Limpava alguns momentos à procura de boas notícias na página da necrologia do jornal pousado na mesa do café e invariavelmente discutia a desilusão com o barbeiro.
Depois seguia até à paragem da camioneta que religiosamente tinha partido às sete da manhã.
E esperava pelo carro do peixeiro, sempre com a esperança de um atraso que era raro acontecer.
Dava um pulo à horta para regar os tomates, e encostado ao muro habitual, contava vagarosamente as badaladas do sino da igreja, não que tivesse interesse, mas podia ser que desta vez elas não sincronizassem com o relógio que tinha comprado na loja do chinês.
Tinha saudades da cavaqueira da feira, mas agora está tudo tão fraco e longe, mais longe, do que o tempo que tem para gastar.
Chegava a casa e ligava a televisão e telefonava para o número mágico que lhe prometia um prémio de não deitar fora.
Quando fosse á cidade, haveria de comprar um telemóvel novo.
O seu só funcionava para chamadas sem ofertas.
Além disso queria fazer boa figura quando fosse à festa da aldeia.
E continuava a cismar com a mania de pôr a mota em cima da mesa do snooker.
Claro que gostava muito dela e aos poucos foi perdendo a saudade do ribombar das bolas.
E o canito já estava velho para as apanhar.
Não ia para a cama sem visitar a adega, agora que não podia beber nem vinho nem aguardente que teimava em fazer. Talvez alguém apareça hoje e lhe dê dois dedos de conversa.
Não será pedir muito.
E adormecia ...
,2016_,aNTÓNIODEmIRANDA
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