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segunda-feira, 31 de outubro de 2022

CUIDADO! OS DARDOS ESTÃO LANÇADOS

 

Gosto das noites que desenham convites 
atrevidos 
Gosto de rachar segredos
Gosto de passear o futuro
com os pés ausentes da cabeça.

E nos momentos em que a espera me escreve, 
Gosto de afagar a memória num saudável 
desalinho.

Gosto de embebedar-me exaustivamente, 
Uivar Saudar a ousadia das estrelas, 
Despoletar o cinto, Escrever (mesmo com 
sangue na alma) que o amor que engana 
nem sempre é mentiroso.

Genuinamente só, Gosto de baralhar o conflito 
de uma qualquer intenção fraudulenta.

Adoro esticar a corda até o nó ficar desfeito 
continuar a não desperdiçar tempo 
no baile de borboletas nocturnas. 
Gosto dos convites escritos nos decotes 
audaciosos. Gosto de sedição sem defeito.

Das estrangeiras sem depilação? Não!

Gosto da ovelha ronhosa
nunca da mania ranhosa

,2022Out_aNTÓNIODEmIRANDA

WINTER TIME BLUES_LIGHTTNIN` SLIM

 


quinta-feira, 27 de outubro de 2022

And When I Die, I Won't Stay Dead | SFIFF59

I Have Folded My Sorrows _ BOB KAUFMAN

DIMINUIMOS DRASTICAMENTE O ÍNDICE DE MASSA LABORAL

Sou optimista por opção.
Uma escolha de sangue, que muitas vezes verte a razão, 
em evidências pintadas com o pó de giz.
Exagero-me sempre que posso, a um nível para além do máximo. 
Auto motivo-me como um respirar sem pressa, e elogio a minha eloquência com segredos que só a mim dizem respeito. 
Falo com aquele gajo que vejo no espelho, desenho-lhe a barba e por vezes piscamos os olhos. 
Rimo-nos da nossa flacidez sem qualquer reprovação, e sempre que possível conferimos o número das nossas identidades. 
Usamos o mesmo perfume, o que sinceramente, me deixa irritado. 
Mas também não é por acaso que vestimos o mesmo penteado. 
Também é verdade, que não lavamos os dentes nas manhãs difíceis, e nunca temos curiosidade pelas notícias da necrologia. 
Sofremos, isso sim, a angústia escusada da meteorologia, e teimosos como somos, continuamos a calçar sapatos de camurça, quando ela prevê um acelerado aumento de temperatura, lá para aqueles lados que não conhecemos. 
O que é certo, é que temos mais do que fazer do que acreditarmos em nós próprios. 
Raramente nos separamos. E isso torna relativo o facto de há muito nos conhecermos.

Diminuímos drasticamente o índice de massa laboral.
 

,2017out_aNTÓNIODEmIRANDA
 

ILUSÃO DE ÓPTICA

 


Quem 

Me 

Viu



&




Quem

Te



,2022Out_aNTÓNIODEmIRANDA

O CANSAÇO DO NOSSO ENGANO

 


Até amanhã,
costumavas dizer.
 
e eu falava: 
deixa essa pressa 
para depois.

Mal a chuva acordava, 
fugias mais ligeira 
do que o cansaço do nosso engano.


,2022Out_aNTÓNIODEmIRANDA

PÁSSAROS DO TRISTE VOAR

 

Por onde tens naufragado meu arco-íris inquieto?

Há muito que não respondes ao calor dos abraços que pintei no teu sorriso.

Tardam as novas do teu sentir, 
e a kora da Sona Jorbarteh fala de um anjo que já não pergunta por mim.

Será que partiste sem visitar a morte?

Lágrimas dos pássaros do triste voar 
entregam-me poemas com a tua ausência. 











,2022Out_aNTÓNIODEmIRANDA

Hazmat Modine - Yesterday Morning

Quem anda aí? Lisboa. Rua dos Poiais de S. Bento.

 



Jesús Lizano #O Engenhoso Libertário"# Douda Correria

 O nada
O nada é o carteiro vegetal,
a clínica encerrada e misteriosa,
o tacto diluído que repousa,
o gozo do dilúvio universal.
A tarde do estio mineral
que salta envolta no mundo, ela é a fossa
onde tudo sonha, furiosa,
esfumado tudo, eterno sal.
O nada é a ebriedade de estar perdido,
o abandono da geometria,
cisne da fronteira devorada.
Humana pedra, lago convertido
em solidão, a máquina vazia.
Tudo dilucidado: isso é o nada

O SENHOR LEMINSKI...

