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sexta-feira, 31 de maio de 2024

HIGH-TECH

 


Sinceramente não sei quanto tempo 
poderei resistir ao permanente 
e desenfreado assédio da 
Bimby

(Ela ignora que todos os dias 
na caixa dos desastres 
aparece uma declaração ansiosa da 
Airfryer)

Verdade seja feita!

Nos meus sonhos de criança 
nunca constou a utilização de uma placa 
de indução






nb: tais «eficiências» nunca atrairão 
                        a minha curiosidade











,2024Mai26_aNTÓNIODEmIRANDA
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GOSTAVA DE TE ESCREVER ROSAS

 


Gostava de te escrever rosas.
        Mas quem sou eu,
a quem todos os espinhos
rasgam as letras do teu nome? 
        Preciso de um avental com luvas amigas,
e sobretudo de um vaso
para regar a tua sombra.
        E uma foice amigável 
para não magoar a vontade
com que te quero.
        E uma tarefa,
cumprida não como promessa,
só para enlatar o azeite
que algumas vezes nos temperou.
        Sou o que sou!
O que quer dizer,
que sem ti,
continuo a ser
o
nada.
        Gostava que estivesses aqui,
e que o dia que agora tão mal me trata
não tivesse que acontecer.




,2017out_aNTÓNIODEmIRANDA
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quinta-feira, 30 de maio de 2024

SEC`ADEGAS _O HÁLITO SALGADO

 


Está frio no meio do meu sonho.
A pele estica-se fora da dor,
fugindo do sangue atropelado 
pela lama da vida.
Tenho na mão
o hálito salgado 
dos tempos morridos
desta espera constante.
Não posso pedir ajuda
a esta importância que me julga,
neste cambalear
com que embalo o meu vazio,
pensando iluminar as agruras
onde tanto me desanimei.
Estendo sorrisos
como se a eles alguém acenasse
e assim me envolvo em bolhas de cotão.
Vou passando em todas as ruas
como a areia do deserto
que sobrevive à falta da mais pequena ternura.
Chego sempre cansado
demasiado cansado
carregando o peso da minha ausência.
Descalço o olhar
escondo o desejo
alisando a memória
nas ilustrações esbranquiçadas
da minha ilusão.
Infinito é o bocejar do meu passado
feito com o polimento das pedras
que me atiraram.
Continuo apartado.
...depois de todo este tempo.




,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA
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LÁ CHEGAREMOS

 


Lá chegaremos.

                                   Não gaste o tempo este 

                                    levar,

                                    que nos fica 

                                                    tão 

                                                                longe.



2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA
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IMBECILIDADE

 


Abriu o almanaque da patetice

E começou a desfloração 

Contínua da imbecilidade.

                                        O dia prometia,

                                        Embora a meteorologia 

                                        Tivesse anunciado

                                        Períodos nublados

                                        E depressão acentuada

                                        Na compreensão das pessoas.


.2014_aNTÓNIODEmIRANDA
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sábado, 25 de maio de 2024

terça-feira, 21 de maio de 2024

NÃO ESTOU BEM NEM MAL ESTE HAVER JÁ NÃO ME PERTENCE

 


Vai-se sem voltar naquele apetecer que engana. Não há longe no baixar da bandeira, já não se acena aos sorrisos dos livros que nunca se cansam de nos deitar. Ergue-se a vontade moribunda no usual estertor. Ignora-se o que somos! Tenta-se apagar o incómodo que a covardia da velha voz entrega. Saudades do silêncio. Que luz poderá abraçar a réstia da sombra desejada? Rios de abandono deitados na bandeja dos despojos. Mar de ruínas! Nódoas de cansaço tentam iludir o abismo que nos traga. Mas há um circo vestido de fantasmas, árvores de pele tisnada escondidas na solidão do império dos heróis que falharam. Não há tempo! Unicamente mentiras com perfume comprado em 2ª mão. Todos sabem onde se esconde a espera da sorte, lá no covil das portas secretas. “ NO FUTURE” deseja-nos a latoaria do desdém. Funeral à vista num mar encenado e o arfar insinuante promete um compromisso continuamente adiado. Retira-se da tomada o cabo do optimismo. Acende-se o comprimido (é proibido fumar). Dizem que nos estimam os que nunca conheceremos. Aproveitem! Uma mentira valerá sempre mais do que a falsa consideração. Não se encontra o abrigo. Aqueles de quem gostamos vestem peles ausentes. Um passo. Mais um, sempre a cambalear. O possível é uma montanha congelada. Vende-se o mundo numa epifania fraudulenta. 
Enriquecem com a dor que tatuam. Tudo controlado para não ligar à pobreza que nos entregam. Todos o sabem, (menos nós). 
Amanhã, talvez, será sempre aquele estar aninhado no acaso. Já não se aspira o cheiro do prazer sem tempo para acontecer. Emoções abusadas pelo adormecer do cansaço, escrevem no repetido despertar pecados abençoados trazidos pelo uivar do vento. Todo o tempo passa, ainda que os anos treinem a mentira com o mais ignóbil dos significados. Até ao fim! Acompanha-nos a pequenez dos passos que concebem a ruinosa misericórdia. A vida num só dia será sempre uma apetecível promessa. Morrer ainda é mais barato do que a vida que nos consome. Não sabemos que estrada nos tenta encontrar. Estamos confortavelmente solidários no meio do caos. Cama de seda defunta, sagrado ungido expulso compulsivamente do fundo mundial do respeito não comparticipado. O amor dói. Carimba cicatrizes e entrega porta-a-porta ramos de condolências malcheirosas para consolar a nuvem dos sonhos queimados.
Eu?
Não estou bem nem mal.
Este haver já não me pertence.





