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sábado, 12 de abril de 2025

COM OS MELHORES CUMPRIMENTOS...

Tenho todo o tempo do mundo. O Cartier que me afaga o pulso, (luxo burguês adquirido numa conceituada candonga), nem sempre está de acordo com a minha disposição. 
Mal menor! 
Deixo de lhe dar corda. 
Aproveito este privilégio, e faço acontecer aquilo que quero. Abro a lata do atum, à hora que me apetece, agradeço a arte de cortar o presunto, desfio o bacalhau com 1 abraço para o Brás, meto o polvo na panela, ou desenho uma cabidela, e, como quem não dá por ela, uma massada de cherne, um rancho folclórico com passos de cominhos, e porque não, uma feijoada com chispe menos bebido do que eu? 
Essa coisa dos rojões à minhota, é um patamar à parte. 
Não exagero (ao dizer) que será assim uma espécie de concílio dos deuses.
Não sou estúpido!
Amanhã tenho consulta. 
Como sempre, irei oferecer à minha médica um poema que confirmará esta mania de ser feliz.
Enrolarei com o maior cuidado e respeito as suas indicações.
Assim espero que seja feita a nossa vontade.
Com os melhores cumprimentos...


,2018Fev_aNTÓNIODEmIRANDA
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quinta-feira, 10 de abril de 2025

GLÓRIA

 


Um desejo que desliza pela boca 
como uma sugestão proibida para 
a promessa de prazer. 

Qual obra de arte esculpida no olhar, 
cada palavra desenhada para ser admirada, 
tocada e devorada 
porque os lábios têm o gosto do pecado 
e na pele escorrem arrepios. 

Quando passo, olhares seguem-me, 
famintos, hipnotizados. 

Sei o poder que tenho 
e adoro brincar com ele.
 
Um sorriso, um toque, um olhar profundo 
e o mundo já não pensa em mais nada. 

Provar talvez um pouco do fogo que ali mora.

Embriagado na memória 
ardendo sem vontade de fugir.

Mas cuidado! 
Ela vicia!




2025Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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ALVEJADO NAS COSTAS POR UM SORRISO DISTRAÍDO

 


Por detrás do espelho 
escrevem-me tiras de 
ausência

Quem se apartou já não 
dorme na bebedeira 
onde sonham cartas inquietas 
gravadas no cansaço 
que só de mim é pertença

Até que o dia-a-dia 
deixe de ser um novelo 
de ilusões para mais tarde 
recortar






2025Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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ATÉ DEPOIS…

 


Vida da minha morte 
não te despeças ainda de mim

Não te afastes 
ainda não chegamos ao mar 
que não mata

Tenho um adeus de cardos 
escrito com poemas de linho

Um sorriso enlutado 
no martírio que é todo o amor

Tantas trocas para combinar

Adeus vida!

Até depois




2025Abr05_aNTÓNIODEmIRANDA
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À ESPERA DA CALMA QUE ME DESENCAMINHE

 


Deitado 
Numa 
Vida 
De 
Fantasmas 

                    
                    Melhor 
                    Amigo 
                    É 
                    
                    Ausência






2025Abr05_aNTÓNIODEmIRANDA
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Arlo Guthrie/ Amazing Grace

Arlo Guthrie - "St.James Infirmary"

EXIGÊNCIA

 


Não entendo, nem é minha função,
Estes intelectuais esquemáticos,
Equimosados pelo sistema, 
Com discursos sistemáticos,
Apáticos, Hepáticos,
Que falam com panfleto colado na boca.
Mostram-me sempre a errada posologia.
Não é língua
Não é poesia
Nunca será ousadia.
Doutrina urinada
Estupidez insuflada
Incomoda-me tanta mania.
Continuarei a exigir
Que mesmo que não se goste
Se respeite a poesia.



