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terça-feira, 31 de maio de 2022

GOSTAVA DE TE ESCREVER ROSAS

Gostava de te escrever rosas.
Mas quem sou eu,
a quem todos os espinhos
rasgam as letras do teu nome? 
Preciso de um avental com luvas amigas,
e sobretudo de um vaso
para regar a tua sombra.
E uma foice amigável 
para não magoar a vontade
com que te quero.
E uma tarefa,
cumprida não como promessa,
só para enlatar o azeite
que algumas vezes nos temperou.
Sou o que sou!
O que quer dizer,
que sem ti,
continuo a ser
o
nada.
Gostava que estivesses aqui,
e que o dia que agora tão mal me trata
não tivesse que acontecer.



,2017out_aNTÓNIODEmIRANDA


PORRA! A CULPA NÃO É MINHA

 A memória é a minha única agência de viagens.
Acontece-me sem imposição e ofereço 
abraços lamechas a esta puta vadia.
Rápida como um relâmpago, 
goza com a minha falta de jeito para a cumprimentar.
Sei que a minha cabeça não tem maneira para aturar a moleza daquilo que escrevo.
Não tento enganá-la.
Espero dela uma repetição em “slow motion”, 
e quando isso acontece... lá está!
A caneta não obedece.
Tento todos os truques, o “passing shot” do McEnroe, um amorti do Agassi, oferecer-lhe a fita do Borg, as cuecas da Navratilova, mas não dá.
Nem um dos chapéus de Wimbledon funcionou.
Porra!
A culpa não é minha.


2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA


OS ÚLTIMOS POETAS

 

Jorradas no chão, 
lambendo lâminas enrouquecidas, 
as estrelas solitárias 
no picnic dos anjos da boa vontade, 
cantam só para mim prosas simpáticas.
E nos meio dos últimos poetas, 
há um sax que grita 
rejeitando toda a clemência. 
E aparecem palavras que cortam, 
e com este sangue abençoado,
serão escritos poemas 
onde o tempo não pousa.
Continua o assassínio 
nestas ruas envergonhadas, 
de gente com alma 
que só quer uma oportunidade.
E as feridas nunca serão curadas, 
e os gritos arrumados no monte da ingratidão.
Sepulcros remexidos no meio de orações breves, 
tão curtas como a circunstância 
de só terem tentado viver. 
E os últimos poetas soltam a poesia de todos os medos, com todas as cores.
Na marcha fúnebre que os acompanha,
pensam com a esperança possível,
na sagrada indiferença
com que são considerados.

Os últimos poetas vão assim morrendo.

E  mostram rosários
de nenhum arrependimento.


,2017mai,aNTÓNIODEmIRANDA


sexta-feira, 27 de maio de 2022

QUANDO ESTAVA NO CÉU


Pratiquei outras santidades
Ungi-me com o sangue do tesouro do Vaticano
Embalsamei milagres
Ensinei outras batotas
Cobicei todas as mulheres dos outros
Assaltei o casino lá no 7º piso
Embebedei-me no "Bataclan"
Corrompi o bom pastor
Joguei à moeda com um barbudo 
nada parecido com um tal de Judas
Elaborei relatórios actualizados 
da farsa da esperança
Armazenei a fé em silos de alta segurança 
à prova da estupidez
Promulguei o decreto-lei que classifica 
o arrependimento usual como a mais confrangedora trafulhice
Fiquei mal visto
Desacreditado
Passei as passas no Algarve
Mas
Consegui abster-me
Bloqueei 
por mera questão de segurança mundial 
o meu paradeiro







,2020mai_aNTÓNIODEmIRANDA

ALLEGRO MA NON TROPPO

 

Ajeitou a coroa 
e avulso cumprimentou os servos 
com uma sinalética surfista. 
O sufrágio devidamente gelado no "frapé"
aguardava o fondue de oboés caramelizados 
e um "allegro ma non troppo" narcotizado 
por adágios psicossomáticos com cobertura de glacé. 
O maestro especialmente convidado para a soirée, 
pediu a casaca emprestada,
o que fazia dele um simpático pinguim. 
Bodas de fígado e canja "à la plancha"
completavam este menu servido 
entre o "andante" e o "moderato".
O chef pendurado no galho da árvore, 
assistia honrado e feliz 
a esta maravilha da ciência. 