,2023Out_aNTÓNIODEmIRANDA
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NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS

 


Labirinto da saudade.
A ausência enche as ruas.
Magoo-me.
Tenho o cinto no aperto da vontade.
Uma misericórdia inoperante.
O que pretendes pecador infalível desordeiro das orações que ensinámos?
Império das mentiras, princesas maquilhadas no trono dos tropeços.
Não consigo um diferente começar. 

NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS.
Oceano afogado nas sombras - uma corrente de murmúrios - negação contínua que conforta o autismo pulsos atados num remo à deriva -  barca velha cansada da adega - e há um sol teimoso que finge o nascer -  e oferece-nos um perder agasalhado nas pulseiras.
NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS.
Neste palácio borrado de medo pela curiosidade de janelas indiscretas. O existir não passa de uma circunstância inconveniente. Os palhaços abandonaram o palanque. Este sítio é suspeito. Sobrevive com nuances de sanguessuga. Doida autópsia rasurada, escondida num asilo ignóbil mija decências nos muros encharcados de peçonha. Glorificado seja o nojo de cada dia, a toda a hora, aqui na terra mas nunca no inferno. Queimo as respostas que hipoteticamente endereço a mim. Não ouso pintar ausências, até porque o mais perto que estive da felicidade, foi uma vírgula sem o ridículo das palavras. Estou sempre pronto para o que de mim eu quiser. Atento e venerando o optimismo conservado numa solução fictícia cada vez mais longe deste lugar que tanto me cansa. (não estou a falar de mim. Eu sou outra coisa). Se calhar até podia ser assim, mas esta maldita fé enferrujada por néctares alucinados, pregou-me a esta ilusão roubada numa caixa de esmolas. Despejei o cabaz dos imbecis. Há alguém por aí? Alguém que me possa matar? Tenho dores para a troca, sorrisos fáceis para vender, um coração habitado na mentira, olhos que nada entendem, boca obediente, consumo mínimo do zero à morte, 7 chicotadas. Ofereço um diamante louco abençoado pelo Syd Barrett. Se não for do agrado, tenho átomos congelados, embebidos numa salada russa, antes de o Putin começar a levar no ânus. Candy dizia ao corpo que a estranhava, que só queria um dia perfeito. Só me queixo da sorte quando o azar se esquece de mim. Até porque não gosto das bebedeiras diluídas em contrafacção. Tenho um gosto distinto entendido por um tinto de reserva conceituada. De cada vez que me penso, esqueço o que de mim presta, ainda não queimo o que resta, mas isto vai ter cura. Relembro-me em leituras sonâmbulas e caminho nas nuvens da ilusão. Colo a tristeza numa manta amiga, e espremo a esperança com dedos manchados pela crença que me impregnaram. Recordo quando era jovem, mas não encontro os segredos que escondi.
NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS.
Tenho a pele empilhada por aplausos que nunca ouvi. 
Opções divorciadas dos flashes fedorentos.




,2020Dez_aNTÓNIODEmIRANDA
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sábado, 18 de maio de 2024

O SONHO FICA SEMPRE FORA DO LONGE

 


Tu és a maçã da minha vida, 
acontecida em contramão, 
num lúmen tão ardente, 
chama intransigente, 
alegoria de estrela arrependida. 
És uma causa perdida 
como toda a loucura medida, 
como se ama insanamente 
a paixão à deriva, 
onde eu perco a tua rota. 
Bússola avariada sem seios proibidos 
para que ardam todos os sentidos 
como se fosse 
nossa a tua madrugada. 
E transpiro o bafo quente 
da ousadia inventada, 
porque finalmente todos os desejos 
são possíveis. 
E alinho num compasso o que de mim desfaço, 
qual ângulo sem hipotenusa nesta dor confusa
 onde só aconteço para voltar.
Mas, nada é demasiado simples!
Ainda mais o amor mais querido, 
o embraço do beijo mais procurado.
    E aqui, tão distante,
    o sonho fica sempre fora do longe.





