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quarta-feira, 31 de maio de 2023

GOSTAVA DE TE ESCREVER ROSAS

 

Gostava de te escrever rosas.
Mas quem sou eu,
a quem todos os espinhos
rasgam as letras do teu nome? 
Preciso de um avental com luvas amigas,
e sobretudo de um vaso
para regar a tua sombra.
E uma foice amigável 
para não magoar a vontade
com que te quero.
E uma tarefa,
cumprida não como promessa,
só para enlatar o azeite
que algumas vezes nos temperou.
Sou o que sou!
O que quer dizer,
que sem ti,
continuo a ser
o
nada.

Gostava que estivesses aqui,
e que o dia que agora tão mal me trata
não tivesse que acontecer.

,2017out_aNTÓNIODEmIRANDA

segunda-feira, 29 de maio de 2023

PENSAR DIFERENTE

 


PEQUENAS ANOMALIAS SEM REPARAÇÃO POSSÍVEL

 

Não gosto do futuro constrangido.
Renego o presente sofrido.

A actualização do comportamento não higienizado, é a única rotina diária que nunca desprezo.

Tenho folhas para a troca, no diário que nunca escreverei.

É verdade que tenho certos dias em tons de angústia. A culpa é do smoking que só pensa em infernizar-me o esqueleto.

Pensar 2 vezes também é falta de memória.

Somos todos iguais.
Não admito mentiras obsoletas.

Olha para o que digo e não para o que faço. Continuo a pensar que a estupidez não tem limites.

Publicidade.
Se sei o que quero 
porque pretendem que não o saiba?

Penso sempre em grande.
A exiguidade não me satisfaz.

A inferioridade numérica bastas vezes não atrapalha.

Sigo sempre em frente.
Apenas admiro certas curvas.

Sim!
É preciso ter calma.
Para os cretinos afirmo:
não exagerem.

Poderei caber em qualquer lugar.
Excepto naquele que me escolheram.

Claro que me lembro
(desculpe, estamos a falar de quê?).

Quando canto na rua, ( o que frequentemente acontece), é para não entontecer os pássaros. Infelizmente ainda encontro imbecis que pensam que falo com eles.

Cumprimento sempre com um airoso bom dia. 
É um acto prazenteiro para encetar aquela conversa que nunca irá acontecer.

A cavalo dado há que providenciar uma égua desinibida.

Não jogo no euromilhões.
Mesmo assim, assumo uma visceral inveja, quando dizem que saiu a outro.

Sou pronto nas respostas?
A culpa é das perguntas estúpidas.

Se sou vários em mim?
Não me incomoda tanto assim.


Um dia de cada vez, graças a Deus.
E Deus, mostra assim a grandeza da sua perversidade.

Adoro o meu clube!
Infelizmente nunca direi o mesmo da grande maioria dos adeptos.

Você é músico! Vê-se logo!
Devolvo-lhe um autocolante onde está escrito: 
tenho dias em que falo com eles.

Hoje é dia 13.
Ainda bem que o diz.
Estava com a tremenda dúvida se ontem foram 12. Ai esta cabeça! 
Tenho de lhe arranjar uma memória menos mentirosa.

Sabe, a vizinha do 4º esquerdo...
virei-me de costas, endireitei a voz, e perguntei:
como é que descobriu?

O mundo é mesmo pequeno, não acha?
Sim! De tão anão que ele é, só assim você poderia caber nele.

Sabe, contaram-me uma coisa que não sei se lhe diga. 
Esteja à vontade. 
Não estou minimamente interessado em ouvir.

Não falho a missa dos domingos. 
Aquele padre fala tão bem! Já experimentou ouvi-lo sem os fones espetados nas orelhas? 
Nunca! Isso abalaria drasticamente o interesse.

Frequentava diariamente o ginásio, naquela esperança de alguém comentar o fato de treino igual ao que o Schwarzenegger ostentava naquele filme. Voltava cabisbaixo tentando pronunciar correctamente "I'll be back".

Nunca faltava ao baile de sábado à noite.
Encostado ao balcão, copo na mão, exibia a habitual pose de matador. Muitas baratas sucumbiram! Regressava à tenda com o dever cumprido, e, vestia o pijama cor-de-rosa, só para ter sonhos a condizer.

Ainda espero um futuro diferente.
Enfim, coisas de um incorrigível optimista.

Dizem que ainda tenho 2 hipóteses.
Estarei unicamente atento à 3ª.

Supõem-me como distante.
Falsa questão!
Apenas não atraso a pressa do meu fugir.


,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA


domingo, 28 de maio de 2023

MELODIA DESAFINADA

 





UMA ARTÍSTICA SENSIBILIDADE

 


Era de um egoísmo atroz!


