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quarta-feira, 30 de julho de 2025

NECROLÓGIO DOS DESILUDIDOS DO AMOR - Carlos Drummond de Andrade (31 Out 1902 // 17 Ago 1987)

 

Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.

Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.

Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.

Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia...

Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e de segunda classe).

Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.


Carlos Drummond de Andrade, in 'Brejo das Almas'





segunda-feira, 28 de julho de 2025

MARIA JOSÉ PALLA (30 de julho de 1943 Falecimento: 27 de julho de 2025). LisboaTive o enorme prazer de conhecer esta Senhora!

 



Maria José Palla.
 Académica e fotógrafa. É professora jubilada da Universidade Nova de Lisboa. Viveu muitos anos em Paris como exilada onde se doutorou na Universidade de Sorbonne e se diplomou na École du Louvre. É autora de numerosos livros e artigos sobre Gil Vicente e a pintura portuguesa do Renascimento.

sábado, 26 de julho de 2025

HARAKIRI SINCRONIZADO

 



Desço num compasso atrasado 
a avenida da adolescência, 
nesta saudade abraçada a velhos blues 
e palavras escorridas dos livros 
que me ensinaram o caminho. 
Junto perspectivas nesta gamela, 
e misturo fermento crescente 
com a precisão que fui adquirindo. 
Disparo certeiro nesta bala descaída 
que beija o tiro que continua a ferir-me.
Free like a shot from my gun.
Rosas retardadas para os dias sempre hipócritas, 
descansam num jazigo à toa escolhido, 
onde apresento o mais infiel dos bluffes
Há coisas para que não tenho jeito algum. 
E lubrificar cãibras é uma arte que a mim me falha. 
Que deus me valha!
Ok! Não atirem todo o bónus para cima de mim. 
Aprendi a jogar poker num SPRECTRUM ressabiado 
que com todas as vírgulas caluniava a minha batota. 
E eu até pensava que era bom. 
Claro está, menos nos desenhos a tinta-da-china. 
Borrava sempre a pintura e o MAO nunca achou lá grande piada. 
Apresentei-lhe um novo álibi para a grande muralha, 
mas infelizmente embebedou-se com um certo vinho de MONÇÃO
Águas passadas enferrujam qualquer canalização, 
e o seguro, de tanto reumático, 
já não cobre todos os riscos.
Ok! Desisto!
Vou voltar para o império das mentiras, 
afiar a Muramasa e derramar um carpaccio 
com a pele do teu desejo. 
Perfumado com KENZOimprimirei em photo paper gloss
HAIKUS banhados no tinteiro das palavras bonitas.
Claro que não é o fim. 
Ainda resta o estrangular dos teus lábios 
no meu ossário defeituoso. 
Viveremos felizes para sempre, 
desde que um qualquer deus curioso 
não inveje a nossa cumplicidade.
A avenida da minha adolescência não está programada no GPS
e o tacógrafo da minha esperança, foge da animosidade 
da brigada dos costumes sonolentos. 
Corto as pontas das setas, escondo os alvos 
e escrevo certas palavras ao contrário, 
só para inglês ver.
Embalo com todo o cuidado, 
estes cacos etiquetados com proveniências duvidosas 
para vender na feira da ladra.
É bem verdade que não têm tido muita procura.
Mas deus nasce, o homem sonha e a obra dorme.


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quinta-feira, 24 de julho de 2025

24JULHO_1981 COISAS DO TEMPO (1)

 


Claro que os anos passam!

Mas o tempo,

Que muitas vezes é nosso amigo,

Faz o favor de parar

Para assim melhor admirar

As pessoas especiais.


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sexta-feira, 18 de julho de 2025

NAQUELA JANELA VIRADA PARA O BAR

 


Fora do sonho, os anos humedecem a vida 
numa ligação preciosa para o particular infinito.
O tempo ainda permanece exibindo nas teias 
lembranças gravadas nos destroços.
Despedem-se na esperança, de que a realidade ofereça outras visões.

            Naquela janela virada para o bar,
o alento passo-o muitas vezes num delírio de mortalhas.
(A minha fama ficará gravada numa pedra abençoada onde os cães da Irmandade da Boa Escolha poderão fornicar). 
Não importa a idade!  
            (Actividade não sujeita ao IMI - Imposto Miserável da Inteligência). 

