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segunda-feira, 27 de junho de 2022

UM NOME SEM - MEMÓRIA

 

Sou a tua sombra - Diz a velha mania
Tento mais uma vez - Quebrar a mentira do Espelho -
Não compreendo - Reclama o sorriso com lábios de - Sangue
Deixa-me ser o Alpendre - Uma vontade lacrada na flor que
Secaste - Qual brisa na manhã nunca
Acontecida - Ou uma chuva que me traga o cheiro da tua - Maçã
Um traço riscado na janela - Mesmo com um nome sem - Memória
Se não acordar
É porque o sonho não 
Aconteceu


,2020Jun_aNTÓNIODEmIRANDA


domingo, 26 de junho de 2022

DIZEM OS ANTAGÓNICOS

 


ESPERANÇAS DE ESPUMA


Tudo foge naquilo que me acontece.
Nada consigo apanhar neste jogo de anões ambulantes.
Lembro uma escada que levava o cansaço para outros bocejos.
Lágrimas beijavam ombros.
Não sei se seriam os meus.
Outros lugares,
Possivelmente,
Irão
Anoitecer.
Desejo arduamente
Uma noite sem grãos de
Lua.
Um colchão sem esperanças de
Espuma.
Um deslizar sem aviso
Prévio.



,2020Jun_aNTÓNIODEmIRANDA

sábado, 25 de junho de 2022

COMPRIMIDO SURREALISTA

Duas artérias

Chocaram em

Contramão

&

Atropelaram

Um cigarro

Que ficou

Em estado de brasa.



 2016,03
aNTÓNIODEmIRANDA

BOLOR


Poderia ter feito de ti outra coisa que não um fantasma,mas por vezes assumi que gostava da tua realidade.
Nada me deves.
Paguei o preço certo,
aquele que é devido aos amantes.
Escondemo-nos um com o outro
na promessa de um encontro inadiável.
Tornámo-nos personagens diferentes
na festa do desejo ausente.
Saboreamos um champanhe patético
erguendo amargamente os copos solitários
com juros excessivos para a nossa conta.
Tudo ficou desconcertado
e nem sequer ousamos fingir
os olhares de um desejo idiota.
Ficou a nódoa fiel companheira da minha gabardine.
O último dia não passa de uma aparição dolorosa. Passeia-se apressadamente
no meio de toda a gente e apenas nos oferece uma fórmula indecifrável.
No quarto desta pensão a anomalia da tua memória agita um rumor de inquietudes sem palavras de cortesia.
Não me apetece dormir e nem sequer acho isso estranho.
Poderia ter feito de mim um fantasma
e não outra coisa que assombrasse a minha sanidade. Mas por vezes acreditei na importância descabida.
Tudo me devem nesta loja,
onde como um mestre de obras qualquer,
projecto inadvertidamente planos para o meu não futuro, onde me espera uma cobrança indevida.
Vou pregar os danos morais no reposteiro.
Não quero enlouquece-los.

,2016,05.aNTÓNIODEmIRANDA

o Senhor Gregory Corso! (só porque Gosto.E Muito!)

 





Por falar de poesia... OS POEMAS BONITOS


Os poemas bonitos...
Nunca poderão ser escritos!
É esta a opinião
Do único poeta não mentiroso,
Que por acaso eu não conheço.
Os poemas de amor
nunca serão entendidos
E a maior parte deles
Morrem estendidos
Na corda da vida
Onde secamos a roupa.
Os outros
( E estou a falar de poemas )
Acontecem por mero acaso,
Quando os poetas
Teimosamente
Tentam ser outras coisas.


.2014junhoaNTÓNIODEmIRANDA

sexta-feira, 24 de junho de 2022

PS:

 


Sábias palavras! (do meu amigo António)!

 O dinheiro ou a vida!

Fique com a vida, que o dinheiro faz-me falta!

Grandes músicos. Bons amigos.

 


PORQUE HOJE É 6ª FEIRA...

 

1º - As melhores expectativas que têm de mim, são aquelas que não me dizem respeito.