Mas,

manifestava amiúde

uma artística sensibilidade alheia.



2018Mar_aNTÓNIODEmIRANDA


NÃO QUERO MIRAR A VIDA NUM RETROVISOR

 


Escondi os passos numa sombra que não é minha. Não encontro o refúgio para a última refeição que desejo. Está habitada de fantasmas a estrada que me persegue. Um puro-sangue foge-me das veias. Nada se parece comigo. Será breve o instante da confusão? O coração oferece eventos sem me convidar. Já não há caminhos misericordiosos. No nevoeiro da minha cabeça, escondem-se sonhos maltratados que só queriam beijar o céu. A felicidade é uma novidade rota, bebida numa asneira cruelmente mentirosa. Não quero mirar a vida num retrovisor. Não tenho pressa de expirar o prazo da validade. Ocupo a minha paciência, (só de vez em quando). Tenho um método (infalível) para aplaudir a falta de interesse. Não sou necessário para nada. Não passo de um energúmeno bem intencionado. Não sou triste nem abençoado. Nunca renego cair em mim. 
Tenho mais que fazer do que aturar tribos de imbecis, e a sua colectiva masturbação.
Pufffffffffffff….f…..
O mar fica tão longe. Salpica-me o abrigo como se fosse um sal brilhante, que aquece o saco-cama. Inventa histórias tornando-me num menino com medo de adormecer. Promete-me um colchão com uma quente brisa de lençóis de poesia escondida no sabor das ostras. Sempre tive no oceano da minha cabeça, um arco-íris de velas flutuantes, que nunca esquecerei. 
Não quero caçar o meu sonho.
Não admito que pintem esta desilusão.


,2019abr_aNTÓNIODEmIRANDA

JOKER

 


sábado, 27 de maio de 2023

X.ACTO

 


Corto-te

Quando quero

Palavra

Mal dita falada

Desespero

Mato-te

Com o x-acto

No sítio certo

Golpe exacto

Palavra

Sem sentido

Acto dorido

Momento sofrido

Grito fugido

Das tuas teias

Corto-te

Num golpe

Que esvazia as tuas veias

Corre

Morre

Abraça a liberdade

Que tanto receias



Set01.2010_aNTÓNIODEmIRANDA


VOAS SOBRE MIM

 


voas sobre mim
e riscas-me os sonhos
enlaçados nas asas de arlequim
nos risos sem fim
da festa do amanhã ausente. 
Não me lembro se poderei 
gostar de ti
nestes cem medos
com que beijo sempre o sangue.
Procuro a tua língua
nesta azáfama sem fim
até que a verdade sem mentira 
nos alcance.

Sabiamente
alguém pensa que fala deste cansaço
vestido na distância das quimeras.





2017,ago_aNTÓNIODEmIRANDA 

SEM DOR SEM NOME NADA PARA EXPLICAR NADA PARA CULPAR

 


Só resta de ti o vazio e o espaço que ele já não ocupa. Não há lugar para tentativas, tudo foi bem entendido. A memória foi embora levada pelo estafeta da desolação. Já não me é estranha esta solidão. A vida é como uma folha de cálculo: não se pode errar as fórmulas. Sentado, contemplando o circo dos porcos, espero a ajuda do sacana por mim inventado. Não consigo ainda compreender as piadas estúpidas dos palhaços mascarados, numa tentativa inútil de disfarçar a sua condição. Estendo-me num banco do jardim, fecho os olhos e pinto o sol de vermelho, esperando que qualquer pássaro curioso, não borre o meu quadro. Evidentemente não resisto á lambidela do cão. Ausento-me o possível. Atenção o sonho que quero vai começar. Eu sei que mais ninguém o vai ver. Estou num piquenique celestial. Como sempre deus está ausente! Ontem deitou-se tarde: esteve a ouvir Stones com um amigo. Gosto do sabor destas nuvens embora ninguém me tenha avisado que Groucho Marx continua a fumar charutos de erva. Miró diverte-se a pintar o fumo. Harpo ri harpamente. Bogart não pára de apalpar a Lauren Bacall. Marlon Brando penhorou o "oscar" para comprar terra para os índios.
Hoje há mil festas por minuto. Desta vez vou tocar com Muddy Waters e John Lee Hooker. A minha guitarra está ansiosa e a harmónica está a fervilha. Porra, amei a vida toda para este momento! Jim Morrison vai ter de esperar. Janis Joplin comeu um dos meus poemas e olha-me com malícia. Pergunto-lhe se quer mais. Michael Karoli não consegue esconder a surpresa e toca beatnikcamenteyou doo right ”. Não tive vergonha e declarei-me á Amy Winehouse: ”I know, you´re good” .Adormecerei dançando apaixonadamente com um anjo: CAN - Tango Whiskeyman.  Obrigado cogumelo mágico.