 


Poema para Lou Reed

 Lewis Allen "Lou" Reed (Brooklyn, Nova Iorque, 2 de março de 1942 — Long Island, Nova Iorque, 27 de outubro de 2013).  um cantor, guitarrista e compositor .


terça-feira, 25 de outubro de 2022

I AM THE BLUES (www.iamthebluesmovie.com)



BLUES! JUST BLUES! 1
Um amor antigo, uma paixão permanente!
Pois… 46 anos a ouvir a grande música, deixam-me gostos que gosto de lembrar. Não tem qualquer interesse estar para aqui a contar quantas vezes tenho ouvido, cantado e tocado, à minha maneira, esta canção. O tempo vai rolando e tenho tido o devido cuidado de não atrasar a sua eloquência. Mantenho uma vontade feliz de continuar a abrir as gavetas do meu armário, só possíveis com uma desarrumação inerente à minha permanente disposição de amar esta música. Porque gosto, porque sei, e porque sobretudo respeito. Aqui, nesta grande música, não aparecem grandes palavras, nem acordes trabalhados até à banalidade. Estamos a falar, e exijo que saibam, que estamos a falar de pessoas que na generalidade não sabiam ler nem escrever. Mas, porra! Alguém terá mais alma? Para mim é um acto natural falar e gostar de BLUES! Entendo a todo o momento o seu sentimento. Também eu não ocupei qualquer assento da faculdade, andei a estudar para padre, mas fiquei com pouco mais do que a 4ª classe. Não, não é nenhum disfarce. Outros ventos alheios à minha vontade navegaram um vento contrário à minha maré. Bom! Moinhos parados não movem águas, e eu, não levem a mal, há muito mijei essas angústias. Estamos a falar de BLUES, esta música, que eu com o meu irmão Tomás e o nosso grande amigo, António Salomão, ao longo de 46 anos, vamos bebendo. Desde muito novo quis provar outro sal. Fui procurá-lo. É certo que não tive a noção do medo, nem poderá dizer-se que foi uma questão de coragem ou necessidade. Aconteceu porque eu sou assim, e depois, como sempre, continuo a aprender. Honestamente confesso, que frases como “I`M IN TROUBLE WITH MYSELF”, despertam uma cumplicidade que me satisfaz. “I´M GONNA LEAVE MY BABY”, acontece .“DARK CLOUDS ROLLIN”, é sempre um princípio. Gosto! Gosto muito de BLUES! Gosto tanto que quando toco, sei perfeitamente que eles também gostam de mim. Por isso, continuo a não conseguir tocá-los sempre do mesmo modo. 
Vou continuar a amá-los!
Mesmo que continuem a fazer parte da minha miséria.
É esta música triste, como costumava dizer a minha mãe, que ouço todos os dias. Não me canso.
“WAKE UP IN THE MORNING I GOT THE BLUES ON MY MIND”!
Um amor antigo, uma paixão permanente!
Mal ainda eu vim  Ao mundo
Já me chamam Vagabundo
Já me mandam Trabalhar
O patrão está à minha Espera
Não houve tempo para a  Escola
Não tive dias para Brincar.

2016_aNTÓNIODEmIRANDA

Los gitanos cantan a federico garcia Lorca

 








segunda-feira, 24 de outubro de 2022

CORRE O VENTO NO NOSSO DESENCONTRO


As beatas com os beijos do teu batom, 
deitam-se no lençol onde treme a ausência.
Está inquieta a lembrança, 
pregada na cortina manchada 
pela tua perda.
Acendo lágrimas no calor deste vazio 
que teimosamente bate á porta.
Tenho na voz o comando das angústias, 
embora saiba que há muito deixou de funcionar.
Agarro no manual da extrema-devoção, 
enrolo mais uma esperança, 
enquanto espero que as cinzas 
escrevam na janela 
o teu sorriso.
Corre o vento no nosso desencontro.


