# Não me identifico com a minha infância. Não me revejo
na minha juventude. Não morro de amores pelo rapaz
que era há vinte anos. Não quero saber quem sou e, desde já,
não me interessa quem possa vir a ser. Contudo, em viver
ponho um enorme gosto, um prazer calmo. Sem pensamento
e sem identidade. Pequenas coisas britânicas - um chá,
uma cerveja, um vaso, um tecido, um penhasco de giz -
confundem-me a realidade e inebriam-me como um romance
antes de adormecer. São entusiasmos partilháveis, cintilações
fugazes, amores de beira-gare. Enquanto, com denodo
e sem pressa, aguardo a dissipação do mistério maior,
o espanto de que as tempestades são o fogo-de-artifício. #
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