2014.antóniodemiranda


NOBLESSE OBLIGE

 


Peço sempre tudo!
O necessário não condiz com aquilo que quero.
A menoridade
é uma ejaculação precoce
que se vende nas farmácias.
A minha médica
já alterou a prescrição.
Comprei óculos de mergulhador e barbatanas estereofónicas para ler a receita.
… Não vá o farmacêutico desconfiar.
Se estiver bem disposto,
tenho os “Tomates Enlatados
do Benjamin Péret
para me entreter.

"Noblesse oblige"


,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

NO ESCAPE FROM THE BLUES

 

Gosto muito de si, Senhor Muddy "Mississippi" Waters

Não gosto de bandeiras! 
Não condizem com a minha igualdade.
Já tenho muitos nomes que não posso chamar e coisas más nas veias que fazem alegre e triste o meu estar. 
Ouço vozes que me convidam mas não encontro a minha.
Alguém cometeu um erro quando disse que a vida é um boião onde estão todas as frutas. 
Nunca tive uma manhã com apetite para o abrir. 
NO ESCAPE FROM THE BLUES
Estou a ficar zangado. 
Quando tinha dinheiro havia amigos por toda a parte. 
Agora que estou teso, não sei aonde os encontrar.
 Estou a ficar zangado. 
Todos me dizem que não tenho razão. 
Vou comprar o meu caixão. 
Ou se calhar, mudar de ideias, 
desfazer o penteado, 
não ligar à cor das meias, 
deixar de perder tempo para te agradar. 
Gastei todas as etiquetas da maneira possível, 
sujei todos os meios e agora 
só consigo gostar de blues.
Não me apetece voltar a este tempo 
que me vai usando, 
fazendo de mim o único vilão.



2016,02_aNTÓNIODEmIRANDA

NÃO GOSTO DESTA CIDADE

 


Não gosto desta cidade.
Trocou-me as voltas.
Dei-lhe a minha alma e ela agora oferece-me um retorno sem destino. 
Acho-me tão distante neste tremer de mãos sempre à procura do lugar possível. 
Nunca me sinto melhor. 
Dei-lhe a minha alma e agora caminho como um cão com trela. 
E é proibido mijar nas esquinas. 
Olho para o letreiro dos eléctricos só para lembrar a vontade de neles entrar. 
É um trabalho sujo este de detestar os lugares que amei. Dou-me mal com os cheiros que não conheço e amareleço sem querer este sorriso outrora companheiro inseparável.
Onde estou?
Numa encruzilhada de tabuletas impregnadas de palavras que recuso ler.
Ondas de medo enchem o meu sonho com o tamanho medonho apertado pelo meu cinto, afastando aquilo que gosto. 
E um acorde alucinado que geme na minha guitarra, aguarda o solo do mi dobrado num dó de tanto penar.
Voltarei à cidade, para aquele lado selvagem, onde várias vezes vivi a surpresa. 
Tudo era diferente naquele tempo. 
E os pais das miúdas ficavam chateados quando me conheciam. 
Estive em jantares com a minha indesejável presença. Algumas mães eram gentis desconfiadas, geralmente com um pedido no olhar. 
Não faça mal à minha filha. 
Escutava ameno esta cavaqueira de merda. Não é assim que se recebe um ínclito hóspede. 

Mais tarde provou-se que o anjo era eu.



2017set_aNTÓNIODEmIRANDA


NINGUÉM QUIS

 


Sempre
Ponderei ser feliz
Algumas vezes
Consegui
Outras
Quase sempre
Ninguém quis

 

 

 

.2014_ aNTÓNIODEmIRANDA


ROBE

 


Abre o robe
Mostra-me o que gosto
Dá-me o teu rosto
Molhado em mim
Em forma de livro
Para eu rasgar.
Deixa-me pintar o teu véu
Acelerar os meus “ses”
Dourar os teus ais
Caminhar
Deitar
Não deixar de gostar.
Na penumbra desta manhã
A minha visão já não é audaz
Mas guarda um pretérito
Tão imperfeito
Que me permite
A ousadia
De quase te amar.



2016,02_aNTÓNIODEmIRANDA

sexta-feira, 26 de maio de 2023

FALAR AGORA DE ROSAS

 


Por certo não haverá tempo 
para colher todos os desejos 
do jardim das delícias.
Beijo ante beijo,
antes de o sol acordar 
a loucura da última noite,
dormirei a teu lado,
desapertando 
com o lamber da minha língua,
as asas do teu sutiã.
Guardo no peito,
o deslizar de lânguidos olhares,
toques húmidos
e um sonho tardio,
depois do sussurro que nos amainou.