,2020abr_aNTÓNIODEmIRANDA

.



domingo, 23 de outubro de 2022

The Fabulous Furry Freak Brothers, 1971

 


Poesia às Quintas – com Miguel Martins – 106ª sessão – Bar a Barraca – 23 de Outubro 2014– 22.30h – entrada livre

"A editora & etc ultrapassou já as quatro décadas de actividade libertária, quando não mesmo libertina.Do seu catálogo fazem parte, entre muitos outros, autores tão notáveis como Paul Lafargue, Roger Martin du Gard, Pablo Picasso, Thomas De Quincey, Djuna Barnes, Ana Hatherly, João César Monteiro, Blaise Cendrars, Melo e Castro, Sade, Jorge Lima Barreto, Antonin Artaud, Erik Satie, Pierre Louys, Benjamin Péret, Rabelais ou Guerra Junqueiro.
Na próxima 5ª, Miguel Martins ler-nos-á alguns textos constantes desse mesmo catálogo.
Quem não aparecer é porque ainda este Verão fez cocó numa piscina. 
Já VÍTOR SILVA TAVARES – a alma da & etc – falar-nos-á sobre o percurso da editora."



COPY / PASTE

 

Panou a ideia enquanto pensamentos ardiam lentamente na fogueira. Agarrava o copo cheio de cinzas que lhe saiam da alma. Queimava os beijos nunca acontecidos, lembrando-se de Paris e de nunca ter visto a torre Eiffel. Mágoa que sempre lhe doeu. No caminho para o quarto, passava invariavelmente pelo Bois de Boulogne e admirava outros tipos de beleza que o ajudavam a aquecer o sonho. A insónia acabaria por chegar embrulhada em petit fours. Também é verdade que nunca se entreteve com os fait divers do Moulin Rouge.  Havia uma lágrima teimosa que nunca conseguiu enxaguar. Copy e Paste põem tudo sempre igual.



,2015aNTÓNIODEmIRANDA


sexta-feira, 21 de outubro de 2022

VULGARIDADE DE BASE

 

Não podes conduzir o meu desgosto nem sequer impregnar qualquer sentido para além de toda a espera com que me construo. Não vivo a consignação. São repetidos e sem nenhum gosto estes gemidos com que cozinho multiplicações de somenos importância. Sente-se o teu olhar bafiento mal escondido nas lentes escuras que reflectem o leque da mentira. Não são assim os dias que acordo quando agarro as possibilidades que me compõem. Não é o teu trote de hospedeira nem o cheiro de um perfume imbecil que me incomodam. A nulidade é o fruto que trazes sempre na mão como se a felicidade tivesse hora para acontecer. Não interessa o tamanho quando a intenção é sempre menor. Deitas o tempo do nunca num depósito que ninguém esvazia. E ao volante do cabriolet nem o trânsito diriges. Constróis uma área inactiva onde passos ensaiados marcam a nudez de um rasto gasto pela tua constante agressão. Seria mais fácil uma opção mesmo violenta para que a dor também não fosse passageira. Estou no autocarro, numa fila alheia à minha vontade, envolto em conversas sem circunstância e dedos riscando no teclado palavras demasiado fáceis de escrever. 
Quanto mais dias nos dá o tempo, mais significados nos rouba.

E isto não é uma vulgaridade de base.



,2016,05.aNTÓNIODEmIRANDA


Levi Condinho no blog do Miguel Martins .

http://cachimbodemilho.blogspot.com/2022/10/levi-condinho.html

BRILHO RANÇOSO

 

Descansar no prazer que roubas * 
* Fugir desse olhar enleado no arame farpado *
* Rabiscar no teu corpo um poema *
* Perfumar o desejo arrefecido na pele *

* Claro que pensas que alguma vez o tempo 
deixará de nos mentir *

* Coisas acontecem nos sorrisos 
que consolam 
a espera da tua ausência *

* O canto sossegado dos pássaros feridos, borda na almofada da memória, 
qualquer hipótese parecida, com o nome que deixaremos de estranhar *

* Estrelas de brilho rançoso 
testemunharão o sabor
desse nefasto instante *

,2022Fev_aNTÓNIODEmIRANDA

SEC`ADEGAS ANOS ' 80

 





Comprado na Poesia Incompleta. Já lido. 2019Outubro21


SILÊNCIO VERMELHO

 Infernos íntimos sem ponto de fuga. Há quem nunca tenha saboreado o significado da esperança. Construímos ninhos noutros corpos, com  a mão que treme quando te tiro a roupa, fazendo da pele uma luva qualquer, que lentamente enternece todo o amor solitário, entre paredes que miram o nosso voo, como se fosse secreto este desejo. Ninguém verá a nossa máscara. São tão pontuais estes dias que a pausa não pode acontecer. O que impede outros passos? Quero que continues a vir todas as tardes e dizer-me este silêncio vermelho das rosas. Quando partiremos a jarra com este cheiro bolorento, onde murcham as outras flores?

