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quarta-feira, 29 de setembro de 2021

CARTA PARA FRANK O`HARA


O vermelho nunca me perturba.
Afaga-me o gostar
e desune-me qualquer inquietação.
Rebeca, a minha gata está a fazer zapping nas paredes do corredor,
e pelo seu miar,
julgo perceber a espera do aplauso.
Amanhã, finalmente irei tomar o pequeno-almoço com o Frank O`Hara.
Temos qualquer coisa em comum:
o facto de ignorarmos que nos conhecemos.
Vou oferecer-lhe um Basquiat,
que desconfio roubei de um sonho que infelizmente não me lembro.
Isto, entre nós, é coisa de somenos.
Ele, sem eu saber prometeu-me uma velha moeda romana
salgada nas ruínas de Tróia.
Mas isto é segredo.
Só nós o sabemos.
Agora tudo está mais calmo.
O nível do Western Gold Straight Old Kentucky Bourbon Whiskey,
está a baixar consideravelmente,
o que pressupõe que não existirá o perigo de inundações na próxima hora.
Alerta glaciar! Gelo não! Não sei que horas são!
Mas confirmo que estou ecologicamente ébrio.
E isto poderá ser importante para as cenas dos próximos patíbulos!
Imagino este encontro na Zona Industrial de Sines.
Nós anonimamente conhecidos,
pintando vacas desleixadas a zunir lampejos de gratidão.
Mas isto, entre nós é coisa de somenos.
Estou a pensar num rascasso grelhado.
Isto é se o peixe não faltar.
Beberemos todo o branco beatificamente gelado pelos anjos absurdos.
Afinal,aqueles que acompanham os poetas.

,2017,abr_.aNTÓNIODEmIRANDA

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