Falar agora de rosas,
não vem a propósito.

O que achas?






2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

EPITÁFIO 2º.

 


não

vi

não

amei

não

possui

desejei

que

as pessoas realmente

vivessem


pois

só aqueles

que vivem

sabem

construir

i

m

   a

     g

       e

n

  s


,aNTÓNIODEmIRANDA


DIARREIA



Não posso acreditar em alguém, que ao longo do tempo continua a repetir a asneira. O meu portfólio não admite esta possibilidade da estupidez. Tenho a consciência absoluta e a lucidez necessária para não ser enganado. A necessidade e o medo a ela sempre inerente, nada disto justificam. Uma selfie  é tão enganadora como uma medalha que supostamente enaltece um mérito mentiroso. As coisas importantes, as acções imprescindíveis, finalizam sempre o socialmente necessário. As palavras valem o que valem, as intenções assim construídas não passam de mentiras, a prática não acontece e a realidade é a farsa constantemente desenhada. Faz-se assim, do medo a telenovela oficial. Condicionam a nossa condição, previamente alicerçada numa mentira constantemente difundida. É esta a objectividade de um governo, para quem a questão social, ficou “esmeradamente” resumida á nulidade do voto eleitoral. Glória dos vencedores mentirosos, anulação dos enganados, cujo medo e sobretudo incapacidade de auto estima, manifestamente mostrada permitem uma estúpida vontade de continuarem a ser enganados. E não gostei mesmo nada de vê-lo sentado numa nuvem, naquela trip de LSD, olhando para a tv, como se estivesse a gemer o último “Tango em Paris”. Claro que choro, mas só o Marlon Brando sabe que estas lágrimas não saem da minha algibeira. Tenha maneiras, tente pelo menos ser capaz. Já chega de diarreia. Já é tempo de deixarmos de disfarçar a nossa incapacidade com os actos dos outros.
Nb: esta merda foi escrita de acordo com o meu não acordo, com o acordo pornográfico, não sei de que…
Nb2: amanhã não estarei a vender bolas de Berlim, na praia de Carcavelos. Também não estarei disponível para mudar o óleo do motor nº 4 de um dos submarinos que o ministro, (como se chama?), continua a chupar.
Se gostarem de caracóis, comam! 
Eu, farto das cheias do 28, vou a pé.



2015,mai-26_aNTÓNIODEmIRANDA

MUDANDO DE ASSUNTO

 


ELIMINA-OS


 

DELÍCIAS HÚMIDAS

Os poetas andam tristes.
Pedem ajuda,
nada de conselhos obstruídos,
nem ouvidos lentos no compreender.
Só querem voltar para casa.
Lamber poemas,
sem vontade para acalmar essa fome.
Escrevem no paraíso a viagem prometida,
vestindo na pele,
asas dos anjos caídos,
para o voo das delícias húmidas.



,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA


OS POETAS TRISTES

Os poetas tristes,
fogem noutras ondas.
Asfixiam as palavras da poesia incompleta,
banham contradições nos cutelos da mais alta precisão,
e,
oferecem sopros
da alegria possível.
Caminham ao acaso,
disfarçados de saltimbancos,
(alguns muitas vezes,
com olhares julgados de patéticos).
Há quem afirme,
que dormem abraçados
a uma qualquer solidão.
Mas,
Os poetas tristes,
não ligam a este tipo de
comentários.




2019out_aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 25 de maio de 2023

Leave Me Alone

ASAS DE DESEJO

 

Quando vir
 Um anjo
 Com asas de desejo
Não sei
Se resistirei
À vontade do beijo .
                                Como de costume
                                Aparecerás em forma de volúpia
E
    Eu
        Como sempre
                             Adormecerei
                                     No nevoeiro do teu sexo .


aNTÓNIODEmIRANDA

AFTER MIDNIGHT


Já é depois da meia noite
Num dia que nunca acontecerá.
Eu & o tempo,
Temos esta cumplicidade.
O tempo apressa
Eu tropeço
& nem os ponteiros do relógio,
Amargamente exibido no meu pulso,
Alteram estes momentos traiçoeiros.
Carrego no meu casaco,
Uma sensibilidade sentidamente exagerada.
Sou uma réstia sem cebola
Ideia tola,
Mas há o que nem resta do nada.
Amanhã, depois da meia noite,
Será sempre o que eu quiser.




aNTÓNIODEmIRANDA

EPOPEIA DOS AFLITOS

 
Cá vou acabando, nesta prudência pessimista, insanamente alvejado nas costas 
por um sorriso distraído.

