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sábado, 10 de dezembro de 2022

… MAS ELES JÁ NÃO DÃO POR ELA

 

Há sempre uma possibilidade que nos atinge, assim como um raio insensato parido no micro-ondas. Um chapéu-de-chuva para sacudir as gotas que envinagram o nosso suor. Há lentidões temperadas em casca de limão e aquela chuva tão gentil e educada que chora lágrimas só para não nos molhar. Há ainda cabelos nos ombros, leves escombros para não nos atingir. Há sonhos agitados em banhos de pão-de-ló com gestos açucarados para se benzerem no nosso café. E há gostos vestidos com véus em direcção aos céus que mesmo assim nos ficam tão longe. Há sempre um espaço que marca a distância que habitámos nesta construção de delicadeza robusta. Também há palavras que ainda não sabemos dizer. E uma estúpida vergonha que nos trai a audácia. Guardamos esta amálgama no mais inútil fervedor.
Depois esperamos o amor, nestes tempos de guerra.
O que faz de nós mais uma espécie em vias de extinção.
O que é verdade é que o mundo ficará mais pobre.

… Mas eles já não dão por ela.



2016,12aNTÓNIODEmIRANDA

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