e toda a gente dizia para sempre que
cantava com uma voz divinamente mística
uma grande águia desdobrando as asas
aos ventos do mundo
e aos povos
oh como vêm
em barcos e aviões
e como montaram o grande pássaro
e como ele os levou de passeio
e voou milhares
e milhares de milhar
e como gostava de levar gente de passeio
faziam tocas no grande costado
e fossos nas asas
e cavavam nos grandes genitais
e extraíam-lhe os sucos a taxa reduzida
e treinavam e ajaezavam
este pássaro divinamente místico
e ele foi enfraquecendo
e envelhecendo
e os cabelos brancos
caíram da sua cabeça encanecida
e chamaram-lhe
a águia careca
e pôs um ovo em hiroshima
e outro em nagasaki
e perdeu a voz
e as penas caíram-lhe sobre cuba
e a república dominicana e o mississipi
e as asas caíram-lhe sobre o vietnam
e fizeram penas sintéticas para tapar as faltas
e ninguém acreditou no seu canto
nem mesmo as joaninhas
e ao cair tornou-se um falcão
e começou gente a cair
sufocada pelo fedor de um sonho moribundo
e tornou-se um canário
cantando versos de cor
a um mundo comprado dentro de um mundo
e o dia tornou-se noite
e o atrás tornou-se frente
e o preto tornou-se branco
e as folhas de erva viraram-se e gemeram
e as árvores gemeram
e o ar uiva e guincha
o seu lamento contra a América.
Robert Saggese
(in antologia da novíssima poesia
norte-americana)
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