Relembro a vida
nunca em tragos suaves,
nada de intervalos complicados, 
e, 
relevo a completa ausência das vénias impostoras.
(os nossos abraços 
há muito que não se entendem).

Perguntam-me, 
mas ainda não sei, 
como viajar nesta pele que não se cansa 
de me esganar.

A luz branca sempre a acenar
um convite para o infindável e maçudo recital 
da fantasia.

Sentado na poltrona mentirosa 
varro o aleijamento das memórias. 
Sumiram as palavras, 
que, juro,
tinha gravadas na vontade 
até então verdadeira.



,2022Mai_aNTÓNIODEmIRANDA


quarta-feira, 24 de maio de 2023

A PRETO E BRANCO

 


Não sei o que o amor tem a ver a com isto. 
Balbuciou enquanto discretamente mirava 
a  fotografia onde estava uma cara 
que de todo não lhe era estranha. 
Ajeitou a combinação 
e compôs com uma malícia atrevida 
o olhar com que acabava de o comer. 
Correu as meias como tinha visto no filme italiano.
A preto e branco 
onde aquelas cenas ficam para sempre na memória. 
Retocou os lábios 
com a cor que o grande Miró lhe oferecera. 
Deixou propositadamente a calcinha para o fim. 
Não fosse o diabo apetece-la.


,2016,05.aNTÓNIODEmIRANDA

11 DA NOITE QUARTO 507

 

Neste quarto só ouço um breve gemido 
e um suspiro de um mosquito atingido selvaticamente 
por um espermatozóide. 
Tenho um risco mal desenhado na minha ideia. 
Nunca tive grande sorte com o amor dos outros. 
Altera-se a foto, mas não se ilude o perfil. 
A outra realidade continua  obscura, 
fora de moda, pouca procura. 
Jura que não, aquele que é sempre mentiroso. 
Desculpa esfarrapada da inteligência escangalhada
congelada num frapê repleto de cubos de merda. 

GET READY BITCH ! 

Vais morrer ouvindo o som do silenciador. 
Enfeitarei o teu caixão com todos os manuais da sobrevivência não conseguida.

,aNTÓNIODEmIRANDA

MEMÓRIAS DE UMA BEATNIK

 

Eu e a Diane Di Prima
Num quarto escuro
E com a televisão apagada.
Não me lembro!
Será que foi mentira?
Queimámos artifícios de poemas,
e com a ajuda das barbas do Allen,
escalámos uma parede do Chelsea Hotel.
Lá para os lados de Brooklyn,
Timothy Leary procurava fósforos ungidos,
para aquecer a neve que lhe fugia dos pés.
Em Central Park,
esquilos simpáticos ofereciam rugas do velho jazz,
embrulhadas em papel de amendoim.
O sol acordou tarde naquele dia.
Tinha estado numa jam com Charlie Parker.
Eu e a Diane Di Prima
Num quarto escuro.
Há invenções
que me permitem
o sonho.


,2017mai,aNTÓNIODEmIRANDA



O DESCONFORTO DAS PALHINHAS


 Tenho tido neste caminho demasiadas vidas tristes, 

mas continuo o sonhador sem fim à vista, 

desligando os bluffs que conduzem este jogo.

Mal nascido é o cartão da minha identidade. 

Fugi há muito do desconforto das palhinhas, 

logo que prometeram 

que o desânimo seria o meu baptismo.



,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA

NADA FOI ESCOLHIDO


Vive-se a esperar.

Morre-se na demora.

Chega-se sem dar por ela,
ao pote das cinzas da memória.

Nada foi escolhido.



,2020Mar_aNTÓNIODEmIRANDA



segunda-feira, 22 de maio de 2023

MUTUALIDADE


 Nunca deverei nada à eternidade!

Adiamo-nos, 

Reciprocamente!



2019mai_aNTÓNIODEmIRANDA

vELOCIDADE:..,.


 

VENENO

 

Segura a faca
Agarra o veneno
Ninguém derramou sangue por ti
Despeja o nojo
Que dizem que és
Soletra a palavra esquecida
Da canção favorita
Faz isso sempre que te apetecer
Não chores lágrimas que não te pertencem
Não acredites no perdão oferecido
Agarra a faca
Segura o veneno
Por vezes são difíceis as horas de tentar
Os lamentos que mentem
As mentiras que não sabem enganar.
Corta o veneno com a faca
Talvez esta história não seja a tua.


.2014_ aNTÓNIODEmIRANDA

SUBLIME

 

Acendemos o vulcão

Que nos queima 

Da maneira mais apetecida

Cama Chama    Chão

Suor enrouquecido

Inventamos a manhã húmida.

