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domingo, 23 de maio de 2021

A GAIVOTA MORREU PASMADA NO AREAL

 Agora sou um apêndice a descansar na prateleira x de uma qualquer estante no museu nacional da ternura amiga. Sou mostrado em aplicações com detalhes da minha não autoria. Uma relação sem causa nem efeito. O que condiz comigo não tem qualquer avaliação. Sou agora a espécie com agente de todo o tempo sem verdade, escrevendo os dias difíceis aparamentados nos corredores onde não tenho lugar. Tudo é tão longe nestas selfies mal paridas com que pensamos ilustrar a saudade que já não nos pertence. O mais que nos interessa não passa de um lugar onde penduramos desejos, um foyer descamisado com um cabide com o número previamente determinado.
Convite de uma promoção tão enganosa como a falta de interesse com que nos esquecemos. Voltem sempre, é o habitual agradecimento daqueles que fazem de nós pacóvios. Esta é a viagem inútil, do imenso roubo que nos dobrou a espinha tornando-nos fantasmas sem a alegria da ficção.
Oh terra minha, que tanto me atraiçoas, não me consideres ainda tua pertença. Não posso cantar-te nem nos cânticos paridos com prantos de alguém que gentilmente ousou acreditar em ti. Nada sei do teu carma, nem do marujo que o enterneceu.

A gaivota morreu pasmada no areal.


2016,11aNTÓNIODEmIRANDA


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