,2015_jan_29_aNTÓNIODEmIRANDA
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quarta-feira, 9 de abril de 2025

INSTANTES MODERNOS

 


Ousar

Beleza 

Da Imperfeição 


Onde 

Tempo 

Se 

Detém

Espalhando

Memórias

Em suaves 

Prestações 

de 

Amizade








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terça-feira, 8 de abril de 2025

ESTÚPIDA SIMULAÇÃO

 


Tento ficar bem 
sempre que tenho 
essa oportunidade



            A Mentira De Todos 


            Os Dias:


                 Viver  


                A Enganar 


                O Existir








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segunda-feira, 7 de abril de 2025

NA VIA LÁCTEA DO BUÑUEL

 


Nada aconteceu naquele momento em que estive no céu e roubei as escadas para que ninguém mais conseguisse lá chegar. Acampei na tarte de limão, aconcheguei a normalidade e espalhei os confetti mais bonitos na via láctea do Buñuel.
Todo o olhar era vidrado, exactamente como naquelas séries do Syfy, carne picada amaciando um crepúsculo de deuses murmurado numa dicção nada subtil. O mundo está diferente e cada vez mais interessado em iludir ideias para uma viagem que nunca nos satisfará.
Já vi este filme. E pior do que isso, é que não me apetece mudar de canal. São agora dez horas da noite, horas iguais aquelas que continuo a vomitar. No baloiço desta cadeira, cambaleio num inverosímil latir do cão e no meu ombro recostado no sofá, caiem lágrimas da púrpura chuva. Os meus olhos não te viram e sei que esta não é uma desculpa aliciante. Gostaria de contar outras histórias, mas não filmadas em slow motion, para que as mentiras apetitosas não fossem sodomizadas pelos efeitos especiais. Tenho o horóscopo manchado por pegadas de pizza oferecida na recepção do motel onde um oral até à última gota é pago a uma loura a imitar uma Marilyn em forma de candeeiro.
É tudo tão estranho!
Logo sou levado a pensar que já vi aquilo que quis. A minha cabeça capota perante a presença de tanta luz inusitada. 
Acordo agarrado a uma roda desconhecida e tento desmaiar perante a visão de um porta-chaves falante em forma de et, que agora lembro, tinha visto numa fábrica lá para os lados do Areeiro. 
Estava em promoção! Culpa minha! Merda de distracção!
Liguei a lanterna para não causar distúrbios à minha bisbilhotice e poisamos num bar curioso onde saboreamos amistosas sanduiches de vitela estucada.
Alien o porteiro da morte, abriu a porta e num desinibido aperto de mãos, disse-me:
Se calhar vou ter saudades tuas.



,2017fevaNTÓNIODEmIRANDA
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PARA TI SE FALTARES

 


Para ti se faltares,
tenho o punhal dobrado
no mais fino bragal.
Para ti se faltares,
tenho o champanhe gelado
para ser bebido
ao longo do teu corpo.
Tenho beijos haute cuisine
banhados num tinto de colheita envelhecida.
Para ti se faltares,
tenho um filme encomendado
entregue impreterivelmente
na hora da tua chegada.
Tenho sais de saudade
lágrimas em tons de rebuçados
luvas com o toque das nossas peles
e algumas orquídeas
especialmente vindas 
do expresso da última noite.
Para ti se faltares,
tenho numa jarra o tempo
que dorme nos lençóis da nossa ausência.
Tenho rosários naquele quadro
que pintamos quando nos queríamos.
Para ti se faltares
tenho dois corações
para substituírem
aqueles que já não usamos.
Para ti se faltares.


,2017fevaNTÓNIODEmIRANDA
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FIEL DEVOTO

Orei no teu
Sexo
Um preliminar
Prometedor

Sou
Um fiel devoto
Desta
Prédica



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Lucky Lou

sábado, 5 de abril de 2025

ALPENDRE #Quiçe Mi Lá Buche# - Editora Tea For One / 2015Março 2015aNTÓNIODEmIRANDA

 





À ESPERA DA CALMA QUE ME DESENCAMINHE

 


Deitado 
Numa 
Vida 
De 
Fantasmas 

                    
                    Melhor 
                    Amigo 
                    É 
                    
                    Ausência


2025Abr05_aNTÓNIODEmIRANDA
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É MAU, SABES?