            Naquela janela virada para o bar, 
deslizo nas cenas do filme repetido, performances alheias à minha vontade.
(Quantos modos cabem na estátua dos medos semeados nos degraus do desânimo)?
Sobreviver muitas vezes deveria ser considerado uma coincidência malparida.

    Naquela janela virada para o bar,
ignoro as colagens de ignorância sobre práticas untadas com crença acidental
Ei, pesadelo, canta outro sonho. 
Já não sou o adolescente dos lençóis de ketchup
Há muito que acordo abraçado ao banco das folhas caídas.

            Naquela janela virada para o bar,
é monstruosamente sublime o diálogo que me conduz ao ninho.
                    (A beleza é um simples atrevimento, costumam grunhir os maldizentes).

Naquela janela virada para o bar, 
há um sopro que me escreve  lágrimas de sargaço. 
                (O que foi feito de mim, pergunta a adolescente saudade espalhando no seu esquecido saber espumas de água e sal).
Quando a circunstância que vivemos 
é o fiel espelho daquilo que só fingimos no papel, olhamos com desdém um teclado farto de aturar as nossas feridas.

                                            Pois não há que ter medo! 
                                                Alguém se lembrará do segredo…





2025Jul_aNTÓNIODEmiRANDA
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JANTADO_17JUL2025

 






PASSE-PARTOUT

 





ESTA MANIA DE DISFARÇAR DESACORDOS

 


Tenho na memória um deserto de ausências 
abraçado a um punhal que se despede dos dias. 
Sentado neste alpendre, 
fiel depositário de alguns sonhos conquistados, 
agasalho boas recordações 
no colo da guitarra. 
Dois gatos, 
abrigados debaixo da carripana, 
escutam 
esta mania de disfarçar desacordos. 
                 Olhamo-nos sem a ousadia de nos vermos. 
                                  É esta a minha assistência preferida.


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MADIBA Nelson Rolihlahla Mandela (Mvezo, 18 de Julho de 1918 – Joanesburgo, 5 de Dezembro de 2013)

 


MADIBA


                Tanta 
                        Estrada 
                                    Assassinada

Primeiro tiraram-me o nome
Depois despiram a vontade
Mancharam-me a identidade
Não satisfeitos, 
identificaram-me num cartaz 
orgulhosamente mijado por energúmenos
 treinados para o evento

            Por fim queimaram 
            o que restava da memória
(eles só queriam que desistisse)

                            A Liberdade e a Vida 
                    amam-se incondicionalmente





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quarta-feira, 16 de julho de 2025

KIKO_WALKING MY DOG

 


Agora só tenho a tua trela para me conduzir a alma. 

Todas as tuas lambidelas estão aconchegadas no meu porta-corações. 

Continuo despenteado pelo abanar da tua cauda. 

É agora diferente o cheiro da relva que recuso pisar. 

E o segredo só nosso de confundires a matrícula do teu carro. 

Vou enviar uma carta ao teu deus, 

a confirmar a autenticidade da nossa amizade. 

Escreve-me!

Vou aprender a ler.


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Kitty, Daisy & Lewis Say You'll Be Mine Live @ 3nach9

sábado, 12 de julho de 2025

LIVRO DO GÉNESIS (impressão fraque-simulada)

 


