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segunda-feira, 23 de outubro de 2023

O HÁLITO SALGADO

 


Está frio no meio do meu sonho.
A pele estica-se fora da dor fugindo 
do sangue atropelado pela lama da vida.
Tenho na mão o hálito salgado 
dos tempos morridos desta espera 
constante.
Não posso pedir ajuda 
a esta importância que me julga 
neste cambalear com que embalo 
o vazio pensando iluminar as agruras 
onde tanto me desanimei.
Estendo sorrisos como se a eles 
alguém acenasse e assim me envolvo 
em bolhas de cotão.
Vou passando em todas as ruas 
como a areia do deserto que sobrevive
 à falta da mais pequena ternura.
Chego sempre cansado 
demasiado cansado carregando o peso 
da minha ausência.
Descalço o olhar escondo o desejo
alisando a memória nas ilustrações 
esbranquiçadas da ilusão.
Infinito é o bocejar do meu passado
feito com o polimento das pedras 
que me atiraram.
Continuo apartado.
...depois de todo este tempo.



,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA


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