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quarta-feira, 10 de maio de 2023

O CARTEIRO

 


Correm no meu lado carícias não entregues, 
quando me julguei carteiro 
e adulterei o código postal.
Não sei que ideia me cegou neste desvão 
de núpcias previamente anunciadas.
Sento-me num amor em vão,
a única possibilidade de pensar
que algo seria possível. 
No meio do nada que não conheço,
finjo-me que aconteço, 
metido em multidões encenadas por um coreógrafo 
que ainda não me encontrou.
O amor é sempre uma solução hipotética,
que por vezes se encosta 
a uma porta difícil de abrir.
Temos as chaves erradas,
o que até não é mau, 
pois se houvessem as correctas, 
não as saberíamos usar.
Isto dirão com certeza os filósofos,
coisa que não me apraz registar.
Outros dirão que quase todo o amor,
salvo nenhuma excepção,
é um acto de solidão.

Mas eu faço como a minha mãe dizia:
ama meu filho!
De manhã até ser dia.


2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

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