Pesquisar neste blogue

sexta-feira, 7 de março de 2025

ELOGIO DA PRESSA

 Devagar se vai ao longe.

Se assim for,

lá chegarei,

enfeitado

num fato

de

teias de aranha


,2020Fev_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com



segunda-feira, 3 de março de 2025

NADA DE NÓS SERÁ MEMÓRIA - Afinal tenho 70! (a culpa continua a não ser minha).

 


Corre a vida neste tempo desalmado
onde o longe procura o nunca
como o rio que caminha para o mar.
Um barco apavorado
desenha ondas tingidas de avidez.
Ninguém me acode nesta dúbia salvação.
Uma batida de convites cavalga
na vermelha passadeira em busca 
de ovações ainda não camufladas.
Uma bola de pingue-pongue,
(também ainda por inventar),
foge sorrateiramente da bolsa dos 
defeitos.
Ninguém chora neste tango atrevido.
Onde adormeces cambaleante tropel?
Não me canses.
Sigo usado neste tempo,
Aterrado nesta confusa salada de 
suposições.
E esse andar de bailarina, 
roda-viva 
assassina, anel desavindo, 
sangue ardido, paixão sem flor.
Estarás por aí?
Falas-me com lábios de ausências.
Nada leio nesse abecedário.
Temos cores diferentes neste pantone
de desavenças.
Agora o longe abraça o nunca.
Por fim,
nada de nós será memória.


2025Mar02_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com



domingo, 2 de março de 2025

DEPOIS

depois fica o vento
que quando sopra me trás os teus beijos
fica o sabor do momento
feito chuva de desejos
resta o nada que me afoga
e as lágrimas que choram
não sei porque sentimento
depois fica o tempo
que nada sabe de mim
depois fico assim
feito espuma sem dias
sem o fogo que tu acendias
depois perco a alma no teu olhar de ternura
e sei que não foi loucura
embora me reste a dor
vou dar todo o meu desespero
não negarei nunca o amor
mesmo aquele que não foi suficiente
mesmo a paixão vivida sem tempero
agora abraço os lençóis dum corpo ausente.
depois eu sei que tudo entre nós foi diferente

setembro12.2006_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com



sábado, 1 de março de 2025

AI EU !

 


                    Ai eu !

                        Que às vezes 

                                         nada sei 

                                                De mim!


                                Também não sei,

                            Porque tenho dias 

                                que me fazem assim...






,2016_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

A IDADE DO TEMPO

 


Multiplicador de 
ausências

Hábil manipulador de 
alibis ardilosos

Enrola no vermelho 
enlouquecido 
o olhar enganador 
com que espreita a ilusão



2025Fev_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

GÉNIO PERPÉTUO (Carlos Paredes)

 


Asas Sobre o Mundo 
entregam no 

Espelho de Sons

o Canto Do Amanhecer

Invenções Livres 
celebram num 

Improviso 
libertário

A Melodia Para Um Poeta

E na Serenata No Tejo
 
velas da Amargura
Aplaudem a 

Dança Dos Camponeses



2025Fev_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

LISBOA CADA VEZ MAIS ME MAGOA

 


[A minha conversa com Bach 

no altar da Sé de Lisboa 

numa tarde de nevoeiro 

Antoniano]



2025Fev_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

A VIDA NUNCA ME ESCREVEU

 


Poderás chamar-me tolo 

de cada vez que denuncio a burla do tempo, 

porque no caminho que os prazos vão roubando,  

torna-se cada vez mais difícil 

alcançar o corredor da mudança. 


Antes da Morte 

Porque não Acontece 

A Sorte?


2025Fev_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

NO COLO DOS DESGOSTOS

 


Sentado no cais do tempo 

observando a espuma da coragem dos dias,

procuro no bornal dos delírios

a cataplana de afectos.

E na onda das ausências,

acendo um triste desejo:

Vai devagar solidão 



2025Fev_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

Sou do BENFICA!

 

Esta é uma das certezas que me tem acompanhado ao longo da minha vida.
E, acreditem, a minha vida não a deito fora.


aNTÓNIODEmIRANDA





ESCOLHA ATRAPALHADA

 


Espantalho meu 

Quem de 

Ti

Será mais 

do que 

Eu?