,2016,08.aNTÓNIODEmIRANDA
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É ESTE O TEMPO

 


É este o tempo que já não nos espera, envolto em lençóis de madre pérola, ostentando o colar da desavença. É este o tempo do amanhecer ardiloso, do roupão enevoado que pergunta o que foi feito de nós. E nós caídos, tentando apanhar a flor que nunca tivemos nas mãos. Quando a música acaba, neste chinquilho que nunca em nós confiou, vem-nos á memória qualquer coisa parecida com uma vela imitando a voz de deus. Continuámos sós, esquecidos na salmoura dos agradecimentos nefastos e louvámos nas mensagens sem custo, o destinatário desconhecido. Não consigo gostar deste pensar que me atropela e tento cortar a angústia em pedaços adequados ao fondue de toda esta tristeza. 
Não penso em mim nesta forma de pecado e ergo as mãos para a oração errada que junta as mentiras habituais. É este o tempo da vã glória enleada no chicote do resumo sangrento. Dos dardos cravados na maledicência, bocados à deriva buscando um anúncio qualquer, só para alcançar o fim prometido sem saída de emergência. Alguém cuspiu promessas que não cumpriu e os dados mal lançados só deram um poker batoteiro. Temos nas mãos um título de transporte sem validação possível e uma louca corrida que nunca nos deixam vencer. 
Nada é sagrado nesta conspurcação de heterónimos aleijados e estamos sujos pelos medos de uma paciência sobrelotada. 
Final da concessão.
Riscamos todos os calendários.
Queimamos todas as folhas no “Fogo-de-Santelmo” e Hieronymus Bosch gentilmente pintou as nossas radiografias.

2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA
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CHEGAREMOS EMBRULHADOS NO SONHO

 


Voltaremos para viver
o amor de todas as causas.
    Apartaremos o mar
com a lâmina sincera 
que acabámos de achar.
    Sonhos vazios são bons conselheiros.
Não mancham lençóis 
nem prometem amanhãs traiçoeiros.
    Depois, 
sempre depois do acontecer, 
chegaremos embrulhados no sonho, 
que o sono  novo nos irá adormecer.






,2017out_aNTÓNIODEmIRANDA
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FUTEBOL (12) SIMULAÇÃO

 

        Sentiu nas costas o toque de Midas 
e estatelou-se em plena grande área.


            O árbitro mostrou-lhe o cartão dourado
por pretensa simulação.






,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA
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FUTEBOL (11) CONSTIPAÇÃO

 


                                Então e o que pensa daquela manifestação dos adeptos, acenando-lhe com lenços brancos?


                            Sabes,
                            este clube é uma família!

Pensavam que me constipei.






2017,fevaNTÓNIODEmIRANDA
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NO PALCO DOS SONHOS

 


ACTO1
No intervalo do ápice saltita a vírgula apressada que perante a ausência do aplauso
faz uma pausa agradecida ensaiando vénias fora de uso. O público humedecido sai pela porta do fundo levando escondida a récita que o emudeceu. Nada disto constava no cartaz
nem tal foi aflorado na conferência de imprensa. A crítica sabiamente enaltece a falta de interesse abundantemente manifestada.
No teatro vazio, fantasmas nostálgicos
brincam com as mais loucas coreografias.
No palco dos sonhos baratas julgadas tontas
podem agora jogar ao berlinde.
ACTO2
Acordou a máscara.
Pendurou a maquilhagem.
Farto de ser ele próprio vestiu a personagem para que tudo voltasse ao princípio. 
Aliviado cortou a cena em pequenos actos e cozinhou com todo o amor a sopa dos pobres.
ACTO3
3 pancadas atingiram a sua fé!
Nunca mais voltou a ser o mesmo.
ACTO FINAL
Correu-se o pano que foi dobrado em mil mortalhas.
Congelou os soluços que escorriam pelos pulsos.


,2017,mai_.aNTÓNIODEmIRANDA
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quarta-feira, 15 de maio de 2024

O FEITIÇO DA LUA

 


(

Tapa-me

O

Remorso

Senão

Morro

De

Frio

)








,2022Mai_aNTÓNIODEmIRANDA
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FALA DO RELÓGIO DAS HORAS AVARIADAS

 


Vai andando


Que

                    +

Logo

Irei

Ter

Contigo




,2023Mai_aNTÓNIODEmIRANDA
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CAVALO

 


                    Caiu do cavalo.