Discursos, só com a eloquência 
de um qualquer "cantabile".


,2016,06.aNTÓNIODEmIRANDA

27 de maio de 2020 · Conteúdo partilhado com: Público Vai ser dito um poema meu : "ORAÇÃO DO CONFINAMENTO"


 

Matam-me com mimos! "ORAÇÃO DO CONFINAMENTO" * 27 de MAIO de 2020

https://www.facebook.com/BuffetCramponAmericaLatina/videos/181877723134794/?t=1




MEMORY BABE

 


QUERO VIVER OUTRAS HORAS



Guardei-te
no relógio
do tempo
mentiroso.


Quero
viver
outras
horas.


2019mai_aNTÓNIODEmIRANDA


VERSOS MAL COMPORTADOS

E depois vêm melros bordar a toalha
Onde bailavam paixões surpreendidas
Enquanto sentado o profeta
Recitava um poema enviado por um orgasmo
pacientemente sentimental.
Era aquele dia perto de qualquer lugar
Onde desaparecer
Terá sempre um efeito retardado.
Caíam da árvore mais louca frutos apodrecidos
E do chão tocado por eles
Nasciam cânticos abençoados
Por gente que mais tarde por lá passaria.
Uma rouca máquina de escrever abusada
Por um teclado manchado por tanta ingratidão
Tentava soletrar outras palavras
Que o frio derretia
Para que os poetas não morressem abandonados.
E depois vêm melros bordar a toalha
Onde o poeta tentava embalar versos 
Mal comportados.



,2016,04aNTÓNIODEmIRANDA


quarta-feira, 25 de maio de 2022

SEREI O TEU ESPELHO - The Velvet Underground & Nico "I'll Be Your Mirror" (Warhol film footage)



Brilham sinos na minha sede neste chegar sempre atrasado ao amanhã que nunca me acontece. Eu sou o teu espelho diz-me a voz que me quebra o coração. Não passas de um palhaço, contam-me os sons que todos conhecem. Aparece com a tocha da realidade apagada e abençoa-me com 2 pecados que só tentam fugir de mim. Risca nas minhas costas 1 jogo de adivinhas. Eu um crónico perdedor de tudo o que me diga respeito. Nada percebo desta fatalidade e isto é somente uma intuição que desprezo. A beleza nunca esteve presente nesta turbulência. És a minha heroína mas eu nunca quis o teu convite. E nas fatias recheadas com vómitos que me entregas, corro para o sofá cansado, tentando não pisar as gotas que abandonei no espelho. Talvez houvesse um tempo em que os teus olhos não exibiam um escuro preocupado. Não sejas a minha sombra. Procura o teu homem nas esquinas gastas nas longas esperas, arranhadas pelas costuras das meias de vidro e mostra-me as malhas tresmalhadas. Nada sei das palavras fáceis nem do vazio do seu significado. Todo o tempo mal ocupado nos torna mais pequenos e há que cuidar muito melhor da inoperância das nossas almas. Corre para lado nenhum, junta-te à sereia dos cânticos com manhas, piscando um olhar falsificado para a tua importância. Serei o teu espelho. Está escrito no anúncio colado na sua cauda. Se estiveres nas manhãs dos domingos enfeitiçados, levar-te-ei à clínica dos sons sem cheiro a pipocas, e naquele écran só nosso, poderemos contar lágrima a lágrima as palavras que fugiram das nossas folhas. Fica tão longe este devagar, duramente estrangulado nesta fivela infiel. E continua a riscar memórias congeladas em tons de snack.



,2017ago_aNTÓNIODEmIRANDA



segunda-feira, 23 de maio de 2022

CASCATA DOS SONHOS

 
Estou a chegar.