2015aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

2018*19 de Outubro. Tibornada em casa do Abílio e da Fátima, em S. Geraldo. SEC'ADEGAS e concertinas. Adoramos.

 




O TEMPO DA CANÇÃO FELIZ

 

Guardava sempre no bolso aquela ideia que constantemente lhe fugia da cabeça. _Encostado à parede das sensações saborosas, enroscava o carinho que vestia os seus passos. _Depois, sentado na espera habitual, mirava a própria sombra que lhe mostrava o caminho. _Serrava o olhar num assomo de respeito, e desenhava na memória a estrada que lhe apetecia. _Nunca olhava para trás._ Seguia página a página, a estrela que um anjo, há muito tempo pintara._ Leu de relance os livros que lhe forraram a vida, e num ápice majestoso, abraçou os blues que lhe vestiam a pele._ Pegou em si, com toda a precaução, e seguiu na companhia do tempo que tanto o estimou.


,2018jan_aNTÓNIODEmIRANDA

CULIGACÃO...... COMPRA-ME 1 SUBMARINO

 
Paulinho,
Compra-me 1 submarino!
Tenho moléculas indecentes
Neurónios encardidos,
Tenho tanto nojo!
Mas, sou um bom menino.
Também vendo um avião!
Feito de papel,
Cuidadosamente dobrado á mão.
É um projecto nacional,
Digno de um qualquer vilão.
Portas,
Compra-me 1 boné!
Fica-te à maneira,
Sobretudo quando vais à feira.
Também tenho uma aparelhagem dentária,
Claro em 2ª mão.
Branca, muito branca,
Para condizer com a tua indumentária.
E uma gravata wesley,
Com cores tristes como é agora a nossa bandeira.
E uma camisa com colarinho italiano,
Envergonhado pela tua irrevogável falta de classe.
Já agora, uns botões de punho
Que tão bem ficariam na tua testa
Com demasiado excesso de pele
Para a minha dignidade.
Tenho um casaco de xadrez,
Remendado, coçado, roto!
Portas, eu sou português.
Tenho 60anos & um ânus
Que diária e orgulhosamente,
Caga aquela coisa para ti.
Deixo-te o meu email:
antoniodemiranda.metecabo@vai-te_embora!
 
,2015aNTÓNIODEmIRANDA

ELA&ELE (TEORIA ISOTÉRMICA)



Ele dizia:
algo para além de nós
será sempre um sentido declarado
na direcção de um incomensurável
êxtase


Ela respondia:
e isso está escrito
na única teoria isotérmica
da não consumação
dos factos


2016,11aNTÓNIODEmIRANDA

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Lisboa & Tudo o mais...

 




BEAT (Com um abraço para o Miguel Martins)