Neste tempo só nosso

Nada foi banal

Não há salvamento emocional

Tentativas surreais

Expectativas desleais.

Todas as possibilidades

Foram propostas

Todo o desejo tornado real


Ago13.2010_aNTÓNIODEmIRANDA



SAMBA DE UMA NOTA SEM DÓ

 

Tristeza não tem fim.

E

Estupidez

Também 

Não



,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA

OUT OF LOVE. SO FAR AWAY FROM MY DREAM

 

Gostaria de te levar a casa.

Mas é tão longe o paraíso…




,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA

WHEN THE SAINTS GO MARCHING IN

 

Se calhar falei demasiado, 
mas o juiz disse que não era pecado 
se calhar não matei como devia, 
mas pensava que fazia azia. 
Não durmo numa cama com insónias 
e não me lembro de um sonho sequer. 
Gosto desta crueldade intervalada 
com a rouquidão de um anjo preto 
que no seu trompete de néon, 
toca só para mim: 

“WHEN THE SAINTS GO MARCHING IN”.

Sou feliz porque tenho dias assim.

,2015aNTÓNIODEmIRANDA





.


CADA MINUTO EM QUE ME INVENTO

 


Cada minuto em que me invento, 
pinto neste rodapé
asas do vento 
e deslizo
sempre perto de mim.
Do navio perdi a âncora,
num qualquer coral de desânimo
onde não quero chorar
horas perdidas.
Solitário no desejo entontecido,
escrevo nas cordas desta harpa
manhãs de bruma
com caminhos sem volta.
Serei agora aquele,
que com a espada dos raios falhados,
acorda sempre antes do sonho.
Agarro sempre que posso
esta barca perdida,
e escrevo cântaros
cheios de versos amargos.
Cada minuto em que me escondo de mim,
dou luz ao farol,
abano um qualquer sos
sem sentido, ou rumo algum.
E estendido neste lençol
defraudado no oceano das angústias,
espero no desespero que não percebo,
uma rota diferente
e sobretudo com outros nós.
Em cada minuto em que me invento, 
pinto neste rodapé
asas do vento 
em que me escondo
sempre antes de mim.


,2017mai,aNTÓNIODEmIRANDA

VELÓRIO

 


Há uma festa

Tantas velas

Tantos silêncios     ensurdecedores 

& eu aqui deitado

Mudo Quedo Gelado

Sem ter sido convidado.

Ninguém levou em conta

a minha alergia às flores.


,2016jan12_aNTÓNIODEmIRANDA


sábado, 20 de maio de 2023

ADORO A BATOTA DA NOITE

 


Sou um batoteiro da noite. 

Inebrio-me no seu perfume de 
noiva atrevida, e ensaio 
a mais ousada 
dança do
 “Jumping Jack Flash”. 
Não resisto ao seu véu 
de núpcias escaldantes. 
A joelho-me para saborear 
o cinto de ligas, e desperto 
lentamente o desejo. 
Adoro a batota da noite. 
Entrego-lhe sem remetente 
o meu sonhar. 






,2019mai_aNTÓNIODEmIRANDA

POR FIM VESTI O FATO QUE MAIS GOSTO

 

Levantei-me
Tomei os comprimidos do costume
Fumei um cigarro para acompanhar o café
Defequei 
Conferi a quantidade
Fui até Algés comprar um tinteiro e papel
Imprimi 64 coisas
Espreitei o correio
Cumprimentei o cachimbodemilho.blogspot.com 
Não abri os vídeos que enviaram
(a minha curiosidade é uma preguiçosa)
Cozinhei arroz de peixe para o almoço
Andei alguns quilómetros e comprei uma moldura para uma fotografia
Passadas 2 horas e ½ cheguei a casa
Bebi água
Sentei-me na varanda a ler Bukowski
Fui comprar tabaco e telefonei para algumas pessoas que nunca vou deixar de gostar
Incendiei o computador
Toquei guitarra
Fui jantar â Adega Típica de Algés
Picanha – Feijão Preto – Arroz – Vinho – Jameson
Cheguei a casa
Bocejei com whiskey enquanto espreitava um filme
Ouvi “La llorona” cantada por Chavela Vargas
Por fim vesti o fato que mais gosto
Não duvido que irei dormir feliz


,2020mai_aNTÓNIODEmIRANDA

A ÚLTIMA PARAGEM

 