Ao princípio não era nada.
E o homem pensou que isso era mau.
E foi assim que foi criada a crueldade.
No fim e por fim Deus comodamente instalado noutras paragens, continua a lamentar o maior erro da sua criatividade: o homem!
Eu bem o tinha avisado que há coisas com que não podemos brincar. Mas a bicicleta ainda não tinha sido inventada.
Moisés tinha uma vara de um acrílico carbonado alérgica a peixes, e teve a preciosa ajuda, quem diria, de um forte vento do leste. A Emel, aproveitando a separação das águas, bloqueou as rodas dos carros dos egípcios, que assim levaram uma grande banhada. Muitos deram à costa em Sevilha, onde foram oferecidas à população opulentas doses de calamares. Oremos ao Senhor que com tanta água nos libertou do imenso calor. O mar vermelho só acontece no Marquês de Pombal, quando o Glorioso ganha o campeonato. Isaías, depois de marcar ao Arsenal, tímido como era, quando lhe perguntaram o que sentiu, socorrendo-se da página de um certo livro, respondeu: eu sou bom, mas o outro é que continua a ser o Senhor do Uni-Verso. Ainda não chegou a minha vez. Palavra do treinador: ainda bem! Todo o nome devia ser santificado e infelizmente isso nunca fez maravilhas. Há quem diga que a salvação está escondida na caixa negra do aeroplano. Lázaro nunca andou, 
Abraão não sabia escrever e mais tarde foi visto a recolher um jackpot lá para os lados de Las Vergas. Isaac, sempre doido pela velocidade, treinava numa carroça com 220 cavalos. Continua preso por excesso de excremento. O filho do Abraão foi salvo da morte por um cordeiro imprudente que mais tarde foi servido em coentrada. O Salmo 32 foi alterado. Continha leituras impróprias para oníricos. Alguns dos caminhos da vida ainda não são conhecidos. Por isso, devemos continuar a desconfiar Daquele que se sentou à direita. Palavra do Senhor: ide-vos que eu fico por aqui. Não me confino nunca a que Deus seja a única esperança do mundo. É um peso demasiado para umas costas tão curvadas. A paz não é eterna e até já foi banida de muitos dicionários. Aqui estamos. Resplandecendo alegremente esta possibilidade nunca correspondida. Palavra do Senhor: Israel é uma conveniência que nunca desculpará um certo erro de cálculo. Não há lei perfeita. E a que o Senhor nos quer impor, ainda menos. Enfim, preceitos que não alegram o coração e apagam olhos que só queriam ver. O temor ao Senhor reza-nos um juízo mentiroso e também é verdade que ainda há quem prefira a posição de "seminário". Gente esta que sabia brincar. Senhor, Senhor estás sempre do meu lado e isso distrai a minha amante. A unidade, dizia o profeta Ezequiel, não pode acontecer com o Espírito Santo. É bem sabido que Ezequiel não gostava da imundice e isso já naquele tempo era uma grande chatice. A minha alma suspira por vós, mas vós, mais do que ninguém, sabeis Senhor que eu sou um mentiroso compulsivo. Como suspira o meu espírito Senhor! Mas desta vez não mentirei. Não estou arrependido. Mas eu sei que o veado suspira pelas águas cristalinas da montanha, onde cítaras tocam poemas louvando a tua ausência. S. Paulo nunca gostou dos romanos. É evidente a maneira como não manifestou qualquer contentamento pelos golos do Paolo Rossi. Baresi e Dino Zoff até lhe provocavam tosse. Aleluia! Aleluia! Gritava ele com o nariz enfarinhado quando o Nápoles de Maradona foi campeão. Ainda hoje, entre espirros gosta de falar disto. O senhor é o meu pastor! Mas a médica proibiu-me de comer queijo. 
Glória a deus nas alturas! No 35º andar vão servir Moet&Chandon e rissóis de camarão. Andainde pois então! Vinde até mim! Há gajas boas no camarim.






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terça-feira, 8 de julho de 2025

NO ALTAR DO ENTULHO

 


No altar do entulho 

Celebra-se Impunemente a Miséria Humana

No altar do entulho 
As orações são Bombardeadas para divulgarem 
em Defunta mão o significado do perdão dos Ofendidos

No altar do entulho 

A inocência é despejada da Decência 
ual gravidez Trucidada pela Falsidade das Promessas 

No altar do entulho 

Há um olhar coberto de Desalento
Agonizando no ninho da Vergonha

No altar do entulho 

Onde mora a Monstruosa Crença? 

No altar do entulho 

A salada do Genocídio 
está continuamente pronta 
para a Alheamento com Desculpamos 
a nossa cada vez maior Incompetência

No altar do entulho 

As mortalhas há muito Embrulhadas 
em Lágrimas de Desolação 
escondem-se nas Valas da terra 
Usurpada

No altar do entulho 

Perfuma-se com o Incenso da Infâmia a
Memória da Pele

No altar do entulho

A impunidade nunca Poderá Morrer sem Castigo

No altar do entulho

A humanidade não passa de uma Fraude 
Assiduamente Combinada nos Podres Tratados

No altar do entulho

O tempo nunca poderá esquecer o Massacre 
ue Constantemente Entregamos

No altar do entulho

Trump celebra com Putin 
perante o pas-de-deux do Netanyahu 
num Cocktail de Sangue Assassino 
oda a Crueldade do Mundo


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segunda-feira, 7 de julho de 2025

ÀS VEZES MORREMOS SEM NOS APETECER

 