 


É mau, quando te prendem na liberdade 
que foste obrigado a comprar.

É mau, sabes?

É mau, sempre com juros 
que chicoteiam a vida, dia após ano, 
naquele saldo sempre negativo.

É mau, sabes?

Quando te espera o prato 
da esperança esfomeada.

Quando olhas para o lado, 
à procura do futuro que fugiu.

É mau, sabes?

Quando a vontade de dar,
nem consegues partilhar.






,2020mai_aNTÓNIODEmIRANDA
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NOITES LONGAS NEGAM ABANDONAR O ROUPÃO DA SOLIDÃO

 


Do teu corpo exausto de tanto mal parir  
Útero arrependido Flor descalça calcando novo Abril 
Ó lástima do meu país quando deixarás de chorar em vão?
E tu alegria do lamento 
Deixa que não seja só um momento 
Não quero ser aquele sorriso sem Alma 
Certificado num qualquer cartaz de boa vindas 
Ó pátria imunda quando te cansarás de infectar 
a minha existência?
O que é feito de ti?
Olha-me de lado o “curriculum vitae
Finjo que não ouço enquanto apressadamente 
escangalho 
o cachecol da perturbação. 
Há muito que sei que a memória 
é um sabão sem respeito.
Procuro no trapézio da ilusão um cometa corajoso.
Nada alcança o caminho entregue.
Nem luz Nem encanto Coisa sem coisa 
Visão escura Vida sem Cura 
endurecida a Vontade de tanto ouvir dizer Não.


,2024Mar23_aNTÓNIODEmIRANDA
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sexta-feira, 4 de abril de 2025

LIVRO DO GÉNESIS (impressão fraque-simulada)

 


Ao princípio não era nada
E o homem pensou que isso era mau.
E foi assim que foi criada a maldade.
No fim e por fim Deus comodamente instalado noutras paragens, continua a lamentar o maior erro da sua criatividade: o homem!
Eu bem o tinha avisado que há coisas com que não podemos brincar. Mas a bicicleta ainda não tinha sido inventada.
Moisés tinha uma vara de um acrílico carbonado, alérgica a peixes e teve a preciosa ajuda, quem diria, de um forte vento do leste. A Emel, aproveitando a separação das águas, bloqueou as rodas dos carros dos egípcios, que assim levaram uma grande banhada. Muitos deram à costa em Sevilha, onde foram oferecidas à população opulentas doses de lulas à sevilhana. Oremos ao senhor que com tanta água nos libertou do imenso calor. O mar vermelho só acontece no Marquês de Pombal, quando o GLORIOSO ganha o campeonato. Isaías, depois de marcar ao Arsenal, tímido como era, quando lhe perguntaram o que sentiu, socorreu-se de uma página de certo livro, respondeu: eu sou bom, mas o outro é que continua a ser o senhor do universo. Ainda não chegou a minha vez. Palavra do treinador: ainda bem! Todo o nome devia ser santificado e infelizmente isso nunca fez maravilhas. Há quem diga que a salvação está escondida na caixa negra do avião. Lázaro nunca andou, Abraão não sabia escrever e mais tarde foi visto a recolher um jackpot lá para os lados de Las Vergas. Isaac, sempre doido pela velocidade, treinava numa carroça com 220 cavalos. Continua preso por excesso de excremento. O filho do Abraão foi salvo da morte por um cordeiro imprudente que mais tarde foi servido em coentrada. O Salmo 32 foi alterado. Continha leituras impróprias para oníricos. Alguns dos caminhos da vida ainda não são conhecidos. Por isso, devemos continuar a desconfiar daquele que se sentou à direita. Palavra do Senhor: ide-vos que eu fico por aqui. Não me confino nunca a que deus seja a única esperança do mundo. É um peso demasiado para umas costas tão curvadas. A paz não é eterna e até já foi banida de muitos dicionários. Aqui estamos. Resplandecendo alegremente esta possibilidade nunca correspondida. Palavra do Senhor: Israel é uma conveniência que nunca desculpará um certo erro de cálculo. Não há lei perfeita. E a que o Senhor nos quer impor, ainda menos. Enfim, preceitos que não alegram o coração e apagam olhos que só queriam ver. O temor ao Senhor, reza-nos um juízo mentiroso e também é verdade que ainda há quem prefira a posição de missionário. Gente esta que sabia brincar. Senhor, Senhor estás sempre do meu lado e isso distrai a minha amante. A unidade, dizia o profeta Ezequiel, não pode acontecer com o Espírito Santo. Ezequiel não gostava da imundice e isso já naquele tempo era uma grande chatice. A minha alma suspira por vós, mas vós, mais do que ninguém, sabeis Senhor que eu sou um mentiroso compulsivo. Como transpira a minha alma Senhor! Mas desta vez não mentirei. Não estou arrependido. Mas eu sei que o veado suspira pelas águas cristalinas da montanha, onde cítaras tocam poemas louvando a tua ausência. S. Paulo nunca gostou dos romanos. É evidente a maneira como não manifestou qualquer contentamento pelos golos do Paolo Rossi. Baresi e Dino Zoff até lhe provocavam tosse. Aleluia! Aleluia! Gritava ele com o nariz enfarinhado quando o Nápoles de Maradona foi campeão. Ainda hoje, entre espirros gosta de falar disto. O Senhor é o meu pastor! Mas a médica proibiu-me de comer queijo. 
Glória a deus nas alturas! No 35º andar vão servir Moet&Chandon e rissóis de camarão. 
Andainde pois então! 
Vinde até mim! 
Há gajas boas no camarim

