E eu aqui, sentado na despedida da memória, a desviar o degrau da desilusão. Tenho nos dedos todas as palavras que não quero. Uma ardilosa ferida salpica os passos que penteiam o inconveniente convite. Falo-lhe deste cansaço num envergonhado supor, só para disfarçar a dor que me despede. Não acredito nas promessas oferecidas pela sombra desconfiada.
Mereço outro tipo de indignação.
COM QUE ENTÃO DIZES QUE SOU POETA!
Esta alma já não me habita. Um velho caminho acompanha o meu alento. Uma fúria inconsolável sacode o coração de pedra que não pára de chorar gotas de zombies caídas dos crucifixos mal-educados.
COM QUE ENTÃO DIZES QUE SOU POETA!
Todas as possibilidades fora de mim não têm de ser um filme. Eu apenas tento sobreviver fora da aberrante léria cultural dos nomeados pelos ministérios reguladores do narcisismo literário.
(herança apodrecida no corredor dos ornamentos contaminados do museu da pobreza poética).
Nunca renego a lucidez insubmissa que celebra a contrafacção dos propósitos inúteis.
COM QUE ENTÃO DIZES QUE SOU POETA!
Agora arranho sonhos vazios que só falam mentiras.
,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com
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