- Chega a noite cansada do dia chorado e aquele que dorme na pensão das estrelas aconchega o resto no saco das angústias. Tem na cabeça um livro ressequido pelo tempo que ousou estar. Estende o olhar na passadeira dos anos aguarda a canção que o embala e pousa as mãos na forma da solidão habitual como se aquilo que ainda o engana fosse a mais santificada das indiferenças. A realidade não a sua continua a sangrar a vontade que lhe roubaram. Os verbos foram passando ignóbeis trapaceiros ofendendo a sua dignidade em todos os momentos possíveis. Tem calma dizem-lhe todos os anúncios ejaculados no céu que ele há tantas lágrimas se recusa a mirar. Devagar como sempre cerra os pulsos aperta a alma e chora como se fosse ontem os mesmos sonhos.
- Espera o conforto das palavras que não o atraiçoaram e logo que acorde continuará como de costume a espalhar os seus poemas para os pássaros que prezam a sua companhia.
- Molha a cara no rio bolorento alisa a pele no sabão retardado afinal tão fora de prazo como a sua existência. Nada há para roubar na caixa das esmolas.
Sorrindo para si próprio esmaga ainda mais o cinto. Olha-o bem nos olhos: não conseguiste fazer de mim mais um pedinte.
- Cansado de ser abusado murcha os perfumes da pena mal-cheirosa. Volta ao rio que lhe oferece o espelho que aquece a despedida. Passa o tempo não sabe que sorriso esperar chega a hora de todos os momentos que tanto custam a inventar.
- Os ritmos da solidão depositam-lhe nos ossos os venenos que o acalmam. Navega no seu olhar fragâncias low-cost oferecidas por um call-center que só o quer maquilhar.
- Aquece o nojo numa lamparina curiosa retira a espoleta tenta o mais longo arremesso retrai o medo chora mais um segredo no maior dos optimismos. Voa baixo para não ferir o planar dos sonhos magoados pelo desgosto encosta-se à berma abranda a estrada rasteja a ficção naquele mar de paintball alegra as tiras e estruge os embustes no molho que o vai empobrecendo.
- Aqui, não é lugar nenhum.
2018Ago_aNTÓNIODEmIRANDA
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