2025Fev_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

TENHO UMA MORTE EM CONSTANTE ERECÇÃO

 


Pela vida, 

Nada deram 

&

Isso foi a minha 

Bem-aventurança 




2025Fev_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

ESTA NOITE TENHO NO CORAÇÃO O PERFUME DO CONTENTAMENTO

 


                    Quem te fez tão inocente 
alguém indecente naturalmente demente 
repetidamente ausente 
do verdadeiro sentido da plenitude.
            Depois de tanto por aí penar 
ainda te pintam um outro acontecer.
Subir para não sossegar 
descer em vez de escorregar
resfolegar no mais amistoso relincho, celebrar com esguicho malicioso qualquer bem-estar ansioso.
            E quando a noite se cansa da solidão 
e quer fugir do dormir, 
rasga no colchão das tristes lágrimas 
ondas da negra maré ao encontro do cais 
da maldades.
        Uma voz sagrada morre finalmente,
 empunhando as ligas da santificada fornicação, 
enquanto uma gravata agita 
o roído nó das últimas despedidas. 
        E o solo arranhado da Gibson endeusada 
entrega o que de mim 
não ousara ser. 
        Nada, nunca será a cor com que dormirei.
                Esta noite tenho no coração o perfume
do contentamento. 

2025Fev_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

ECCE HOMO (Gaveta Final)

 


Deus, 
Dizem,
Fez-me à sua imagem.

Até agora nunca dei por isso.

  Chamam-lhe 
Má 
Educação 







2025Fev_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

CREDO FALIDO

 


            O sol tarda no anoitecer

            Contudo o Viajante da mala 
            com asas perfumadas 
continua a imaginar
alegrias temporariamente sós.

            E na praça do tempo que falta
olhos vazios
procuram num incessante vaivém 
o sorriso certo para entregar 
no ninho de cicatrizes.

Gosto de vocês, 
crianças que o céu enganou.





2025Fev_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

A SORTE TEM OS SEUS DIAS PARA A ORDINARICE

 


Às escondidas engraxo as patas de centopeia 
perante o olhar desconfiado da empregada do bar, 
sito na academia dos incautos molestados.
Independentemente do que aconteça,
lampejos de serenidade embriagam a verdade aos pedaços.
Mas ainda ninguém descobriu o atalho 
para a bilheteira das almas 
misericordiosas.
(E a máquina das virtudes automáticas tem o horário avariado).
O pilar da sabedoria, 
(carunchoso e empenado) 
não passa de um aforismo artificial.
Solução ideal?
A mentira sem consequências repetidas.
Por fim, o evento arrogante,
 (da triagem absurda do pântano dos escolhos), 
desenfreadamente empolgado,
asilou-se na residência do bom-sucesso. 
A sorte tem os seus dias para a ordinarice, 
disparou ela para o espanto do tira-teimas.



2025Fev_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

NUNCA VOS PROMETI A AUDÁCIA DA PERFEIÇÃO

 

Abro a mala e começa a vida.  
A utopia nunca apareceu.
Olá colapso celestial! 
Imaculada seja a ignorância das ideias cozidas, na cabeça desolada por avenças previamente alojadas nas mais bentas nuvens de medronho.
Cansado de não encontrar a minha natureza
alvejo o homicídio do voo da liberdade enquanto a inteligência acamada na taça dos sortilégios baptiza a idade da inútil aflição. 
Adoro este mentir e o seu doudo abraço à tenda das contradições suavemente pornográficas.

MAS, NUNCA VOS PROMETI A AUDÁCIA DA PERFEIÇÃO

Como gostaria de saber  as coordenadas
para me sentir um arco-íris!
Cuidado!
Há por aí algumas vertigens 
com origem não alucinogénia duvidosa.
Aqui, a matutar no cadafalso das preces desajeitadas,
mais uma vez afirmo:

NUNCA VOS PROMETI A AUDÁCIA DA PERFEIÇÃO

E no abraço que entrega a morte, ao instante do prenúncio sem norte onde caberiam expectativas nunca velhacas,
um feitiço adolescente pendura na cancela da fronteira do absurdo,
abrenúncios penhorados.

