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quinta-feira, 6 de abril de 2023

DE NUVEM EM NUVEM, TENTO SALTAR O TEMPO


Despachei a alma vazia em todos os vagões da esperança falhada. 
Esfreguei o coração na salmoura da vontade inquieta.
Sei que devo parar, mas, a estação do desejo, aperta demasiado o choro da minha angústia. 
Entrega-me os cheiros de cimento molhado da cidade das estátuas que já não falam. 
É proibido beijar a própria sombra, 
confiar nas palavras com sinais evidentes de esperança. 
Tapámos a vergonha com máscaras nuas, 
e, olhámos confiantes para a colecção de tupperwares repletos do nosso medo. 
Tempos difíceis, anunciam os martelos da precaução imposta. 
Posta a posta, celebramos a vida em fatias despejadas, nos alertas com sabor a desodorizante.
Apelam à nossa consciência. 
A fome, como sempre, 
é uma questão de falta de apetite! 
A humanidade está falida! 
O sistema humanitário deficitário, 
e, a vontade dos que esperam morrer mais tarde, consigna-se em acções cotadas numa bolsa cheia de mentiras. 
Tudo leva o seu tempo, anuncia a agência funerária “Boa Nova”. 
Constipo-me na verdade das sinceridades, 
e, tento não esquecer a programação dos comprimidos para a queda do imprevisto. 
De nuvem em nuvem, 
tento saltar o tempo, 
usando todo o cuidado 
para não enferrujar identidades. 


,2020Mar_aNTÓNIODEmIRANDA


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