                                                    
                                        agulha,
                                                            logo arranjou                                                        substitutos.








2018Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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CACIFO

 


Era o nada
e nada mais do que o nada 
o que restava de mim.

                    Nada assim acabava
                    deste nada
                    para nada,
                    para princípio sem fim.

E o nada que tardava
fingia a chegada
para um nada
que só fugia de mim.

                            Navega agora
                            naquele mar de ouriços caixeiros.

Esqueceram-se 
da minha tábua
num cacifo sem chave.







2018Mai_aNTÓNIODEmIRANDA
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RAMALLAH

 


40 vezes pensei renascer, só para escrever respostas naquele tapete de veludo azul, onde passavam os filmes da minha ilusão. Chora-se em Jerusalém,  Morre-se em Ramallah, assim como nos outros lugares que também assassinam a esperança. De punho erguido, amaldiçoo a injustiça que me viu crescer. Tanta é a vergonha que me desgosta, e o futuro tão tardio, traça com lâminas a simples possibilidade de pisar um chão que queremos nosso. Só existe o tempo para apanhar o presente da desolação. É feita com pedras a revolta das nossas lágrimas. Mas nunca olhamos a realidade de braços caídos. A nossa vontade tornou-nos imprescindíveis, apesar de sentirmos na alma, que a crueldade da humanidade continua a espalhar a indiferença.








,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA
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14 * 53 * 62

 


Só tinha 14 anos e a idade madura para imaginar o mundo como um lugar quase imperfeito. 
Sorvi naquela altura “Uma Educação para a Liberdade” do senhor Paulo Freire, livro que comprei na livraria do meu pai. 
E em 69, o ano em que comecei a trabalhar, no fim de Setembro no meu primeiro recibo de ordenado, imitei timidamente a assinatura do Che
Ninguém ligou importância, nem perigoso foi, até porque os outros sabiam outro tipo de histórias. 
E passados tantos tempos, em que só tentei que aquilo de que gostava não me escapasse, hoje com 62, recuso-me a não achar qualquer sentido neste verbo que me foi enchendo a alma. 
Só sou verdadeiro naquilo de que gosto! 
As modas passam mas não deixo que danifiquem a minha memória. 
Tenho caminhos diferentes que me conduzem a vontade, visto tantas peles, por vezes largo escamas mas resisto e continuo com aptidão total para não me escalarem nem ser comido de cebolada. 
Não morro nas vésperas do adormecimento.
Mas hoje, e porque talvez seja feriado, ofereço-vos uma excepção:
choros arrependidos poderão ser servidos no pátio dos lamentos.
Temos frango avariado sushi marado caril de corrimão lulas com molho de varão, e verão, é minha suposição que as asinhas do KFC, são previamente depiladas de acordo com as normas da CEE.
Voltando ao princípio, que não me lembro, digo-vos que Lisboa já tem mais hotéis e serviços similares do que o número de estrelas da Ursa Maior. 
A outra (Ursula Andress não permitiu a utilização do seu carácter nesta missiva).
E aviso-vos: tende cuidado com o congestionamento do tráfego das escadinhas do Duque. 
Há por lá gente boa, mas nenhuma é de confiar.
Voltando ao cerne da questão, que também não recordo, digo-vos então, talvez seja melhor em inglês, francês, alemão, porque não (?) que as ementas escritas nestas línguas dão-me cabo do apetite. 
Pronto! 
Sou um mero provinciano, minhoto com 53 anos de Lisboa e 5 voltas de Inter-Rail (que saudades), que mesmo com passe social previamente pago, cada vez tem mais dificuldade em percorrer esta cidade.
O que verdadeiramente me magoa é a faca com que afio estas memórias.






,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA
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& HÁ SEMPRE UM COMPRIMIDO

 


Fugimos para nós, 
logo que a esperança tenta descobrir 
o segredo da nossa identidade.
O medo espreita sempre, 
estampado no tecto que fingimos ignorar.
Desligámos a ousadia 
no botão do candeeiro, 
naquela manhã em que tentámos 
não nos lembrar das palavras 
que fizeram estremecer 
as tentativas do sonho.
& Há sempre um comprimido, 
bem recebido, 
para quem não sabe de cor, 
o pai-nosso 
que julgamos ainda está no céu.