Que ninguém roube as notícias 
da tua espera.
Achar-me-ás cansado, 
talvez já lento nos gestos que reclamam 
o teu abraço.

(Posso confessar que não foi verdadeiramente fácil limar as folhas do tempo que às escondidas, escreviam poemas nos sorrisos dos corações solitários).

Não fales a ninguém da miséria que entrego a mim próprio, quando me escondo no camarim dos anjos da desolação.

Desculpa a audácia de entregar-te sementes de poesia.

[Rasguei o plano B].


,2022Mai_aNTÓNIODEmIRANDA

DIZ-ME O TEU NOME

Eu sei que não é fácil quando a tua história está impressa numa tampa de esgoto feita de ferro dúctil como a vontade inútil que foste vomitando neste tempo que sempre te venceu. 
E o caminho que pensas que escreveste com palavras floridas não é mais do que um lugar raras vezes desentupido por uma máquina que sempre  prometeu iria secar a tua dor. 
Nada disto foi possível até porque a verdade nunca quis saber de ti. 
Eu também penso que não é fácil dar as costas a quem só te quis enganar. 
Menos fácil ainda, é sentir a desigualdade da importância que te penhoraram. 
E os sonhos que pintavam a felicidade são agora chorados por pássaros de plástico, num quarto forrado com grades que nunca conseguiste abrir.
Eles dizem-se admirados.
Contrataram o melhor pintor, mas nunca se lembraram de ti.
Eu sei que não é fácil tentar libertar um sonho constantemente vigiado que impede momento após dia, tocar a hipótese de contares unicamente contigo.
Estás fora!
Até mesmo do zero.
Escondem-te numa cama de percevejos e fazem-te querer que nada mais poderá haver.
Só te posso dizer
que aqui,
ainda se encontram algumas estrelas.

Diz-me o teu nome.
Falarei com elas.
  
2017marçoaNTÓNIODEmIRANDA

sábado, 21 de maio de 2022

Fraternity of Man - "Don't Bogart Me"

NINGUÉM VISITA O TEU INFERNO

 

Não querem conhecer 
o sabor do sangue que escreves 
nas paredes magoadas.

Fintam os gritos com dribles artísticos, 
mas estás sempre fora-de-jogo.

Chutam a tua agonia para fora do campo.

Infectam as lágrimas no cálice dos suplícios, 
e no caminho da cabra-cega, 
pisas o tempo como se fosse 
o presente que nunca tiveste.

Ninguém espalha a notícia da partida.

Quem te abandonou?

Talvez as promessas mentidas.










,2022Mai_aNTÓNIODEmIRANDA


CADA MINUTO EM QUE ME INVENTO


Cada minuto em que me invento, 
pinto neste rodapé
asas do vento 
e deslizo
sempre perto de mim.
Do navio perdi a âncora,
num qualquer coral de desânimo
onde não quero chorar
horas perdidas.
Solitário no desejo entontecido,
escrevo nas cordas desta harpa
manhãs de bruma
com caminhos sem volta.
Serei agora aquele,
que com a espada dos raios falhados,
acorda sempre antes do sonho.
Agarro sempre que posso
esta barca perdida,
e escrevo cântaros
cheios de versos amargos.
Cada minuto em que me escondo de mim,
dou luz ao farol,
abano um qualquer sos
sem sentido, ou rumo algum.
E estendido neste lençol
defraudado no oceano das angústias,
espero no desespero que não percebo,
uma rota diferente
e sobretudo com outros nós.
Em cada minuto em que me invento, 
pinto neste rodapé
asas do vento 
em que me escondo
sempre antes de mim.


,2017mai,aNTÓNIODEmIRANDA

CABID-31. E NÃO SE PODE EXTERMINÁ-LOS?

