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terça-feira, 31 de outubro de 2023

CUIDADO! OS DARDOS ESTÃO LANÇADOS

 


Gosto das noites que desenham convites 
atrevidos 
Gosto de rachar segredos
Gosto de passear o futuro
com os pés ausentes da cabeça.
E nos momentos em que a espera me escreve, 
Gosto de afagar a memória num saudável desalinho
Gosto de embebedar-me exaustivamente, 
Uivar Saudar a ousadia das estrelas, 
Despoletar o cinto,
Escrever (mesmo com sangue na alma) 
que o amor que engana 
nem sempre é mentiroso.
Genuinamente só, Gosto de baralhar o conflito de uma qualquer intenção fraudulenta.
Adoro esticar a corda até o nó ficar desfeito 
continuar a não desperdiçar tempo 
no baile de borboletas nocturnas. 
Gosto dos convites escritos nos decotes audaciosos.     
Gosto de sedição sem defeito.
Das estrangeiras sem depilação? Não!


Gosto da ovelha ronhosa
Nunca da mania ranhosa



,2022Out_aNTÓNIODEmIRANDA


& O FUTURO FOI PARA A PUTA QUE O PARIU

 


*Luz seca corta o céu 
em bocados de desespero*

* Fugir sem sair*

*Morrer abraçado a um grito* 

*Chorar numa cama de sombras vadias*

 *Humedecer a tristeza* 

*Acordar a espera* 

*Distrair a angústia* 

*Agarrar a fisga* 

*Rezar o último segundo* 

*Queimar o prazo da validade* 

*Regar ausências* 

*Explodir frequentemente* 

*Enraivecer* 

*Conferir*

*Suturar esperanças*

*Despoletar por aí*



,2022Jun_aNTÓNIODEmIRANDA


(SEM PROBLEMA)

 


Vamos construindo o caminho

As minas estão claramente

Identificadas


Alinhadas por ordem fonética


Ansiando pelo directo

Previamente combinado


,2022Abr_aNTÓNIODEmIRANDA


MAS...




Só abuso da minha continuidade e dos sonhos húmidos
que me confortam uma pele já ressequida.
Não sinto falta da saudade,
e muito menos da traição do seu suor,
com que queimo gemidos que já não me querem.
Percorro a lembrança de muitos beijos que cada vez
me torna mais distante.
O que é feito de nós e da teimosia que raiava o nosso
acordar?
Gelo-me em aposentos sombrios escutando o choro
angustiante das varizes que tanto me apertam.
O que é feito de mim, eu tão longe assim,
afagando parapeitos regados
com malmequeres soluçados?
Só abuso da minha gentil vontade,
para que todo o possível seja acontecido.
Para que um sol qualquer mesmo vindo de paraquedas,
não se transforme num vulgar personagem
de banda desenhada.
Falo-te agora, com a convicção mentirosa
dos poetas possíveis, escrevendo no roubo deste tempo,
a falha que nos encontrará.
Despedimo-nos sempre tristes,
como se não houvesse outras palavras
nesta caneta que arranha o nosso papel.
São coisas da vida, dizem como sempre os cautelosos.
Eu aguardo serenamente, abraçando estas memórias
e vou-me despedindo viajando naquilo que tanto gostei.
E isto dá-me a proximidade de mais dia menos tempo,
deixar de conversar com as estrelas que beijam este véu.
E poderia ser fácil um amanhã menos ínfimo!
Mas...


2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

A ÚLTIMA VEZ


Diz-me que não estou errado, 
quando consigo falar com os anjos.
Só pretendo o abandono
desta dor que mostra
a luz definitiva.
sister morphine”,
reza comigo, nesta cama,
para o breve sonho da morte.
Beija-me a febre,
com o alegre suor das lágrimas
vermelhas.
Posso agora contar-te
o meu único segredo:
em nada pretendi ser exemplar.

2019out_aNTÓNIODEmIRANDA

CORAÇÃO DESVIRGULADO

 

Senta-te no meu colo.
Agora mesmo.
Quero sentir o intervalo das tuas nádegas.
Gostar da tua beleza não fundamental.
Do sexo acidental.
Da tristeza não absorvente.
Da púbis sem detergente.
Do oral conveniente.
E de um bom esfreganço
Cozinhado ao vapor.
Gosto da procissão no adro.
Do cântico desafinado.
Do santo sem andor.
Gosto de um crucifixo filigranado.
De um padre aleijado.
Do peditório enfeitado
Com notas falsas para as obras do prior.
Gosto de ti,
Se não gostares de mim,
Quando sou assim,
Distante dos sentimentos baratos.
Gosto das velas solteironas.
Dos recheios dos sutiãs.
Das cópulas em poltronas.
Das peles com o toque 
Do coração desvirgulado.


