Só abuso da minha continuidade e dos sonhos húmidos
que me confortam uma pele já ressequida.
Não sinto falta da saudade,
e muito menos da traição do seu suor,
com que queimo gemidos que já não me querem.
Percorro a lembrança de muitos beijos que cada vez
me torna mais distante.
O que é feito de nós e da teimosia que raiava o nosso
acordar?
Gelo-me em aposentos sombrios escutando o choro
angustiante das varizes que tanto me apertam.
O que é feito de mim, eu tão longe assim,
afagando parapeitos regados
com malmequeres soluçados?
Só abuso da minha gentil vontade,
para que todo o possível seja acontecido.
Para que um sol qualquer mesmo vindo de paraquedas,
não se transforme num vulgar personagem
de banda desenhada.
Falo-te agora, com a convicção mentirosa
dos poetas possíveis, escrevendo no roubo deste tempo,
a falha que nos encontrará.
Despedimo-nos sempre tristes,
como se não houvesse outras palavras
nesta caneta que arranha o nosso papel.
São coisas da vida, dizem como sempre os cautelosos.
Eu aguardo serenamente, abraçando estas memórias
e vou-me despedindo viajando naquilo que tanto gostei.
E isto dá-me a proximidade de mais dia menos tempo,
deixar de conversar com as estrelas que beijam este véu.
E poderia ser fácil um amanhã menos ínfimo!
Mas...2016,10aNTÓNIODEmIRANDA
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