,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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A HORA DO LOBO

 


Na soleira da porta corto os pavios de todos os entardeceres que me trazem a hora do lobo. Pinto com sabores solidários as aldeias que me restam e mastigo ervas daninhas para não afligir a digestão. Sobra de mim o que quero para aquecer no calor da brasa o devagar que me consome. Sobrevivo na calma do tição e aqueço-me no mais provável gole de aguardente. Faz frio lá fora mas já tive Agostos mais agrestes. Respiro-me com os velhos bafos que nunca me fazem perder o caminho que pretendo. A minha tv preferida é esta lareira onde sentado no maple do branco pergamóide, aconchego certas memórias. Gostamos de estar aqui. Nada mais nos apetece.
E isso é muito mais que suficiente.
Faz frio lá fora.
Nunca será esquisito este calor.





,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA
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terça-feira, 14 de maio de 2024

SARRABULHO

 


Sou um fraco.
Dizia-lhe a consciência mal-educada.
Fraco. Eu sou um fraco.
E choro as horas fora das lágrimas.
Lá no hotel, onde tudo era a brincar, a stripper era um manequim de cartão que fingia um orgasmo estrangulado. Tinha uma ranhura que consumia demasiadas moedas por gemido. Foi tudo queimado numa barra de sabão com sabor a incenso. A empregada serviu a última ceia fingindo que era a primeira vez que despia a bata. Encostou os mamilos num solilóquio policial, escondeu a pistola no avental, e mudou de rímel, conforme estava escrito no guião dos assassinos distraídos. Enquanto saboreava um sushi de trazer para casa, limpou as notícias do jornal com um desengordurante comprado de véspera. Pôs a combinação em modo de espera, e prometeu a si própria, que só iria abrir a atenção a números identificados. Em caso de dúvidas, dirigiu-se ao nails center mais próximo, e retocou as falhas de memória, com unhadas cor de sangue. Isto foi na temporada 1, episódio 1999. Na esplanada junto ao rio Cávado, tira macacos do nariz para não deixar vestígios da sua inocência. Caminha em direcção ao restaurante, ostentando um colar feito com 2 chouriços de cebola e 1 de carne, roubados do melhor fumeiro. 
Deitou-se á espera do amor combinado.
Como sempre está atrasado.
No quarto ao lado, não pára o barulho.
Mexe com zelo em si mesmo. Revira os olhos. Começa a suar. Liga para a recepção.
E pergunta: Onde é o sarrabulho?

,2017out_aNTÓNIODEmIRANDA
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segunda-feira, 13 de maio de 2024

DERIVA

 


Se o teu céu 

não tem a cor do meu estar

na languidez  que respiras 

prometo não deixar qualquer vestígio 

senão estas horas esquartejadas

no beco dos desperdícios



,2022Mai_aNTÓNIODEmIRANDA
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DERIVA SOLITÁRIA

 


Podes usar a minha estrela,
disse ela
deitada na lama da tristeza
                                            
Fechei os olhos 
                                            à procura de um desejo
                                            razoável

Mas
o melhor que consegui
foi um fingido sorriso
para disfarçar a raiva
que sangrava nos meus braços

                                Há caminhos que nunca nos encontrarão

E noites de verão escondidas
que só farsas prometeram








,2022Mar_aNTÓNIODEmIRANDA
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AINDA HÁ MUITOS POETAS DISTRAÍDOS

 


Coloco a cabeça no lugar 
e perfumo os sovacos como aprendi na televisão. 
E num estrugido feito em chama lenta, 
salteio palavras que nunca escreverei. 
A conexão entre o meu cérebro 
e o aparo da caneta tem muitas vezes falhas 
no servidor. 
Tente outra vez. 
Está escrito na mensagem que não solicitei. 
Desligue e volte a ligar. 
Como se isso fosse fácil. 
Mas eu só sou um poeta 
sem a mínima ambição tecnocrata.
Não uso máquina de barbear 
nem frequento as lavagens automáticas 
para aparelhagens dentárias.
Sou mais pela utilização da insensatez 
que sabiamente me afasta das bermas da normalidade.
Bebo pouco zelo no Bourbon 
e amparo o guarda-chuvapara jogar pénis de mesa.
Dobro folhas dos livros com a pacífica intenção
de as violar.
Organizo estes crimes na perfeição
e alfabeticamente desenho  um conspirativo manual cientificamente guardado
na prateleira F, do corredor O, nível D, Sector A.

Por acaso, não tem tido lá grande procura.

    Ainda há muitos poetas distraídos.

Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA
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CONVALESCENÇA

 


Eu 

E o que de mim 

Restou 

No pouco que 

Prestou 

No eu 

Que já não sou 

Para que serviram os anos 

Deste tempo 

Que de mim 

Se cansou?





