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sexta-feira, 2 de junho de 2023

CANSEI DE ESCREVER PARA O PRESENTE

 

1 poema desolado deitado na boca do arco-íris descalço espera a chamada das vozes pagas no destino. 
Enruga o futuro escrito na apólice inconveniente e agenda a consulta com o psiquiatra delinquente que há longo tempo lhe promete a reforma dos hábitos esquisitos. 
Enquanto isso conta ao choro das baleias o desencontro da sua vida. 
Caminha num oásis de veludo que recolhe os soluços da estrada de fogo que tanto o desanima. 
Nem um conforto na exposição das ingenuidades. 
Empenhou 10 euros na sarjeta dos vómitos bonificados 
com uma taxa certificada para a sua exclusão. 
Enxota a caspa do presente varre a memória com a pressa dos prazeres banidos enxuga o olhar na porta da alegria 
e na tenda do céu mentiroso tira do bolso côdeas da ternura possível. 
Corre na sombra das nuvens 
mas, como sempre 
a simpatia não está disponível. 
Resta-lhe a bomba e aquela coisa que mesmo mentindo abafa a tristeza com que se deita. 
Pensa sempre na última vez, na espera do nevoeiro que esconde o sorriso que não quer voltar. 
Mas esta sede que tanto o prende enleia-lhe os pulsos incha as veias e dilui-se lentamente na parede onde está estampado o grito. 

É o fim diz-lhe a voz que encena a coragem
É o fim, escrevem as estrelas abandonadas. 

É o fim! 
Nada mais sentirás garante o fantasma da tempestade. 
Brinca o mais que puderes. 
Exige um deus que não simule a sensatez 
Acende-me o fogo! 
Estou com frio diz-lhe a morte do fraque cor-de-rosa. 
Espera! 
Ainda não estou preparado! 
Responde a cirrose mentirosa. 
E os pulmões ? 
Estão a dar muito enredo. 
Abrasa-me nessa fogueira diz-lhe o sangue no instante em que   suga a ideia. 
O futuro a deus pertence. 
Mas estava escondido na gaveta mijada. 
Traçou no edital:
cansei de escrever para o presente.

,2019nov14_aNTÓNIODEmIRANDA

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