Escrevo-te a única carta nesta noite que tarda a embalar-me. Mentiste luas tristes coladas nos anúncios do conforto ausente. Tentei gostar de ti, mas, demasiados nomes feriram a minha vontade.
Nunca duvidei do teu preço, embora estranhasse a pressa do prazer, que, acreditei, era o outro lado do meu.
No 326, enrolaste o corpo oleado, na minha pele enrugada, e cheguei a pensar, que, naquele momento, era o amante mais decente do rol dos desejos apetecidos.
Rasguei aquele papel, porque percebi que irei acabar antes de um qualquer adeus.
Nesta idade, só resta lamentar a teimosia da minha necessidade de consolo.
E, como Stig Dagerman escreveu, essa é impossível de satisfazer.
Dei por mim a chorar, que já não me apeteces.
Guardei no sovaco, o cheiro efémero do teu gemido.
Mas, a estima é um suor peneirado pelo tempo, uma angústia mais tarde arrependida, um nó que corta a ferida.
Vou caminhando suavemente na canção que abraça o fim, embora alegrar a tristeza dê sempre muito trabalho.
Digo até logo, e, sinceramente, pouca importância terá, o que vier depois.
2019jun_aNTÓNIODEmIRANDA
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