Já começo a ouvir vozes estranhas.
Falam dos dias do futuro, mas sinto que estou a perder a cabeça com tantas desculpas que tenho para escrever.
Nada escolhi de errado e sinto-me incomodado pelos sorrisos que pretendo recusar.
Está tudo tão errado nesta pressa que em mim caminha e estes sons estranhos que se entranham na pele, correm pela estrada fora, como se fossem meus. É o corpo que me arde nestes dias cada vez mais esquisitos, e os medos que pinto nas paredes que me cercam, neste modo aborrecido, acalmado pelos uivos da guitarra.
Eu que nada compreendo deste sussurro de tambores que enchem a noite do meu último sonho.
E a lua que chocalha o meu pensamento, embrulhado num cocktail de garrotes, lá naquela montanha de dançarinos pintando o céu.
Estou metido nestas ondas beijadas por calmas sereias, que juntam na minha mão, pérolas dos olhares que julgava ter perdido.
Ei, não sei onde fica o lugar onde estou, mas nesta música ouço trombetas de pessoas agora felizes.
Não sei se o paraíso é possível e se será este o clamor da orquestra dos anjos.
Estou pronto para qualquer momento, e penso que irei achar o caminho.
Não poderei continuar a resistir à tristeza e debaixo deste nível, nada existe.
Nesta valsa compassada em cascatas, talvez a minha alma possa ser reanimada e a minha certeza realizada.
Não digo que não, eu sempre acreditei nos momentos diferentes, mais dia, menos dia, não é isso que me interessa.
Faço o que sinto, embora digam que é da maneira errada.
Mas eu sei que tudo o que vejo poderá estar nas mãos de uma criança e isso torna muito mais fácil a ideia da esperança.
Mas o que fazer dos dias futuros?
Estou a ouvir CAN.
Vi esta banda há muito tempo num concerto em Lisboa.
Anos mais tarde, cumprimentei o Damo Suzuky na ZBD. Não falamos muito.
Velhos conhecidos não são para essas coisas. Olhamo-nos com o sorriso dos caracóis celestiais.
Estou a subir as escadas agarrado a um espelho que me mostra o sítio.
Dizem-me sempre para ter cuidado, aqueles que não escutam esta música.
Não sei se vou cair, mas não tenho medo.
Chegam-me sons ritmados, como se fossem convites ilustrados na viola do Michael Karoli.
Sinto-me vivo nesta loucura de constante procura, onde delicadamente me corto nestes timbres alucinados que me fazem dançar.
Estou louco!
Embora só de vez em quando.
Tudo tenho a ganhar.
E isso eu quero aproveitar.
Que se foda o juízo!
É disto que eu preciso.
Poderia fazer outra coisa.
Mas não me apetece.
2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA
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