Às vezes morremos sem nos apetecer.
Vem em algumas enciclopédias
penduradas no alto da torre
onde a coruja desmói o papo.
Desejos vestidos com pele de raposa,
conversas comezinhas, marinadas em maldizias,
que acabam por nos dar muito que fazer.
Nada é perfeito neste vento soprado,
que nos enleva em gelados de baunilha sofisticada.
Nenhuma razão aparente poderá ser desenhada.
A que sonhos nos referimos?
Estou sentado no museu,
com molduras de hambúrgueres
que me afectam o apetite.
O artista não sabe,
mas algumas estão já incompletas.
Estou embrulhado num velho Março
e sinto nos pés a pressa de fugir.
Aqueço a alma num cigarro
e aguardo serenamente
simpatias amigas
que se deitam comigo no possível acordar.
Está bem!
Podes voltar.
Diz-me um sol desconhecido
para iluminar o sono
com quem durmo dias tranquilos.


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segunda-feira, 30 de junho de 2025

LISBOA & TUDO ISSO...


 Porque não tenho jeito para a saudade.
Nunca me cansei de calcar aquelas ruas durante mais de 20 anos.
Deixem estar o menino. Ele está a escrever os seus poemas. E eu sentado com a velha Messa ouvia contente o cuidado do meu chefe.
1. Ataque epiléptico
Espumava deitado no passeio um coro de insultos merda de bêbado
2. Custódio Cardoso Pereira
Rua do Carmo
Ponto de encontro. Músicos.
3. Au Bonheur des Dames
Elas ofereciam-me amostras de perfumes e admiravam a minha preferência pelo “”.
4. Arnaldo Ferreira o pintor da noite.
Bulia a Rua do Carmo apressando palavras num discurso freneticamente revoltado.
5. Dali o bailarino de tangos e o seu inconfundível bigode. Dançava com uma pantufa enfiada no pé direito, em frente da Discoteca Universal, as canções escolhidas pelo Zé Augusto.
6. Os gins no bar dos Armazéns do Chiado
abundantemente servidos pela Teresa e João.
7. Ritz Clube
A velha banda. A streaper Dina da Conceição conceituada bailarina afro-cubana, 60 anos ou mais. As senhoras de lenço na cabeça e óculos escuros em formato de gata, (como nos filmes italianos), e as suas histórias. O whisky sem marca.
8.Guarda Nocturno
Mijar na rua da Vitória com uma pistola apontada à cabeça
9. Salsaparrilha e whisky em copos pequenos. Não sabíamos nada acerca dos shots.
10. Comodoro & Eduardo 
Tinha um gozo especial quando ao jantar bebia o whisky de alguns directores do JBF que frequentavam assiduamente o rés-do-chão, onde as meninas como quem não quer a coisa, mostravam as cuecas.
11. Os sapatos da Hélio
Cheguei a ter 23 pares. Alguns feitos de encomenda. Tinha uma actividade profissional paralela: revendedor não oficialmente autorizado.
12. Os pastéis de bacalhau no Palmeiras
Geralmente por volta das 4 e meia da tarde. O tinto era da Labrugeira.
13. As idas aos CTT da Praça do Comércio
O regresso contemplava invariavelmente a visita ao Escondidinho da travessa do Cotovelo e uma breve passagem pelo Galego da rua do Crucifixo. Sempre na companhia do Ti Luís ou do Tio Xico.
14.Notário
Reconhecimento de assinaturas. Uma ou outras por mim imitadas. Consegui ganhar uma aposta ao meu chefe.
15. A Brasileira
Não sei porquê, mas tinha o hábito de esconder a colher do café na minha cabeleira. Mais tarde tive algum sucesso quando a oferecia em forma de pulseira às minhas amigas.
15. A _ Jornal República 
15 de Novembro de 1972 . Lembro-me perfeitamente das palavras do Dr. Raul Rego: rapaz, vais ter o primeiro desgosto como jornalista: dou-te os parabéns pelo artigo, mas isto vai ficar um quadradinho.
15. B _ Livraria Buenos Aires
Rua de Buenos Aires, 7 B (Lapa) Lisboa Anos 70. A Livraria do meu pai, Abílio de Miranda com a preciosa colaboração do meu irmão Tomás de Miranda. Foi aqui que começou esta mania. Com a sua inestimável ajuda e constante incentivo. Comprava os livros às prestações e sem quaisquer descontos. O dinheiro fazia falta lá em casa. Assim iniciei a minha viagem.
 Um obrigado muito abraçado.
16. Opinião
Sempre diferente. Passei grandes momentos ouvindo os Senhores Raúl Rego, Álvaro Guerra e Baptista Bastos. O Hipólito mostrava-me sempre aquilo que eu gostava. Livros & Lp`s.