2016,03aNTÓNIODEmIRANDA
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quinta-feira, 3 de abril de 2025

Paco de Lucia and Sextet - Solo Quiero Caminar

Arlo Guthrie- Coming Into Los Angeles [Live Woodstock 1969]

GOSTARIA DE TER UM DIA PERFEITO

 


Gostaria de ter um dia perfeito.
Sem gente no zoo,
E uma banda clandestina ...
espalhando blues pela noite dentro.
Sou apenas um rapaz usado,
sem pressa para envelhecer.
Gostaria de ter um dia perfeito,
que não fizesse de mim um esqueleto de lágrimas,
farto das hipóteses repetidas,
mentidas na minha almofada.
Não quero ser uma lástima
constantemente acontecida,
com falsos abraços para oferecer.
Gostaria de ter um dia perfeito.
Sem o tédio do canto do cisne,
ouvido na roda do relógio das horas difíceis.
Gostaria de ter um dia perfeito,
sem um artifício nauseado,
embrulhado em doses de take-away.

Só um dia perfeito.

Sem ofensas para a mentira que remendo.


,2019mar_aNTÓNIODEmIRANDA
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FAÇA COMO LHE APETECER

 


Alma deserta
deseja conhecer ajuda
sigilosa.
Condições de higiene
devidamente asseguradas.
Conjugação de artemísias,
amarrações na cabeceira do catre,
algemas forradas
e lubrificantes previamente
testados.
Organização sexual configurada
e cientificamente certificada.
Garantia de plena satisfação,
obedecendo aos critérios mais exigentes.
Horário a combinar.
Faça como lhe apetecer.
Aguardo a sua visita.
Não se vai arrepender.


,2017,mar_.aNTÓNIODEmIRANDA
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https://l.facebook.com/l.php?u=https%3A%2F%2Fpoesia-incompleta.blogspot.com%2F2019%2F04%2Fa-mala-do-poeta.html%3Fspref%3Dfb%26fbclid%3DIwZXh0bgNhZW0CMTEAAR0vYTND0trOpf9ZOgIhQfjvfZhQJwtD7Jp8hcLCqt_sWLtpb56WXwy0qZw_aem_ZoUr5MKJV-y_WqcJ6F7irw&h=AT2kNDuZeVLUaGdQo53kio59HITp7b77zoyDEkByQtPeG5uoxeaJIQu8pNiinwU38SQM4hYe_yGs3l8QjD1JHriYmA8e4ylqRF6hcbOOj86GUN2tjXMOpG7ZMA8DzBCzh7qkdgx44i74A3U7&__tn__=%2CmH-R&c[0]=AT3mMZMIjBM22fm378fgCDMyGZDKoNNcxU3__DhknZ2CLNFi6HVluix1587tUkZMD54BE6B4Q5ZnDp_ZGD2PQS_YseiMU4O3t8t6jMAfp7tJMmw8a0o75T4KDnRXvTmo5OKjTQzQBK8bq-dWwkj0qaMUtCqtDQxQ_XmV3GmIExbrYMd7_z4 