Ginsberg!
Na América nada mudou!
Apesar dos teus avisos e das mil profecias que lhe entregaste.
Tudo continua ridículo no país que tanto te ofendeu.
Corso continua à deriva na procura desvairada tentando encontrar uma plantação digna da sua generosidade.
Snyder deixou de ser um monge respeitado mesmo não tendo corrido bem a impressão de "haikus" na "reader's digest".
Diane di Prima  e as suas longilíneas meias de vidro enforcam agora as memórias da beat com “mais ou menos poemas de amor”.
Ferlinghetti tenta fazer o que pode emoldurando “os dias tranquilos”.
E eu próprio para lá caminho.
Allen, tenho todos os seus poemas guardados num saco cama sempre pronto a desafiar-me. 
Continuo a entrar nos supermercados sem que alguém reze pela minha beleza. 
Compro assim o que falta usando um cartão de crédito "made in china". 
Pago as contas com euros sediados num "off shore" que continua a fazer-me a vida ainda mais preta. 
Nas ruas vejo tantas pessoas deitadas ao lado dos contentores do lixo que comem depois dos ratos saciarem o apetite.
Ginsberg, a América está como sempre perigosamente parecida com o outro mundo. 
E isso e os Russos ainda o tornam pior.
Ginsberg, toda a gente escreve palavras numa articulada mania que dizem ser poesia. 
Aprenderam nos compêndios que lhes oferecem doutoramentos tirados nas máquinas das fotografias onde perdemos a identidade. 
Allen, morre-se assim sem dar por ela, embora ninguém vá ao seu funeral. 
Nunca estive na "City Lights" mas quando lá chegar serei imediatamente cumprimentado pelo Lawrence
O mundo continua a fugir do meu sonho e desatento como é, tenta polvilhar os seus poemas como se isso pagasse o respeito que nunca mostraram. 
O Carrol já não tem saudades do pai e ocupa agora os feriados entregando porta a porta embalagens de poesia sem consignação.
Ginsberg, este universo é cruel apesar de tudo o que tenho oferecido 
Tenho a uretra infectada com pus e uma fricção contagiosa que me controla a alma e o Robert Saggese tem “um pássaro na palavra” e está demasiado esquecido para a salvar.
Allen, tomam conta de mim agora anjos que nunca pedi. 
E fazem picnics no Central Park com a bandeira do Goldman Sachs estendida e olham de soslaio todas as minhas expectativas. 
Ouço em semitom a música das sirenes que encharcam a minha ruína e Frank O´Hara continua preocupado com “a crise da indústria cinematográfica”.
Morre-se em qualquer lugar sem hora combinada sem culpa formada e sempre nos apanham desprevenidos e esta é “a proposta imoral” escrita por Robert Creeley.
Allen, a vida é o cemitério do medo com orações "take away" gravadas em lápides onde se mente aqui "jazz" um homem bom. 
A melancolia cega a beleza dos meus olhos perdidos de volta no espelho, onde costumava ver-me enferrujado como os nós do arame farpado, pejado de retratos desconhecidos balançando uma “melodia para homens casados” gingada nas ancas da Lenore Kandel.
E a noite chega atrapalhando o festim do fim do mundo, que acontece todos os dias em que não somos capazes de nascer. E Ron Loewinsohn continua a gritar “contra os silêncios que estão para vir”.
Allen, sou observado por um "drone" não identificado e só tento esconder a denúncia nas folhas que guardo num mealheiro que roubei na igreja dos últimos dias dos santos sem piedade. 
Estou farto de ver gente feliz sem qualquer motivo e com orgulho menstruado pela miséria que espalham. 
Mas este passadiço não tem limite e eu acabo por adormecer sempre com a estrela errada na cabeça.
Koller tenta acalmar-me oferecendo um tapete de “ossos & penas   Pele e Asas  no chão”.
Allen, preciso de uma ligação pré-paga para o paraíso artificial. 
Pretendo pedir asilo temporário para a minha solidão. Mas ninguém se interessa pelo meu horário, embora ele não tenha os dias sempre tristes. 
Allen, estive numa concentração budista em que um monge flipado danificou o meu drama. 
Frequentei aulas de "yoga" com uma bailarina atenciosa que só bebia iogurtes fora de prazo. 
E até deus sabia o quanto eu detesto esta forma de orientação. 
E assim fui até ao fim do mundo ainda com um fardo mais pesado.
Perco-me no significado das eloquências mal frequentadas que mais parecem elogios fúnebres acompanhados pela dança de carpideiras "hawaianas", que me puseram no pescoço um colar de flores putrefactas e agora entretenho-me nas horas de ponta a espalhar o seu perfume nos urinóis mais utilizados pela opinião pública. 
Tenho uma postura sisuda e nada simpática para não me confundirem com o namorado da "barbie". 
Volto ao lugar para ouvir o discurso do velho corvo de asas metalizadas e língua prenhe da única sabedoria. Fala-me do degelo da humanidade e dos medos que tanto a ferem. 
Então digo-lhe que estou pronto. 
Eu sei que ele me levará aos demónios. 
Allen, não quero este caminho que a solidão comodamente instalada no sofá, pensa cativar-me. 
Actualizo-me num sequestro sereno na chegada do momento de abraçar manuscritos pacientes que decoram as sombras do silêncio numa modernidade de estátuas com olhares distantes. 
Este universo é cruel apesar de tudo o que tenho tentado. 
Estou cansado de esperar nas escadas do paraíso com a chave errada. 
Tenho uma coleira certificada, anti tudo mas que não funciona. 
Tomam conta de mim agora poetas tão tesos como eu. E afiam no nobre golpe da navalha a memória enlouquecida
Aparo pétalas demasiado parecidas com gotas de sangue.
Já não penso no que teria ter sido nem nos milagres que tentavam vender-me na "feira das onze dos domingos". 
Aplainei virtudes diferentes nos anos que só a mim pertenceram e alinhei nas propostas condizentes com a minha pretensão. 
Colhi nesta estrada frutos nunca imaginados por quem de mim só pensou o que não me conhecia.
Continuo um curioso sem complexos o que me torna um aprendiz interessado.
Ginsberg!
Também tenho um grito!
E um frio tremor nas mãos que me tempera angústias desesperadamente sós.
Ginsberg!
O mundo nunca vai encontrar o caminho.