2017,ago_aNTÓNIODEmIRANDA

SHITSEEING (Bertholt Friedrich Brecht , o senhor tinha razão)

Acabou a drogaria.
Apareceu a creperie.
Não era comigo,
não me importei.
Fechou a velha retrosaria.
É agora uma boulangerie Alsaciana.
Não era comigo,
não dei relevância.
O sapateiro desapareceu.
Instalou-se naquele lugar uma gelataria.
Não era comigo,
não me preocupei.
A taberna fechou.
É agora um bistrot com palavras esquisitas.
O alfarrabista foi assassinado
por uma loja de artesanato português,
feito num país qualquer,
que nada sabe do galo de Barcelos.
A livraria enforcou-se
com um nó de coragem ressequida.
Não era comigo,
não me incomodei.
Fui corrido da minha casa.
Tarde demais.
&...
Não acontece só aos outros.




2018Mar_aNTÓNIODEmIRANDA

A ÚLTIMA SALADA DOS PRAZERES

 

Eu sei que cada vez é mais tarde para 
celebrar as relíquias da memória.

Tudo o que costumava haver são agora sombras fugidias, tão mentirosas como os sorrisos que lhes ofereço. 

Visto o roupão das trapaças, aprumo a gravata do perfume vaidoso, e, sentado na poltrona dos sonhos queimados, 
miro desconfiado 
a agenda dos compromissos falhados.

Tento matar a batota do tempo. 

Empenhei o relógio no hospital dos ventríloquos e com os ponteiros que ficaram,
tentei fazer a última salada dos prazeres.


,2022Mar_aNTÓNIODEmIRANDA

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

A SECÇÃO DE ENGATES É NA PORTA AO LADO

 


Todo  tipo de remodelações

Pintura da alma 

Galvanização da aura

Retocagem de personalidade

Correcção de quadris


&

Armazenamento sigiloso
das fotos de perfil temporário




,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA


ESTRELAVA NO CÉU BEIJOS AGRADECIDOS

 


Não passo de um ruído espalhado pela vida, que, mesmo no paraíso precisa de amigos.
E no alarido de um coração picado há um cavalo que foge da sela que o quer trair. 
Subtrai a ternura suicidante que lhe apaga a chama efémera e num grito desenfreado salta a angústia como se fosse arte poética. 
E agora cansado chora o libelo da maldição que o fez prender. 
Saltou o mais que pode a cerca que lhe toldava o horizonte e só agora pode beber num gole total a imensidão que lhe vendaram. 
Feito poeta e na ausência do juízo normal aquece no galope sonhos há muito guardados. 
Aparece de quando em vez nas quintas-feiras da poesia possível e fingindo que não chora, abraça qualquer presença. 
Na forja que lhe derrete a alma espalha todos os poemas que cabem no seu mundo. 
Apenas um sossego aqui na terra depois deste deus louco irmão de todas as morfinas e crítico apreciável dos benefícios da marijuana, longe da masturbação das agulhas beijando na fornicação a cara sem sangue que desliza pela parede riscos indolores de uma salvação com doses para uma semana. 
Pedaços que exibe na mão foram um poema nunca sujo, escrito em moedas que mancharam a carne que pensava o amava. 
E agora não consegue saltar os muros do sonho neste cenário de bêbados circuncisados. 
Nesta escrita de raposa com a permanente promessa de não ganhar qualquer grammy, perde-se nesta sensata e inútil razão que se perpetua na pele. 
Deus não existe! 
O diabo é que às vezes se esquece de ser mau! 
O inferno é aquecido por um micro-ondas. 
E as formigas diligentes lêem notícias sem sabor. Dizzy e Parker sabem do que fala. 
E eu não minto tanto assim. 
Naquele tempo Nina Hagen vagueava pelo Harlem e beijava todos os pretos que tinha no coração. 
Miles tinha escrito nas bochechas que a infância nem sempre é um acto saudável. 
Berry no seu “duck walk” olhava docemente para certas teenagers que fingiam ter “sexteen”.
Ás vezes sentia no corpo um fato que pertence a outro, quando o dia lhe corria tal mal contrariando a mais optimista previsão do relatório do tempo. 
Era quando o vento fugia da morte e empurrava esta mania de pensar que sabia quem foi. 
E molhado por esta invenção, entregava ao deus- trará, protocolos falsamente assinados da sua presença. 
O gato de Ferlinguetti poderá testemunhar a afluência inaudita na agência de turismo onde costumava urinar. 
O calor do seu orgasmo aumentou a temperatura do deserto que foi a cama que nunca cheirou a sua solidão. 
Eram noites sem janelas onde a memória acaba por fugir. 
E assassinam gemidos de guitarra sangrando o ventre até aos dedos que só a queriam acariciar. Agarrava os blues do Mississipi e snifava o pó dos velhos “vinyls” que podaram a sua juventude. Retornava á velha casa e beijava o som roufenho que chorava naquele velho gira-discos, só para voltar a escutar de novo aquela música.
No caminho de volta encenava estrelas e falava com todas as palavras possíveis. 

Estrelava no céu beijos agradecidos.   





