íris
E espalho as minhas cores no céu.
Alguns chamam-lhe técnica mista
Com colagens de angústias
Tristeza derramada sobre tela
Choro disfarçado de aguarela.
Ninguém vê o que sou :
Sorrisos acrílicos.
Ironias em pastel |










2009




telegrama


recebi
hoje
a angústia
do teu telegrama
regado
com dolorosos
filigranas
com a forma do teu nome :

ausência.



até quando meu amor
continuarão
a separar - nos ?

agora
quero um telex
com todos os códigos do
amor .

amar - te
como eu te amo
ainda me sabe a pouco.

mesmo depois de tanto
te desejar

até
ficar
louco.



TEMPO DE ANTENA

Eu sou o candidato que promete tudo mais barato
Não se vai arrepender quem em mim votar
Casas para todos escolas para todos
Telenovela ao almoço e jantar
Emprego ?
Só para quem tiver vontade de trabalhar
Eu sou o vosso candidato
Não estou aqui para enganar
Quero votos quero votos quero governar
Quero ser o vosso presidente
O vosso amigo permanente
Eu só vos quero ajudar
Vocês não podem viver sem o poder
Obedecer obedecer obedecer
Obedecer sem saber
É o vosso único dever
Eu sou o candidato
O óptimo candidato que nunca se atrapalha
Falte a carne ou falte o pão …
Comigo o povo até come palha.

Senhores telespectadores:
O programa preenchido por este espaço de tempo, é da inteira responsabilidade da associação dos inválidos que nos governam, assim como daqueles que poderão vir a causar-nos os mesmos danos.

comentário :

O GOVERNO É COMO UM PENICO :
MESMO VAZIO OCUPA ESPAÇO.






TENHO UM SEGREDO



Tenho um segredo.
Que não posso contar
Quem eu conheço
Não sabe escutar
É só um segredo
Nada mais para além disso
Não fala de medo
Não condiz com o riso
É só um segredo
Não posso contar
Talvez fale duma estrela
Que me põe a voar
É só um segredo
Que ninguém quer ouvir
Fala de alguém que está sempre a fugir.
Tenho um segredo…
Não tenho juízo.








ago.2010




totomorte


dormimos à pressa
comemos apressados
e vivemos com o ritmo
de quem só sabe ser mandado.
:temos sempre a desculpa de que a sorte
passou ao lado.

até quando meu amigo?
até quando ?
passa o tempo
passa a vida
e só ficamos com esta espera
que nos cansa
e nos castiga
e que já nos desespera.

: é a sorte que é megera …

totoloto totobola lotaria
totomorte totosorte
que jeito faria
totoulouco

muito ?

pouco ?






trabalho





não posso deixar de
pensar
neste caminho
tão conhecido e estranho
onde ainda me perco
não obstante o espento
com que me encontro
no meio de tanto nada .

hoje
resolvi fechar os olhos
e caminhar
embora soubesse
que os meus passos sempre iguais
me levariam ao mesmo lugar :
TRABALHO.


( naturalmente ) !









1986





tudo




tudo vai
bem ou mal
só mais tarde, ou não, saberemos
hoje
quero um sorriso total
quero um dia diferente
sem programas estabelecidos
sem prazos determinados
sem vontades limitadas.

hoje
quero lavar-me em ti
e perfurmar-me
com o nosso suor.





26.5.86














UMA MÃO CHEIA DE NADA





MEIA DOSE DE TUDO
UMA MÃO CHEIA DE NADA
DEPOIS … BEM …
O TÉDIO O ABSURDO
E A … DEPRESSÃO BEM AVIADA,

já gastei tanto a memória
de tanto tentar recordar
que já só quero é ser feliz
ter todo o tempo para te amar
já dormi com o desespero
forniquei mesmo a saudade
a minha esperança
é tão velha
que já não sei se tem idade
já bebi toda a loucura
até a vontade se evaporar
cara ou c`roa tanto faz
para quem atira a sorte ao ar.













Vaga no céu








vai haver uma vaga no céu !

Deus anda a portar-se mal !



















maio2006




vento vagabundo









e
quando me surgem
na memória imagens
que eu já não penso
apago-as
com riscos
de vivências amargas
deixando
o seu significado
ao sabor de qualquer vento vagabundo .
















1986


Viagem
(peyote effects)





o
que
sinto
é tão bom
que não sei dizer

o
que penso
já pensei

o que quero
não me preocupa

o
que gosto
afinal ainda existe.





1976











V I V E R ?



SÓ SE FOR



COMO DEVE SER.






















vontade




esta vontade
que arrastamos
e que desagua
na nossa teimosia
neste barco sempre à deriva
que nos transporta
sempre ao mesmo lugar
e também este desejo que flutua
neste oceano de vaga alta
em que navegamos
como passageiros clandestinos
embora as marés
continuem a orientar
os portos de escala
nesta rota sem destinos
neste cruzeiro
feito num veleiro
que nos vela a vida
e a vida é um naufrágio
e os cânticos das gaivotas
apenas o presságio
de que brevemente possuiremos o nada
sendo tudo aquilo que nos falta.
mas,
pouco a pouco
as amarras
vão cedendo ...




85fev.





Who´s gonna tell you baby





Who´s gonna tell you baby
As horas convenientes para amar
Quando poderei assassinar o teu vestido
E tu já sabes que o meu corpo
É um monstro insanamente conduzido
A dor não existe
O paraíso como sempre está ocupado
Vou beijar as gotas do teu véu.



Who´s gonna tell you baby
Who´s gonna tell you now
O sol voltou a brilhar ...









maio2006




You can allways get what you want







não foi um dia de merda

nem trabalhei como um cão

hoje fiz o que me apeteceu
:

mandei foder o patrão.











2006mai22








YÔ - YÔ



até então nada sabia acerca da angústia e lambia o tempo ruminando sorrisos de circunstância. depois percebi que o yô-yô que me ofereceram dançava sempre para o mesmo lado.

e as palavras ?
as palavras enganadoras
com que enganamos a ilusão ?


e o futuro adiado ?
a revolta
domesticada
embalada
em sprays coloridos
com que pintamos as paredes desta cidade
cada vez mais ausente ?




27.5.86

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