CONTUDO, NUNCA VOS PROMETI A AUDÁCIA DA PERFEIÇÃO

Não busco a coerência da lógica 
nem admiro elencos instruídos.
Fico-me pelo baile não atrapalhado 
dos guerreiros da revolução não conivente.
Devastação crónica.  
Panfleto avulso avesso à indigna celebração.
Aterro de fingimento, a desta reputação enlatada.
Fecundo a pompa com furor num esboço de conveniência maltratada. 
A hipótese nefasta desenha na insignificância convincente manifestações hostis,
enquanto a mendiga radicalidade anseia por um qualquer perdão falsificado. 
Pensaste que absolveste a besta que exibe desavergonhadamente
uma sarna sempre à mão, fatalmente carregada de religiosos propósitos.
Triste ementa te escreveram
.
TODAVIA NUNCA ME PROMETI A AUDÁCIA DA PERFEIÇÃO


2025Fev27_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

Gene Hackman (1930-2025) / um dos meus filmes

 



sábado, 22 de fevereiro de 2025

JÁ NÃO FALAMOS MUITO

Às vezes desvio-me para a caverna só para acordar a sedução,
dizendo-lhe ao ouvido que não pode abandonar-me.
Ela então sorri um riso vertical e promete-me que quando se lembrar,
não vai esquecer-me.
Então aqueço-lhe as mãos com um tremor ternurento
e beijo a sua memória com todo o afago.
Rimos os dois num modo igual à ficção em que nos tornámos.
Visto-lhe o roupão comprado no último saldo dos certificados de aforro.
Agradecemos encarecidamente à rolha da garrafa do tinto que tanta alegria nos proporcionou.
Já não falamos muito, é certo,
mas também é verdade que em dados momentos,
as palavras deixam sempre de ter sentido.
Adormecemos geralmente sem a necessidade de continuar esta ilusão.
Ainda não sei se temos relógios iguais… mas nunca falhámos qualquer encontro.
Vamo-nos vendo por aí.
Às vezes nas esquinas onde ninguém se encontra.

  2016,11aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com


W. H. Auden “FUNERAL BLUES”

 


Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
Evitem o latido do cão com um osso suculento,
Silenciem os pianos e com tambores lentos
Tragam o caixão, deixem que o luto chore.
Deixem que os aviões voem em círculos altos
Riscando no céu a mensagem: 
Ele Está Morto,
Ponham gravatas beges no pescoço dos pombos brancos do chão,
Deixem que os polícias de trânsito usem luvas pretas de algodão.
Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Leste e Oeste,
A minha semana útil e o meu domingo inerte,
O meu meio-dia, a minha meia-noite, a minha canção, a minha fala,
Achei que o amor fosse para sempre: Eu estava errado.
As estrelas não são necessárias: retirem cada uma delas;
Empacotem a lua e façam o sol desmanchar;
Esvaziem o oceano e varram as florestas;
Pois nada no momento pode algum bem causar.


W. H. Auden, in 'Another Time'



sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

ANARQUIA PRECISA-SE!



Existo Logo trabalho Vendo-me Consumo E sou consumido. Sentado á secretária, Imagino & sou feliz Vendo os ponteiros do relógio Apressando um tempo Que em nada me dignifica.
Ser figurante nunca fez de alguém importante. Ainda nos torram com tantas soldagens. Não precisa de ser tão pessimista! Pois é, senhor ministro, eu dantes não era pensionista. É sempre o mesmo filme que nos preparam estes mentecaptos realizadores. É-nos impingida a ideia constante que precisamos de ser orientados, governados e caímos sempre na teia que nos transforma em meros espoliados. A banca está atenta, como sempre pronta para chupar um sangue que já não é nosso. Depois virão as teorias do plasma negociado por vampiros, varizes cromáticas em forma de tatuagens para impressionar os músculos fabricados com suplementos encharcados com toxinas inadvertidamente amestradas num ginásio sempre com promoções prometendo um aumento facilmente observável do sexo daqueles que só distraidamente o praticam. As desculpas habituais aparecerão nas mãos de cavaleiros liofilizados com máscaras de anjos para cultivar a nossa servidão. Mas quem manda, quem tem de mandar para construir uma realidade que a cada um de nós diz respeito? Falam do útil como se fosse necessário e premendo a tecla do fútil nunca arbitrário. Dói-nos na pele. Emporca-nos a alma, tira-nos a calma e queima-nos assiduamente o sonho. 
Estatísticas holísticas inquéritos esponjados numa frequência tendencialmente alérgica à mínima inteligência necessária para a eles não responder. Óleos queimados que nos entopem a tentativa da diferença. Não me conformo, e sei agora que nunca poderá ser proibido o ousar. Mas o medo encanta uma gente que já não canta esta vida que já não é e nunca virá a ser. Ameaçam-nos com o caos porque eles são os bons e nós, os sempre roubados e enganados, os maus. Deixem-me em paz! Eu quero agora calcar o meu próprio caminho. Não sei que força é esta. Não a compreendo. E rejeito as suas garras que vos engenham a necessidade de serem mandados.
ANARQUIA PRECISA-SE!
Deveremos saboreá-la e bebê-la com o sangue daqueles que ao abrigo da lei só nos têm enganado.
Chegou o momento de provarem o próprio veneno da sua hipocrisia. Ofereço-vos um nó  windsor  na gravata feita com as vossas tripas.






