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segunda-feira, 30 de junho de 2025

LISBOA & TUDO ISSO...


 Porque não tenho jeito para a saudade.
Nunca me cansei de calcar aquelas ruas durante mais de 20 anos.
Deixem estar o menino. Ele está a escrever os seus poemas. E eu sentado com a velha Messa ouvia contente o cuidado do meu chefe.
1. Ataque epiléptico
Espumava deitado no passeio um coro de insultos merda de bêbado
2. Custódio Cardoso Pereira
Rua do Carmo
Ponto de encontro. Músicos.
3. Au Bonheur des Dames
Elas ofereciam-me amostras de perfumes e admiravam a minha preferência pelo “”.
4. Arnaldo Ferreira o pintor da noite.
Bulia a Rua do Carmo apressando palavras num discurso freneticamente revoltado.
5. Dali o bailarino de tangos e o seu inconfundível bigode. Dançava com uma pantufa enfiada no pé direito, em frente da Discoteca Universal, as canções escolhidas pelo Zé Augusto.
6. Os gins no bar dos Armazéns do Chiado
abundantemente servidos pela Teresa e João.
7. Ritz Clube
A velha banda. A streaper Dina da Conceição conceituada bailarina afro-cubana, 60 anos ou mais. As senhoras de lenço na cabeça e óculos escuros em formato de gata, (como nos filmes italianos), e as suas histórias. O whisky sem marca.
8.Guarda Nocturno
Mijar na rua da Vitória com uma pistola apontada à cabeça
9. Salsaparrilha e whisky em copos pequenos. Não sabíamos nada acerca dos shots.
10. Comodoro & Eduardo 
Tinha um gozo especial quando ao jantar bebia o whisky de alguns directores do JBF que frequentavam assiduamente o rés-do-chão, onde as meninas como quem não quer a coisa, mostravam as cuecas.
11. Os sapatos da Hélio
Cheguei a ter 23 pares. Alguns feitos de encomenda. Tinha uma actividade profissional paralela: revendedor não oficialmente autorizado.
12. Os pastéis de bacalhau no Palmeiras
Geralmente por volta das 4 e meia da tarde. O tinto era da Labrugeira.
13. As idas aos CTT da Praça do Comércio
O regresso contemplava invariavelmente a visita ao Escondidinho da travessa do Cotovelo e uma breve passagem pelo Galego da rua do Crucifixo. Sempre na companhia do Ti Luís ou do Tio Xico.
14.Notário
Reconhecimento de assinaturas. Uma ou outras por mim imitadas. Consegui ganhar uma aposta ao meu chefe.
15. A Brasileira
Não sei porquê, mas tinha o hábito de esconder a colher do café na minha cabeleira. Mais tarde tive algum sucesso quando a oferecia em forma de pulseira às minhas amigas.
15. A _ Jornal República 
15 de Novembro de 1972 . Lembro-me perfeitamente das palavras do Dr. Raul Rego: rapaz, vais ter o primeiro desgosto como jornalista: dou-te os parabéns pelo artigo, mas isto vai ficar um quadradinho.
15. B _ Livraria Buenos Aires
Rua de Buenos Aires, 7 B (Lapa) Lisboa Anos 70. A Livraria do meu pai, Abílio de Miranda com a preciosa colaboração do meu irmão Tomás de Miranda. Foi aqui que começou esta mania. Com a sua inestimável ajuda e constante incentivo. Comprava os livros às prestações e sem quaisquer descontos. O dinheiro fazia falta lá em casa. Assim iniciei a minha viagem.
 Um obrigado muito abraçado.
16. Opinião
Sempre diferente. Passei grandes momentos ouvindo os Senhores Raúl Rego, Álvaro Guerra e Baptista Bastos. O Hipólito mostrava-me sempre aquilo que eu gostava. Livros & Lp`s.
17. Livraria Ferin
Alimentava a minha paixão pelos Índios da América do Norte, comprando às prestações, livros importados.
18.Tabacaria do Rossio
Esperava ansiosamente o final do mês para ter nas mãos a Rock&Folk. Anos e anos a manter esta satisfação.
19.Sapataria Presidente