 


sexta-feira, 20 de maio de 2022

PROBABILIDADE OBSOLETA

 

Há um brilho flácido no céu das estrelas que não conseguem chorar lágrimas do teu nome. 
Mania doida, que tantas vezes anunciava a partida. 
A guitarra escreve gritos que não são mais do que as sombras do teu caminhar. 
Não sei. 
Nada mais me importa. 
Desejo o que desconheço, mas esta angústia que continuamente risca na porta, a mais triste das despedidas, mostra-me um desassossego onde voa o desejo que eras. 
E quando me vê, paira no ar, como a querer indicar o caminho do nosso encontro. 
Mas, sinto que perdi a esperança nesta dança de fantasmas. 
Escondi- me nas palavras defeituosas. Erradamente julguei que era só um jogo, igual às histórias que nos mentiam. 
Nunca admiti, ser a vida, um rebuçado feito de lamentos, mesmo um sorriso pendurado na cruz que mantém a ilusão.
Eu, só pensava que a felicidade era um sonho, nunca uma probabilidade obsoleta. 
Desconhecia que os abraços que mentimos encaminhariam para este desconsolo. 
Apenas imaginámos o sabor de uma pele comum. Somente um beijo sem despedida.



,2022Mai_aNTÓNIODEmIRANDA


CALMA CONSELHEIRA

 

Quando danças nas cordas da minha guitarra, 
os passos são as notas que invento, 
mesmo sabendo o nada que tenho 
para te encontrar. 

Não há consolo nas memórias que não se escrevem, 
nem nas histórias dos pássaros que desistiram de voar.

Aqui, 
no alpendre da calma conselheira, 
olho para um céu cheio de esperas
e desenho nas sombras,
nomes que nunca irão chegar.


,2022Mai_aNTÓNIODEmIRANDA

PASSATEMPO

 

Rasgo o tempo 

Dos relógios enferrujados 



Assim 

Encorajo a pretensão 

De 

Matar 

Os 

Dias 

Sem 

Alma



,2022Mai_aNTÓNIODEmIRANDA

NEM SEMPRE VESTI O FATO ONDE ESTAVA ESCRITO O MEU NOME

 

Dizias então que poderias levar-me 
às margens dos abraços não devolvidos.

Então eu, 
o tal marçano dos recados queimados, 
tentei escrever um poema só para esconder 
o ridículo deste atrevimento.

Depois, 
tempos duros apedrejaram o caminho das lágrimas, que, às escondidas, tinham abafado. 
Cansadas, 
as estrelas contemplam a angústia pintada no céu. 

Abraçamo-nos num aconchegado sorriso de criança, sabendo como sempre, 
que o chão que nos esconde 
é tão duradouro como um apertar hesitante 
Rasguei a emoção sem sentido algum

Nem sempre vesti o fato onde estava escrito o meu nome


,2022Mai_aNTÓNIODEmIRANDA

A COR DO DESEJO

 

Adeus amor.

Teria sido lindo
Se tivesse nos meus olhos
Um tempo
Que me desse o momento
Da cor dessa dor
Que só o desejo pode pintar.

Há quem diga
Que amar
É um verbo 
Com tempos difíceis.

aNTÓNIODEmIRANDA

POR FIM VESTI O FATO QUE MAIS GOSTO


Levantei-me
Tomei os comprimidos do costume
Fumei um cigarro para acompanhar o café
Defequei 
Conferi a quantidade
Fui até Algés comprar um tinteiro e papel
Imprimi 64 coisas
Espreitei o correio
Não abri os vídeos que enviaram
(a minha curiosidade é uma preguiçosa)
Cozinhei arroz de peixe para o almoço
Andei alguns quilómetros e comprei uma moldura para uma fotografia
Passadas 2 horas e ½ cheguei a casa
Bebi água
Sentei-me na varanda a ler Bukowski
Fui comprar tabaco e telefonei para algumas pessoas que nunca vou deixar de gostar
Acendi o computador
Toquei guitarra
Fui jantar â Adega Típica de Algés
Picanha – Feijão Preto – Arroz – Vinho – Jameson
Cheguei a casa
Bocejei com whiskey enquanto espreitava um filme
Ouvi “La llorona” cantada por Chavela Vargas
Por fim vesti o fato que mais gosto
Não duvido que irei dormir feliz