,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA


1 Grande Filme !


Realizador norte-americano, David Samuel Peckinpah nasceu a 21 de fevereiro de 1925 na pequena cidade californiana de Fresno. Durante a Segunda Grande Guerra, alistou-se no exército, mas nunca chegou a entrar em combate. Findo o conflito, casou-se e frequentou o curso de Teatro da Universidade da Califórnia. Depois de obter o diploma, trabalhou como ator e encenador de teatro. Em 1954, tornou-se assistente do realizador Don Siegel. Assinou o argumento de Invasion of the Body Snatchers (A Terra em Perigo, 1956), iniciando nesse mesmo ano a carreira de realizador, dirigindo diversos episódios de séries televisivas como Gunsmoke (1956), Zane Grey Theater (1956) e The Dick Powell Show (1961-63). A sua primeira longa-metragem foi um western, género cinematográfico que viria a consagrá-lo: The Deadly Companions (Companheiros da Morte, 1961), protagonizado por Maureen O'Hara. De baixo orçamento, o filme passou quase despercebido em termos comerciais. A sua obra seguinte marcou uma homenagem a duas estrelas dos westerns de série B dos anos 30 e 40: Randolph Scott e Joel McCrea. O filme chamou-se Ride the High Country (1962), cujo argumento rondava em torno de dois velhos pistoleiros que são incumbidos de vigiar um carregamento de ouro, aproveitando, durante a viagem, para refletir sobre o rumo que as suas vidas tomaram. Seguiu-se Major Dundee (1965), protagonizado por Charlton Heston, Richard Harris e James Coburn. O filme traça o percurso de um oficial de cavalaria (Heston) que é incumbido de liderar um grupo de soldados inadaptados numa missão contra índios apaches. Contudo, as rodagens num deserto mexicano foram bastante acidentadas: numa luta contra a dependência do álcool e da marijuana, Peckinpah tinha frequentes ataques de fúria, chegando mesmo a ter confrontos físicos com Heston. Após as rodagens, a excessiva violência do filme impressionou negativamente os produtores dos estúdios Columbia que exigiram o corte de cenas fulcrais durante a montagem, algo que irritou profundamente o realizador. O filme teve um desastroso resultado de bilheteira, algo que afetou a imagem do realizador, que esteve quatro anos sem trabalhar. Regressou em grande com The Wild Bunch (A Quadrilha Selvagem, 1969) com um elenco de luxo onde pontificavam os nomes de William Holden, Ernest Borgnine e Robert Ryan. O filme centra-se no trajeto de um grupo de bandidos envelhecidos, com um código de moral muito rígido que decidem reformar-se após um último assalto. Celebrizado pelas suas cenas épicas de violência com recurso intensivo à câmara lenta, o filme tornou-se um marco do cinema interventivo de cariz social. Repetiu o modelo em Straw Dogs (Cães de Palha, 1971) onde pontificou um então jovem Dustin Hoffman no papel de um matemático pacifista que é obrigado a tomar medidas extremas para defender a sua mulher e a sua propriedade contra o ataque de invasores. Os seus filmes seguintes padeceram de alguma inconsistência narrativa que motivou o seu falhanço em termos comerciais. A exceção foi Cross of Iron (A Grande Batalha, 1976), um épico sobre a presença germânica na frente russa em 1943. Protagonizado por James Coburn e James Mason, este foi o último êxito comercial de Peckinpah. Despediu-se do cinema com The Osterman Weekend (O Fim de Semana de Osterman, 1983), um filme de espionagem onde criticou o excessivo poder da comunicação social nos anos 80, com Burt Lancaster e Rutger Hauer nos principais papéis. Em 28 de dezembro de 1984, minado pela droga e pelo álcool, não resistiu a um ataque cardíaco no México, quando estava em fase de pré-produção de um western com argumento de Stephen King.

#Tirado da Infopédia#



domingo, 29 de outubro de 2023

AS MÃOS SUJAS DO DESESPERO

 

A alegria já não mora aqui.
Partiu na onda do despejo,
e, na despedida nem sequer um bilhete deixou. 
Dorme por aí, debaixo do seu rosto de menino,
tentando abraçar fantasias privadas .
Alguém lhe envia recortes dos jornais, 
que nada sabem da sua tristeza.
Já não tem tempo para a sua idade.
Levaram-lhe todas as suas memórias.
Não quer a cadeira dourada daquele banco, 
que, dizem, continua à espera.
Ainda pensa em coisas boas para acontecer. 
Desenhar encontros.
Guardar os melhores cheiros da cidade.
Aliviar a solidão.
Mas, está tudo acabado.
Nem sequer sabe o jogo que pode
brincar.
Agita a espuma que escorre da sua boca, 
erguendo para o ar, 
as mãos sujas do desespero,
porque sempre se sente,
tão sem nome. 