,2022Out_aNTÓNIODEmIRANDA
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domingo, 12 de maio de 2024

ALGUÉM MATOU A COCA-COLA

 


Não sei se já passa da ½ noite, numa página qualquer de Garcia Marquez. Que conversa terei na catedral, eu que só pretendo ilustrar fins-de-semana alucinantes. Estou usado sem a esquisitice ridícula de pretender ser jovem. 
Engodo esta convicção com a cabeça de Alfredo Garcia e quero abraçar o Woody Allen para continuarmos a acabar de vez com a cultura. A Sandra dá-me gins muito engraçados e nas conversas com o Senhor MM dirigindo-se aos humanos, molhamos sempre novos contos. Ary, o infiel mais religioso, abre-nos a porta do botequim e fala-nos que a solidão fica menos só, quando é regada com a melhor das amizades. Tenho boas ideias, escritas com uma pistola saída do inimigo público, e a total garantia que desta vez não haverá chuva. Alguém matou a Coca-Cola e foi comemorar com os outros bons malandros.

                Para terminar, comecem sempre a noite com as visitadoras do senhor Pantaleão.
        … E já agora, façam o favor de ignorar qualquer pretensa sensatez nesta minha recusa de ser aquilo que não quero.


2016,11aNTÓNIODEmIRANDA
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(PÁRA-ME DE REPENTE O PENSAMENTO) Ângelo de Lima

 


Até então, nada sabia sobre essa história com pensamentos a sair constantemente da cabeça. Havia medos que corriam entre os dedos, como se fossem lágrimas vindas de um lugar onde nunca esteve. Então ficava quieto. Tinha as conversas possíveis, sempre com alguém que nunca foi. Desconfiado como era, olhava abundantemente para a imagem escrita do espelho, e lia-lhe o manual de instruções para a colocação do saco do aspirador, que nunca chegou a comprar. Eram dias quase perfeitos, embora o encanto continuasse a ser aquele orifício cada vez mais tapado pela enorme impaciência que teimosamente lhe oferecia a mesma quantidade de dúvidas. Tudo tentou. Mesmo aquela teoria de nada continuar a ser. Deitou-se de costas para si mesmo, acendeu o cigarro ao pássaro, ligou o ferro de engomar e queimou a torrada habitual. Só adormecia nas noites em que não queria acordar. Então deitava-se abraçado ao mais perigoso dos verbos: amar. Acordava, quando não queria. Chorava quando ninguém sabia, e limpava as lágrimas a umas mãos sempre ausentes. Eram sempre distantes os dias que ficavam por acontecer. Tinha tatuado na pele, uma figura de BOSCH, que constantemente lia o poema:


Pára-me de repente o pensamento 
Como que de repente refreado 
Na douda correria em que levado 
Ia em busca da paz, do esquecimento 
Pára surpreso, escrutador, atento, 
Como pára um cavalo alucinado 
Ante um abismo súbito rasgado 
Pára e fica e demora-se um momento. 
Pára e fica na douda correria
Pára à beira do abismo e se demora 
E mergulha na noite escura e fria 
Um olhar de aço que essa noite explora 
Mas a espora da dor seu flanco estria 
E ele galga e prossegue sob a espora.


(Ângelo de Lima)



2015,mai11_aNTÓNIODEmIRANDA
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sábado, 11 de maio de 2024

EXTREMA-UNÇÃO

 


Costumava 
Ser 
Tão Novo...









,2024Abr_24_aNTÓNIODEmIRANDA
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COMO SE O SONHO ENCIUMASSE A REALIDADE

 


Refastelado no regateiro 
arco-íris 
percorro as vielas da 
curiosidade 
num lento despir 
de emoções

        Na galeria dos abraços 
esquecidos, 
enlouqueço afectos 
pintados por Bosch
enquanto traços frenéticos 
marcam o ritmo subtil 
da tranquila  azáfama do 
céu

            A máquina dos sonhos avariados 
            continua activa 
            impedindo assim o desejado 
            tráfego da 
            felicidade
 
Na bandeira do infortúnio
 maus ventos desfraldam 
ásperos tempos








,2024Abr_01_aNTÓNIODEmIRANDA
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FASCÍCULO FINAL

 


Continuo a tentar
 mesmo nesta batota assumida
 despejar despedidas

Fui eu que queimei as palavras 
no crivo da saudade 

E no apressado abandono
vi o anjo que nos meus olhos 
guiou a escuridão

Depois ser feliz 
&
mesmo que não me apeteça
copular a esperança
no labirinto de ternura

&…

apenas morrer












,2024Abr_01_aNTÓNIODEmIRANDA
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VONTADE AVARENTA

 


Vida da minha morte só me escreve 
lágrimas.
    De nada já tenho a 
certeza.
A cabeça vai e vem num voo 
incorrecto 
        deita-se a meu lado 
naquele gemido 
            como se trepasse no 
rosário 
das inocências absurdas. 
                Ideias em fogo 
não trazem a idade nova 
                    Para     o     velho 
conhecimento. 
        Se a noite pudesse 
sonhar e fugir
Da avarenta vontade, 
        Assassinar         a             coragem 
deficiente,
        Respirar             as             palavras 
sagradas
            E acabar     de     vez     com     os                     hinos     profanos...