#
Ponteámos todas as cores dos sonhos.
Sossegámos as possibilidades das angústias.
Esperei por ti num futuro desalinhado. 
O que me ofereceste?
Um passaporte tingido na mentira da sorte,  
triste como o céu que me abençoou.
Meu amor, 
quem dera que tudo o que em ti houvesse, 
fosse no verbo que soprava o que de mim fingia existir.
##
Estou no lugar onde te perdi. 
pensei que seriamos apenas um.
Já nada de nós consigo lembrar, 
nem mesmo um sorriso para disfarçar o tempo que prometia a tua presença. 
Nunca fomos nós, embora esta paragem
enfeite a teimosia  que tento não identificar.
###
Quieto nesta dor, navego memórias. 
Sempre soube daquele nome, com demasiadas mágoas para ser chamado por um coração arrependido.
####
Claro que podes falar, 
agora que pinto as noites da nossa mentira. 
A revolta que quero enganar já não funciona. 
Apodreceu no dilúvio improvável da solidão.
#####
Preso para sempre, em torno da lenta agonia pela qual os fantasmas do passado entram, há um rosto cheio de tristeza, que amadurece o sofrimento das noites que morrem sem luar.
######
Exilado na paragem voltada para o infinito,
aguardo a bandeira do fora-da-lei.



,2021Maio_aNTÓNIODEmIRANDA

F… (de) FELICIDADE

 


Foges 

mais rápido 

do que 

a vontade 

que tenho 

de 

te 

desejar


,2021Dezembro_aNTÓNIODEmIRANDA


NECROTÉRIO

 

A vida é uma possibilidade enganadora

Mente com lábios de vinho 
enquanto enfeita a morte 
com cocktails de prazer fictício 

Honremos as horas felizes
antes que a corda do tempo 
acabe por enferrujar
qualquer coragem




,2021Novembro_aNTÓNIODEmIRANDA


PEDRA ROLANTE

 


Deslizo num tropel de cornetas envolto em falsos pensamentos que não posso reparar.
Não sei naquilo que me tornei. 
Não consigo apanhar as silhuetas que bailam na minha cabeça, e que jogam o mais sujo dos sonhos nesta tempestade vestida de fantasmas. 
Quero dançar a beleza do fim do amor. 
Afastem o cheiro das velas queimadas. 
Pretendo outra estrada, novas lembranças, 
desinfectar a escuridão que paira nos meus ombros, uma heroína não falsificada, um beijo não suplicante, qualquer luz que não mostre o caminho mentiroso.
Sim!
Tudo!
Tudo foi diferente naquela manhã. 
Voltei a ser o rapazinho a imitar alguém que não eu. 
Pedra rolante, 
choro secreto escondido na mala dos sonhos
que pintam toda a ausência. 
Nada cabe neste bailado de passos perdidos. 
Nem sempre segui os conselhos dos sorrisos desconfiados, e, disso ainda não me arrependi.
A glória nunca dormiu ao meu lado. 
Continua a ser a mais cara das aldrabices, 
a única puta desonesta. 
O que faço quando estou só?
Esfrego o cheiro da tua pele nas cordas da minha angústia. 
Ajoelho para beijar o sabor da nostalgia, 
e corro para o riso da tua cocaína. 
Quantas vezes nos prometemos naquele baile de marionetas? 
Dêem-me cicuta! 
Um solo do Ron Wood
Um sniff  do Keith Richards!
Estou com sede!
É só para erguer a moral. 
Toda a vez que fico assim, 
ganho a certeza que nem só os pássaros podem voar.
Nunca sonhei com alguém parecido comigo. 
Talvez tenha adormecido com a desgraça desse momento. 
E, como sempre, ninguém ofertou o ventre do conforto.
Suicídio alegre, não enamorado da noite das estrelas livres. 
Mas eu não me importo se o pôr-do-sol não acontecer 
no parapeito do meu optimismo.
Não passo de um tocador de gaita com algum jeito para fritar croquetes.
 A harmónica dos blues chega com a noite para me acordar. 
Disfarço o convite prometendo-lhe o paraíso do Baudelaire.
As coisas mudaram. 
Em muito destes anos, as flores do mal  foram simpática companhia.
Confesso que nem sempre estive atento aos sons do silêncio. 
Era jovem, e apressar os tempos do relógio, distraia-me.
Que alguém me ajude a contar mentiras verdadeiras.
Claro que tenho saudades.
Mas tento não tocar neste chão que grita 
a dureza dos momentos que matam.
Voei alto nas asas do ícaro desenfreado. 
Aterrei no terreiro vizinho da desgraça, 
saltei a negação, enrolei paixões de breves futuros.
Esconde-me no escuro do teu altar 
-ama-me mesmo que não consigas
-molha-me o desejo, mesmo sem beijo. 
Sabemos que o amor é cego e nunca ouvirá as nossas desculpas.
Só posso prometer um final feliz no satélite das notícias avariadas
Pai meu, não sei onde estás. 
Não preciso da tristeza pintada na lua de Havana 
montada pelos cavaleiros da tormenta 
que desassossega os gemidos das noites sortudas. 
Prometem mudanças, mas só queimam as memórias. 
Roubam tudo nesta mentirosa valsa. 
Até Deus perdeu a esperança na farsa que vos entregou. 
A misericórdia é a mais cotada trapaça na bolsa das acções nefastas. 
Tempos sujos!
Se pudesse, rezava por ti. 
Mas não sei ler esta doutrina.
Fico no quarto das memórias coladas. 
Divirto-me neste arco-íris povoado de alegres pirilampos.
Acendo guitarras imaginárias, 
desato os nós que me encaminham para o céu 
que nunca me encontrará. 
Até porque o paraíso está num sossego monstruoso. 
Degustados nas encrencas, 
os usurários deixaram de pagar o condomínio. 
A administração demitiu-se. 
Procuram-se substitutos à altura. 
Os interessados que publiquem o curriculum vitae em mensagem privada.
Pretende-se um defunto afável
-de fino trato
-humor em mau estado de satisfação.
Em verdade vos cuspo:
O tempo não passa de uma asneira ignobilmente repetida.