2019out_aNTÓNIODEmIRANDA




Keith Richards - "Cocaine Blues"

Lonely Avenue by Ray Charles 1956

Ain't Got No, I Got Life - Nina Simone

Barbara Lynn - Beat What'd i Say (1966) *Live

CARTA PARA UM FUNERAL

 


Não sou de fazer contas à vida.
Não somos amigos. 
Ela nada me deve e comigo acontece o mesmo. 
Ás vezes falamos numa conversa feita de conveniências mútuas. 
Raramente nos enfurecemos. 
Temos um acordo táctico, tácito e hepático. 
O que significa não fazer perguntas inconvenientes. 
Ambos temos níveis de colesterol elevado. 
A tensão alta.
A tesão elevada à máxima vontade.
O psa está como está. 
Mas o exame não é do nosso agrado. 
As análises confirmam a inexistência de substâncias “pseudotrópicas”.
Não sei quem é mais velho. 
O que fiz feito está. 
Rejeito liminarmente a hipótese patética  
de mudar o que quer que seja.
Não estou para aí virado.
Não somos bons!
 Mas também não há melhor que nós. 
Não dou antecipadamente graças à vida. 
Não sei o que ela ainda me vai tirar.
A vida é um lugar estranho.
Viver para morrer é decadente.
Não devia ser obrigatório.


.out2014aNTÓNIODEmIRANDA

ENDLESS CIRCUS

 


The end may not be round 

nor his will so concrete,

and the desire not hidden for a secret life

is just a way of thanking a 

God 

who only has open arms in 

statues


,2016,06.aNTÓNIODEmIRANDA

CIRCO SEM FIM

 


Pode o fim não ser redondo 

nem a sua vontade tão concreta 

e o desejo não esconso 

para uma vida secreta 

apenas uma maneira de agradecer a um 

Deus

que só nas estátuas tem os braços 

abertos



,2016,06.aNTÓNIODEmIRANDA


AM_ LIVROS

 

Editora: volta d´mar _ 2018_Junho

Editora:  tea for one_ 2015_Novembro

Editora:  tea for one_ 2014




Editora:  tea for one_ 2015_Março


Editora: homem do saco_ 2014


Editora: homem do saco_ 2018_Outubro


volta d´mar _ 2018_Setembro

volta d´mar _ 2021_Setembro





CELEBRAÇÃO

 


Complicamos
Tudo o que não devemos
Até a morte complicamos
Mesmo antes de morrermos
Complicamos a vida 
Sem sequer a vivermos
Projectamos o destino
Com teorias banais
Dificultamos o tempo
Que não é nosso
E logo achamos que as horas
São um osso duro de roer
Complicamos o riso
E toda a sua vontade
Abraçamos o medo
E inventamos armas letais
Que não matam a nossa triste realidade
Vemos os filmes dos outros
Com enredos que a fingir
Nos fazem doer

Rejeitamos
Ignoramos
Qualquer convite à felicidade

Cantando
Celebrarei a morte
Se assim me ajudar
O engenho e a sorte


ago.2010_aNTÓNIODEmIRANDA


sábado, 28 de outubro de 2023

ESTANTE VAZIA

 


BUSTER BENTON (Texarkana, Arkansas, U.S.A) - A5. Leave Me Alone

ESTANTE VAZIA

 


Tinha comprado aquele livro 
para ti.

Nas páginas estava escrita 
a anomalia da ausência.

Rasguei-as palavra a palavra
e assim queimei para sempre 
o circo da saudade que já não és.

Agora tenho um novo.

Suave companhia com todos os 
sabores da respeitada 
cumplicidade.

Oferece a calma no roupão da 
solidão companheira dos 
instantes para sempre importantes. 

Segue a decepção para o ocaso 
do desprezo.
 
Certas noites embalam as 
certezas menos mentidas 
aconchegadas no abraço da flor 
sem tempo.


,2023Out27_aNTÓNIODEmIRANDA



EVENTO CHATO


Se puderem,
Não apareçam!
… a
comichão
Agradece.



2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

Talvez Mulher ...

 


quinta-feira, 26 de outubro de 2023

SEXO, FACAS & SANGUE NO LENÇOL

Paixões violentas!
Corações ardentes encontraram-se mutuamente num desejo incomum.
Pensaram gemer aquela canção que tinham visto no filme.
Eram agora artistas na cena de cama sem jeito algum.
No encanto do acontecer, injectaram todos os falhanços, revisitando alegorias da paixão mentirosa.
Partilharam as suas mortes escrevendo no lençol o endereço do paraíso artificial.
Nunca souberam que o sangue foi notícia de primeira página.
Ignoravam a importância da impressão vegetal.
Tornaram-se um case study embora ninguém tivesse compreendido a sua forma de amar.
Escreveram-se poemas sobre esta ocorrência, mas o agente da 8ª esquadra nunca os manipulou.
Sexo, Facas & Sangue no lençol, 
conta agora nas estatísticas do amor que nunca deveria ter acontecido.

Há cinzas que queimarão todo o sempre.



,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA

ALTIFALANTE

 

Atenção senhores passageiros: 

 a desolação procedente da realidade,  

               efectua paragens  

               em todos os destinos.



,2020Out_aNTÓNIODEmIRANDA

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

NOITES DE JAZZ & POESIA - CASA FERNANDO PESSOA - 18 NOV.

