O importante é não nos comprometermos com as pessoas, não que temamos as consequências, mas porque não aceitamos e rejeitamos a realidade em que vivem. A futilidade do seu quotidiano é a sua mais notória falta de imaginação. Pensar, é aquilo que elas não conseguem, mesmo quando não têm nada para fazer. Se eu tivesse um Ferrari fazia amor com ele. Se eu fosse pato gostava de ser gato. Se eu fosse francês não falaria emigrante. Se eu fosse esperma escolheria o teu corpo para navegar. Quem pôs a bomba? Senti a sua explosão no meu corpo & logo pensei que tivessem inventado o amor. Acredito no amor, não como palavra, não como acto, mas como desejo.
É preciso estarmos atentos vigilantes não só a nós mesmos mas também aos nossos instintos naturais. Somos sensíveis, mudamos frequentemente, e quando isso acontece, nada se altera. Hoje pode dizer-se que naquele verão estavas magnífica e eu posso também afirmar, embora não publicamente, que às vezes precisava de ti imaginando-te drogada & quando tu aparecias, o que nunca aconteceu, eu olhava-te e convidava-te para me cortares as unhas dos pés. Lembro-me perfeitamente do sorriso que tinhas quando me olhaste com o dedo que não tinha unha entre as mãos: mas eu sabia, sim eu sabia que isso mais dia menos dia iria acontecer. E eu toquei-te e tu disseste não e eu beijei-te e tu disseste não e eu desejei-te e tu disseste não. Visivelmente cansados pela nossa primeira experiência permanecemos pedrados de mãos dadas na cama, cuspindo para o tecto tentando acertar numa casca de ovo horrivelmente pintada. Aproveitei para pôr no gira-charros Woodie Guthrie & tu gostaste !
Ouvindo Sonny Terry e Brownnie McGhee e perguntaste o que era um Blue. E eu disse-te ao ouvido: sabes pá, quando um gajo está na merda com a sua girl friend, pega na guitarra e acontece o Blue:
“Eu nasci na auto-estrada 64 e a primeira refeição que tive foi uma boleia. Cresci, embora não muito, no meio de negros de caracóis dourados. Engolindo o fumo dos seus cigarros, eu ouvia-os longo tempo cantando: oh deus! oh deus! porque é que isto acontece? Porquê trabalho eu tanto para o outro ter Mercedes Benz. ”Comecei a trabalhar, não muito frequentemente, gastando todo o dinheiro em livrarias, até ficar com calos nas mãos de tanto pegar nos livros que muitas vezes não tinha hipótese de comprar. Era sempre um desejo adiado. Passei dias no café Pigalle observando os craques do bilhar e os curiosos das slot machines. Aprendi a conhecer pelo cheiro das beatas que fumava a marca de alguns charutos e tinha como passatempo preferido, mudar as etiquetas das garrafas de vinho nos supermercados, tornando assim viável a compra com o preço adequado às minhas reais possibilidades. E pensei em mudar. Disse à minha namorada: estou cansado de andar por aí, quero fixar-me, tenho de casar. Mas devemos de estar atentos, não mudamos quando queremos, mas porque quase sempre somos obrigados a fazê-lo. Não somos tão sensíveis como imaginamos e tão sólidos como de tal temos a certeza.
Entre a ausência e a presença o passado é-me fiel.
… Embora se saiba que a fidelidade, também é uma companhia de seguros…
76*2014.aNTÓNIODEmIRANDA
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