,2020mai_aNTÓNIODEmIRANDA

ÉRAMOS JOVENS NAQUELE ANO DE AGOSTO

 

Percorri-te as ancas
com uma erótica plasticina
porque é assim 
que se moldam as obras de arte.
Não aprendi isto em lado nenhum
mas o jejum obrigatório
que me impediu de comer-te
originou um desejo suspenso
concluído na imensidão 
dos pretensos pecados,
abençoados  pelo olhar 
dos verdadeiros santos,
aqueles que tapam os olhos
para assim nada dizerem
das poucas vergonhas
que também acontecem
em certos lugares sagrados.
Não era nada connosco!
Repetimos várias vezes.
Todos os dias.
Éramos jovens
naquele ano de Agosto.


2016,11aNTÓNIODEmIRANDA


quinta-feira, 19 de maio de 2022

LIMPEZA A SECO

 

Escondi os sonhos na mina dos desejos perdidos.

Bruni o desconsolo em suaves núpcias.

Salguei a vergonha no poço dos desejos

Tentei embrulhar os soluços que vestiam as sombras da tranquilidade.

Arrendei a vontade com juros gratificados.

Mas, ninguém compareceu à minha necessidade.

Penhorei a ideia da felicidade 
no congresso da agiotagem.

Sim!

Eu é que fui o farsante da última ceia!

Estava farto dos originais fotocopiados!


,2022Mai_aNTÓNIODEmIRANDA

PRET À PORTER

 Que sonho pode ter medida

Ou ousadia para nele caber?

O que valem as horas

Gastas na angústia escusada?

Abraços frios

Serão sempre melhores que os fingidos

Aborrecidos tornam-se

Os soluços tingidos.

Às palavras de circunstância

Nunca lhes dei

A mínima importância.

Sentimentos adulterados

Serão sempre escusados.

Preocupação fictícia

Sempre me deu cuidado:

Causa-me icterícia.

De qualquer modo,

Obrigado!

(Não acreditem:

Só estou a fingir

Que sou educado).


2014_set aNTÓNIODEmIRANDA

7 (Antologia de autores da volta d`mar) - Biblioteca da Nazaré_2018_Setembro_29

 

 

LISBOA BLUES (UM ELÉCTRICO CHAMADO 28)


MÁRIO BOTAS_Falar dele no céu de uma paisagem_POEMAS PARA MÁRIO BOTAS | volta d`mar / Biblioteca da Nazaré

 







CHARLES BUKOWSKI Os cães ladra facas [ANTOLOGIA POÉTICA]

depois de receber a cópia
de um colaborador

peixinhos choramingas
colando-se aos teus ferimentos
é o que há nestas páginas mal impressas,
e ainda à procura de patrocinadores
amantes
mães
fama fácil:
qual de vocês
é que eu vi através
do vidro da montra gelada de um restaurante
de Denver
a comer tarte de maçã?
qual de vocês
foi até East Hollywood de bloodhound
à caça de uma ama-de-leite?
qual de vocês é que depois bateu
à minha porta
a querer falar de POESIA?

qual de vocês é suficientemente vaidoso
e suficientemente miserável
e suficientemente doente
para lamber o cu a um editor?

qual de vocês é que vai
a todas as festas literárias
e lê as suas próprias coisas a um
bando de ténias solitárias?

qual de vocês é que acha
que é o Pound ou o Shelley
numa borboleta azul?

qual de vocês é que 
alterou o meu poema para ser lido
da maneira que vocês PENSAM
que um poema deve ser lido?

qual de vocês se lamentou num
sentimento doentio, amigável,
como larvas rastejantes
no corpo da minha mente?

e isto pode parecer forte
e injusto,
pois eu digo deixem toda a gente viver
e escrever
aqueles que querem viver e escrever,
mas qual de vocês é que
vive com a mãe ou com a tia,
qual de vocês é que 
mete pó de talco no rabo
para depois trepar
à cruz?