2016,09aNTÓNIODEmIRANDA



ÀS VEZES TENTO AS BOAS MANEIRAS

A falar a sério, 
não me entendo lá muito bem. 
Não costumo tratar assim estas leviandades, 
e perdoem-me vossas maldades, 
as santidades que pendurei no armário da importância. 
Sejamos escuros, concretos e objectivos. 
Não soa bem? 
Não ouso perder-me em abstracções tão corriqueiras. 
Às vezes tento as boas maneiras, 
mas quase sempre nunca dou por ela.  
Bochechar o vernáculo
Humedecer o ósculo
Auscultar  a vontade
Tapar o invólucro
Simpatia cromática
Terapia liliputiana
A tusa fora da cama
A brisa a soprar
A despentear
A púbis envergonhada
E o ranço
Fora do descanso.


,2017out_aNTÓNIODEmIRANDA

Leitão do Aires. 19 de outubro de 2018 · Penacova

 








O QUE ACONTECE COM_ELA?

 

Casada _Católica
Depravada no_Confessionário
Só faz_Oral de costas para o Altar
Geme_Devagar
Mas,
O que se passa com o _Olhar?
Será pecado_Engolir?
Mentir o_Desejar?
E o marido á espera,
tirando a caspa da lapela.
O que acontece com_Ela?
Ultimamente tem chegado sempre_atrasada.
Sem_Disposição,
_Cansada.
& à noite,
quando  tenta tocar-lhe...
não diz o seu_Nome.

2018Nov_aNTÓNIODEmIRANDA

terça-feira, 18 de outubro de 2022

Delírios para o almoço.

 








COMER A VIDA

 

Gastar o tempo como se fosse vida 
é um pacto danado

Sorrir a fingir 
porque se é obrigado

Mentir sem sentido

Adornar a cabeça num cepo manchado
 
Adiar a ilusão que não cabe neste fado

Esperar
esperar sempre assobiando para o logro
 
Escusar rasurar estragar cuspir no passado carpir fugir do agir


,2022Out_aNTÓNIODEmIRANDA

CARTA PARA O MEU RETRATO

 

Dorme bem estrela angustiada 

peço-te que não tropeces no cansaço 

que não te quer incomodar.

Aconchega o sonho 

na gaveta dos delírios possíveis


,2022Out_aNTÓNIODEmIRANDA

BARBEAMOS A MORTE NA MANHÃ DOS ESPELHOS INOCENTES

 

Sorrisos de sangue enlatado fogem sorrateiramente dos nossos relógios 

No confronto das mentiras 
sentimos o mesmo desespero 
mas as coisas continuam difíceis 
e as noites desleais não deixam de acontecer
 
Desapontamo-nos no correr da maré dos gostos estranhos 
impressos na pele de todas as deserções

Fantasmas desamparados imploram piedade depositando vidas desesperadamente moribundas no altar dos deuses aldrabões

Barbeamos a morte na manhã dos espelhos inocentes


,2022Out_aNTÓNIODEmIRANDA

HORAS ESQUIVAS

 


Nem todas as noites adormecem 
este trôpego sonhar.

Ideias que desaparecem 
num tropel alucinado 
que nada deixa acontecer. 

Contam-se os dias 
das horas esquivas 
sem consolo para soletrar 
e foge-se na pressa desalmada 
nunca sabendo para onde levará 
a mentira do partir 
sem nunca chegar
à gare dos ventos sagrados.


