sentado na sua campa teso como de costume
lembro-me de muitas conversas e do modo como aceitava as minhas mudanças de humor eu sei o que vale uma flor agora que só posso falar com a sua ausência passo o tempo numa peneira plena dos seus sorrisos e de alguns planos para o futuro sou o que sou e mais que ninguém você o sabe alguma coisa a morte levou mas lembro-me perfeitamente quando se despediu de mim com um olhar apressado para a viagem sentado no frio do mármore não consigo chorar tudo o que pretendo mais que ninguém você conhece o que poderão significar as palavras que me levam até si desta vez não vou mentir a verdade é que não me tenho portado bem talvez porque saiba que já não se pode preocupar hoje vou ler-lhe um poema daqueles que por vergonha minha nunca cheguei a mostrar sentado na sua campa teso como de costume
ainda não consigo lembrar tudo o que pretendo
não sei quando me vou libertar mas já vi o arco-íris na minha janela eu sei que todos os prognósticos são reservados e as funções vitais são uma grande treta respeito a coragem mas você sabe como odeio a resignação e o tentar terá de ser sempre uma obrigação sentado na sua campa juro que não tenho vontade de abraçar o mundo este silêncio tem o som da conveniência e a minha melancolia não é obrigatoriamente triste o céu é um lugar onde nada acontece embora toda a gente acredite na sua festa sentado na sua campa só como de costume revejo imagens que me vestem e você sabe que eu sou um optimista descaradamente teimoso mãe você sabia que o cheiro dos meus cigarros era diferente e eu nunca toquei em nada que me fizesse mal á cabeça nem mesmo os cogumelos e quando eu ficava a ouvir todos aqueles blues você desligava o aspirador para escutar a música triste mãe eu continuo a ouvir essa música e dou-lhe inteira razão uma perda nunca é alegre sentado na sua campa olho o tempo do tempo soletro horas com hábitos de felicidade que já só têm o cheiro da despedida mãe continuo maluco daquela maneira que você sabe mãe continuo à espera daquele modo que você entende agora deixo-lhe os meus poemas
esperarei por si no clube dos poetas mortos
até logo
setembro12.2006
Sem comentários:
Enviar um comentário