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quinta-feira, 3 de agosto de 2023

FALÁCIA

 


Ela dizia:
O meu corpo não me envolve.
E pedia ao deus que nunca perdoou
que a acalmassem.
Mas, era esse deus  maldizente e distraído 
de todas as pretensões suplicadas.
Ela só queria ser o que constantemente lhe fugia 
e implorava sensações que vira nos outros.
Gelava sempre neste sonho, 
mergulhada em frios suspiros e as noites molhadas escondiam-se nos tupperwares da solidão 
onde dormia sonos estranhos.
Tinha ouvido falar da paixão 
que talvez estivesse naquele presente que nunca conseguiu abrir.
Ela dizia que só queria salvar a alma, 
e num gesto há anos utilizado, 
continuava a encher com lâminas 
o mealheiro da sua vida.
E o seu corpo mentia enquanto lhe dizia:
Gosto de ti, doce nuvem de algodão hidrófilo.
Ela mentia quando dizia:
o meu amor acabará por chegar.
E na cínica espera com que o tempo nos enlaça, 
sorria feita megera, rindo até ao último choro, 
secando as lágrimas desta trapaça.
Ela dizia, para alguém que não ouvia:
a perspectiva é uma calúnia e a sua falácia 
a realidade que muitas vezes enleva o sonhar.
Depois não há corpo nem pertença, 
nada que preste para partilhar.
Deus é uma cópula que nem todos sabem fornicar.




Melides,2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA 

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