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sábado, 12 de novembro de 2022

A ÚLTIMA NOITE

Sentado numa poeirenta poltrona de cabedal a imitar napa, lia jornais atrasados com noticias da última hora. 
A melancolia cheirava a loção de barbeiro, 
a pele tingida com cor de shopping, 
iluminava a calma de um sol desanimado. 
Bebia aquele silêncio morto com passos ocos, que enchiam os corredores encharcados de lixivia. 
Sonhos mudos embalados em cartão, 
retardando a lentidão da solicitude de uma vontade há muito tempo escapada. 
Chovia sempre que escolhia aquele caminho, onde pássaros atrasados buscavam o ninho. Rasgava com toda a raiva poemas, 
enquanto ouvia Leadbelly cantar 
my girl, my girl, don´t lie to me”.
E dizia para si próprio: 
também não quero saber, 
onde ela passou a última noite.
O musgo dormia abençoadamente na lareira.



2015aNTÓNIODEmIRANDA

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