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quarta-feira, 8 de março de 2023

MANUEL BANDEIRA - Vou-me embora pra Pasárgada

 Vou-me embora pra Pasárgada
 Lá sou amigo do rei
 Lá tenho a mulher que eu quero
 Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
 Vou-me embora pra Pasárgada
 Aqui eu năo sou feliz
 Lá a existência é uma aventura
 De tal modo inconsequente
 Que Joana a Louca de Espanha
 Rainha e falsa demente
 Vem a ser contraparente
 Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
 Andarei de bicicleta
 Montarei em burro brabo
 Subirei no pau-de-sebo
 Tomarei banhos de mar!
 E quando estiver cansado
 Deito na beira do rio
 Mando chamar a măe-d’água
 Pra me contar as histórias
 Que no tempo de eu menino
 Rosa vinha me contar
 Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
 É outra civilizaçăo
 Tem um processo seguro
 De impedir a concepçăo
 Tem telefone automático
 Tem alcalóide ŕ vontade
 Tem prostitutas bonitas
 Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
 Mas triste de năo ter jeito
 Quando de noite me der
 Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
 Na cama que escolherei
 Vou-me embora pra Pasárgada.


– Manuel Bandeira, do livro “Bandeira a Vida Inteira”. Rio de Janeiro: Editora Alumbramento, 1986.



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