17. Livraria Ferin
Alimentava a minha paixão pelos Índios da América do Norte, comprando às prestações, livros importados.
18.Tabacaria do Rossio
Esperava ansiosamente o final do mês para ter nas mãos a Rock&Folk. Anos e anos a manter esta satisfação.
19.Sapataria Presidente
Fiquei doido com os meus primeiros Lótus. Eram feitos à mão. O senhor João Baptista Fernandes apreciou o meu bom gosto.
20. Livraria Bertrand
Cumprimentava sempre o senhor Luís. Um velho amigo do meu pai. Depois entrava no mundo que aprendi a respeitar. 
21. Livraria Sá da Costa 
Um prazer à mão de semear.
22. Livraria Portugal
Visita obrigatória à minha amiga Isabel.
23. Livraria Lello 
Nunca consegui resistir ao seu perfume.
24. O cretino do BESCL
Rua nova do Almada. Todos os dias a caminho do emprego, este imbecil manhoso e não engraçado, divertia as colegas com as bocas que me mandava.
Nunca mudei de caminho, e um dia cara a cara com o cretino, prometi solenemente que mais tarde ou mais cedo, lhe partiria a tromba. Por mim, até podia ser naquela altura. Continuei a descer aquela rua e nunca respondi ao bom dia com que ele julgava insultar-me.
25. Banco Borges & Irmão
Praça do Município.
Era aí que ia levantar os ordenados dos colegas da minha secção.
Vi um dia o senhor Pedro Homem de Melo a vender livros. Até então só o conhecia da televisão. Não tive vergonha, falámos e comprei um, que as gorjetas acabaram por pagar.
26. O Barbeiro da rua do Arsenal
Às 4ªs Feiras pela manhã ia lá buscar o Senhor António Baptista Fernandes. Água de cheiro e raminho de alecrim na lapela. O barbeiro saudava-me cordialmente e nunca mostrou qualquer desagrado com a minha farta cabeleira. Começávamos pela loja para cumprimentar o pessoal, mas era no escritório que os olhos deste velho senhor, brilhavam de maneira marota quando demoradamente apertava as mãos das minhas colegas.
Depois, sentado no velho cadeirão de couro, acabava por adormecer.
27. Pastelaria Ferrari
Os bolos preferidos das minhas colegas grávidas.
Quando ficava contrariado, acabava de meter o “duchesse” embrulhado debaixo das axilas. Nunca nenhuma se queixou.
28. Pastelaria Central da Baixa
Lembro-me do Bolo-rei. A minha mãe era fã.
  29. Manuel Careca “Limonadas”
Cenas do Pátio das Cantigas ao vivo. E a limonada bebida nos intervalos de uma bola de Berlim, até caía bem.
30. Casa da Sorte
Eram lá que ia buscar as cautelas do senhor Joaquim Nunes Figueiredo. Diziam que era o meu padrinho e isso permitia-me um estatuto especial dentro da empresa. Ofereceu-me vinte contos como prenda de casamento. Uma vez, quando me deu boleia até à casa da minha namorada, disse-me que me ia pôr bem na vida. Passados oito dias, abraçou-me dizendo que não voltaria. Lembro-me de entregas de presentes às suas conhecidas, feitas de um modo discreto.
31. Beat Club
Boa música mas demasiados betos para o meu gosto.
32. Brown`s
Punk em Lisboa.
33. RRV - Rock Rendez Vous
Era amigo do Mário Guia, o dono. Estive na inauguração. Jamais esquecerei aquele concerto do Wilko Johnson.
34. Hot Club
Grandes Músicos para uma música que me apetecia.
35. Quarteto
Saudades do cinema a sério.
36.Cervejaria Trindade
No tempo em que as batatas fritas ainda vinham com bocados de casca. E aquele gajo que só bebia garrafas de litro da cerveja preta Sagres.
37. A tasca do Tony Morgan – Bº. Alto
Sempre que lá estive, senti um carinho especial do Tony.
Ouvia-se fado e entornávamos jarros de tinto acompanhado com caldo verde e chouriço assado.
38. Casa Batalha – R. Nova do Almada
Agradeci sempre a preciosa ajuda da senhora Noémia na selecção das pedras para os 12 colares que usava naquela altura.
39. Rua das Trinas – Estúdio do Jorge Monteiro
 Uma ou duas vezes por semana, ensaiávamos com o António Variações. Janeiro a Junho. Ano 1981.
 Anos mais tarde, um conhecido radialista classificou-nos como a pior banda de garagem que já tinha ouvido. Orgulho.