2º - O meu despertador não funciona : as minhas horas não confiam nele.

3º - Grau a grau, enche o termómetro o papo.

4º - Não adianta chorar sobre o leite condensado. 

O pudim ficará de certeza molhado.

5º - As sardinhas enlatadas mostram sempre um ar incomodado.

6º - A cavalo dado, geralmente falta-lhe a cela.

7º - Não sou de tirar a camisa para oferecer. 

O tempo está muito instável.

8º - Complicamos tanto a fidelidade, que ela agora não passa de uma companhia de seguros. 

Qualquer apólice é uma certeza enganadora.

9º - A inteligência é uma relatividade sem teoria.




,2015_aNTÓNIODEmIRANDA


quarta-feira, 22 de junho de 2022

MISE-EN-SCÈNE

 

Era para ser como no cinema 
mas o filme não esperou por nós

Sentado na ausência do sonho
o realizador fugiu para outro casting

A cadeira deslizou em câmara ardente 
à procura do argumento

,2022Jun_aNTÓNIODEmIRANDA

Aqui na aldeia... Continua a chover.

 




Ferreira Gullar

 




Aqui na aldeia... Continua a chover.

 






Uma história de sangue...

 


FALANDO DE JAZZ

 Isto é mesmo a sério!

A opinião dos “entendidos”, 

que eu não entendo, 

não me interessa absolutamente

NADA!

2019mai_aNTÓNIODEmIRANDA

MIDNIGHT HOUR



3 Tristes tigres
Sozinhas na mesa do bar
A hora enganadora...

Champanhe a fingir
Sorriso tingido de ausência
Olhares desesperadamente sós
Mostrando despudoradamente
Todas as necessidades
Lábios exibindo toda a urgência.
Falei sem conversar
Foram postas num passador
Todas as inutilidades propostas.
Às vezes pretendo ser simpático
Mas esta é uma utilidade
Com prazo não programado.
Conversas da meia noite
Tudo é possível
Sobretudo a circunstância da estupidez.
Resta a fotografia
Para mais tarde rasgar.
Então ela disse:
Tem um ar diferente.
Respondi com a convicção dormente:
Deve ser das pedras de gelo.
Não!
Olhou-me fixamente
Fingindo um olhar que não mente:
Aquele poema
Foi feito para mim.
Não me lembro de ter respondido
Mas pensei :
Gostaria de não o ter escrito
.



,2015aNTÓNIODEmIRANDA
 

terça-feira, 21 de junho de 2022

Aqui da aldeia... Muita chuva.

 




FERREIRA GULLAR

 




PRAÇA MARQUÊS DE POMBAL – PARAGEM DO AUTOCARRO 748

 

Foge o tempo alourando chocalhos, sacudindo memórias no triste oásis das ideias feridas. 
Sou um mártir desocupado esculpido em culpas inúteis, vagarosamente arrependidas neste concurso de sóis encardidos. 
Carrego aos ombros uma misericórdia banal. 
Dei 1 € a alguém que nunca tinha visto. 
(Falou de um sem-abrigo, que depois de tantas horas a pedir, foi a primeira, a moeda que lhe entreguei). 
Educadamente mencionou uma qualquer sabedoria. 
Retorqui com a palavra respeito.
PRAÇA MARQUÊS DE POMBAL 
– PARAGEM DO AUTOCARRO 748
Claro que olhamos um para o outro. 
Mesmo assim, não aclaramos a distância.
Ela pegou num pequeno caderno e desenhou as ideias que a cabeça queria que pintasse. 
Tentei, mas não consegui disfarçar a curiosidade. 
A elegância do seu caminhar, (assim como um voo de pássaro ferido), esboçava o bailado do anjo da desolação que espalhava as mais tristes lágrimas de um qualquer desgosto. 
Ali estava eu. 
Perfume de merda aconchegado ao rosto, a puta da esperança matinal para o dia perfeito, as desculpas formatadas para o falhanço do costume. 126 m2 + garagem, contas do condomínio em dia, seguros atempadamente pagos, 74 camisas+32 pólos+8 fatos com gravatas a condizer + champô contra a caspa, sabonetes certificados. 
Não quero falar das angústias auto conformistas. 
Sei o nojo que sou, mas o pior é que domino a batota que o indulta.
PRAÇA MARQUÊS DE POMBAL 
– PARAGEM DO AUTOCARRO 748
HORAS:16,52
Ela, por fim, olhou.
Desta vez a minha trapaça envergonhou – me.
Quando cheguei a casa, 
reguei a consciência na máquina de ignorar silêncios 
que já não conseguem chorar.