 





Mr. MUDDY "MISSISSIPI" WATERS : I`M READY (Like anyone can be...) ! Definitivamente um dos melhores discos de BLUES. Obrigado MASTER !

 


BOB KAUFMAN





 

TENHAM JUÍZO!

 Subverter com um sorriso?
Tenham juízo!
A subversão não é um jogo de sedução.
Escrita criativa? 
Incha-me os ouvidos.
Só de pensar nisso, fico com  
e logo penso que não há ponto sem dó. 
O meu perfil não é temporário.
A poesia é difícil.
Será por isso que certos “poetas” têm estampado na testa o carimbo da infelicidade?
É como se fosse uma maldade que cultivam 
e regam a bajulice 
como se as palavras crescessem num canteiro. 
Não percebo nada disso, 
mas sei que não terá de ser assim. 
Nunca tive paciência para analfabetos letrados, 
muito menos para o seu anafado conhecimento. 
É uma banha que dá maus cozinhados.
Escarro a vaidade para o lenço
e cuidadosamente volto a dobrá-lo. 

As vezes necessárias.
Tantas vezes!

Nunca se sabe o dia do vosso amanhã…

2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

MÁRIO-HENRIQUE LEIRIA

A Família

  Vamos à pesca
disse o pai
para os três filhos
vamos à pesca do esturjão
nada melhor do que pescar
para conservar
a união familiar
a mãe deu-lhe razão
e preparou
sem mais detença
um bom farnel
sopa de couves com feijão
para ir também
à pescaria do esturjão
e a mãe e o pai
e os três filhos
foram à pesca
do esturjão
todos atentos
satisfeitíssimos
que bom pescar
o esturjão!
que bom comer
o belo farnel
sopa de couves com feijão!
e foi então
que apanharam
um magnífico esturjão
que logo quiseram
ali fritar
mas enganaram-se na fritada
e zás fritaram o velho pai
apetitoso
muito melhor
mais saboroso
do que o esturjão

vamos para casa
disse o esturjão


MERO OBSERVADOR

 




Pablo Picasso / Paul Éluard

 


UMA EDUCAÇÃO PARA A LIBERDADE. Autor : Paulo Freire

 Li este livro em Março de 1974.Há uns meses atrás, no meio de uma conversa, alguém falou deste senhor. Definitivamente um dos livros que mais me marcaram, e, dando razão á minha relação sempre nada pacífica com a escola e consequentes métodos de ensino ( eu sentia mais como controle) que me quiseram impor.



terça-feira, 24 de outubro de 2023

Mário Palmério. Para ler.

 


Escritor, professor, educador e político brasileiro, Mário de Ascenção Palmério, nascido a 1 de março de 1916, em Monte Carmelo, em Minas Gerais, e falecido a 24 de setembro de 1996, em Uberaba, também em Minas Gerais, destacou-se como romancista e como responsável pela criação da cidade universitária de Uberaba.
Aos 19 anos, ingressou numa escola militar do Rio de Janeiro, mas desistiu ao fim de um ano devido a problemas de saúde. Foi então trabalhar num banco em São Paulo, cidade onde também deu aulas de Matemática. Passado algum tempo, dedicou-se em exclusivo à atividade de professor.
A partir de 1945 foi um dos principais impulsionadores da cidade universitária em Uberaba, onde se vivia uma época de um grande desenvolvimento.
Em 1950, Mário Palmério envolveu-se também na política e foi eleito deputado federal em representação de Minas Gerais, integrando as listas do Partido Trabalhista Brasileiro. Acumulou então as carreiras de educador e de deputado. Paralelamente, concluiu, em 1955, o curso superior de Guerra.
No ano seguinte, estreou-se na literatura com Vila dos Confins, um romance que começou por ser um relatório ligado à sua atividade política, nomeadamente sobre fraudes eleitorais.
Em 1962, afastou-se da política e seguiu a carreira diplomática, tendo sido nomeado embaixador do Brasil no Paraguai, onde esteve colocado dois anos. Quando regressou ao Brasil, isolou-se na sua fazenda no sudoeste de Mato Grosso para se dedicar em exclusivo à escrita. Em 1966, lançou Chapadão do Bugre, romance inspirado numa chacina política ocorrida no início do século XX na cidade mineira de Passos. Para escrever esta obra, que foi muito bem aceite pela crítica, o autor recolheu muito material sobre a linguística e os costumes regionais.
Mário Palmério, entretanto, encetou uma série de viagens de barco pelo rio Amazonas e afluentes para recolher dados sobre a realidade física, social e cultural da região.
Ingressou na Academia Brasileira de Letras a 22 de novembro de 1968.
Mário Palmério morreu a 24 de setembro de 1996, em Uberaba, para onde tinha regressado em 1987, com o intuito de presidir às Faculdades Integradas da cidade.
Deixou por publicar o romance O Morro das Sete Voltas.

