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quinta-feira, 20 de abril de 2023

TODO O CUIDADO É AGORA MOUCO

Nem sempre vejo o fumo das estrelas
nesta loja que me desampara a vista.
Percorro os caminhos amparado a uma bengala 

incrustada com aparições coloridas.
Sei de um sonho que me foge
e algo sobre os passos
que molham esta janela artificial.
Sei algo mais,
cada vez mais afastado de mim,
como aquilo que desejei ser,
não passe agora
de um incómodo sem sentido.
Sei de um pulso laminado
em brechas pintadas muitas vezes
com a cor do sangue.
Sei de todas as vezes
que caí na tentação
de lavrar significados
que continuam a fazer toda a lógica.
Sei alguma coisa dos frios
e do tempero das lágrimas
nesta salmoura escondida.
Nem sempre vejo o cair das estrelas
nem sinto já o calor
que aquecia o desejo inerte nesta cama
com o namoro ao contrário.
O olhar fica curto
nesta aparência humedecida
que embacia os óculos
que só lêem palavras molhadas.
Sei algo das feridas
e do seu cortante sabor
com que alvejo palavras
tão inúteis como eu.
As portas vão-se fechando
fartas de intenções agredidas.
Todo o cuidado,
é agora mouco.



,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

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