,2022Jun_aNTÓNIODEmIRANDA


DE NADA SOU CULPADO

 

Escondido neste buraco farto de me oferecer delícias de fome, sem ninguém que reclame o meu choro de nada sou culpado.
Era uma vez um eu que em mim já não cabia.
Um grito aflito como se um beijo me tivesse abandonado, talvez mesmo uma simpatia entregue por um diabo distraído.
Não sei!
Sou um gajo com muitos volte-faces.
Não descuro a cortesia que na maior parte das ocasiões é exageradamente mostrada.
Mas, o que realmente me interessa é degustar a vossa bisbilhotice!
Gostaria que não estivessem aqui a desalmar-me!
A fingirem o possível, vestindo a pele de fantasmas neste tédio confortado pela naftalina de heróis de celulóide.
A curiosidade derreteu a sombra.
Queimei os dedos, de escrever nas paredes a mania de gostar de ti. 
Pintei as grades desta ideia que teima em não esquecer a tua ausência. 
Não passo de um perdedor solitário, atirando pedras a esta silhueta inundada pelo teu perfume. 
Como gostaria de ser qualquer coisa que coubesse em mim!
Assim, como um lapso em contramão, demitir esta fantasia ridícula, num ataque súbito com sabor a despedida.
Pequenas memórias almofadadas.
Estou cansado de acenar a este vazio.
Onde poderei ir para despejar este colete de infâmia?
Perco-me num labirinto de lâminas.
O que é feito da estrela que julguei guardasse os meus segredos?
Acendo uma ideia neste fumo intrigante, desconfiado da minha condição.
Escondo-me neste asilo com vista para um paraíso que continua a ignorar-me.
Anoiteço os sonhos, abraçado ao cântico da baleia, que com toda a força, continua a fingir que a liberdade acabará por acontecer.
Gravar o nome na porta do céu.
Chamar por ti no coração magoado pela demora da chegada, enfeitar a ausência com lágrimas decentes como se tu existisses. 
Já não nos pertencemos, nesta dança de passos mortiços perdidos nas noites que fingem estrelas, agarradas ao teimoso som de um sax rouco que não adormece o sonho. 
Tudo está longe nesta batida que só nos quer dizer adeus. 

Deixemo-nos de ideias absurdas. 
Este bilhete não oferece viagem de volta.




,2021Jun_aNTÓNIODEmIRANDA


segunda-feira, 20 de junho de 2022

DEITADO NA PENEIRA DO TEMPO


Este chão que me queima os passos, 
passeia abraços sorridentes que roubou.

É um tapete feito com borboletas prisioneiras, que entrega noites para chorar.

Eu, que já perdi o sentido das lágrimas, sinto-o mais duro do que a morte, 
mais negro do que o fumo do futuro, 
que, pensei tinha enterrado.

Nada lamento nesta ajuda, 
queimei a ilusão daquela voz 
que dizia para não desistir.

Deitado na peneira do tempo,
amasso sempre que consigo,
o soalho que o diabo pintou.



,2020mai_aNTÓNIODEmIRANDA


NAQUELA TARDE EM HÁNOI

Naquela tarde em Hanói
O napalm
Poisava tranquilamente.
Antecedia 
O silêncio das noites
Sem o amanhã seguinte.
Naquele dia em My Lai
Uma mãe qualquer
Igual a todas as mães
Guardava ainda
Sem qualquer esperança
Cinco beijos
Para cinco irmãos.

