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quinta-feira, 13 de outubro de 2022

O TEMPO SEGUE PENEIRANDO

 

Aqui nesta aldeia sofrida 
bordo a ferida num quintal plantado de lápides 
com nomes que já conheci.
Desço a tua calçada, 
manha por mim inventada 
onde acordo todos os relógios 
que mentirosamente me entregaste.
Sou a tua única ruína compendiada 
numa arqueologia que nunca nos salvará.
Apoio esta dúvida nos corredores do metro 
com saudades dos velhos cegos 
tocadores de acordeão.
O que é feito daquilo que me pertence?
Não posso pintar-te num azulejo 
porque quem te tocasse 
nunca iria aceitar os teus abraços.
Deixa-me ficar assim.
A despedir-me com cardápios 
de línguas estrangeiras 
que tornam confusas as coordenadas 
do voo das almas distraídas.
Submeto-me a uma noção fora do contexto 
aguardando serenamente a não normalização 
do que de mim 
o tempo segue peneirando.

2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

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