UMA COISA MALUCA CHAMADA SOLIDÃO

Cansada vai a noite para a calma.

Os raios dourados foram roubados do sol triste.

 
Para longe foge a lua do mar, 
à procura do caminho sem regresso. 

O jardim dos enganos sem fim, 

continua à boleia daquela coisa maluca chamada solidão. 

Mas a canção triste
dorme na espera que não tem mais chegada. 

Ergue uma prece qualquer
numa voz chorosa, 
mas ninguém a acode. 

E o vento 
que se esconde na tranquila tarde, 
lê anúncios de emprego 
na biblioteca da fé congelada. 

Bukowski foi proibido de animar epitáfios. 

Miró, ainda hoje não compreende 
o impedimento de embelezar 
todas as lápides dos amigos. 

Estranhos mundos que nos oferecem! 

Pensava eu que o tempo difícil já tinha saído.

Sozinho nesta sala, 
admito que rasgar credos 
seria um princípio admissível
para fingir salvar pelo menos uma alma merecedora disso. 

Não a minha, claro. 

Tenho o silêncio guardado num velho armário.

,2020abr_aNTÓNIODEmIRANDA