No outro lugar
O sitio de toda a vergonha
Consciências apodrecidas
Actualizavam as estatísticas
Devoradas ópiamente
Pela opinião pública.

2014.aNTÓNIODEmIRANDA








KIKO_WALKING MY DOG

Agora só tenho a tua trela para me conduzir a alma. Todas as tuas lambidelas estão aconchegadas no meu porta corações. Continuo despenteado pelo abanar da tua cauda. É agora diferente o cheiro da relva que recuso pisar. E o segredo só nosso de confundires a matrícula do teu carro. Vou enviar uma carta ao teu deus, a confirmar a autenticidade da nossa amizade.
Escreve-me!
Vou aprender a ler.




2016
aNTÓNIODEmIRANDA

CANÇÃO DO AMOR QUE ESTÁ SEMPRE A PARTIR

Tantas vezes tento sair do convite 
deste labirinto mentiroso, 
que promete o jogo da partida sem dor. 
Sou um fraco vencedor, 
erguendo nas lágrimas uma taça com venenos sem respeito pelas minhas angústias. 
Tantas vezes abraço este desgosto gritado 
nas cordas da guitarra, só para fingir 
a encenação da valsa sem fim. 
Já não consigo ver a beleza das coisas 
que me apeteciam, e os sabores que me entonteciam, não passam de alegorias crucificadas. 
Amanho agora o pánico, 
regado gota a gota, 
nas pétalas da despedida. 
Ama-me até ao fim.
Diz-me a paixão do amor,
que está sempre a partir.



2019ago_aNTÓNIODEmIRANDA

sábado, 18 de junho de 2022

BOULEVARD DA DESILUSÃO

 

Dei-te a veia

E logo tentaste provar o meu sangue

Mas não és a minha heroína

Acreditei só no que quis

Sangrei todos os nós

Desculpa

mas estas lágrimas não são para ti

Irão molhar o céu

Provavelmente misturadas com outras

De diferentes cores

Provavelmente dirão

Que deus está a chorar



2014.aNTÓNIODEmIRANDA


HINO Á ALIENAÇÃO

 

… Às armas

Às amas

Contra os canhões

Marchar !

Marchar !

&

Eles pegaram

Nas armas e marcharam

Matando

E morrendo

Ao longo de todos 

Os anos.



.76 aNTÓNIODEmIRANDA



DESCULPAS

 


HAUTE COIFFURE

A tinta já nada pintava
e a laca hemodinâmica não fazia efeito.
Dizia a madame com a touca enfiada:
desta vez quero uma coisa diferente:
madeixas a condizer com a minha imbecilidade:
dê-me um retoque nas rugas
não vão elas mostrar a minha idade
Garra afiada
manicura à la carte,
recostada,
ouviam-na com a suposta atenção,
enquanto lhe limavam os cascos
e aparavam a crina.
Riam-se surdamente:
Meu deus, que falta de gente.


,2016,05.aNTÓNIODEmIRANDA

AQUI, NÃO É LUGAR NENHUM

 

- Chega a noite, cansada do dia chorado, e aquele que dorme na pensão das estrelas, aconchega o resto no saco das angústias. Tem na cabeça um livro ressequido pelo tempo que ousou estar. Estende o olhar na passadeira dos anos, aguarda a canção que o embala, e pousa as mãos na forma da solidão habitual, como se aquilo que ainda o engana, fosse a mais santificada das indiferenças. A realidade, não a sua, continua a sangrar a vontade que lhe roubaram. Os verbos foram passando, ignóbeis, trapaceiros, ofendendo a sua dignidade em todos os momentos possíveis. Tem calma, dizem-lhe todos os anúncios ejaculados no céu, que ele há tantas lágrimas, se recusa a mirar. Devagar, como sempre, cerra os pulsos, aperta a alma, e, chora como se fosse ontem, os mesmos sonhos.

- Espera o conforto das palavras que não o atraiçoaram, e logo que acorde continuará, como de costume, a espalhar os seus poemas para os pássaros que prezam a sua companhia.

