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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

O ENGANO

 

Quase que um poema, disse abraçado à estátua que pensava ser ele. Tinha preparado o mais eloquente discurso. 
Afinal, um dia não são dias, e aquele que inventou, prometia algo especial. 
Bruniu o bigode, ajeitou o laço, ensaiou um novo passo, tipo "Fred Àstiras"
Acordou desassombrado, talvez um pouco suado, mas nada que impedisse uma performance a condizer. 
Fingiu não estar nervoso, respirou fundo num ofegar ranhoso, prometeu não falhar, agora com tanta gente para o ver. 
Fechou a porta. 
O 1º degrau pisado com a bota direita, a vizinha à espreita, o do 2º andar intrigado de o ver tão aprumado, e o cão do rés-do-chão, sacudiu o rabo com muita satisfação. 
Desceu a Liberdade, cumprimentou o Carmo, sorriu para o Chiado, o Pessoa sempre ocupado, e ignorou os saldos da Benetton
O homem estátua piscou o olho à espreita da moeda, mas desta vez não podia ser. 
Desceu a Alecrim com muita cautela. 
Tanta buzinadela. 
As luzes dos carros dos bombeiros iluminavam o arrulho dos pombos. 
A polícia a todo o custo, tentava acalmar os presentes. 
A protecção civil no directo especial, prometia que logo que possível, voltaria a normalidade. 
Afastou-se sorrateiramente. 
Que raio de confusão. 
Não compreendia tal alarido. 
Não me digam que me enganei no comprimido!

,2018jan_aNTÓNIODEmIRANDA

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