sábado, 29 de março de 2025

George Harmonica Smith - Summertime / MORRE-SE SEMPRE NA VIDA QUE ACONTECE



MORRE-SE SEMPRE NA VIDA QUE ACONTECE

 Sou um vagabundo na lavandaria dos afectos abandonados. 
Um ramo de desesperos, 
deitados na manta que arrefece 
a desilusão do absurdo dos dias, 
escondido no contentor dos lixos indiferenciados, 
chora nos ombros o voo ferido das solidões. 
Na rotunda dos prazeres esquecidos, 
queimam-se anúncios das falsas promessas da salvação. 
Onde estás, crepúsculo dos deuses caídos? 
Estou cansado de andar por aí, 
embrulhado na teia do sonho impossível, 
impaciente no admitir um destino improvável, 
enviado por um call-center  
oferecendo prémios irrecusáveis.
A minha sorte não merece tanta atenção!
Na noite dos desencontros, 
procuro no canto desta pele machucada, 
razões de senso escusado, 
e, queimar nas folhas da sebenta, 
palavras que recuso ouvir.
Morre-se sempre na vida que acontece.
Os culpados jogam monopólio 
nos banhos da batota habitual.

,2021Mar__aNTÓNIODEmIRANDA
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Muddy Waters & George Harmonica Smith - Walking thru the park, 1971

domingo, 23 de março de 2025

ACEITÁMOS O INACEITÁVEL # in DESOBEDECER_ Frédéric Gros (tradução de Miguel Martins) #

 


Skid Row_ Santa Apolónia
_ Almirante Reis_ Cais do Sodré


Morre.

Morre depressa.
A tua vida é um empecilho.
Só te prometo uma bala rápida 
para alegria do gatilho.
Desaparece.
A tua pena enoja-me.
Nada do que quero podes oferecer.
Vives na tenda dos milagres encardidos.

Morre.

Não me faças perder tempo. Não me interessa o teu lamento, nem esse olhar agradecido pela miséria que te ofereço. Nada pagaste das mentiras que vendi. Serás sempre aquilo que não presta. Uma oração falida, nunca ouvida pelo deus que comprei. A tua mão estendida não vale um cêntimo de compaixão. Tens a fome que mereces. De nada adiantaram as preces enroladas no teu desespero. Eu sou agora o teu único deus. O prometido. Chevrolet rompante - jantes douradas no prazer que te roubei. 

Morre. 

Só pode ser essa a tua última vontade. Não desiludas a ideia. Farei de ti um oásis farpado, embrulhado na bandeira que te pariu. 
Morre como quiseres. 
Mas, sempre de acordo com a minha necessidade. Morre. Ergue as lágrimas para o meu céu estrelado. Arfa na forca o último orgulho. Ajoelha para as chicotadas que te ensinaram a falar. Sê discreto. A sobriedade é uma das qualidades que aprecio.
Se me vou lembrar de ti?
Se calhar, não me apetece.

Morre!

“desobedecer é uma declaração de humanidade”











,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA
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SEM EMENDA

 


Amo-vos num troco 

demasiado vazio.

Sou

apenas um teso

sem emenda



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quarta-feira, 19 de março de 2025

DEPOIS DISSO...

 

O mundo continua a ser um problema.

Depois disso, um leque de sons balbucia entre os dedos o silêncio trovejante desenhado numa tela em câmara fotográfica.