qual de vocês
(um é um professor universitário
que uma vez repreendi
devido à sua abstracção sem sentido?
qual de vocês é que agora
escreve sobre putas e vinho verde
mas nunca foi para a cama com uma mulher,
e nunca bebeu 
mais do que uns golinhos de cerveja preta?

e qual de vocês
escreve com um dicionário sobre a barriga
como se sodomizasse uma vaca integral?

qual de vocês é que mói a alma
ao som do órgão do Bach
como um macaco de circo?

qual de vocês
é que odeia a esposa que o alimenta?
não por ela ser humana
mas porque
não gosta daquilo que vocês escrevem.

qual de vocês
não conseguiu acertar na bola de basebol?
qual de vocês
é que nunca esteve preso?

qual de vocês?
qual de vocês
qual de 
vocês?





quarta-feira, 18 de maio de 2022

Johnny Winter - SUZIE Q (Live at Rockpalast)

Bar A Barraca - Teatro Cinearte 15 de maio de 2015 · Poesia às Quintas – com Miguel Martins – 136ª sessão – Bar a Barraca – 21 de Maio – 22.30h – entrada grátis

Alexandre Sarrazola (falso gémeo de Gabourey Sidibe) lê Jorge Luis Borges e António (de) Miranda.

Quem não aparecer é porque anda indeciso entre o crudiverismo e a criopreservação como caminhos para assegurar um futuro melhor para a Humanidade.









A Favola da Medusa feat. Carlos Barretto ( no blog do Miguel Martins)

 Há já quase uma década que o jovem contrabaixista Carlos Barretto perseverava no anelo de tocar com mestres Anjos, Fonseca e Martins, uma das formações d’A Favola da Medusa, reconhecidamente a mais alta instância da música sacro-profana do mundo ocidental.

“Mas eu toquei com Mal Waldron, Lee Konitz, Steve Lacy, Art Farmer, Louis Sclavis, Horace Parlan, Brad Mehldau, Richard Galliano, Barry Altschul, Don Moye, John Betsch e, até, com a mítica Banda do Casaco” — dizia ele, como se tais argumentos, e não uma aplicação contínua e abnegada, pudessem demover as férreas convicções dos três amantes dilectos das musas.

Contudo, eis que, finalmente, sua porfia deu frutos e, no próximo dia 24, pelas 21h, nesse verdadeiro tabernáculo chamado BOTA (Largo de Santa Barbara, 3-D, Olissipo), Barretto debutará ao lado d’A Favola, numa noite que promete ficar marcada nos anais da musicologia do Velho Continente.

Quem não aparecer é porque tem sonhos húmidos imaginando-se em actividades concupiscentes com o Trump e o Bolsonaro, esses dois expoentes da filosofia asinina.


Publicada por Miguel Martins 



Bukowski


 

terça-feira, 17 de maio de 2022

MEMÓRIA MAL-INTENCIONADA


Todo o tempo do mundo que agarro na mão 
faz de mim o caçador solitário neste jardim, 
despejando uivos dourados cantados 
nos alcatruzes da velha nora.
Traz-me sons de memórias coradas na relva idosa, onde flores esquecidas 
agradecem o meu aparecimento.
Pé ante pé, cortejo as mais desprezadas, 
e rego-as com o sorriso que trouxe da fonte 
onde bebi quezílias pacíficas.
Para longe vai o sol levando todo o cuidado
para não dourar a lua.
Pintado pelos pastores, o laranja  que consola o céu, risca um vento suave
para juntar as cores mais bonitas.
Todo o tempo do mundo, é agora uma alegoria cantada pelos cães,
que assim saúdam a primeira estrela.
E eu encostado ao mais velho dos poemas,
olho para esta folha onde dorme a minha pena.
E numa alegre despedida,
enlaço o olhar de tanto gostar
de saber que ainda há muito mundo
que não compreendo.
Não quero saber de acrobacias,
nem de palavras cosidas em patchwork,
nem de interpretações artificias.
Agora! Repito, Agora!
Qualquer elogio para o que escrevo, 
é uma memória mal intencionada
para aquilo que não sei se sou.

