Foge o tempo alourando chocalhos, sacudindo memórias no triste oásis das ideias feridas.
Sou um mártir desocupado esculpido em culpas inúteis, vagarosamente arrependidas neste concurso de sóis encardidos.
Carrego aos ombros uma misericórdia banal.
Dei 1 € a alguém que nunca tinha visto.
(Falou de um sem-abrigo, que depois de tantas horas a pedir, foi a primeira, a moeda que lhe entreguei).
Educadamente mencionou uma qualquer sabedoria.
Retorqui com a palavra respeito.
PRAÇA MARQUÊS DE POMBAL
– PARAGEM DO AUTOCARRO 748
Claro que olhamos um para o outro.
Mesmo assim, não aclaramos a distância.
Ela pegou num pequeno caderno e desenhou as ideias que a cabeça queria que pintasse.
Tentei, mas não consegui disfarçar a curiosidade.
A elegância do seu caminhar, (assim como um voo de pássaro ferido), esboçava o bailado do anjo da desolação que espalhava as mais tristes lágrimas de um qualquer desgosto.
Ali estava eu.
Perfume de merda aconchegado ao rosto, a puta da esperança matinal para o dia perfeito, as desculpas formatadas para o falhanço do costume. 126 m2 + garagem, contas do condomínio em dia, seguros atempadamente pagos, 74 camisas+32 pólos+8 fatos com gravatas a condizer + champô contra a caspa, sabonetes certificados.
Não quero falar das angústias auto conformistas.
Sei o nojo que sou, mas o pior é que domino a batota que o indulta.
PRAÇA MARQUÊS DE POMBAL
– PARAGEM DO AUTOCARRO 748
HORAS:16,52
Ela, por fim, olhou.
Desta vez a minha trapaça envergonhou – me.
Quando cheguei a casa,
reguei a consciência na máquina de ignorar silêncios que já não conseguem chorar.
,2022Jun_aNTÓNIODEmIRANDA
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