Fonte:  INFOPÉDIA


segunda-feira, 23 de outubro de 2023

O HÁLITO SALGADO

 


Está frio no meio do meu sonho.
A pele estica-se fora da dor fugindo 
do sangue atropelado pela lama da vida.
Tenho na mão o hálito salgado 
dos tempos morridos desta espera 
constante.
Não posso pedir ajuda 
a esta importância que me julga 
neste cambalear com que embalo 
o vazio pensando iluminar as agruras 
onde tanto me desanimei.
Estendo sorrisos como se a eles 
alguém acenasse e assim me envolvo 
em bolhas de cotão.
Vou passando em todas as ruas 
como a areia do deserto que sobrevive
 à falta da mais pequena ternura.
Chego sempre cansado 
demasiado cansado carregando o peso 
da minha ausência.
Descalço o olhar escondo o desejo
alisando a memória nas ilustrações 
esbranquiçadas da ilusão.
Infinito é o bocejar do meu passado
feito com o polimento das pedras 
que me atiraram.
Continuo apartado.
...depois de todo este tempo.



,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA


PARAÍSO

 


Dizem-me que é no paraíso que os santos perdem o juízo depois da matiné dançante no Boulevard Saint-Germain.
Eram tardes enlaçadas com figuras de banda desenhada e a poesia nunca tardava e era bebida sem tragos amargos.
Tudo acontecia naqueles passeios, onde cabia toda a gente do mundo.
Éluard sombreava-me a alma com abraços entregues pelo Boris Vian. 
Piruetas de bailados curiosos abençoavam palavras que tocavam o céu maior.
Havia no ar um odor de espíritos sintonizados e a bondade ali presente, embebedava de paz a sabedoria que os anjos disponíveis ofereciam sem moeda de troca.
Paris era uma festa e a sua música acariciava a quietude dos clochards.
A margem esquerda do Sena, deitava-me noites contentes e o acordar era lavado com a ajuda de um pedaço de sabão, ali deixado ao acaso.
Viajava incólume pelo meio de sabores sempre novos, e propositadamente virava as costas àquela torre, lambida abusivamente por flashes turísticos de duvidosa classe.
Descia o dia sem nenhuma companhia fingida e nos calcanhares da noite chegada, escrevia poemas para serem lidos pelas estrelas da minha guarida.
E elas contavam-me, é o paraíso o lugar onde os santos, não ganham juízo.


2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA


QUANDO O SANTO CAIU DO ANDOR

 


Quando o santo caiu do andor, toda a gente lá na procissão, ficou preocupada. Bêbado o prior, aproveitou este ornamento e falou da necessidade das obras do telhado da sua casa, e se a verba basta-se, iria tratar dos melhoramentos da capela. Até porque o tempo já não é o que era. Já benzeu o presidente da junta de freguesia.
O motor do carro não funciona e o vinho que lhe ofereceram fazia-lhe azia. E as velinhas do sacrário, feitas por um conhecido falsário, a deus não satisfazia. O crucifixo de ouro com que o prendaram, estava a enferrujar e ele de tanta vergonha, já não o podia usar na lapela. Má sorte a sua. Nem tinha coragem de sair à rua. Mas nada para si ele pedia. Só esperava compreensão. Gaguejando, anunciava um pequeno aumento no preço da confissão, claro está sem má intenção.
Cada um dá o que pode. E não será por isso que ficará mais pobre. Aquele, o santo que caiu do andor, depois de lhe passar o ardor, falou com fervor à multidão, elogiando o pastor.… & conforme combinado, foi o primeiro a beijar-lhe a mão.
Mais tarde, os dois no quarto do Ibis lá para os lados de Guimarães, enrabaram-se como cães.
Aleluia! Vaselina sem areia oferecida pela comissão dos acólitos do broche sem pecado.
Cada um faz o que pode!
Mas é sempre o mesmo que se fode!


2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA


PENYSLÂNDIA

 


Sentia-se maltratado.
Incomodado e outros aborrecimentos 
que o stress da cidade lhe causava.
Não havia um gosto para recordar.
Afastava mecanicamente sorrisos 
que não entendia e olhos nos olhos, 
mirava desconfiado as palavras 
que lhe cansavam os ombros.
Tudo tentou, mas a lamúria não acabava.
Fingiu-se de louco, 
vestiu-se de mouco e começou 
a falar alto para o altar 
das prédicas consignadas.
Nada mudava.
A sensatez com que pintava 
cenários amovíveis, não funcionava.
Afogou a irmandade com perícia.
Escondeu-se da polícia.
E agora manda notícias cálidas
do retiro espiritual da Penyslândia.



2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA


PATOLOGIAS

 


Estamos cá para o que der e houver


Outras patologias


Serão perfeitamente dispensadas



,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA


TANTO PARA NADA SER

 


Desencanto manipulado 
Desagrado orquestrado 
Uma opinião tísica vacinada 
com taxa moderadora
Um concreto vasculhado  
no ecoponto de conhecimento codificado
Partiu apressado 
para não dar tempo à mentira 
e tirou as luvas para que o guiador não deslizasse
Leu isto no manual da civilidade.
O INEM nada pôde fazer
Tinha adormecido abraçado ao guia prático 
de como não ser imbecil.