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domingo, 29 de junho de 2025

SEXO TÉTRICO

Ligaram o micro ondas para aquecer a libido.
Colocaram o cd meticulosamente escolhido
e ouviram o mantra indicado.

Desnudaram os complexos,
abraçaram a intenção,
estenderam o karma,
comtemplaram-se de frente um para o outro.

… Mas era do apartamento ao lado
que vinham sons de uma profícua actividade sexual.

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PIAF

 


Lia-me um poema ao contrário e soletrava letra a letra a teoria da ascensão cósmica no universo uno e transcendental. Continuava admirado por todas as vezes que esteve na Trocadero de Paris, ninguém parou para o medir. Falei da "metatísica" , da importância do "photomaton" da insegurança "fotodiária" e da futura rendição incondicional de todos os deuses ainda não arrependidos. Pois, mas as molduras atraiçoam muitas telas. Não consegui explicar que a intenção não era má. Nem você é bom, respondeu. Não tinha um prego. Não pude virar o bico. Lá mais adiante, um bando de cretinos impregnados de smart camera, tentava pintar o Sena. Mas, este é o rio dos poetas que chora uma música que só eles podem beijar. 
Tenho nos ouvidos um segredo que a Edith me vai cantar.
Estendi o saco cama e adormeci com a navalha na mão.




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SIMPLESMENTE...


 

A ÚLTIMA NOITE

 


Sentado numa poeirenta poltrona de cabedal 
a imitar napa, lia jornais atrasados com notícias 
da última hora. 
A melancolia cheirava a loção de barbeiro, 
a pele tingida com cor de shopping
iluminava a calma de um sol desanimado. 
Bebia aquele silêncio morto com passos ocos, 
que enchiam os corredores encharcados de lixívia. 
Sonhos mudos embalados em cartão, 
retardando a lentidão da solicitude 
de uma vontade há muito tempo escapada. 
Chovia sempre que escolhia aquele caminho, 
onde pássaros atrasados buscavam o ninho. 
Rasgava com toda a raiva poemas, e
nquanto ouvia Leadbelly cantar:
my girl, my girl, don´t lie to me”.
E dizia para si próprio: 
também não quero saber, 
onde ela passou a última noite.
O musgo dormia abençoadamente na lareira.


2015aNTÓNIODEmIRANDA
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E ADORMECIA …

 


Limpava alguns momentos à procura  de boas notícias na página da necrologia do jornal pousado na mesa do café e invariavelmente discutia a desilusão com o barbeiro.
Depois seguia até à paragem da camioneta que religiosamente tinha partido às sete da manhã. E esperava pelo carro do peixeiro, sempre com a esperança de um atraso que era raro acontecer.
Dava um pulo à horta para regar os tomates, e encostado ao muro habitual, contava vagarosamente as badaladas do sino da igreja, não que tivesse interesse, mas podia ser que desta vez elas não sincronizassem com o relógio que tinha comprado na loja do chinês.
Tinha saudades da cavaqueira da feira, mas agora está tudo tão fraco e longe, mais longe, do que o tempo que tem para gastar. Chegava a casa e ligava a televisão e telefonava para o número mágico que lhe prometia um prémio de não deitar fora. Quando fosse á cidade, haveria de comprar um telemóvel novo. O seu só funcionava para chamadas sem ofertas. Além disso queria fazer boa figura quando fosse à festa da aldeia. E continuava a cismar com a mania de pôr a mota em cima da mesa do snooker. Claro que gostava muito dela e aos poucos foi perdendo a saudade do ribombar das bolas. E o canito já estava velho para as apanhar.
Não ia para a cama sem visitar a adega, agora que não podia beber nem vinho nem aguardente que teimava em fazer. Talvez alguém apareça hoje e lhe dê dois dedos de conversa. Não será pedir muito. 
E adormecia ...