Depois disso, um voo de parasitas tingiu de sangue a carência da humanidade.

Depois disso, a modéstia quase cruel, enlouqueceu no hospício da inocência, como se fosse uma tarefa angustiante.

Depois disso, a espera permaneceu inalcançável relegando o convite para a viagem das boas memórias.

Depois disso, o simulador de contentamentos adequados às necessidades, presenteou o gestor de fracassos com cândidos traumatismos, afamados coordenadores de afinidades alheias.

Depois disso, técnicas de engate ao virar da esquina da
inquietação, conseguiram finalmente o alvará para remodelações com prazos de entrega escrupulosamente mentidos.

Depois disso, o rio grande da penúria guarda-as-lamas da justiça, e no farol da perseverança a orquestra dos afectos, fechou as portas da 
oficina do erro.

Depois disso, os auspiciosos encantos do celibato deixaram de ser penalizados de acordo com a taxa de masturbação indexada ao acentuado aumento de tendinites.

Depois disso, calcada no conto do alfarrabista,
uma ligação preciosa anota no diário das amizades as sagradas conversas sem nome.

Depois disso, patetas que se dizem “puetas”, aparecem em homilias de copo presente perante a useira bajulação da habitual assembleia de letrados jumentos.

Depois disso, o olhar descorçoado do Poeta Camões, rasga canto a canto as palavras agora inúteis.

Depois disso, 
O mundo repetirá o mesmo erro.
Depois disso, 
Em caso de Emergência  não  ligue à Retórica mal parida.




2025_Mar18_aNTÓNIODEmIRANDA
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2ª ELEGIA PARA UM MOLOTOV

 

MAMÁ,

O QUE OFEREÇO 

AO PAPÁ?

FILHO

O MOLOTOV

ESTÁ 

NO FRIGORÍFICO.

PÕE-NO

A

DESCONGELAR.



,aNTÓNIODEmIRANDA
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domingo, 16 de março de 2025

quinta-feira, 13 de março de 2025

SUAVE MIAR

 




Muitas outras coisas poderiam ser ditas 
se me contasses a razão 
dessa alma tão triste.

Por vezes penso em ti 
como se fosses a namorada do liceu 
mas a vergonha apesar dos anos não mudou. 

Continua anichada naquele canto 
que já não procuras. 

Deixei de ser o gato 
que costumava uivar à janela.
 
Agora não passo de um velho lobo 
que num suave miar 
espalha o perfume da constante ausência.

Poucas coisas já me restam 
e todos sabem que passos curtos 
não ambicionam longas estradas.







,2024Mar08_aNTÓNIODEmIRANDA
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Tomás Miranda: “Eu tenho a obrigação de preparar as notas para o músico”

 https://l.facebook.com/l.php?u=https%3A%2F%2Fwww.rimasebatidas.pt%2Ftomas-miranda-eu-tenho-a-obrigacao-de-preparar-as-notas-para-o-musico%2F%3Ffbclid%3DIwZXh0bgNhZW0CMTAAAR2PQAteo99xBXaazz1ZxqqczuP2g23dT7rayxJiUUUidGkB_HqhF9gJ3W4_aem_cR-WkXXYfTgymyt_wGwf4Q&h=AT1Lzws-gi1McVOfs0G0oD9tAkDclKc8fA6fdvuyH_b31Rj0Nv9Iw7wbs_d0xaAqP3tkuZIdLoC9uaunxaIfls0glQUxF18rg88OfsSeSDGf3Kixf2KOwoZiETnHzs7VDg1WYc4SSwGwelg&__tn__=-UK-R&c[0]=AT2E5TWLPMmCOJ7RkZ5k5hkOoDibB6H7qKfYvqJeDFfBamBnrwNHt2ffT300pEZgla37q5k_hV9sbMybHYhZmBU78fZ4mYn1QA765rBLMfn46MR5As_LIjm1LvFwwgABJbkNTN6pjLqtwwS1BbVlB0t5zlvbv6BcHS8fIRoJza64CkxwZ5Sq

segunda-feira, 10 de março de 2025

EU E A SOLIDÃO DOS OUTROS QUE FELIZMENTE NÃO CONHEÇO

 


                Há um vazio na sombra 
                que me irá acordar.~

                Há um tempo que vai secando 
                o sangue recusado.