Fiquei doido com os meus primeiros Lótus. Eram feitos à mão. O senhor João Baptista Fernandes apreciou o meu bom gosto.
20. Livraria Bertrand
Cumprimentava sempre o senhor Luís. Um velho amigo do meu pai. Depois entrava no mundo que aprendi a respeitar. 
21. Livraria Sá da Costa 
Um prazer à mão de semear.
22. Livraria Portugal
Visita obrigatória à minha amiga Isabel.
23. Livraria Lello 
Nunca consegui resistir ao seu perfume.
24. O cretino do BESCL
Rua nova do Almada. Todos os dias a caminho do emprego, este imbecil manhoso e não engraçado, divertia as colegas com as bocas que me mandava.
Nunca mudei de caminho, e um dia cara a cara com o cretino, prometi solenemente que mais tarde ou mais cedo, lhe partiria a tromba. Por mim, até podia ser naquela altura. Continuei a descer aquela rua e nunca respondi ao bom dia com que ele julgava insultar-me.
25. Banco Borges & Irmão
Praça do Município.
Era aí que ia levantar os ordenados dos colegas da minha secção.
Vi um dia o senhor Pedro Homem de Melo a vender livros. Até então só o conhecia da televisão. Não tive vergonha, falámos e comprei um, que as gorjetas acabaram por pagar.
26. O Barbeiro da rua do Arsenal
Às 4ªs Feiras pela manhã ia lá buscar o Senhor António Baptista Fernandes. Água de cheiro e raminho de alecrim na lapela. O barbeiro saudava-me cordialmente e nunca mostrou qualquer desagrado com a minha farta cabeleira. Começávamos pela loja para cumprimentar o pessoal, mas era no escritório que os olhos deste velho senhor, brilhavam de maneira marota quando demoradamente apertava as mãos das minhas colegas.
Depois, sentado no velho cadeirão de couro, acabava por adormecer.
27. Pastelaria Ferrari
Os bolos preferidos das minhas colegas grávidas.
Quando ficava contrariado, acabava de meter o “duchesse” embrulhado debaixo das axilas. Nunca nenhuma se queixou.
28. Pastelaria Central da Baixa
Lembro-me do Bolo-rei. A minha mãe era fã.
  29. Manuel Careca “Limonadas”
Cenas do Pátio das Cantigas ao vivo. E a limonada bebida nos intervalos de uma bola de Berlim, até caía bem.
30. Casa da Sorte
Eram lá que ia buscar as cautelas do senhor Joaquim Nunes Figueiredo. Diziam que era o meu padrinho e isso permitia-me um estatuto especial dentro da empresa. Ofereceu-me vinte contos como prenda de casamento. Uma vez, quando me deu boleia até à casa da minha namorada, disse-me que me ia pôr bem na vida. Passados oito dias, abraçou-me dizendo que não voltaria. Lembro-me de entregas de presentes às suas conhecidas, feitas de um modo discreto.
31. Beat Club
Boa música mas demasiados betos para o meu gosto.
32. Brown`s
Punk em Lisboa.
33. RRV - Rock Rendez Vous
Era amigo do Mário Guia, o dono. Estive na inauguração. Jamais esquecerei aquele concerto do Wilko Johnson.
34. Hot Club
Grandes Músicos para uma música que me apetecia.
35. Quarteto
Saudades do cinema a sério.
36.Cervejaria Trindade
No tempo em que as batatas fritas ainda vinham com bocados de casca. E aquele gajo que só bebia garrafas de litro da cerveja preta Sagres.
37. A tasca do Tony Morgan – Bº. Alto
Sempre que lá estive, senti um carinho especial do Tony.
Ouvia-se fado e entornávamos jarros de tinto acompanhado com caldo verde e chouriço assado.
38. Casa Batalha – R. Nova do Almada
Agradeci sempre a preciosa ajuda da senhora Noémia na selecção das pedras para os 12 colares que usava naquela altura.
39. Rua das Trinas – Estúdio do Jorge Monteiro
 Uma ou duas vezes por semana, ensaiávamos com o António Variações. Janeiro a Junho. Ano 1981.
 Anos mais tarde, um conhecido radialista classificou-nos como a pior banda de garagem que já tinha ouvido. Orgulho.


