É este o tempo que já não nos espera, envolto em lençóis de madre pérola, ostentando o colar da desavença. É este o tempo do amanhecer ardiloso, do roupão enevoado que pergunta o que foi feito de nós. E nós caídos, tentando apanhar a flor que nunca tivemos nas mãos.
Quando a música acaba, neste chinquilho que nunca em nós confiou, vem-nos á memória qualquer coisa parecida com uma vela imitando a voz de deus.
Continuámos sós, esquecidos na salmoura dos agradecimentos nefastos e louvámos nas mensagens sem custo, o destinatário desconhecido.
Não consigo gostar deste pensar que me atropela e tento cortar a angústia em pedaços adequados ao fondue de toda esta tristeza.
Não penso em mim nesta forma de pecado e ergo as mãos para a oração errada que junta as mentiras habituais. É este o tempo da vã glória enleada no chicote do resumo sangrento. Dos dardos cravados na maledicência, bocados à deriva buscando um anúncio qualquer, só para alcançar o fim prometido sem saída de emergência. Alguém cuspiu promessas que não cumpriu e os dados mal lançados só deram um poker batoteiro. Temos nas mãos um título de transporte sem validação possível e uma louca corrida que nunca nos deixam vencer.
Nada é sagrado nesta conspurcação de heterónimos aleijados e estamos sujos pelos medos de uma paciência sobrelotada.
Final da concessão.
Riscamos todos os calendários.
Queimamos todas as folhas no fogo-de-Santelmo e Hieronymus Bosch gentilmente pintou as nossas radiografias.
2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA
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