                E na noite das mãos 
                estendidas 
para a alma vazia,
mal diz da sina 
                que no coração lhe arde.

                Terra, pó, saudade, 
choro na guerra do tempo 
sempre a arrancar a flor da vida, 
beijado num canto infinito.

          Há uma panóplia de sentidos 
que oferece sorrisos órfãos
ao penhasco da desilusão.







2025Mar07_aNTÓNIODEmIRANDA
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ESPIRRAR LAPSOS DO TEMPORAL

 


                    Nas asas do conforto 
tento esconder os tropeços
como se mais pedaços de mim 
embalsamados em lençóis ´
de ferrugento cetim
fugissem do inadiável encontro 
.
            Num céu de orquídeas 
            a orquestra dos tempos 
desafinados
            contempla a chaga 
do golpe final.





2025Mar_aNTÓNIODEmIRANDA
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domingo, 9 de março de 2025

ORAÇÃO DA NOITE

 


Todos os dias me retiro 
antes que a morte se aproveite 
do cansaço.
Todos os dias faço 
por me acontecer
 logo que a despedida corra a
 entontecer a sorte.
Todas as noites afasto a espera 
mentindo uma inútil satisfação.
Lembro-me demasiado desta memória 
reles produtora de réplicas.
E na cadeira das ilusões, 
qual armadilha de tanta dor, 
embrulho sentimentos 
que não poderei reparar.
    Vou andando por aqui 
    a esculpir pecados que nunca chegarão 
à redenção.
    Tantos sonhos impunemente arruinados.
Gostaria de não acreditar tanto,
na distância que se veste em mim.







,2024Fev03_aNTÓNIODEmIRANDA
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sexta-feira, 7 de março de 2025

ELOGIO DA PRESSA

 Devagar se vai ao longe.

Se assim for,

lá chegarei,

enfeitado

num fato

de

teias de aranha


,2020Fev_aNTÓNIODEmIRANDA
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segunda-feira, 3 de março de 2025

NADA DE NÓS SERÁ MEMÓRIA - Afinal tenho 70! (a culpa continua a não ser minha).

 


Corre a vida neste tempo desalmado
onde o longe procura o nunca
como o rio que caminha para o mar.
Um barco apavorado
desenha ondas tingidas de avidez.
Ninguém me acode nesta dúbia salvação.
Uma batida de convites cavalga
na vermelha passadeira em busca 
de ovações ainda não camufladas.
Uma bola de pingue-pongue,
(também ainda por inventar),
foge sorrateiramente da bolsa dos 
defeitos.
Ninguém chora neste tango atrevido.
Onde adormeces cambaleante tropel?
Não me canses.
Sigo usado neste tempo,
Aterrado nesta confusa salada de 
suposições.
E esse andar de bailarina, 
roda-viva 
assassina, anel desavindo, 
sangue ardido, paixão sem flor.
Estarás por aí?
Falas-me com lábios de ausências.
Nada leio nesse abecedário.
Temos cores diferentes neste pantone
de desavenças.
Agora o longe abraça o nunca.
Por fim,
nada de nós será memória.


2025Mar02_aNTÓNIODEmIRANDA
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domingo, 2 de março de 2025

DEPOIS

depois fica o vento
que quando sopra me trás os teus beijos
fica o sabor do momento
feito chuva de desejos
resta o nada que me afoga
e as lágrimas que choram
não sei porque sentimento
depois fica o tempo
que nada sabe de mim
depois fico assim
feito espuma sem dias
sem o fogo que tu acendias
depois perco a alma no teu olhar de ternura
e sei que não foi loucura
embora me reste a dor
vou dar todo o meu desespero
não negarei nunca o amor
mesmo aquele que não foi suficiente
mesmo a paixão vivida sem tempero
agora abraço os lençóis dum corpo ausente.
depois eu sei que tudo entre nós foi diferente

setembro12.2006_aNTÓNIODEmIRANDA
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sábado, 1 de março de 2025

AI EU !