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domingo, 29 de junho de 2025

SEXO TÉTRICO

Ligaram o micro ondas para aquecer a libido.
Colocaram o cd meticulosamente escolhido
e ouviram o mantra indicado.

Desnudaram os complexos,
abraçaram a intenção,
estenderam o karma,
comtemplaram-se de frente um para o outro.

… Mas era do apartamento ao lado
que vinham sons de uma profícua actividade sexual.

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PIAF

 


Lia-me um poema ao contrário e soletrava letra a letra a teoria da ascensão cósmica no universo uno e transcendental. Continuava admirado por todas as vezes que esteve na Trocadero de Paris, ninguém parou para o medir. Falei da "metatísica" , da importância do "photomaton" da insegurança "fotodiária" e da futura rendição incondicional de todos os deuses ainda não arrependidos. Pois, mas as molduras atraiçoam muitas telas. Não consegui explicar que a intenção não era má. Nem você é bom, respondeu. Não tinha um prego. Não pude virar o bico. Lá mais adiante, um bando de cretinos impregnados de smart camera, tentava pintar o Sena. Mas, este é o rio dos poetas que chora uma música que só eles podem beijar. 
Tenho nos ouvidos um segredo que a Edith me vai cantar.
Estendi o saco cama e adormeci com a navalha na mão.




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SIMPLESMENTE...


 

A ÚLTIMA NOITE

 


Sentado numa poeirenta poltrona de cabedal 
a imitar napa, lia jornais atrasados com notícias 
da última hora. 
A melancolia cheirava a loção de barbeiro, 
a pele tingida com cor de shopping
iluminava a calma de um sol desanimado. 
Bebia aquele silêncio morto com passos ocos, 
que enchiam os corredores encharcados de lixívia. 
Sonhos mudos embalados em cartão, 
retardando a lentidão da solicitude 
de uma vontade há muito tempo escapada. 
Chovia sempre que escolhia aquele caminho, 
onde pássaros atrasados buscavam o ninho. 
Rasgava com toda a raiva poemas, e
nquanto ouvia Leadbelly cantar:
my girl, my girl, don´t lie to me”.
E dizia para si próprio: 
também não quero saber, 
onde ela passou a última noite.
O musgo dormia abençoadamente na lareira.


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E ADORMECIA …

 


Limpava alguns momentos à procura  de boas notícias na página da necrologia do jornal pousado na mesa do café e invariavelmente discutia a desilusão com o barbeiro.
Depois seguia até à paragem da camioneta que religiosamente tinha partido às sete da manhã. E esperava pelo carro do peixeiro, sempre com a esperança de um atraso que era raro acontecer.
Dava um pulo à horta para regar os tomates, e encostado ao muro habitual, contava vagarosamente as badaladas do sino da igreja, não que tivesse interesse, mas podia ser que desta vez elas não sincronizassem com o relógio que tinha comprado na loja do chinês.
Tinha saudades da cavaqueira da feira, mas agora está tudo tão fraco e longe, mais longe, do que o tempo que tem para gastar. Chegava a casa e ligava a televisão e telefonava para o número mágico que lhe prometia um prémio de não deitar fora. Quando fosse á cidade, haveria de comprar um telemóvel novo. O seu só funcionava para chamadas sem ofertas. Além disso queria fazer boa figura quando fosse à festa da aldeia. E continuava a cismar com a mania de pôr a mota em cima da mesa do snooker. Claro que gostava muito dela e aos poucos foi perdendo a saudade do ribombar das bolas. E o canito já estava velho para as apanhar.
Não ia para a cama sem visitar a adega, agora que não podia beber nem vinho nem aguardente que teimava em fazer. Talvez alguém apareça hoje e lhe dê dois dedos de conversa. Não será pedir muito. 
E adormecia ...


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sábado, 28 de junho de 2025

POEIRA

Toma o tempo que precisares          
Agarra-o como quiseres        
Rejeita a fila                       recusa a tua vez         
Falha o necessário                          Tu és o essencial       
Corta a curva           Não fiques na encruzilhada    
Voa até o chão deixar de ser teu       
Sacode a poeira

Vai!      
Mas desta vez, até ao fim.

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