Não gosto desta cidade.
Trocou-me as voltas.
Dei-lhe a minha alma e ela agora oferece-me um retorno sem destino.
Acho-me tão distante neste tremer de mãos sempre à procura do lugar possível.
Nunca me sinto melhor.
Dei-lhe a minha alma e agora caminho como um cão com trela.
E é proibido mijar nas esquinas.
Olho para o letreiro dos eléctricos só para lembrar a vontade de neles entrar.
É um trabalho sujo este de detestar os lugares que amei. Dou-me mal com os cheiros que não conheço e amareleço sem querer este sorriso outrora companheiro inseparável.
Onde estou?
Numa encruzilhada de tabuletas impregnadas de palavras que recuso ler.
Ondas de medo enchem o meu sonho com o tamanho medonho apertado pelo meu cinto, afastando aquilo que gosto.
E um acorde alucinado que geme na minha guitarra, aguarda o solo do mi dobrado num dó de tanto penar.
Voltarei à cidade, para aquele lado selvagem, onde várias vezes vivi a surpresa.
Tudo era diferente naquele tempo.
E os pais das miúdas ficavam chateados quando me conheciam.
Estive em jantares com a minha indesejável presença. Algumas mães eram gentis desconfiadas, geralmente com um pedido no olhar.
Não faça mal à minha filha.
Escutava ameno esta cavaqueira de merda. Não é assim que se recebe um ínclito hóspede.
Mais tarde provou-se que o anjo era eu.
2017set_aNTÓNIODEmIRANDA
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