O que pensas que me podes dizer?
Que ainda vamos a tempo de mudar afinal aquilo que não fizemos no tempo certo.
Dos ideais que conspurcamos porque era cedo para agir na altura devida.
Congratularmo-nos pelos constantes falhanços adormecidos com bebedeiras de maturidade fingida.
Porque não falarmos de tomates enlatados em manuais que mentiam tanto como a nossa covardia?
O que pensas que há para desculpar?
Querer dar cabo de ti só foi um desejo inacabado e isso agora já não me dói todas as noites.
Fui temperando esta resignação tingindo-a numa novena em que nem eu era um digno destinatário.
O que pensas que me podes mentir?
Vingámos a nossa ousadia nos encontros semanais num delírio borrado nos campos de painting ball.
Estou cansado de escrever com esperma.
O que mais poderemos falar?
Desenhar pontos de fuga nestas pontes que fazem a distância cada vez maior. Ou simplesmente reciclar num depósito camarário, um desperdício misturado levado por um anónimo camião com uma grua adequada à nossa tarifa social.
E depois o que nos falta dizer?
Os dias nem sempre nos aprovaram. Muitas horas foram gastas depressa demais e assim nos fugiu a importância que tanto mentimos nos anos que esvaziámos.
E depois?
Contemplar o sol com óculos de marca tão fingida como o céu que nos ignora.
Estamos a falar de quê?
Da nossa inutilidade. Tão imprópria como o mísero número da factura da nossa concordância.
Estamos longe para quê?
Voltamos sempre à meta da partida. Mais imóveis do que pedras, nunca alcançámos o primeiro passo.
E o que nos falta?
A liberdade de um tiro.
Mas a nossa vontade é somente um acto de contrição.
E alguém continuará a proclamar imbecilidades como esta : qualquer rendinha fica-nos bem.
Porque não falamos?
A vida rouba-nos tanto tempo. Faz-nos contas às avessas, que por vezes só um bom momento nos dá o alento para apagar os dias errados.
Tenho saudades dos meus amigos que partiram!
Tínhamos grandes conversas!
2016,10aNTÓNIODEmIRANDA
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