 


                    Ai eu !

                        Que às vezes 

                                         nada sei 

                                                De mim!


                                Também não sei,

                            Porque tenho dias 

                                que me fazem assim...






,2016_aNTÓNIODEmIRANDA
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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

A IDADE DO TEMPO

 


Multiplicador de 
ausências

Hábil manipulador de 
alibis ardilosos

Enrola no vermelho 
enlouquecido 
o olhar enganador 
com que espreita a ilusão



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GÉNIO PERPÉTUO (Carlos Paredes)

 


Asas Sobre o Mundo 
entregam no 

Espelho de Sons

o Canto Do Amanhecer

Invenções Livres 
celebram num 

Improviso 
libertário

A Melodia Para Um Poeta

E na Serenata No Tejo
 
velas da Amargura
Aplaudem a 

Dança Dos Camponeses



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LISBOA CADA VEZ MAIS ME MAGOA

 


[A minha conversa com Bach 

no altar da Sé de Lisboa 

numa tarde de nevoeiro 

Antoniano]



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A VIDA NUNCA ME ESCREVEU

 


Poderás chamar-me tolo 

de cada vez que denuncio a burla do tempo, 

porque no caminho que os prazos vão roubando,  

torna-se cada vez mais difícil 

alcançar o corredor da mudança. 


Antes da Morte 

Porque não Acontece 

A Sorte?


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NO COLO DOS DESGOSTOS

 


Sentado no cais do tempo 

observando a espuma da coragem dos dias,

procuro no bornal dos delírios

a cataplana de afectos.

E na onda das ausências,

acendo um triste desejo:

Vai devagar solidão 



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Sou do BENFICA!

 

Esta é uma das certezas que me tem acompanhado ao longo da minha vida.
E, acreditem, a minha vida não a deito fora.


aNTÓNIODEmIRANDA





ESCOLHA ATRAPALHADA

 


Espantalho meu 

Quem de 

Ti

Será mais 

do que 

Eu?




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TENHO UMA MORTE EM CONSTANTE ERECÇÃO

 


Pela vida, 

Nada deram 

&

Isso foi a minha 

Bem-aventurança 




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ESTA NOITE TENHO NO CORAÇÃO O PERFUME DO CONTENTAMENTO

 


                    Quem te fez tão inocente 
alguém indecente naturalmente demente 
repetidamente ausente 
do verdadeiro sentido da plenitude.
            Depois de tanto por aí penar 
ainda te pintam um outro acontecer.
Subir para não sossegar 
descer em vez de escorregar
resfolegar no mais amistoso relincho, celebrar com esguicho malicioso qualquer bem-estar ansioso.
            E quando a noite se cansa da solidão 
e quer fugir do dormir, 
rasga no colchão das tristes lágrimas 
ondas da negra maré ao encontro do cais 
da maldades.
        Uma voz sagrada morre finalmente,
 empunhando as ligas da santificada fornicação, 
enquanto uma gravata agita 
o roído nó das últimas despedidas. 
        E o solo arranhado da Gibson endeusada 
entrega o que de mim 
não ousara ser. 
        Nada, nunca será a cor com que dormirei.
                Esta noite tenho no coração o perfume
do contentamento. 

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ECCE HOMO (Gaveta Final)

 


Deus, 
Dizem,
Fez-me à sua imagem.

Até agora nunca dei por isso.

  Chamam-lhe 
Má 
Educação 







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CREDO FALIDO

 


            O sol tarda no anoitecer

            Contudo o Viajante da mala 
            com asas perfumadas 
continua a imaginar
alegrias temporariamente sós.

            E na praça do tempo que falta
olhos vazios
procuram num incessante vaivém 
o sorriso certo para entregar 
no ninho de cicatrizes.

Gosto de vocês, 
crianças que o céu enganou.





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