,2015aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

A SORTE TEM OS SEUS DIAS PARA A ORDINARICE

 


Às escondidas engraxo as patas de centopeia 
perante o olhar desconfiado de empregada do bar, 
sito na academia dos incautos molestados.
Independentemente do que aconteça,
lampejos de serenidade embriagam 
a verdade aos pedaços.
        Mas ainda ninguém descobriu o atalho 
para a bilheteira das almas 
misericordiosas.
        (E a máquina das virtudes automáticas 
tem o horário avariado).
        O pilar da sabedoria, 
(carunchoso e empenado) 
não passa de um aforismo artificial.
        Solução ideal?
        A mentira sem consequências repetidas.
        Por fim, o evento arrogante,
 (da triagem absurda do pântano dos escolhos), 
desenfreadamente empolgado,
asilou-se na residência do bom-sucesso. 

A sorte tem os seus dias para a ordinarice, 
disparou ela para o espanto do tira-teimas.




2025Fev_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

ESCOLHA ATRAPALHADA

 


Espantalho meu 

 Quem de 

Ti

 Será mais 

do que 

 Eu?




2025Fev_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

TENHO UMA MORTE EM CONSTANTE ERECÇÃO

 


Pela vida, 

Nada deram 

&

Isso foi a minha 

Bem-aventurança 



2025Fev_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

sábado, 15 de fevereiro de 2025

SEPULCRO DA ESPERANÇA ASSASSINADA

 


Nada 

Mais 

Há 

Para 

Morrer!




GAZA



Lembrem-se 

de 

nós


,2025JANEIRO_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com







POESIA NÃO PODE SER UMA ESTANTE SEMPRE VAZIA

 


São só palavras 

E esta caligrafia 

É a rameira mais ardilosa 

Das minhas tristes mentiras


,2025JANEIRO_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

A MINHA PÁTRIA É DANADA PARA A BRINCADEIRA

 


Portugal

Minha Pátria da Galhofa

Incomensurável Ninho

De Patetas

Accionistas da Lisonja Mutualista

Artistas Escritores

Malabaristas / Contorcionistas

Manientos / Desavergonhados

Tristes / Estupores

E Até Alguns Há

Que se Autoproclamam “Poetas



2025Fev01_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

LIBERDADE

 


Saudades 

De gostar 

De ti.


Onde 

Assassinaram 

As tuas 

Asas?








,2025JANEIRO_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

NÃO ME INTERESSA A IMPORTÂNCIA

 


Meia-noite e vinte e três de 26 de Janeiro de 2025. 

Fui aconchegá-la.

Olhou-me uma boneca com um sorriso 

de 98 anos e meio,

agora com o mais agradecido aplauso

Não me interessa a importância.

Basta-me o respeito que me veste.

2025Fev_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

CÃO OBSERVANDO O MUNDO SENTADO NO SOFÁ DA FÁBRICA

 


