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quarta-feira, 29 de março de 2023

MORRE-SE SEMPRE NA VIDA QUE ACONTECE

 Sou um vagabundo na lavandaria dos afectos abandonados. 
Um ramo de desesperos, 
deitados na manta que arrefece 
a desilusão do absurdo dos dias, 
escondido no contentor dos lixos indiferenciados, 
chora nos ombros o voo ferido das solidões. 
Na rotunda dos prazeres esquecidos, 
queimam-se anúncios das falsas promessas da salvação. 
Onde estás, crepúsculo dos deuses caídos? 
Estou cansado de andar por aí, 
embrulhado na teia do sonho impossível, 
impaciente no admitir um destino improvável, 
enviado por um call-center  
oferecendo prémios irrecusáveis.
A minha sorte não merece tanta atenção!
Na noite dos desencontros, 
procuro no canto desta pele machucada, 
razões de senso escusado, 
e, queimar nas folhas da sebenta, 
palavras que recuso ouvir.
Morre-se sempre na vida que acontece.
Os culpados jogam monopólio 
nos banhos da batota habitual.

,2021Mar__aNTÓNIODEmIRANDA

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