- Molha a cara no rio bolorento, alisa a pele no sabão retardado, afinal tão fora de prazo como a sua existência. Nada há para roubar na caixa das esmolas.Sorrindo para si próprio, esmaga ainda mais o cinto, Olha-o bem nos olhos: não conseguiste fazer de mim mais um pedinte.

- Cansado de ser abusado, murcha os perfumes da pena malcheirosa. Volta ao rio, que lhe oferece o espelho que aquece a despedida. Passa o tempo, não sabe que sorriso esperar, chega a hora de (todos os momentos que tanto custam a inventar).

- Os ritmos da solidão depositam-lhe nos ossos os venenos que o acalmam. Navega no seu olhar fragâncias low-cost, oferecidas por um call-center que só o quer maquilhar. 

- Aquece o nojo numa lamparina curiosa, retira a espoleta, tenta o mais longo arremesso, retrai o medo, chora mais um segredo no maior dos optimismos. Voa baixo para não ferir o planar dos sonhos magoados pelo desgosto, encosta-se à berma, abranda a estrada, rasteja a ficção naquele mar de paintball, alegra as tiras, e, estruge os embustes no molho que o vai empobrecendo.

- Aqui, não é lugar nenhum.



2018Ago_aNTÓNIODEmIRANDA


AUSÊNCIA



Sempre longe
 
É o lugar que me acontece 

Quando te quero encontrar



,2020Jun_aNTÓNIODEmIRANDA

sexta-feira, 17 de junho de 2022

17 de junho de 2017 . Obrigado, Isabel Ruth.

 



NO CLUBE DOS OLHARES HUMEDECIDOS

Nem que fosse só um!
Mas, seria fundamental 
que o poema abraçasse os poetas descalços. Seria mostrado na mais bonita galeria da perfeição, 
e, 
nunca leiloado. 
A poesia, muitas vezes acontece, 
e quando assim é, 
porque não dizer, que faz falta?
E esse poema, 
seria beijado pelo toque de um blues, 
como se o céu parasse de carpir frivolidades. No clube dos olhares humedecidos, 
seria expulsa definitivamente 
toda a solidão, 
e os cães das lambidelas solidárias, 
ladrariam sem medo, 
todo o seu contentamento.


2019set_aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 16 de junho de 2022

The Kinks Lola Top of the Pops 1970

RECUSO SIGNIFICAR A VIDA NUMA REDACÇÃO DE FRACASSOS


Dá-me 5 minutos. 
Tal coisa nunca me pede a vida. 
Conheço a discrepância dos nossos relógios, relembro algumas afinidades que nos cosem, 
as peles que juntamos no tempero deste desembolso, os falhanços escondidos, 
as derrotas da esperança.
Não sei onde param os pássaros vermelhos, 
onde naufragou a ousadia que alegremente pintávamos nas grades da cidade grande.
Nada libertamos, 
senão a comodidade da mesquinha revolta.
Não quero tempo para dourar a pílula das angústias.
Dá-me sangue para escrever, 
palavras inúteis no chão 
que imaginei sagrado.
Fujo das ruas de gente sonâmbula, 
tropeçando de copo na mão, 
à procura da sarjeta mais próxima.

Perguntam se tenho saudades.

Detesto essa hipótese.


,2020mai_aNTÓNIODEmIRANDA

Fim de tarde na varanda. 16 de Junho de 2020

 


A SALVAÇÃO POSSÍVEL

A minha salvação seria possível,
se a incoerência de quem julga poder purificar-me,
fosse uma mentira minimamente saudável.



