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quinta-feira, 4 de maio de 2023

CARTA PARA FRANK O`HARA

O vermelho nunca me perturba.
Afaga-me o gostar
e desune-me qualquer inquietação.

Rebeca, a minha gata está a fazer zapping nas paredes do corredor, 
e pelo seu miar,
julgo perceber a espera do aplauso.
Amanhã, finalmente irei tomar o pequeno-almoço com o Frank O`Hara.
Temos qualquer coisa em comum:

o facto de ignorarmos que nos conhecemos.
Vou oferecer-lhe um Basquiat,

que desconfio roubei de um sonho que infelizmente não me lembro.
Isto, entre nós, é coisa de somenos.
Ele, sem eu saber prometeu-me uma velha moeda romana

salgada nas ruínas de Tróia.
Mas isto é segredo.
Só nós o sabemos.
Agora tudo está mais calmo.
O nível do Western Gold Straight Old Kentucky Bourbon Whiskey,

está a baixar consideravelmente,
o que pressupõe que não existirá o perigo de inundações na próxima hora.
Alerta glaciar! Gelo não! Não sei que horas são!
Mas confirmo que estou ecologicamente ébrio.
E isto poderá ser importante para as cenas dos próximos patíbulos!
Imagino este encontro na Zona Industrial de Sines.
Nós anonimamente conhecidos,

pintando vacas desleixadas a zunir lampejos de gratidão.
Mas isto, entre nós é coisa de somenos.
Estou a pensar num rascasso grelhado.
Isto é se o peixe não faltar.
Beberemos todo o branco beatificamente gelado pelos anjos absurdos.
Afinal, aqueles que acompanham os poetas.


,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA


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