No concílio económico já tudo tinha sido roubado
O velho caminho já não me acompanha ao bar. 
As palavras estão difíceis. 
O momento tarda em chegar, 
e a chuva que molha o pára-brisas da bondade
já deixa no patamar da possível esperança aplausos falseados.
Flores desfalcadas regam a varanda dos despojos.
Um céu vazio diz que me espera.
Depois desta farsa quem mais poderei assassinar?
CÃO OBSERVANDO O MUNDO SENTADO NO SOFÁ DA FÁBRICA 
Mas não sei onde se apagaram os sonhos ou em que feira foram lembrados.
Esse lugar não existe, assegura o relato do tempo não ardiloso.
Assim desce a vontade até ao fim do coração no desencontro inacabado.
A misericórdia é a mais cruel das lisonjas.
E ele disse" o paraíso não passa de uma promoção mentida em primeira mão.
CÃO OBSERVANDO O MUNDO SENTADO NO SOFÁ DA FÁBRICA 
De joelhos não contes que apareça.
Mesmo no fim (cada vez mais repetido), sempre foi deste modo que mantive a esperança nesta vivida e (nem sempre apetecida) espera.
O miar do gato malvado amorosamente assanhado pousou no focinho e pintou na alma a acalmia que julguei não possível.
Agora sou um patudo orgulhoso que nunca se esquece de virar as folhas que sobram deste calendário. 
A alegria continuará a ser para todo o sempre aquela pedra rolante cuspindo no recanto da miséria.
CÃO OBSERVANDO O MUNDO SENTADO NO SOFÁ DA FÁBRICA 
O que de mim gostava foi para a enfermaria das palavras cruzadas.
Os lábios escorrem as memórias na areia, onde envergonhados, os nomes, procuram a fuga possível.
Asas bonitas vestem combinações da boa-esperança confortando o abrigo da almejada possibilidade, enquanto pássaros solidários ensaiam um hipotético bailado, para que a tristeza finalmente não se torne a mais fértil certeza. 
Mas neste defunto mundo a única verdade apodrece numa retoma em permanente leilão.
Toda a gente chora nas infinitas traições entregues “à la minuta”.
Prédicas erguidas para o mais sangrento dos deuses pasmam no hipócrita consternação dos "inocentes".
CÃO OBSERVANDO O MUNDO SENTADO NO SOFÁ DA FÁBRICA 
Quem poderá respeitar as bombas que lhes vendemos?
A covardia será sempre um acto que jamais se cansa de ser celebrado.
Ó vida, dizes por aí que o "show" não pode parar.
Até porque a humanidade cedo demais assassinou o respeito que nos é devido.
CÃO OBSERVANDO O MUNDO SENTADO NO SOFÁ DA FÁBRICA 
Como se uma tempestade acampasse no meu travesseiro e o sono que dela fugiu escrevesse acenos obscenos na agenda do despertar.
Não!
Não preciso de outra Ressurreição!
(Já tenho o “GPS” do paraíso artificial).
Olá!
Há por aí alguém que não me conheça?
Nosso Senhor!
(Malvado insidioso).
Que pena tenho que isso aconteça.
CÃO OBSERVANDO O MUNDO SENTADO NO SOFÁ DA FÁBRICA 
E neste sentir demasiado cansado a procurar o botão do autoclismo, benzo sermões fictícios.


2025Fev05_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com
(Começado a ser escrito em Fev01 , durante um concerto na Fábrica de Alternativas_Algés)

sábado, 1 de fevereiro de 2025

CONVERSA COM GINSBERG (SEC`ADEGAS _Fábrica de Alternativas_2021Agosto07)


CONVERSA COM GINSBERG



Naquela tarde depois de as manhãs se cansarem, tinha na garganta o “UIVO para tomar o pequeno-almoço. 
Pedi então açúcar mascarado tal era a pena de nunca o ter conhecido. 
Concentrei-me num cosmos surpreendido pela minha curiosidade. 
Lembro-me que era muito novo e mesmo assim já lamentar o facto de não poder falar consigo. 
Nasci adiantado e isso foi-me dando muito trabalho. 
Mas tinha a sua ideia da América e li o “ON THE ROAD” na altura exacta. 
Diziam no escritório onde era paquete, que era excêntrico. 
O irmão e irmãs do meu pai, comentavam que passava a hora do almoço nos bares das putas do Cais do Sodré. 
Coisas da ignorância, como poderiam testemunhar o Madeira Luís e o Hipólito da então livraria Opinião. 
Senhor Allen: não é culpa sua que os quatro psiquiatras, que me escutavam, tinha eu 14 anos achavam que eu pensava diferente dos outros.
Nunca fiquei e o mesmo acontece agora, indiferente àquilo que quero gostar. 
Mas as máquinas IBM não operavam aquilo que a Patsy Southgate tinha escrito no poema. 
Cresci nos corredores do escritório o que convenhamos são copiosamente iguais aos dos supermercados onde ninguém oferece nada em troca da nossa beleza.
Tantas vezes fui alvejado a tiro nas costas por uma vontade não conseguida.
E tanto roubei num supermercado longe da sua Califórnia. 
Não visitei a campa de Apollinaire
Mas estive lá perto. 
E publicaram um poema meu sobre esse senhor. 
Não poderei enviar-lhe um sequer registo de um sonho, só porque de tanto sonhar a memória fica tão chateada que nem a mim me oferece um só.
E voltámos á América. 
E você sabe que é uma palavra em vias de extinção.
E eu sei que você até tentou ser bondoso.
Mas como diz o Frank O´Hara, a indústria pornográfica está em crise.
Nunca estive em Nova York, mas não me custa admitir que no verão em que a beijou ela estaria magnífica.
Depois disso, vermes devoraram a poesia.




