Sombras velhas conhecidas rasgam caminhos.
Não pertenço aqui a este lugar naufragado que não me deixa fugir da lição mentirosa do professor com a cartilha errada, que pensava que me iludia. Mas eu só via o gato encostado no vidro da janela que no seu manso miar comentava o que lá fora acontecia. Não me pertenço nem nos sóis que pintam de vermelho a areia.
Foi apenas um sonho beijar o teu rosto como se a tela onde te abracei, alguma vez tivesse aparecido. São lentos e sem verdade estes lençóis que vejo reflectidos no tempo que nos separa com momentos cada vez mais mentirosos. Tenho nas mãos as rugas deste rosto sem mim, olheiras que já não peneiram o saldo negativo da vida que agora tudo subtrai. Há um projecto de lei ansioso pela aprovação da inutilidade das memórias que hão-de chegar. E um desejo mesmo sem futuro, que consigna a salvação dos defuntos inteligentes que morreram de véspera. Entretanto naquela rua há um cão incomodado pela sirene do 112. Não gosta que incomodem a sua preocupação. Rosna o cão. A dona, morta não dá por isso. No domingo há procissão. Na quermesse vende-se pão com chouriço. O padre enraba o sacristão. Cada um fode com o que tem à mão. Ninguém tem nada a ver com isso. Tocam os sinos a rebate. A gravação com os decibéis distraídos, avisa no meio dos gemidos:
Irmãos!
É preciso manter a calma!
Isto só acontece em Marte.
,2017out_aNTÓNIODEmIRANDA
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