2018Mar_aNTÓNIODEmIRANDA

ESTÁ DECIDIDO

 

Não 

Quero

Que 

A

Poesia

Minta

À

Minha

Tristeza

,2021Jun_aNTÓNIODEmIRANDA

A MANHÃ QUE SEMPRE CHORAVA

 

A manhã que sempre chorava quando matava a noite, 
e congelava a alegria para uma melhor ocasião. 
Empacotava as lágrimas para mais tarde oferecer. 
Ponteiros deitados no naufrágio das horas da ilusão, 
acordavam relógios desonestos.
Nada para recordar o chão sagrado que varria  os passos, 
que para o nada se dirigiam. 
A raiva sossegava ruidosamente neste vagar desastrado. 
A salvação possível arquivava denúncias anónimas, 
e poetas descalços, 
entregavam salmos, 
num recital de memórias envergonhadas.
A manhã que sempre chorava quando matava a noite, 
escondia-se com um choro tímido, 
no corredor das palavras ainda não dissolvidas.
Paredes sem sorrisos emoldurados, 
pintavam algumas gotas de chuva, 
para que os pássaros das asas feridas, 
não morressem à sede.
Espera aí!
Não vás já!
Era assim a despedida
.

2018Abr_aNTÓNIODEmIRANDA

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Ontem na RTP2

 













E O ANÍBAL É UM BONECO BOCA DE MATRECO VOZ DE CAMELO DIZ-SE TRIPEIRO MAS SÓ FAZ BASQUEIRO...

 


ATÉ BREVE

 

Caiar sorrisos.
Entregá-los porta a porta,
no prazo máximo de 24 horas.
Andar por aí,
sem sentido único.
Ladrar aos desconfiados,
lançar chamas de ousadia,
baralhar as contas,
chamuscar a própria sombra.
Não ter medo,
remover o quase,
ofuscar a solidão,
chorar só o necessário,
estender abraços.
Andar por aí,
sempre numa douda correria,
afligir todas as maldades,
amar, mesmo na fila do trânsito.

Fim da concessão!
Até breve.

,2019Dez_aNTÓNIODEmIRANDA

terça-feira, 14 de junho de 2022

AMAR-TE É A MINHA TRAIÇÃO

 

Invocámos o amor eterno,
mesmo sabendo que o inferno
já não ardia como era costume.

E tu
a dizer que o modo como amo
tem o sabor de um jogo repetido.

Amar-te
é a minha
traição
.

2019jun_aNTÓNIODEmIRANDA

segunda-feira, 13 de junho de 2022

QUANDO O SILÊNCIO CHORA

 

Quando se vive a enxotar o 

Tempo



Quantas vidas

Morremos?


,2022Jun_aNTÓNIODEmIRANDA


YÔ - YÔ

 

Até então nada sabia acerca da angústia 
e lambia o tempo ruminando sorrisos de circunstância. 
Depois percebi que o yô-yô que me ofereceram dançava sempre para o mesmo lado.

E as palavras?
As palavras enganadoras
Com que enganamos a ilusão?

E o futuro adiado?
A revolta
Domesticada
Embalada
Em sprays coloridos
Com que pintamos as paredes desta cidade

Cada vez mais ausente?



ANTÓNIODEmIRANDA 27.5.86


TEXAS BAR


Dei-te o sonho que pensava existir. 
Abriste-me a lata com balas de prata 
e não falhaste nem um tiro. 
Lamento, não tive tempo para te avisar que o meu coração assiduamente alvejado só era um curioso aprendiz de vampiro. 
Continuo a mentir que sonho contigo naquelas noites que me obrigam a dormir antes da imagem que quero pintar. 
Exibias uma "lingerie" mecânica com tons de mirtilos oxigenados, obviamente com a casca pré-lavada para não afectar a minha digestão. 
Possivelmente cruzaremos um qualquer olhar na Roterdão mais perto da nossa ausência. 
A rua cor de rosa no Cais do Sodré, onde nos meus tempos de paquete as putas pinavam valentemente e os marinheiros americanos cambaleavam tão sóbrios que só podiam tocar no Texas Bar, "standards" do velho Jazz depois da pancadaria dos chulos acabar. 
Tinha 16 anos e juro que nada disto era estranho para mim. Tinha sempre à mão o meu primeiro LP de jazz que tinha impresso na capa um nome esquisito: 
Charlie Parker, "the Bird". 
Como o tempo passa! 
Muitas vezes por mim passou muito bem.