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sábado, 28 de junho de 2025

POEIRA

Toma o tempo que precisares          
Agarra-o como quiseres        
Rejeita a fila                       recusa a tua vez         
Falha o necessário                          Tu és o essencial       
Corta a curva           Não fiques na encruzilhada    
Voa até o chão deixar de ser teu       
Sacode a poeira

Vai!      
Mas desta vez, até ao fim.

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quinta-feira, 26 de junho de 2025

ASSOBIA O VENTO O FUMO QUE ME SANTIFICOU

 


Apenas 

Deitado

Não 

Sei 

Sossego 

Que 

Me 

Espera 



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DIZEM OS ANTAGÓNICOS

 


ESPERANÇAS DE ESPUMA




Tudo foge naquilo que me acontece.
Nada consigo apanhar neste jogo de anões ambulantes.
Lembro uma escada que levava o cansaço para outros bocejos.
Lágrimas beijavam ombros.
Não sei se seriam os meus.
Outros lugares,
Possivelmente
Irão
Anoitecer.
Desejo arduamente
Uma noite sem grãos de
Lua.
Um colchão sem esperanças de
Espuma.
Um deslizar sem aviso
Prévio.


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segunda-feira, 23 de junho de 2025

SANTUS TIPU PUPOLARES

 


St. António já se emvevedou

S. Pedro está a gomitar

S. João agarrado au valão,

pedrado até mais não,

pensa que bai boar.

2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA
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EU UM DIA

 


Não sou fronteira de nada
De qualquer maneira,
Não é o meu ser
Fogueira apagada
Não sei que fogo
Me deixou de arder
Apenas sou eu
De mim próprio
Sem sim
Eu
Viagem ainda não começada
Com bilhete de ida
Sem volta anunciada
Eu não melhor que nada 
Eu um dia
Para acontecer.


_2014_aNTÓNIODEmIRANDA
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CASACO ENCASPADO


Desculpem a interrupção: 
A estupidez segue dentro de momentos.
Combata as rugas na boutique do tempo,
onde se vendem relógios mentirosos.
Cocktail generoso.
Croquetes deliciosos.
Na academia das águas livres de tudo aquilo que nos possa fazer bem.
Assim, não vais longe, 
dizem os imbecis que têm na distância 
a única certeza adquirida.
Tenho percorrido muitos dos caminhos 
que me proponho, 
pisado pedras, cantado algumas solidões,
saboreado todas as indecisões.
Mas no meu filme sou sempre o actor principal.
A liberdade não é um acessório.
Saída de emergência.
Informações úteis sobre a validação
da sua não identidade.
Gerir contrato
Não fumadores de quê?
Cuidados intensivos.
Cadilhos paliativos.
Memórias cremadas.
Corpos cromados
Código pessoal.
Gerente de conta.
Caixa geral de consensos.
O rendimento voltou.
Gestor da vontade.
Encruzilhada semaforizada.
Trabalho ocasional.
Acção temporariamente só.
Arrendamento
Parqueamento
O presente perfeito
Oferta demolidora
Quanto tempo falta?
Mude de perspectiva.
Congresso nacional dos mamadores.
Convenção anû(s)al dos enganadores.
Curva perigosa.
Rua sem saída.
Trânsito condicionado.
Casaco encaspado.
Contracção.
Comichão.
Infecção.
Comissão.
Dilatação. 
Degustação de pecados no céu.
O convite está feito!
Apareçam sem eu dar por ela.


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A-TENSSSSSSÃO

 


HORÓSCOPO

 



Nada me satisfaz neste rosário de lesmas 
agarrado às minhas voltas.
 Não consigo achar o sentido da beleza, 
perco-me em divagações malparidas, 
escondo-me nos fumos dos cigarros, 
neste encontro sem chegada. 
Jogo às mentiras, 
detesto a paciência e a sua inútil calma, 
atiro sorrisos enganados para a parede. 
Tenho na garganta 4 tiros amestrados, 
uma fogueira de hipóteses queimadas, 
um manual de soluções fora de prazo.
Agradeço ao tempo, 
a conta desigual com que nos aturamos. 
Neste lapso do amigável engano, 
risco do horóscopo as possibilidades fictícias. 





