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sábado, 3 de junho de 2023

DECEPÇÃO



Escrevo-te a única carta nesta noite que tarda a embalar-me. Mentiste luas tristes coladas nos anúncios do conforto ausente. Tentei gostar de ti, mas, demasiados nomes feriram a minha vontade. 
Nunca duvidei do teu preço, embora estranhasse a pressa do prazer, que, acreditei, era o outro lado do meu. 
No 326, enrolaste o corpo oleado, na minha pele enrugada, e  cheguei  a pensar, que, naquele momento, era o amante mais decente do rol dos desejos  apetecidos. 
Rasguei aquele papel, porque percebi que irei acabar antes de um qualquer adeus. 
Nesta idade, só resta lamentar a teimosia da minha necessidade de consolo. 
E, como Stig Dagerman escreveu, essa é impossível de satisfazer. 
Dei por mim a chorar, que já não me apeteces. 
Guardei no sovaco, o cheiro efémero do teu gemido. 
Mas, a estima é um suor peneirado pelo tempo, uma angústia mais tarde arrependida, um nó que corta a ferida.
Vou caminhando suavemente na canção que abraça o fim, embora alegrar a tristeza dê sempre muito trabalho.
Digo  até logo, e, sinceramente, pouca importância terá, o que vier depois.



2019jun_aNTÓNIODEmIRANDA


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