,2016,08aNTÓNIODEmIRANDA

PRIVILÉGIO


Isto é um processo criativo e é bom que se afirme isto para que as pessoas não pensarem que tudo é arte. A procura da interpretação é uma tentativa inócua aprendida nos manuais. A intenção visual nunca poderá estar condicionada por um conhecimento mal-intencionado. Se eu vejo uma vaca no campo, o que efectivamente quero ver, é uma vaca. É esta a minha foto policromática. O resto que também eu olho é uma sequência como outra qualquer. Felizmente tenho alguma experiência prática daquilo que estou a escrever. Trabalhei alguns anos numa leiloeira e aquando da exposição pública das obras que me deram a honra de nelas pegar, fui amiúde confrontado com comentários do género: 2 riscos? Isto também eu fazia. Diante de tanta presunção e bazófia, em lugar de os mandar à merda, respondia: claro que sim. Mas não perca tempo. Já está feito. Essencialmente o que me apaixonou nesses tempos de privilégio, as pessoas diziam trabalho, foi a possibilidade de ter nas mãos obras de artistas que até então só tinha visto penduradas nos mais diversos lugares. Mas dizer até amanhã ao AMADEO DE SOUZA-CARDOSO  WILFREDO LAM  VIEIRA DA SILVA   ARPAD SZENES PAULA REGO  MÁRIO BOTAS   FRANCIS PICABIA  ERRÓ CARLOS BOTELHO   FERNANDO  CALHAU  RENÉ  BERTHOLO ALFREDO GARCIA REVUELTA  CÂNDIDO COSTA PINTO MARC CHAGALL EDUARDO LUIZ JOAQUIM RODRIGO PETER KLASENFERNANDO LANHAS SERGE POLIAKOFF RUI CHAFES ANTONI TÀPIES TOM WESSELMANN VALÉRI ADAMI CARMEN CALVO PAT ANDREA JÚLIO POMAR CÉSAR BALDACCINI KAREL APPEL GERHARD RICHTER MEL RAMOS MAN RAY uma esponja YVES KLEIN HANS HARP JOAQUIN TORRES-GARCÍA SOL  LeWITT JACKSON  POLLOCK ALEXANDER CALDER ARMAN…

Percebem? 
Por isso é que escrevo : que privilégio.



,2016,06.aNTÓNIODEmIRANDA

PARA QUE NÃO LHES CHAMEM POETAS

2
homens enviesados
encenam uma conversa animada.

Fazem um concerto de copos
que promete
uma amistosa
indignação.


2019jun_aNTÓNIODEmIRANDA

sábado, 11 de junho de 2022

CELEBRAÇÃO BOCA-A- BOCA (com um abraço para Vinicius de Moraes)


Possivelmente enviar-te-ia um bouquet de telegramas
para conquistar a tua presença.
E quando chegasses,
apressadamente despiria a tua pele
com ritmos vermelhos,
numa celebração boca-a- boca de beijos cinéfilos previamente ensaiados.
Evidentemente banhar-te-ia em pétalas de rosas, embebedadas no mais atrevido do champanhe.
Obviamente tentaria convencer a tua virtude,
com os benefícios do sexo
por uma boa causa para a nossa humanidade,
- respeitando escrupulosamente -
todas as regras do acordo da cu·ni·lín·gua.


,2019mar_aNTÓNIODEmIRANDA

CÃES DE PALHA (Sam Peckinpah)




Ama-me, até ao fim do mundo
faz de mim um vagabundo.
Eu prometo gostar de ti
no meio da palha
como fazem os cães felizes
que para isto, não têm horários.
Ama-me com todas as hipóteses
da estrela tardia
enquanto a coruja ralha
tentando distrair
os ouvidos curiosos.
Ama-me com um amor assassino
despido de todos os prazos.
Gosta de mim,
nós somos assim
ausentes de todos os cen
ários. 


,2015aNTÓNIODEmIRANDA