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segunda-feira, 17 de julho de 2023

#QUIÇE MI LÁ BOUCHE#!

 


Leva-me devagar.
Tenho o tempo que precisas para chegar ao desastre dos sítios sem nome. Ama-me em limbo brando, ata-me numa leira de facas, crucifica-me nos dias mais felizes, mas, peço, não ofendas o meu sangue nem o ofereças a curiosos atrevidos. Hoje, como sempre, repetimos o ontem que tanto nos traiu. Não me apetece roubar o que tens na cabeça. Beija o meu fogo, mesmo fingindo o deus que ilumina a mentira do meu mundo. Faz com que a minha vida não se resuma nunca, à absolvição dos teus pecados. Abençoa os traídos, os cornudos não atentos. Eu por mim, fico-me com umas migas de espargos. Não percas tempo com os meus devaneios. Apenas sou aquele fingidor que não intruja quando te manda à merda. Não tenho paciência para discutir as metástases do teu pudor, até porque troco facilmente a imbecilidade por uma sopa de cação. Prefiro a azeitona galega a uma qualquer via-sacra, onde o nu da tua demência é ostensivamente pornográfico. Tenho um poster na casa de banho, e, agradeço-te o facto de ele controlar o desenvolvimento normal do meu tráfego intestinal. Não ouso pedir um minuto. O que pretendo da vida será sempre muito menos do que isso. Tenho na ideia um relógio amigo para bebermos mentiras maliciosas. Tocam-me no veludo da pele ritmos sem tempo para envelhecer, abraçados a memórias que só sabem beijar o som da solidão, desta passagem sem caminho. 
O que é feito de ti, “baby blue”, e da marotice que sangrava o desejo? Recordo a música que me oferecias, ouvida do delírio dos teus seios, e, aquelo beijo atrevido para acordar as manhãs. Nada era proibido naquela possibilidade sem promessas obscenas. E, tu sabes, eu só queria fazer de ti, um alibi ignorante sem a mentira da perfeição absurda! Como um canto sagrado de golfinhos, contentes com o nosso bem-estar. Dói tanto esta ausência, esta onda chorada, este nunca chegar à partida, este lamento sem palavras para escrever, este motivo despido de fé para nos salvar, este momento abandonado na maré assassina, e, de nada nos servirá esta alucinação sem terra à vista. Não quero o bilhete que me ofereceram para chegar ao teu olhar. Cego como estou, morro neste cansaço, que tudo vai danificando. Glorifico-te nas hipóteses que nunca irão acontecer. Sombra que vais sem nunca avisar, a rudeza de me cansares os ombros. Visão da carência sem fim, néctar amargo deitado no meu sossego. Mas eu, ainda respiro o último aceno, embrulhado no sorriso que sufocámos. 
#Quiçe mi lá bouche#! 
Desculpa o meu francês, mas tu sabes o caminho do atrevimento da minha língua.




Melides, 2019jul_aNTÓNIODEmIRANDA

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