2017,mar_.aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

LAMENTO DO FANTASMA SEM ALMA

 


(Já tenho idade suficiente para morrer)

Apaguem-se as velas 
para que o último silêncio aconteça

Ó rugas da esperança perdida 
queimem o que restará da derradeira alegria

Porque o que de nós inventaram 
foi uma leviandade comprada 
no quiosque da hipocrisia 


2025Jan31_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

Sister Morphine; Marianne Faithfull 1969 (1946-2025)

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

TEOREMA DO ENTENDIMENTO

 


escassez 
da minha sabedoria 
não permite estar à altura 
Da 
pequenez 
do teu conhecimento

&

Assim 
nos vamos estendendo


,2023Jan_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Sam Myers - I Got The Blues

É TÃO DIFÍCIL CONCILIAR A MADRUGADA

 
        Fiz um par de asneiras 
para fingir todos os dias
a ilusão do acontecer

Alguém me pode dizer as horas?

Este tempo que me escuta
tem o rasto de um bafiento pasquim






,2025JANEIRO_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

Da Madalena Ávila. #SAFIGO#





 

NOSSA DAMA DA INQUIETAÇÃO

 

Saem-me caro as bebedeiras da mentira engarrafada 
na adega da poesia.
Prometeram tantas histórias, 
mas sempre soube que nem todo o brilho me leva à estrela.
Pobre caminho este, que conspurca sombras.
Nem me interessa saber como estou.
Está a chegar a colheita dos dias menores 
para me entregar horas de euforia. 
Correr nos dias que morrem, 
é um acto de coragem.
O resto, são divagações entregues 
em domicílios trocados.
Arrasto memórias até ao outro de mim.
Há quem diga que o sol se levanta todas as manhãs.
Nem por isso lhe gabo a teimosia.
Que alguém lhe mostre 
a janela da minha inquietação.
Os deuses não têm culpa de alguém 
ter a necessidade da sua patética existência.

,2021Jan_01_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

sábado, 25 de janeiro de 2025

FERRO VELHO

 


    Não ando com um cardume de livros 
a ensebar-me os sovacos

    Não faço malha
não  teço a tralha,
não vivo quando calha

    Vou amadurecendo,
agarrado a um sossego desempregado
encontrado num ferro velho
e comprado a prestações.




,2018jan_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com


COM OS PÉS ASSENTES NO CHÃO, COMO CONSEGUIREI TIRAR AS CALÇAS?

 


Cá estamos!
Eu e a habitual espera, 
riscada neste desencontro com vista 
marcada para o abismo. 
Os grandes poetas morrem 
em fumegantes tachos de merda”. 
Bukowski continua a ter razão!
Uma conversa tranquila com palavras 
molhadas no hálito de uma garrafa 
de whiskey, livre como um tiro 
saído do meu olhar, 
será sempre um alibi perfeito.
E isto é proibido, 
segundo o regulamento 
da delinquência conformada. 
Se as pessoas do costume não aparecerem, 
é sinal que a minha coerência 
não é limpa numa lavandaria.  
Descongelar gatafunhos, 
amaciá-los numa cozedura a vapor, 
parir um vomitado decente, 
e embebedar o céu com restos de ternura. 
Pagar o que dizem que devemos, 
em suaves prestações mentirosas, 
agitar o olfacto, cortar o cinto, embelezar 
a noite com nuvens de fumo distraído, 
fincar os pés no chão 
e agradecer educadamente 
a hipotética conveniência 
de não conseguir tirar as calças. 
Esperar qualquer coisa que me surpreenda, 
e nunca bajular o tempo sujo com 
o laivo da saudade.


2018Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

DESSE-ME O TEMPO OUTRA MEDIDA

 


Desse-me o tempo outra medida, 
vazia dos significados inúteis, 
das opções castradas, 
e, eu tentaria caiar os espinhos 
desta coroa sem as manchas da glória.