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NO DOCE BARAÇO DA SORTE

 




domingo, 22 de junho de 2025

MISE-EN-SCÈNE



Era para ser como no cinema 
mas o filme não esperou por nós

Sentado na ausência do sonho
o realizador fugiu para outro casting

A cadeira deslizou em câmara ardente 
à procura do argumento


,2022Jun_aNTÓNIODEmIRANDA
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SUAVE DEITAR

 


Fogem as memórias.
Só me lembro dos dias perfeitos e dos 
tropeções que não me deixaram cair.
Laço de angústias a tentar naufragar no lago 
dos desesperos onde cisnes alucinados 
queimam as asas do prazer.
Azarados fantasmas ensaiam 
num “FUNKIE TANKYE” apressado, 
a chegada da legião da boa vontade à terra.
Deus não meu!
Porque Teimosa-Mente ainda pretendes 
vender o paraíso errado?
(adoras o beijo da Kalashnikov).
Não, o erro nunca será meu!
Jamais pretendi ser a merda de um soldado!
Fogem as memórias num bailado 
que não entendo. 
Dança esquisita esta que escorrega 
entre os medos que me querem entregar.
Serei eu? 
Ou aquele que agora me pede incessantemente 
para não ir?
Baby please don`t go”.
Desejo que me guies até ao suave deitar.
(guarda este sonho no som 
mesmo 
roufenho da ferrugenta harmónica).
Depois deita-te fora de mim 
e afoga esta salada de martírios.
Pinta outro céu na cama da flor da fantasia.



2025Jun_aNTÓNIODEmiRANDA
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sexta-feira, 20 de junho de 2025

AMADORA CITY BLUES _anos 70

 



                                            Ainda sou do tempo em que as irmãs dos amigos eram intocáveis.

À sexta-feira íamos até á Damaia para a sessão de terror no cinema D. João V.
No “Recreios da Amadora”, (o piolho), víamos grandes filmes acompanhados por simpáticos charros. 
Naquele tempo o cinema era acolhedor.
Na Brasileira do Chiado era normal esconder no cabelo a colher da bica (mais tarde transformada em pulseira), ou até um simples pires.
Aos Sábados, (que gloriosas noites) embebedava-nos na “Nau”, e para acalmar o stress, partia alguns copos de imperial com os dentes. 
Era frequente pôr um ou outro empolgado “madié” a contar os buracos da rede de pesca pendurada no tecto da cervejaria. Bastava pronunciar a palavra mágica “Ai-Xi-Kúrú. A bem da verdade ainda hoje não descobri o seu significado.
Em Agosto, aparecia o Jimmy com o seu capote alentejano, e o tal lenço que glorificava a sua trunfa. A colecção dos meus colares assim como a guedelha com alguns anos de existência, acompanhada pelo cumprimento de um amigo (2 cintos, suspensórios e luvas de cabedal), apreciavam este tipo de ocorrências. 
Inundávamos o jardim Delfim Guimarães com pétalas de bem-querer.

                                    Ainda sou do tempo em que as irmãs dos amigos eram intocáveis.

No “convívio” jogávamos matrecos e vendíamos bicos de lápis de cor devidamente embrulhados em fita-cola como se fossem ácidos. 
Com o pecúlio apurado organizávamos bacanais de bitoque na Minabela da Mina. O Ilídio era um ás a descongelar garrafas de Gatão.
Nas matinés do Pigalle (o nosso café preferido) para além de azucrinar a cabeça ao Barnabé, assim que notávamos um olhar curioso, aproveitávamos para depositar macacos do nariz nos pires do café. Também era frequente o impedimento da nossa presença, por comportamentos não adequados. Isto na óptica do gerente. O Alves, a quem amorosamente tratava-mos por zarolho.
Na Ninfa, aparecíamos nas tardes de domingo para beber carioca de limão com 2 pedras de gelo.
Algumas vezes íamos em digressão até ao “Quartier Latin”, um bar na Óscar Monteiro Torres. Gente boa, e uma tal Lena Águas atendia-nos com uma sorridente simpatia.
Nunca falhamos uma rusga da polícia. (Ocorrência habitual nas noites de Sábado).
E bem pedrados, derrotámos num improvável jogo de futebol, uma das turmas do liceu. (a nossa equipa, um misto de gajos e raparigas, era praticamente intragável). 

                            Ainda sou do tempo em que as irmãs dos amigos eram intocáveis. 

E, com toda a educação, tinham a nossa companhia até às portas das suas casas.


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