,2024Abr_24_aNTÓNIODEmIRANDA
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TERÁ DE SER SEMPRE ASSIM O VERDADEIRO GOSTAR

 


                Alguma coisa acabarei por 
escrever à saudade

                Um ramo de abraços com certeza 
não faltará

                Um cesto de lâminas 

                Um elaborado cocktail de 
desânimos

                    E o que + tarde se verá

Sem cura é o
amargo braçado 
enxertado 
na melancolia da 
poesia




,2024Abr_07_aNTÓNIODEmIRANDA
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sexta-feira, 10 de maio de 2024

DEUS NUNCA PERDE PERDÃO

 


Vende catálogos com mentiras benzidas 
nas bombas
        Deus maltrata a esperança que inocentemente 
alguém ainda procura manter enquanto oferece choros mutilados
            Deus não passa de uma trapaça sem fim 
abençoada nas resoluções da conveniência pré comprada
            Deus não é mais do que de uma resignação consignada hipócrita benevolência 
    
                                                    Como querem que não                                                 conviva com a legítima intenção de me irritar com tamanha inoperância?

[sei que morrerei com o nojo impregnado na pele]

                        E o crime continua a não ser 
                        meu




,2024Abr_01_aNTÓNIODEmIRANDA
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sábado, 4 de maio de 2024

TÃO PEQUENO SERÁ SEMPRE O MUNDO

 


A vida é um sumo que vai azedando 
tão farta que está dos falhanços com 
que a estimamos.

Mas a vida deveria ser 
apenas um sonho sempre longe da 
malvadez onde enfeitamos os 
habituais antros da desilusão.

Tão pequeno será 
sempre o mundo na voz do 
desespero da infinita tristeza






,2024Abr_10_aNTÓNIODEmIRANDA
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REVÉS NÃO PROGRAMADO

 


Estive perto do paraíso 

mas 

2 pneus furados 

na enfermaria da glória 

boicotaram a loucura



,2024Abr_25_aNTÓNIODEmIRANDA
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POEMA PARA O NOSSO AMIGO José Peralta

 


Levo O Teu Abraço Comigo
No Vento Que Nos Vai Afastando
E O Sorriso Da Amizade
Embrulhado Na Memória
Da Saudade.

O Que Esperar Das Horas
Que Tudo Nos Roubam?

Nunca
Abandonarei A Estrela
Que Desenhou 
Tamanha Estima





,2024Abr_02_aNTÓNIODEmIRANDA
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O CANO EMPENADO DA FLOBERT DE WILLIAM S. BURROUGHS

 


Joan Vollmer…


E de repente 
isto é 
como se fosse subitamente 
a cabeça 
estava no sítio 
errado…





,2021Abr_24_aNTÓNIODEmIRANDA
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EU VESTIA TODA A ILUSÃO

 


Como vai a vida?

                                    Longa / Estreita / Larápia /                                                     Ardilosa / Olvidada / Judiada /                                                     Infernizada / Inalada / Contaminada/                                         Tricotada / Trampolineira / Sumiça /                                             Sortido sem graça /  / Vaticinada /                                             Calculada / Vacinada / Furtiva /                                                 Ladrona / Inconveniente / 

Hoje não passa de uma esperança 
abusivamente ferida





,2024Abr_22_aNTÓNIODEmIRANDA
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ASSIM REZA O DIÁRIO DAS NOTÍCIAS NEVRÁLGICAS

 


Não sei porque me chama 
esse desejo vagabundo.
                            Há muito que deixei de ser 
o espião acampado nos penhascos do 
céu.
                            O tonto passado 
roubou o apito ao papagaio 
embusteiro  
e anda por aí a espalhar 
fotos de perfis danificados.
                            Isto não é acerca de nada.
                            E é bem verdade
que o impostor importante 
ainda não tinha sido 
inventado. 
                            Apenas um passo 
amigável sem pisar o pó das emoções 
injectado nos tremores 
da solidão.
                            Só que…
                            Nem todos os sinos 
trinam a mesma 
véspera 
                            nem todas as badaladas 
acertam no alvoroço.
                            Não me importo
De nada quero saber





