Tocar o céu gritar no deserto
a falta sentida da tua imensidão.
Regar os canteiros das pétalas ausentes e pedir que não me acordes quando te fores embora.
Só um poema pode entender o nosso olhar molhado num dilema envolto em montes de sargaço com que julgávamos fingir uma qualquer ternura há tanto arredia.
Mas sabemos que não há poema para amplitudes tão teimosas escondidas no outono onde arrancámos os corações.
Não encontrámos sequer um verbo neste impossível poema nem forma nem desejo,
talvez a lembrança do único beijo
que não nos pedimos.
Mas que recado poderemos mandar quando descalçámos todas as palavras verdadeiras no sentir deste lento desistir repousado na almofada mentirosa?
Não há modo para socorrer a nossa sempre ausente correspondência.
Só a poesia podia salvar-nos, mas tudo passou ao lado e agora abençoamos a tristeza encenada numa marcha fúnebre até que os dias continuem a separar-nos da morte.
Até que a irmandade dos fiéis não defuntos finja acreditar no nosso engano.
Até que deus ou um outro qualquer dê pela nossa falta de comparência.
Até que todos estes anos deixem de pagar juros.
Até que a ilusão deixe de se vestir nos saldos.
Até que achemos um novo tempero para esta criação gourmet onde só o chefe manda.
Até que caiam do céu outros caminhos para neles nos perdermos, mas desta vez como deve ser.
Até que consigamos desobedecer a nós próprios e isso nunca seja considerado errado.
Até que a hipocrisia deixe de ser uma constante ameaça.
Até que a culpa deixe de nos latejar a vida cobardemente consumida com os restos.
Até que a nossa vontade nunca seja condicionada.
Só a poesia pode salvar a indignação.
Porque sabemos que nada mais poderá limpar a nojice do mundo.
,2016,08.aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com
a falta sentida da tua imensidão.
Regar os canteiros das pétalas ausentes e pedir que não me acordes quando te fores embora.
Só um poema pode entender o nosso olhar molhado num dilema envolto em montes de sargaço com que julgávamos fingir uma qualquer ternura há tanto arredia.
Mas sabemos que não há poema para amplitudes tão teimosas escondidas no outono onde arrancámos os corações.
Não encontrámos sequer um verbo neste impossível poema nem forma nem desejo,
talvez a lembrança do único beijo
que não nos pedimos.
Mas que recado poderemos mandar quando descalçámos todas as palavras verdadeiras no sentir deste lento desistir repousado na almofada mentirosa?
Não há modo para socorrer a nossa sempre ausente correspondência.
Só a poesia podia salvar-nos, mas tudo passou ao lado e agora abençoamos a tristeza encenada numa marcha fúnebre até que os dias continuem a separar-nos da morte.
Até que a irmandade dos fiéis não defuntos finja acreditar no nosso engano.
Até que deus ou um outro qualquer dê pela nossa falta de comparência.
Até que todos estes anos deixem de pagar juros.
Até que a ilusão deixe de se vestir nos saldos.
Até que achemos um novo tempero para esta criação gourmet onde só o chefe manda.
Até que caiam do céu outros caminhos para neles nos perdermos, mas desta vez como deve ser.
Até que consigamos desobedecer a nós próprios e isso nunca seja considerado errado.
Até que a hipocrisia deixe de ser uma constante ameaça.
Até que a culpa deixe de nos latejar a vida cobardemente consumida com os restos.
Até que a nossa vontade nunca seja condicionada.
Só a poesia pode salvar a indignação.
Porque sabemos que nada mais poderá limpar a nojice do mundo.
,2016,08.aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com
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