,2017,mar_.aNTÓNIODEmIRANDA


TALVEZ UM FADO

 


Disseste-me um dia sentida
que o teu amor por mim
foi em vão.
E que agora estás arrependida
deste sentimento sem paixão.
Pois eu que te amei
mesmo sem o coração querer,
gostei de ti é verdade,
talvez te amasse sem saber.
Agora passas por mim
com esse olhar de vaidade,
gosto de ti, mesmo assim
neste querer já sem saudade.
Já nada valem os beijos
com que jurámos ilusão,
foram falsos os desejos
que agora temos na mão.



,2017,mai_.aNTÓNIODEmIRANDA


SWEET DREAMS

 


*

Dormirei 
com 

possibilidade 
de 
acordar
no nevoeiro 
do teu sexo

*

O amor
é uma larga distância
muitas vezes com pontes
mentirosas
nunca se escreve
com o mesmo
alfabeto

*

Todo o cheiro que deixaste
dorme agora ao meu lado
abraçando a nudez
para que o desejo desenfreado
espalhe no colchão
as breves delícias
de um fascínio que passou ao lado



2017set_aNTÓNIODEmIRANDA


SOLIDÕES FICTÍCIAS

 


Não finjas não saber quem és
de cada vez que pensas
que
preciso de ti

Tenho no voar
um alcance maior
lido por folhas desamparadas
onde escrevo solidões fictícias



,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA


COPY / PASTE

 


Panou a ideia enquanto pensamentos 
ardiam lentamente na fogueira. 
Agarrava o copo cheio de cinzas 
que lhe saiam da alma. 
Queimava os beijos nunca acontecidos, l
embrando-se de Paris 
e de nunca ter visto a torre Eiffel
(mágoa que sempre lhe doeu). 
No caminho para o quarto, 
passava invariavelmente pelo Bois de Boulogne 
e admirava outros tipos de beleza 
que o ajudavam a aquecer o sonho. 
A insónia acabaria por chegar embrulhada 
em petit fours
Também é verdade que nunca se entreteve 
com os fait divers do Moulin Rouge.  
Havia uma lágrima teimosa 
que nunca conseguiu enxaguar. 

Copy e Paste põem tudo sempre igual.




,2015aNTÓNIODEmIRANDA


CONAXÃO

 



(a) Eu mio

+

(b) Tu pias

=

(c)                                             Não faltam figurantes neste                                                         circo



2017set_aNTÓNIODEmIRANDA


#ORAÇÃO DO CONFINAMENTO# * Buffet Crampon na América Latina * 23Outubro2020



QUEIMAR DESGRAÇAS

 

Olhar triste neste acordar de sentido proibido. 
Um cálice de rosas vertidas na cor de sangue, para um céu que não me atende. 
Encontro o piano das teclas ensonadas que embalam as fantasias do caminho que não apanhei. 
Uma voz que não conheço, 
escreve que a esperança não deveria ter morrido desta maneira. 
Estou farto de abraçar candeeiros abandonados, 
e as mensagens que envio para nevoeiros confidentes, 
só me querem adormecer com ideias de plástico. 
Janela dorida, 
um sorriso como o teu, 
era o mundo que eu precisava. 
3 desdéns no bolso, 
1 bilhete para picar o futuro, 
um balançar não embaraçoso na corda bamba, 
um chuveiro de champanhe harmonioso, 
um tempo sem a vez de voltar atrás, 
um banho temperado  com soluços gotejados do teu sexo. 
Tudo é absurdo neste velório de aplausos.
Nada é importante desde que senti que a vontade fingia.

,2020Dez_aNTÓNIODEmIRANDA

domingo, 22 de outubro de 2023

SUITE 17 (DO NOT DISTURB)

 


O que faço aqui?
- Está a falar comigo?
Bom, pensava que era um bom tema para início de conversa.
- Talvez. Ainda não nos apresentámos, 
e isso já diz muita coisa.
- Está a falar comigo?
Não quero abusar, mas não se fie lá 
muito na minha curiosidade. Infelizmente tive meio gato que morreu dessa mania. Fugiu inesperadamente do guisado.
- Sabe, sinto-me só. Não comigo mas com aquilo 
que me falta.
E pensou…
- Pensar é uma falta de respeito. 
A mais odiosa pretensão.
Não me venha com palavras difíceis. 
Até porque raramente acerto na lotaria.
- Não leve a mal. Eu só queria incomodar.
Desculpe o atrevimento, mas eu sou 
as suas hipóteses falhadas.
- Estão aqui as chaves do meu conhecimento. 
Pode informar o enfermeiro que o autorizei a ficar 
na suite 17.




2016,12aNTÓNIODEmIRANDA


SUDÁRIO

 


Será que te tenho,
ou o poema que escrevo
é um desenho
que não sei colorir?

Põe-te na minha pele,
sê o verbo que quero ler,
deixa-me um rasto
minimamente visível,
e um sudário escrito
só com as palavras necessárias.