Desse-me o salto outro movimento 
para arear a coragem que vai 
envelhecendo, 
e eu, nesta velha pele queimada 
por tantos sóis, pularia outro destino.

Desse-me a vida outra tarefa, 
e, 
eu continuaria a pintá-la, 
sempre à minha maneira.






2018Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

DESPEJADO

 


Nem um tusto na algibeira.
Sonhei a vida inteira que isto nunca mais 
iria acontecer. 
Olhava as estrelas do meu céu, 
tapava-lhes os sonhos com o véu chorado 
da minha tristeza.
Nem um tusto na algibeira.
Sorrir sem jeito nem maneira, 
cobrir as lágrimas de todos os caminhos, 
só com a revolta dos sonhos devorados.
& as morfinas sempre ausentes, 
naqueles sorrisos que não me pertencem.
Quebro galhos que não quero queimar, 
e penosamente entranho na solidão, 
este frio que me desampara.
Não me lembro da última vez 
que tive coragem de abrir a porta 
do frigorífico. 
Mesmo aquela do folheto, 
que nunca se indignou, 
com a falta de uma qualquer condição.
Miro sem cobiça matrículas de automóveis, 
na eventualidade de achar uma capicua 
com as iniciais da minha sorte.
Até isso é uma falha habitual.
Sentado na lona dos desejos chorados, 
aqui na travessa, 
onde costumavam dizer o meu nome, 
olho indiferente para aqueles que vasculham 
a minha identidade, agora transformada 
num despejo de esqueletos.
Pensavam que nada prestava.
Mas, é assim, que sempre agem os abutres.



2018Set_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

ESPUMANTE

 


No dia do piquenique de 
Todos_Os_Prantos, 
a vendedora das flores 
da consolação habitual, 
queixava-se do abaixamento 
do volume das vendas. 
Já pouco se liga aos defuntos.
Não sei onde a morte irá parar!
Em certas sepulturas, 
e no intervalo da azáfama da sueca à deriva, 
esqueletos outrora vaidosos, 
abraçavam-se agradecidos, 
e com a esperança estrelada nos olhos, 
comentavam entre si:
Agora que pouparam nas flores, 
só desejamos que apliquem essa verba 
em espumante.






2018Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

CAIXÃO ESGOTADO

 


Há 
Quem 
Gaste 

Vida 
Num 
Caixão
.
.
.
Estranho 
Modo 
De 
Estar 
Morto




2018Mar_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

BLISTER

 


A tua pequena ajuda não é mais do que 
um blister com sugestões cor-de-rosa.

Mas, na realidade tu não usas essa tonalidade, 
e o sorriso que mostras, 
está maquilhado com cáries sem qualquer 
definição.

Adormeces sempre com o robe das angústias, 
esperando a síncope cardíaca para te 
aconchegar.

Ama-te, se possível, 
até que a próxima desilusão
aconteça.





2018Out_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

DEUS, NÃO PRECISO DA TUA MISÉRIA

 


Cuspo sangue enojado por tanta mentira.
Já limpei os contentores para o teu funeral,
e contratei os mais talentosos ornamentadores 
de promessas. 
E a mais sexy das limousines.
Haverá batedores devidamente credenciados na autoestrada do inferno. 
Nada foi deixado ao acaso. 
Nem mesmo o pecado que pensaste me pariu.
Nada desta morte poderá ser embrulhada 
nas notícias do telejornal.
Não te cansas de estar grávido. 
Contudo, nunca serei um filho teu.
Azar!
Os astros não condizem com as tuas coordenadas.
Estou mais calmo agora.
A ausência do teu sono 
consegue animar a minha almofada.
Disseram-me que usas um colete 
à prova de bala.
Mas eu só quero matar a tua 
indignidade.







2018Ago_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

BON APPÉTIT!

 


Estamos sempre longe. 
Este entendimento desenhado numa proposta gourmet, prato grande enfeitado com riscos sem qualquer feitio, hostilizados num traço pintado de mentiras, 
um cínico sorriso crocante acabado 
de fugir da sanita, um filet mignon 
apressado para apanhar
 o autocarro da angústia, 
e um plaisir discretamente copiado da gare de Montparnasseenvergonhado pelo mau hálito 
do chef.
Para a sobremesa um Michelin 205 R14
em estado tão deteriorado como a puta 
da sorte que ainda não se fartou de nos falir.

Bon Appétit!

Mon imbecil Ami.


2018Mar_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com