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sábado, 21 de outubro de 2023

NUNCA SORRIO PARA MIM DESCONFIADO

 


De onde saio?
Do tempo infame ou terei de continuar no corredor das fintas curtas e golpes de rins vendidos em qualquer talho? Mastigo sem gosto a sopa de letras que não sei ler e nos passos em cima da linha, alinho contradições que só a mim dizem respeito. Longe, naquele lugar que às vezes encontro e que de tanto o achar, o desencontro, procuro uma lucidez que não me dê muito trabalho. Sento-me na paragem da espera do tempo, agarro o fôlego e envio para o céu códigos escritos com a nuvem dos cigarros que fumo. É sempre necessário admitir que nem tudo o que me seduz é ouro. Já tenho a pele com a certeza do couro e demasiadas pulseiras antagónicas para soletrar penas nunca cumpridas.
O bom filho a casa rouba e a mais não é obrigado. 
Sou um desalinhado com algum jeito para centrar exacto o esférico em direcção à cobiça adversária. Os estúpidos  não compreendem os meus contrários, e assumo quando me apetece, que a minha aspiração na vida nunca foi corriqueira. 
Gosto do que sou amo o que gosto mas isso é tão banal que nem importância lhe dou.
Finjo que não ouço mas nunca me esqueço.
Aqueço o espelho para que o vapor não mude a risca do meu penteado.
Nunca sorrio para mim desconfiado 
e não confio absolutamente nada 
num relógio que admita enfeitar o meu pulso.



,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA


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