,2021Novembro_aNTÓNIODEmIRANDA


CALMA CONSELHEIRA

 
Quando danças nas cordas da minha guitarra, 
os passos são as notas que invento, 
mesmo sabendo o nada que tenho 
para te encontrar. 

Não há consolo nas memórias 
que não se escrevem, 
nem nas histórias dos pássaros 
que desistiram de voar.

Aqui, 
no alpendre da calma conselheira, 
olho para um céu cheio de esperas
e desenho nas sombras,
nomes que nunca irão chegar.





,2022Mai_aNTÓNIODEmIRANDA

& NÃO É CULPA MINHA BABY

 "I keep my eyes on you"!
& não é culpa minha baby.

O teu olhar diz-me que me enfeitaste,
e tu sabes o lugar de ti,
que os meus lábios querem percorrer.

Envio beijos embrulhados em poemas
que sonham sem parar,
a vontade de te despir.

Tenho o desejo mais lindo
para desenhar o toque
que espera a tua pele.


 2018Mar_aNTÓNIODEmIRANDA


No blog do Miguel Martins.

http://cachimbodemilho.blogspot.com/ 

sexta-feira, 19 de maio de 2023

PRET À PORTER

 


Que sonho pode ter medida
Ou ousadia para nele caber?
O que valem as horas
Gastas na angústia escusada?
Abraços frios
Serão sempre melhores que os fingidos
Aborrecidos tornam-se
Os soluços tingidos.
Às palavras de circunstância
Nunca lhes dei
A mínima importância.
Sentimentos adulterados
Serão sempre escusados.
Preocupação fictícia
Sempre me deu cuidado:
Causa-me icterícia.
De qualquer modo,
Obrigado!

(Não acreditem:
Só estou a fingir
Que sou educado).


2014_set_aNTÓNIODEmIRANDA

OLEIO O FIEL COM UM AFTER SHAVE

 

O que me dói é a balança.
Com os pratos tenho uma boa conivência.
Só temo, devo dizer não exageradamente,
que o meu optimismo
não enferruje algum contrapeso distraído.
Oleio o fiel com um after shave
comprado numa loja de  conveniência
tão bêbada como a minha identidade.
Pobre da minha guitarra
que geme mais do que aquilo
que sofro.






2016,10aNTÓNIODEmIRANDA



Fizeram o favor de publicar. Obrigado.








LIMPEZA A SECO

 


Escondi os sonhos na mina dos desejos 
perdidos.

Bruni o desconsolo em suaves núpcias.

Salguei a vergonha no poço dos desejos

Tentei embrulhar os soluços que vestiam 
as sombras da tranquilidade.

Arrendei a vontade com juros gratificados.

Mas, ninguém compareceu à minha 
necessidade.

Penhorei a ideia da felicidade 
no congresso da agiotagem.

Sim!

Eu é que fui o farsante da última ceia!

Estava farto dos originais fotocopiados!







,2022Mai_aNTÓNIODEmIRANDA

A FALA DOS SILÊNCIOS

 

Sabemos da fala dos silêncios 
Das danças que nos despem 
Dos passos que nos perderam

O tempo escondeu-nos
Roubou-nos a alma ainda nós 
        Não sabíamos amar

            Eramos gigantes aninhados
            Em vasos regados por dívidas

Flores do mal ainda sem poesia
Aromas corajosos e atrevidos
À procura da lua seguinte

Cheiros de corpos sem choros
Para recordar

Depois

            Depois assassinámos com
            Todas as letras a mais bela das palavras

SONHO




,2022Jun_aNTÓNIODEmIRANDA