2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA


ENTRE A AUSÊNCIA E A PRESENÇA O PASSADO É-ME FIEL

 


O importante é não nos comprometermos com as pessoas, não que temamos as consequências, mas porque não aceitamos e rejeitamos a realidade em que vivem. A futilidade do seu quotidiano é a sua mais notória falta de imaginação. Pensar, é aquilo que elas não conseguem, mesmo quando não têm nada para fazer. Se eu tivesse um Ferrari fazia amor com ele. Se eu fosse pato gostava de ser gato. Se eu fosse francês não falaria emigrante. Se eu fosse esperma escolheria o teu corpo para navegar. Quem pôs a bomba? Senti a sua explosão no meu corpo & logo pensei que tivessem inventado o amor. Acredito no amor, não como palavra, não como acto, mas como desejo.
É preciso estarmos atentos vigilantes não só a nós mesmos mas também aos nossos instintos naturais. Somos sensíveis, mudamos frequentemente, e quando isso acontece, nada se altera. Hoje pode dizer-se que naquele verão estavas magnífica e eu posso também afirmar, embora não publicamente, que às vezes precisava de ti imaginando-te drogada & quando tu aparecias, o que nunca aconteceu, eu olhava-te e convidava-te para me cortares as unhas dos pés. Lembro-me perfeitamente do sorriso que tinhas quando me olhaste com o dedo que não tinha unha entre as mãos: mas eu sabia, sim eu sabia que isso mais dia menos dia iria acontecer. E eu toquei-te e tu disseste não e eu beijei-te e tu disseste não e eu desejei-te e tu disseste não. Visivelmente cansados pela nossa primeira experiência permanecemos pedrados de mãos dadas na cama, cuspindo para o tecto tentando acertar numa casca de ovo horrivelmente pintada. Aproveitei para pôr no gira-charros Woodie Guthrie & tu gostaste ! 
Ouvindo Sonny Terry e Brownnie McGhee e perguntaste o que era um Blue. E eu disse-te ao ouvido: sabes pá, quando um gajo está na merda com a sua girl friend, pega na guitarra e acontece o Blue
“Eu nasci na auto-estrada 64 e a primeira refeição que tive foi uma boleia. Cresci, embora não muito, no meio de negros de caracóis dourados. Engolindo o fumo dos seus cigarros, eu ouvia-os longo tempo cantando: oh deus! oh deus! porque é que isto acontece? Porquê trabalho eu tanto para o outro ter Mercedes Benz. ”Comecei a trabalhar, não muito frequentemente, gastando todo o dinheiro em livrarias, até ficar com calos nas mãos de tanto pegar nos livros que muitas vezes não tinha hipótese de comprar. Era sempre um desejo adiado. Passei dias no café Pigalle observando os craques do bilhar e os curiosos das slot machines. Aprendi a conhecer pelo cheiro das beatas que fumava a marca de alguns charutos e tinha como passatempo preferido, mudar as etiquetas das garrafas de vinho nos supermercados, tornando assim viável a compra com o preço adequado às minhas reais possibilidades. E pensei em mudar. Disse à minha namorada: estou cansado de andar por aí, quero fixar-me, tenho de casar. Mas devemos de estar atentos, não mudamos quando queremos, mas porque quase sempre somos obrigados a fazê-lo. Não somos tão sensíveis como imaginamos e tão sólidos como de tal temos a certeza.
Entre a ausência e a presença o passado é-me fiel.
… Embora se saiba que a fidelidade, também é uma companhia de seguros…


76*2014.aNTÓNIODEmIRANDA


Até logo...

 








OS DIAS DO FIM

 


Embalados gota-a-gota 
exibidos em raids de drones 
na sebenta realidade 

Todos os sangues 
acontecem no cenário 
assassino 
dos gritos repetidos

Até quando?

Estratégias falsificadas 
condenam hipocritamente 
o fiasco habitual

Morre-se em todos os momentos 

Sobretudo nos lugares 

onde a vida há muito desistiu 

de aparecer



,2023Out19_aNTÓNIODEmIRANDA


APARAS DO TEMPO

 


Vazio

Era o seu nome

Só uma vez sorriu

&
isso foi o maior
incómodo
da sua vida

Anda por aí
lapidando aparas
do tempo


2018Out_aNTÓNIODEmIRANDA




NEGATIVO...

 


.2014_aNTÓNIODEmIRANDA


sábado, 21 de outubro de 2023

SOSSEGO

 


                        Velha fraga escondida

                                    Enternece com o olhar

                                                                O voo de quem a                                                                            procura




,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA


SONETO DO AMOR AUSENTE

 


De ti me fica a lembrança
Do amor por nós não entendido
Do tempo sempre sofrido
Passado nas ausências da esperança

Nesta estranha forma de dança
Mais do que eu, triste é o meu fado
Que se perde no beijo desesperado
Escorrendo do tempo a mudança

Foi-se a hora da paixão
Gasta nos abraços clandestinos
O que nos uniu foi o fracasso

Feito no engano da ilusão
Nos abusados desatinos
Num amor tão breve e escasso



jul03/2006,aNTÓNIODEmIRANDA