,2017,mai_.aNTÓNIODEmIRANDA

CONTROLO ANTI DOPING

Noite calma.

Os soluços estão a dormir
no congelador das lágrimas tristes.

O pijama veste-me o sono,
mesmo fingindo um cor de rosa.

Os espinhos saíram do filme
e aguardam septicamente
o resultado do controlo anti doping.

A ambulância abandonou
o condutor apressado
e aconchega na buzina
alguns banhos de sol.

Amanhã,
O vendedor de gelados,
Irá fintar bolas de Berlim
para a próxima época.

Tudo irá correr de acordo com a planificação.

Contratou um preparador físico
para emagrecer os grelos das batatas.

 
 
2018Abr_aNTÓNIODEmIRANDA

domingo, 15 de maio de 2022

CONVERSA COM GINSBERG

Naquela tarde depois de as manhãs se cansarem, tinha na garganta o “UIVO” para tomar o pequeno-almoço. 
Pedi então açúcar mascarado tal era a pena de nunca o ter conhecido. 
Concentrei-me num cosmos surpreendido pela minha curiosidade. 
Lembro-me que era muito novo e mesmo assim já lamentar o facto de não poder falar consigo. 
Nasci adiantado e isso foi-me dando muito trabalho. 
Mas tinha a sua ideia da América e li o “ON THE ROAD” na altura exacta. 
Diziam no escritório onde era paquete, que era excêntrico. 
O irmão e irmãs do meu pai, comentavam que passava a hora do almoço nos bares das putas do Cais do Sodré. 
Coisas da ignorância, como poderiam testemunhar o Madeira Luís e o Hipólito da então livraria Opinião
Senhor Allen: não é culpa sua que os quatro psiquiatras, que me escutavam, tinha eu 14 anos achavam que eu pensava diferente dos outros.
Nunca fiquei e o mesmo acontece agora, indiferente àquilo que quero gostar. 
Mas as máquinas IBM não operavam aquilo que a Patsy Southgate tinha escrito no poema. 
Cresci nos corredores do escritório o que convenhamos são copiosamente iguais aos dos supermercados onde ninguém oferece nada em troca da nossa beleza.

Tantas vezes fui alvejado a tiro nas costas por uma vontade não conseguida.
E tanto roubei num supermercado longe da sua Califórnia. 
Não visitei a campa de Apollinaire
Mas estive lá perto. 
E publicaram um poema meu sobre esse senhor. 
Não poderei enviar-lhe um sequer registo de um sonho, só porque de tanto sonhar a memória fica tão chateada que nem a mim me oferece um só.
E voltámos á América. 
E você sabe que é uma palavra em vias de extinção.
E eu sei que você até tentou ser bondoso.
Mas como diz o Frank O´Hara, a indústria pornográfica está em crise.
Nunca estive em Nova York, mas não me custa admitir que no verão em que a beijou ela estaria magnífica.
Depois disso, vermes devoraram esse lago.




2017,mar_.aNTÓNIODEmIRANDA


 
 

sexta-feira, 13 de maio de 2022

DERIVA

 

Se o teu céu não tem a cor do meu estar

na languidez  que respiras 

prometo não deixar qualquer vestígio 

senão estas horas esquartejadas

no beco dos desperdícios



,2022Mai_aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 12 de maio de 2022

DIAS DIFÍCEIS

 

Não é fácil ser santo nos dias que correm.

Cada vez há mais arrependidos, 

que estupidamente pensam 

que trabalho aos domingos.



2018Mai_aNTÓNIODEmIRANDA

E EU AINDA NÃO SOU ANJO no livro #Livraria Buenos Aires# - Editora Tea For One / 2015Março

 

E EU AINDA NÃO SOU ANJO

Para os que comemoram aniversários clandestinos debaixo dos viadutos, ouvindo sinfonias estereofónicas de claxons e que conhecem de cor as influências dos fluídos do trânsito no comportamento das pessoas. Para aqueles que ainda têm a coragem de assumir a diferença cada vez mais etiquetada com heterónimos de loucura. Para os que rezam em silêncio desfilando entre os dedos rosários de lágrimas e, ajoelhados em soluços de desespero, esperam ainda com a esperança possível, aparições dos anjos do néon.

