Não passo de um ruído espalhado pela vida, que, mesmo no paraíso precisa de amigos.
E no alarido de um coração picado há um cavalo que foge da sela que o quer trair.
Subtrai a ternura suicidante que lhe apaga a chama efémera e num grito desenfreado salta a angústia como se fosse arte poética.
E agora cansado chora o libelo da maldição que o fez prender.
Saltou o mais que pode a cerca que lhe toldava o horizonte e só agora pode beber num gole total a imensidão que lhe vendaram.
Feito poeta e na ausência do juízo normal aquece no galope sonhos há muito guardados.
Aparece de quando em vez nas quintas-feiras da poesia possível e fingindo que não chora, abraça qualquer presença.
Na forja que lhe derrete a alma espalha todos os poemas que cabem no seu mundo.
Apenas um sossego aqui na terra depois deste deus louco irmão de todas as morfinas e crítico apreciável dos benefícios da marijuana, longe da masturbação das agulhas beijando na fornicação a cara sem sangue que desliza pela parede riscos indolores de uma salvação com doses para uma semana.
Pedaços que exibe na mão foram um poema nunca sujo, escrito em moedas que mancharam a carne que pensava o amava.
E agora não consegue saltar os muros do sonho neste cenário de bêbados circuncisados.
Nesta escrita de raposa com a permanente promessa de não ganhar qualquer grammy, perde-se nesta sensata e inútil razão que se perpetua na pele.
Deus não existe!
O diabo é que às vezes se esquece de ser mau!
O inferno é aquecido por um micro-ondas.
E as formigas diligentes lêem notícias sem sabor. Dizzy e Parker sabem do que fala.
E eu não minto tanto assim.
Naquele tempo Nina Hagen vagueava pelo Harlem e beijava todos os pretos que tinha no coração.
Miles tinha escrito nas bochechas que a infância nem sempre é um acto saudável.
Berry no seu “duck walk” olhava docemente para certas teenagers que fingiam ter “sexteen”.
Ás vezes sentia no corpo um fato que pertence a outro, quando o dia lhe corria tal mal contrariando a mais optimista previsão do relatório do tempo.
Era quando o vento fugia da morte e empurrava esta mania de pensar que sabia quem foi.
E molhado por esta invenção, entregava ao deus- trará, protocolos falsamente assinados da sua presença.
O gato de Ferlinguetti poderá testemunhar a afluência inaudita na agência de turismo onde costumava urinar.
O calor do seu orgasmo aumentou a temperatura do deserto que foi a cama que nunca cheirou a sua solidão.
Eram noites sem janelas onde a memória acaba por fugir.
E assassinam gemidos de guitarra sangrando o ventre até aos dedos que só a queriam acariciar. Agarrava os blues do Mississipi e snifava o pó dos velhos “vinyls” que podaram a sua juventude. Retornava á velha casa e beijava o som roufenho que chorava naquele velho gira-discos, só para voltar a escutar de novo aquela música.
No caminho de volta encenava estrelas e falava com todas as palavras possíveis.
Estrelava no céu beijos agradecidos.
,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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