,2022Out_aNTÓNIODEmIRANDA

ATREVIMENTO

 

Por 

vezes dizem 

que sou distraído



Peço 

desculpa pelo 

atrevimento


,2022Out_aNTÓNIODEmIRANDA


ATÉ PORQUE O RESPEITO…

 


Vou tomar os compromissos que a miséria me receitou

Pintar a cela com orquídeas da mais fingida alegria

Botar os calmantes na pia

Afagar o nojo num ternurento nó de amizade

... até porque o respeito nada tem a ver com isto 



,2022Out_aNTÓNIODEmIRANDA

ATÉ ENTÃO


 Sim!

Até então
Eram
Só palavras


As
Mentiras
Ainda
Não 
Tinham 
Sido
Escritas


,2022Out_aNTÓNIODEmIRANDA

AMNÉSIA NÃO ACIDENTAL

 

Largos anos sem lembranças

Serão sempre vastos séculos

De tardios arrependimentos



,2022Out_aNTÓNIODEmIRANDA

VAI PÁSSARO

 

Vai pássaro

Voa

Mas nunca desistas

De encontrar novas

Asas


,2022Out_aNTÓNIODEmIRANDA

INDIFERENÇA

 

Ajustou a farpela 

Barbeou esmeradamente a melhor esperança

Ajustou o mais sedutor aspecto
 
Prometeu a si próprio que desta vez iria ser diferente

De cócoras na esquina
 espalhava sorrisos de dignidade

Ninguém reparou na 
urgência 
do seu abraço 


,2022Out_aNTÓNIODEmIRANDA

SÓ GOSTO ASSIM

 

Há gente que escreve num modo tão difícil, que nem as vírgulas eu compreendo.

Sou um simples analfabeto com uma profícua e contínua vontade de os mandar à merda.

Sou tão sonhador que não tenho medo da minha improvisação.

Só gosto assim.

2016,10aNTÓNIODEmIRANDA

BON APPÉTIT!

 

Estamos sempre longe. 
Este entendimento desenhado numa proposta gourmet, 
prato grande enfeitado com riscos sem qualquer feitio, 
hostilizados num traço pintado de mentiras, 
um cínico sorriso crocante acabado de fugir da sanita, 
um filet mignon apressado para apanhar o autocarro da angústia, 
e um plaisir discretamente copiado da gare de Montparnasse, envergonhado pelo mau hálito do chef.
Para a sobremesa um Michelin 205 R14
em estado tão deteriorado como a puta da sorte 
que ainda não se fartou de nos falir.

Bon  Appétit!
Mon imbecil ami
.

2018Mar_aNTÓNIODEmIRANDA

APARAS DO TEMPO



Vazio.
Era o seu nome.
Só uma vez sorriu.
&
isso foi o maior
incómodo
da sua vida.

Anda por aí,
lapidando aparas
do tempo.



2018Out_aNTÓNIODEmIRANDA

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

BREVEMENTE, SENTADO NOS MEUS OSSOS

 

De nada me serviu o que pensei ser correcto. 
Não passo de um acidental leitor de epitáfios, a tentar riscar palavras que me magoam. 
O nada conseguido é a tristeza mais constante neste céu enlutado. 
Carrego a mais descalçada das almas, um formigueiro nos ombros, que só sabe apressar o relógio das horas verdadeiras,
uma garrafa de whiskey com um rótulo comovente, um ardor que me leva para a despedida não obscena. Oculto a desilusão desta espera indecisa, vadia guardiã  da ausência. 
Tudo me dói, neste patíbulo sem omissões. 
Continuo alojado no asilo das janelas sem liberdade.
Estou cansado desta fidelidade a fingir, destes medos que já não me surpreendem.
Abracei sem consideração, o destino traiçoeiro, a importância clandestina, e nada respeitei daquilo que pensavam que iria ser. 
É verdade que só imaginei as indecências menos maldosas, adormeci precocemente no meio  de pernas de ébano, joguei todos os deuses na mesa da batota, e apertei definitivamente o nó da forca da autoridade. Se mais não pequei, assumo a minha não arrependida culpa.
Estou acordado há demasiadas colheitas. 
O frio ainda espera o centeio, e anjos congelados, anseiam a osculação dominical com o iban devidamente identificado. 
Eu, sou só uma alma doce, nesta eucaristia coreografada por um curioso sem escrúpulos. 
Fecho os olhos, e ergo o choro para o lugar que me expulsou.
Quem me indica o caminho?
O bêbado da sacristia falida?
O sinaleiro do partido mentiroso?
A comissão sensacional das comichões?
A procuradoria da ideia entupida?
A meteorologia asmática?
A simpática assistente operacional do centro nacional das estatísticas falidas?
A bandeja da peidaria portuguesa?
Quero adormecer com a desordem da minha cabeça.
Só tenho aquilo que não vos interessa.
Uma memória não distorcida, embrulhada nos estilhaços desta perda persistente.
Só ouço os fantasmas desta tempestade que me entrega a loucura, como se o amanhã fosse uma possibilidade não aldrabada.
Brevemente, sentado nos meus ossos, 
recuso a vergonha do tempo.
Depois,
nada prometo,mas
talvez ainda seja capaz de fingir uma paixão violenta.
Um dia,
não são só horas!
Mas, sobre isso,
alguém poderá responder.
Brevemente sentado nos meus ossos, escreverei em tons de fuligem, uma epístola, nunca em juízo perfeito, etiquetada.