EU AINDA NÃO SOU ANJO

Para os que constroem a poesia com o amargo optimismo de experiências repetidas e que, sobretudo, sobretudo não lamentam , não invejam a maldita sorte dos poetas malditos :

Visões do apocalipse

Tentações demoníacas

Desolação

E EU AINDA NÃO SOU ANJO !

VIVA LA MUERTE !

Os duendes de Somorra invadiram as autoestradas deste inferno com sorrisos malignos de arco -íris.

Para aqueles que ignoram as constantes tentações do deus publicidade e fumam orgulhosamente beatas anónimas, marimbando-se nas marcas, e ainda para os que olham as montras sem qualquer laivo de cobiça, manifestando delicadamente a sua indiferença pelo Yves Saint-Laurent.

Para os guerrilheiros da angústia, que atacam a normalidade com raids ritmados de swing e destroem horários com metralhadoras de coragem.

E EU AINDA NÃO SOU ANJO !

Para os que gastam o tempo antes que o tempo os gaste e sorriem às estátuas com sorrisos cheios de cumplicidade 

Para os que lavam as horas em retretes repletas de relógios, para que o despertar não tenha o sabor inglório da obrigação digital. 

Para os que se deitam na praia desenhando na areia voos obscenos de gaivotas e desfilam sonhos de m`água e que compreendem docemente os queixumes do mar e choram no silêncio soluços da ausência.

Para os que acordam sempre

do mesmo lado 

da mesma maneira 

devorando avidamente croissants recheados com perfumes da Dior e devoram avidamente o nosso tédio, cuspindo depois as algemas da nossa escravidão.

Para que os vagabundos tenham pena de nós, da nossa impotência, da nossa burguesia, das nossas aspirações, dos nossos projectos, da nossa incoerência, do nosso medo e, sobretudo, sim sobretudo, para que lamentem :

A nossa falta de coragem que sempre desculpamos com a sorte

porque gastamos a vida na margem dum rio que se chama morte.

aNTÓNIODEmIRANDA




domingo, 8 de maio de 2022

MAP * TEMPLO DA POESIA * OEIRAS

 



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Café dos Poetas - Lawrence Ferlingheti e a beat generation,

https://fb.watch/cTqGybpwT1/ 


📚 Qual é hoje a importância da beat generation e, em particular, de Ferlinghetti (1919-2021), um dos seus vultos mais destacados? Na poesia portuguesa contemporânea, onde podemos encontrar a sua marca?

🎤 Sessão com curadoria de Miguel Martins. Com a participação de Miguel Martins, Jaime Rocha, Ana Isabel Soares e acompanhamento musical de António Palma (piano). A apresentação é de Nuno Miguel Guedes.

Roger Waters - 5:01AM (The Pros and Cons of Hitch Hiking, Pt. 10)

O senhor Robert Johnson (8 de Maio de 1911 / 16 de Agosto de 1938) "Preachin' Blues" Robert Johnson

No blog do Miguel Martins. Ontem, 7 de Maio. Grande sessão. Muito obrigado.

http://cachimbodemilho.blogspot.com/

sexta-feira, 6 de maio de 2022

Can - Yoo Doo Right

Feito e Comido. (Almoço 5ª feira_05/05

 


A MALVADEZ DO TEMPO

 

cansei de esperar
/embora não acreditasse/
que desenharíamos 
no último sorriso
a entrega do dia perfeito

/era só uma ideia elegante/
sem desesperos no zoo

um filme suave

um chão promissor
/alheado das memórias tristes/

fotografias sem ausências
que sorriam para nós

/mas a malvadez do tempo/
tempera numa constante acidez
recordações dolorosas
que  despudoradamente
percorrem os corredores dos cemitérios


,2022Mai_aNTÓNIODEmIRANDA