,2024Abr_13_aNTÓNIODEmIRANDA
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sexta-feira, 3 de maio de 2024

É MAIS VELHO AGORA,O MEU ACONTECER

 


Algo o vento levou.
Já não encontro a capa da ousadia,
que um dia desenhei,
só para gostar de ti.
Continuo a apanhar folhas pisadas,
aquelas tecidas pelas asas dos anjos,
na vã esperança de te achar.
É mais velho agora,
o meu acontecer,
e nas rugas que me enrolam,
tento esconder o teu esquisso.
Não tenho jeito para pintar,
senão algo que a memória possa oferecer.
Mas, os meus olhos querem ver outra coisa.
Não me querem magoar.
E eu, solto neste guinchar da guitarra,
a angústia que expulsei
do teu retrato.






,2019mar_aNTÓNIODEmIRANDA
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Às vezes estou com tanto pau 

que até a fé

abala



,2016,04.aNTÓNIODEmIRANDA
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IVE

 


I nterrupção
V oluntária da
E stupidez
...
                            Deveria 
                            ser considerada 
                                                        norma 
                                obrigatória!







2016,09aNTÓNIODEmIRANDA
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KORES

 


Porra! 
Não é fácil aturar-me nos dias difíceis.
Agarro no livro errado, sento-me na guitarra e toco diferente. A cabeça anda num corrupio demasiado apressado para a velocidade permitida pela minha pretensa imaginação. Gasto os calos a tentar acompanhar a sobriedade que me escorre dos dedos. Há perfumes com fragâncias espontâneas feitas por mim. Que exagero! Nem consigo descrever o seu cheiro. O que me vale é o pensamento que me entrega a ideia que me faz falta. E assim conto segredos às teclas da máquina de escrever, ela mesmo, uma exemplar confidente que se recusa a ocupar a velha folha A4 que pacientemente continua à espera.
Porque ela sabe que os momentos de reflexão são angústias que mancham uma fita mais que mentirosa.





2016,09aNTÓNIODEmIRANDA
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A CADEIRA

 


Se o universo não fosse adverso e tivesse ao menos uma cadeira decente para assistir ao embargo da ambiguidade eu passaria as manhãs tranquilas ousando acariciar palavras e não recusando o seu real significado.
        Se o inverso fosse mais que contrário e coubesse assim no meu imaginário, eu sentado nessa cadeira abençoaria todas as pontes para que a distância não fosse tão presente.
        Mas sequelas indignas molham-me com suores inflamados e enganadoramente penso que aquela cadeira continua à minha espera.





,2016,04.aNTÓNIODEmIRANDA
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Poema para WILL SAMPSON O ÍNDIO-CHEFE BROMDEN #VOANDO SOBRE UM NINHO DE CUCOS#

Olhos rasos contemplam a magnitude.
Ovos com óculos na testa
Agradecem estrelando salmos de gratidão
Com gemas de incenso.
Lá fora
No lugar que não existe
E no tempo combinado
Um canto gregoriano
Com o hábito da semente proibida
Mostra notícias
Das horas não acontecidas.
Meticulosamente arrumam-se gavetas
Antes que o pó as revolte.
Sei quase tudo
Do meu nada imenso.
E isso só me serve
Para saudar
Delícias turcas
Que sem o meu sentido
Voam sobre um ninho de cucos.


,2016,05.aNTÓNIODEmIRANDA
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poe






quinta-feira, 2 de maio de 2024

DESESPERO TOTAL

 


Fugi deste quadro, 
escondi a moldura, 
enquanto o pintor misturava 
as cores da dor, que tanto o afligia.
Há um cavalete 
que chora banhos de solidão, 
fazendo crer às pessoas, 
que são lágrimas felizes.
O funeral enganou-se na morada, 
e o extinto, 
num acto de desespero total, 
apareceu numa festa 
com gente não convidada.
                Tudo voltou à normal realidade do mestre, 
                que, 
                há muito não pintava. 








2019out_aNTÓNIODEmIRANDA
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CANSEI DE ANDAR DE JOELHOS

 


Tenho na mão um conselho curioso 
que ronrona no peito o eco da poesia. 
    Sento-me no oráculo dos anjos caídos, 
que vertem lágrimas só para 
que as flores não murchem. 
    Cantam a vida em sílabas suaves, 
e espalham palavras para o cantar 
do vento. 
    Está tão frio, este estar que embrulha 
o desalento vertido em copos de vinho. 
    É tudo tão longe, 
com esta perca persistente. 
    Já não peço ajuda.
                    Até     porque     cansei 
        de andar 
                    de 
                             joelhos.










,2020Mar_aNTÓNIODEmIRANDA
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