O que fazes aqui, perguntava ele, naquele pequeno bar, onde bebíamos o sangue das putas que sempre imaginaram uma vida diferente. Mais tarde tive na mão um quadro do Schnabel, que apressadamente fugiu pelo buraco da agulha. Não, isto não está a acontecer. Tentava assim confortar a senhora com óculos de gata, que limpava a mesa das lágrimas cansadas. Não presto para nada! Repetia esta frase enrolada na echarpe que lhe cobria a tristeza. Tu és o homem de toda a sorte. Tens a riqueza, e, mesmo assim, não consegues comprar-me. Podes fazer tudo, mas nunca me encontras nesse olhar de fortuna empobrecida. O teu império está fora da rota da minha possibilidade, eu, que só me acho nos princípios pobres. Não me importo com a vida. Tudo me é roubado.
1.1 Canção triste.
Tenho as veias secas de tanta desilusão. Alguém dizia que eu era o seu brinquedo favorito, melhor que o “espada do rico”, e, que a minha marotice brilhava mais do que a exuberância do bobo do ferro velho. Era tratado como o rei da corte dos aventureiros, mas a verdadeira estrela, era um coração frito, servido numa salada requentada.
Nunca conseguirei ser honesto para as pessoas com cabeças mal comportadas. Às vezes, apetece-me dizer não, naqueles momentos em que a solidão me abandona.
Como imaginas o que se sente, na festa dos cocktails da desgraça, em que és o único rebuçado que ninguém procura? É difícil explicar quando a nuvem que julgas ser, só quer fugir de ti. E o termómetro mente no teu sovaco uma amena temperatura .
Volta para o buraco, avisa a vontade que queres vomitar. Dizem que são teus amigos, e vão curar a doença dos teus olhos de ódio. E finges acreditar, porque és uma boa pessoa. Mas aquele baixo bate no teu corpo, e, tu, só queres dançar, ir para o longe, desaparecer deste palco, de onde todos os teus sonhos fugiram. Mas aquele bailado de agulhas, infecta a tua fuga, e, não resistes àqueles rancor envinagrado.
Nada te sossega.
Aquele amor que tão mal te considerou, finge agora noutros braços, a paixão prometida. Sabe que te partiu o coração, mas só te deseja na penumbra da canção triste. Isto não pode ser o fim. Promete a amante das flores que não têm medo. Ri-se de ti, escondida nas pétalas que queria que amasses, e mordendo o desejo, aperta nos lábios delícias de despedida. Agoniza na janela da dor, e mostra o frio cada vez mais perto. Puseram-te fora de tudo. Não sabes jogar este jogo, com olhos que enchem de água este naufrágio. Levaram o que pretendías. Ficou um murmúrio que implora ajuda.
Por favor, não nos abandones.
1.2 Sou só um homem cansado, embrulhado neste lençol de angústias. Amanhã, depois do ontem que não lembro, haverá um lugar para eu encostar a cabeça, iludir-me que nada igual acontecerá. A minha alma pede-me um sentimento diferente, mas há muito que enferrujei as lâminas das previsões optimistas.
Nunca deverias ter seguido este rasto, diz-te a vida trilhada. É fácil de falar, agora que a tua ilusão partiu numa caixa de aguarelas onde guarda a alegria minguada.
1.3 Canção triste.
Todos dançam nesta fantasia, mas eu só quero deixar de desperdiçar o meu tempo. Sou um simples ignóbil, merecedor dos abraços sem adereço.
Tenho um castelo de areias metediças, torres inglórias, facilmente destruídas por atitudes decentes. Mas o meu mal é venenoso. Convém não facilitar, porque a espada está sempre preparada para no seu gume, encantar a canção triste.
1.4 Carrego nos ombros a satisfação de contar as gotas do tempo que vai faltando. Chegam ainda distantes os aplausos de um corpo vadio. Tudo o que ele pretende, é uma recordação embelezada pelos pássaros vermelhos que pisam os meus ombros.
1.5 Só me apetecem lugares tranquilos, sem grandes decisões para tomar. Vejo passar uma banda rabugenta, tão usada como eu. E um aceno colado nos momentos que quis ser.
Não se preocupem!
1.6 Estou só a sangrar, neste quarto pintado de gritos.
Um blues qualquer estará sempre presente no meu mais sagrado desejo.
Assim, eu o mereça!
2018Mai_aNTÓNIODEmIRANDA
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