2019out_aNTÓNIODEmIRANDA


Do Miguel Martins. De vez em quando , volto a ler.

 






PARA TI SE FALTARES

 

Para ti se faltares,
tenho o punhal dobrado
no mais fino bragal.
Para ti se faltares,
tenho o champanhe gelado
para ser bebido
ao longo do teu corpo.
Tenho beijos haute-cuisine
banhados num tinto de colheita envelhecida.
Para ti se faltares,
tenho um filme encomendado
entregue impreterivelmente
na hora da tua chegada.
Tenho sais de saudade
lágrimas em tons de rebuçados
luvas com o toque das nossas peles
e algumas orquídeas
especialmente vindas 
do expresso da última noite.
Para ti se faltares,
tenho numa jarra o tempo
que dorme nos lençóis da nossa ausência.
Tenho rosários naquele quadro
que pintamos quando nos queríamos.
Para ti se faltares
tenho dois corações
para substituírem
aqueles que já não usamos.
Para ti se faltares.


,2017fevaNTÓNIODEmIRANDA


domingo, 16 de outubro de 2022

Sábado, 15 de Outubro / Jantar

 






Sábado, 15 de Outubro / Almoço.

 




SUPERFÍCIES CRUZADAS


Abraçou-me comovidamente

e muito a custo balbuciou:


agora tenho a absoluta certeza 

que te espera um futuro risotto



,2022Out_aNTÓNIODEmIRANDA


ALGUMAS VEZES ACONTECES

 

...



Mas

consigo

ler

histórias

da tua

ausência


,2022Out_aNTÓNIODEmIRANDA


A SOLIDÃO TEM MOMENTOS QUE AINDA ME FAZEM FALTA

 


Tenho a miséria mais rica 
empobrecida na tua fotografia.
Cromo de colecção,
álbum sem recortes,
memórias ansiosas,
e olhares que só querem
fugir da tela.
As estrelas abandonadas,
cantam uma dança sem céus.
Adoro a nudez que me oferecem,
eu, um crente,
talvez aparentemente inadaptado
para a solução da sua presença.
Não pretendo outros relógios,
até porque não acredito,
na exactidão das suas mentiras.

A solidão tem momentos
que ainda me fazem falta.


2018Mar_aNTÓNIODEmIRANDA


VOZ DE VIOLONCELO

Dizias naquela voz
de violoncelo
podes
comer
-
me
sempre que quiseres.

Mas,
tinhas
nos beijos
a promessa
que a vida
tem de ser
+
do que isto.

Sonhavas que não sentias
medo de morrer porque
tinhas a certeza que os
meus braços esperariam por
ti.

Está tanto frio
neste caixão.



2018Nov_aNTÓNIODEmIRANDA

ALUGAM-SE QUARTOS (Nazaré)

 

O poeta,
descansa o olhar no cachimbo, 
e folheia entre os dedos 
memórias sem alta definição. 
Ata as palavras para que não fujam da algibeira, sossegando-as com o fumo que disfarça a fraqueza.
Desenha na ampulheta momentos que não quer esquecer.
Veste o pijama ao mar, 
aquece a areia na espuma do peito, 
e volta e meia, 
desaparece sem ninguém dar por isso.
Lá, naquele sítio, 
onde se atiram pedras à sorte, 
cães curiosos brincam à cabra-cega, 
no calor da luz do farol.
A noite vai caindo, 
agasalhada no sobretudo do nevoeiro.
Alugam-se quartos.
A lua sorri matreiramente.



2018Out_aNTÓNIODEmIRANDA